experiencias OFICINA ESPIAR O PARA-FORMAL NA CIDADE DE SALVADOR COORDENAÇÃO: Eduardo Rocha - Grupo Cidade+Contemporaneidade (C+C)
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- Alessandra da Mota de Figueiredo
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1 experiencias ^ OFICINA ESPIAR O PARA-FORMAL NA CIDADE DE SALVADOR COORDENAÇÃO: Eduardo Rocha - Grupo Cidade+Contemporaneidade (C+C) COORDENAÇÃO DA OFICINA: Eduardo Rocha - Arquiteto urbanista, professor Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Carolina Barros - Graduanda Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Cristiane Nunes - Graduanda Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Débora Allemand - Graduanda Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Glauco Munsberg - Graduando Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Ivan Kuhlhoff - Graduando Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL LuanaDetoni - Graduanda Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Lucas Bittencourt - Graduando Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL ACOMPANHANTE: Dila Reis - Graduanda Arquitetura, membro do Laboratório Urbano 80
2 Espiar o para-formal na cidade de Salvador Eduardo Rocha Arquiteto-urbanista, coordenador Grupo Cidade + Contemporaneidade (C+C), professor Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPEL Espiar o para-formal da cidade de Salvador Dila Reis Graduanda Arquitetura, membro do Laboratório Urbano DISPARADOR Tudo começou já faz algum tempo. Errantes na cidade de Buenos Aires no ano de 2011 nosso gru po Cidade + Contemporaneidade (C+C) 1 encontrou com o trabalho do grupo Gris Público Americano (GPA) 2 chamado Para-formal (2010). O para-formal para o grupo GPA é um conceito de fronteira, que ao contrário da oposição entre o formal e o informal a partir de áreas do conhecimento como o urbanismo e a economia, que categorizam seus estudos e objetos em cidade/ economia formal e informal busca experimentar a fresta ou o interstício entre categorias, que aqui denominamos como cenas urbanas para-formais. Um modelo de investigação para-formal se apropria de categorias alternativas para explorar o Foto de Edu Rocha De imediato, se destaca o termo para-formal utilizado logo na chamada da Oficina coordenada pelo Grupo Cidade + Contemporaneidade, da Universidade de Pelotas. No resumo da proposta, o termo se traduz como o lugar do cruzamento entre o formal (formado) e o informal (em forma- 81
3 campo do meio, a zona cinza, onde se desenvolve a verdadeira máquina da cidade. O para-formal nesse sentido, é algo artificial e provisório, algo relativo à forma, mas que ao mesmo tempo não se configura como tal. Um modelo abstrato, que tem como polaridade o formal e o informal, uma atividade menos delimitável, mais mista, heterogênea. O para-formal é um lugar do cruzamento entre o formal (formado) e o informal (em formação). O para-formal é um lugar de cruzamento entre o previsível e o imprevisível. O para-formal é: A: a cidade em formação, o princípio de acordos, regras e projetos. B: a cidade em desagregação, os processos urbanos conflitivos, friccionantes e catastróficos. C: as situações urbanas onde há fortes indiferenças estratégicas entre os autores. (GPA, 2010) Desse momento em diante começamos a experimentar a cidade com outros sentidos, procurando qual era o nosso para-formal? Num primeiro momento, traçamos um plano. Nosso grupo vai: caminhar, errar, fotografar, filmar, mapear, anotar, desenhar etc., tudo isso na região central das cidades, 3 no lugar do efervescente encontro entre o formal e o informal. Em seguida, ver o que foi reunido, catado ou roubado nessa errâncias. Ao caminhar, esse corpo (usuário, turista, planejador etc.) cria mapas, deixa marcas e rastros cartografias urbanas. (DE- LEUZE, 1995; JACQUES, 2006) Para em fim experimentar tudo novamente e coletivamente tentar responder o que é o nosso para-formal. ção), e é na Avenida Sete de Setembro que vamos aguçar os olhares para o universo do previsível e do imprevisível. No primeiro dia de Oficina, nos encontramos no Largo do Campo Grande munidos apenas de câmeras fotográficas pessoais e de pranchetas com um mapa da região do centro de Salvador, fornecido pelos proponentes da Oficina. Após o contato inicial entre os membros do grupo e um breve esclarecimento sobre o termo para-formal, nos dividimos em duplas e em trios e seguimos errantes pelas ruas, becos, cores e surpresas da Avenida Sete de Setembro. Foto de Edu Rocha Mas, afinal, o que é a para-formalidade? O que deveríamos buscar nessa errância? No encontro do grupo, no Largo do Campo Grande, entendi a para-formalidade como o inusitado, a entrelinha, aquilo que está entre o informal e o formal os vendedores ambulantes, os manequins pendurados nos rasgos das fachadas em ruínas, o buraco na calçada que se tornou recipiente para guardar cascas de coco. E, de fato, não haveria palco me- 82
4 O nosso para-formal (numa escala diferente da proposta pelo grupo GPA, que espia de grandes massas e conjuntos para-formais) são todas as cenas urbanas (comerciais, culturais, moradia, lazer, mistas etc.) encontradas nos espaços abertos e públicos da cidade que não fazem parte ou intenção de seu desenho urbano (GEHL, 2010) original, mas que agora na contemporaneidade fazem parte de seu cotidiano. (CERTAU, 1994) Além disso, o para-formal nos cotidiano das cidades sempre gera controvérsias (disputas, opiniões ou debates) na sua relação cidade-corpo e corpo-cidade, às vezes veladas e dóceis outras reveladas e desobedientes. Para o Corpocidade3, o grupo C+C, propôs uma Oficina para experimentar coletivamente 4 o conceito de para-formal na cidade de Salvador. A Oficina foi dividida em dois momentos: errâncias e intervenções. ERRÂNCIAS NA CIDADE DE SALVADOR (23 DE ABRIL DE DAS 15H ÀS 17H) Um grupo se reuniu no Largo do Campo Grande, 5 12 errantes 6 de diversas origens (turistas e nativos) estudantes de arquitetura e urbanismo, pesquisadores, professores, sociólogos entre outros todos com suas câmeras e cadernos de anotações, receberam um mapa localizar-se e com o nosso ponto de encontro final: o Largo de São Pedro 7 percurso caminhante de aproximadamente 1 km (Figura1). A partir do Largo do Campo Grande saímos ao longo da Avenida Sete de Setembro, 8 explorando e experimentando o para-formal um Outro urbano, saímos em duplas buscando cenas que as câmeras quisessem registrar e nossos pensamentos necessitassem descrever. FIGURA 1. Grupo reunido no Largo do Campo Grande para iniciar a errância. Fonte: Edu Rocha,
5 Caminhando nas brechas, margens e desvios do espetáculo urbano que surge uma outra cidade, intensa, viva. O Outro urbano é aquele que escapa, resiste, vive e sobrevive no cotidiano dessa outra urbanidade, através de táticas de resistência e apropriação do espaço urbano, de forma anônima (ou não) e dissensual, radical. Esse Outro urbano se explicita através da figura do morador de rua, ambulante, camelô, catador, prostituta, artistas, entre outros. São esses que a maioria aponta por manter na invisibilidade, opacidade, sendo alvos da regulação, ou nas palavras de Paola Jacques (2012), assepsia dos projetos e intervenções urbanos. Os errantes são os praticantes da errância urbana, a experiência errática da cidade. São experiências de apreensão e investigação do espaço urbano pelos errantes. São a própria visibilidade requerida pela metodologia cartográfica da cidade para- -formal. Uma tentativa de apreensão, de um errar pela cidade, uma prática da alteridade proposta como uma ferramenta subjetiva e singular. Uma apologia da experiência da cidade, que pode ser praticada por qualquer um, que busque um estado de corpo errante. (JACQUES, 2012) Ao final da errância exaustos no Largo de São Pedro nos encontramos para compartilhar as imagens e conversar sobre a experiência urbana, discutir o encontro de cenas para-formais e suas marcas no mapa. INTERVENÇÃO: ESPIANDO O PARA-FORMAL (24 DE ABRIL DE DAS 15H ÀS 17H) Para esse reencontro com o grupo de errantes preparamos diversos monóculos com as imagens realizadas durante as errâncias pelas ruas de Salvador e um mapa impresso da região. Eram imagens lhor para diversas essa (vendedores busca que a própria de rua, Avenida ambulantes, Sete músicos, de Setembro moradores, e sua pluralidade etc.), foram infinita. coletadas pelos Foto de Edu Rocha errantes cerca de 300 imagens no total (Fig.3). A ordem era: agora é só espiar! Seguimos fazendo o registro fotográfico desses Coletivamente era preciso inter-ferir com todo improvisos no espaço urbano e marcando os esse material produzido anteriormente. Num locais das descobertas no mapa. A cada passo, primeiro momento era preciso espiar pelo monóculo e encontrar a sua imagem para em seguida o inusitado se apresentava em diversas formas, cores e direções, estimulando nossos olhares a demarcá-la geograficamente no mapa da cidade. buscar mais imprevistos, mais esquinas e mais cidade. No fim da caminhada, nos encontramos no Para em seguida, não aguentar de curiosidade, espiar todos os monóculos dos outros errantes. Largo de São Pedro para descarregar as fotos em Os um monóculos computador, agiram trocar como experiências dispositivos e organizar capazes o de encontro enunciar do além-imagem. dia seguinte. O mapa dispositivo localizou uma cena/atividade difícil de ser geografada na cidade formal. Nesse momento os planos se No segundo dia, o encontro aconteceu na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA, onde sobrepuseram e nos apresentaram outra cidade: pudemos nos reunir ao ar livre para confeccionar a cidade para-formal. um mapa da errância os proponentes da Oficina imprimiram os participantes um grande deram mapa voz e colorido gesto ao que seu Todos para-formal, abrangia o caminho seja por suas percorrido imagens, pelo anotações grupo, para ou sentidos que pudéssemos expressados. identificar Não cabe os nossos aqui relatar itinerários todas as e marcar discussões os locais geradas onde sobre encontramos o que é ou as não para- é para-formal, mas sim que foi possível conhecer por meio da relação direta com as para-formali- 84
6 dades na cidade, seu potencial cultural e pedagógico, entendendo mesmo que a cidade como poder ser: ensina. Provisoriamente podemos contar que o para-formal encontrado em Salvador possibilita pensar sobre alguns processos relacionados ao espaço e tempo no centro das cidades talvez latino- -americanas. Esse processo nos faz pensar alguns pontos essenciais: -formalidades. Mas a melhor parte foi a seguinte: os proponentes montaram as fotos de todos os integrantes em monóculos, para que pudéssemos primeiramente olhar as imagens de todo os integrantes do grupo, para depois reconhecer os locais percorridos e finalmente registrar as para- -formalidades no grande mapa. Sobre o próprio espaço aberto e público espaço do para-formal, que se mostra ocupado por diversas atividades sobre o qual o projetista da cidade não cogita em seu escritório de urbanismo, isso tudo é impensado projetualmente. Sobre o corpo para-formal como o sujeito que é ator, protagonista desse espaço, a partir da colocação de Margareth da Silva Pereira (2008), de que Agora nós arquitetos, nós estamos construindo cidades sem corpo, o corpo está ausente, o corpo do próprio projetista, e do que constatamos durante as intervenções de que o corpo está lá torturado e esquecido, mas também feliz e ativo adaptado. O corpo para-formal carrega consigo, na maioria das cenas, um equipamento para-formal, essas próteses da contemporaneidade, extensões das atividades e por onde se ultrapassam os limites do corpo. Fazem parte das atividades, podem ser pequenas ou grandes equipamentos, simples ou complexos é a sobrevivência do corpo. Além desses três pontos relacionados à cena para- -formal (intrínseca), podemos também destacar outros aspectos não menos importantes (extrínsecas): a relação errante no encontro com a cena para-formal acontece por encontro na caminhada Foto de Edu Rocha O resultado foi a elaboração de uma cartografia pautada em um delicioso regresso à infância através dos monóculos, elementos praticamente extintos do nosso cotidiano. No fim do processo, penduramos os monóculos junto ao grande mapa, de modo que o público pudesse visualizar o trajeto percorrido pelo grupo e também localizar as para-formalidades através dos registros fotográficos tudo isso de maneira lúdica, interativa e muito interessante. 85
7 pelas ruas da cidade, percebe-se uma relação aparentemente dócil entre o formal na cidade e o para-formal (o território se acomoda) e a emergência de uma identidade cultural da rua em detrimento dos grandes monumentos turísticos e identitários hegemônicos (sim, o para-formal carrega consigo costumes e crenças; materiais e imateriais). S[EM] FIM UMA CARTOGRAFIA Pretendemos que todo esse material seja arquivado cartograficamente numa Plataforma Para- -formal. 9 Os processos de arquivamento possibilitam a construção de um entendimento sobre as tramas complexas que suportam as cidades. Adotou-se a ideia de arquivamento como uma ferramenta de registro, de mapeamento cartográfico. O mapeamento constitui limites e margens, inclusões e exclusões, muito, além disso, o mapeamento é uma ferramenta de visibilidade. A ideia de Derrida de que o trabalho de arquivamento supõe a produção do acontecimento, do espaço feito, é chave para se pensar na produção de espaço urbano na contemporaneidade. No âmbito dos estudos sobre a cidade, novas formas de interpretar e representar as trocas (constantes) acontecidas na cidade, e a tentativa de novas representações e interpretações. (GPA, 2010) Leitor e autor do mapa são sujeitos ativos na comunicação cartográfica, devem lutar para isso. É preciso, na montagem ou leitura de um mapa, estar à espreita, 10 reparar, espiar, reinventar e, de alguma forma, sentir a vida que passa por ali. Cartografias do para-formal são experiências de coleta de dados, de análise e de visões de futuro para essas atividades realizadas no centro das cidades e em muitos outros locais da vida contemporânea. A cartografia urbana é uma delas, fruto de uma união entre a geografia, a filosofia, a arquitetura, o urbanismo e as artes contemporâneas. A cartografia urbana é uma forma exploratória das sensações, dos sentimentos e dos desejos que fluem e escorrem na cidade da contemporaneidade. (ROCHA, 2008) Cartografia é aquilo que, para Rem Koolhaas, passa a ser um mapa vivido onde o território representado se configura através de inter-relações de configurações múltiplas. É o que Deleuze e Guattari (1995) chamam de uma metodologia experimental, que tem por essência não a validação ou reprovação de uma situação, mas FIGURA 2. Errantes espiando o para-formal. Fonte: Edu Rocha,
8 FIGURA 3. Imagens do para-formal. Fonte: Participantes da Oficina, sim como uma possibilidade de fazer visível o não visível, de habilitação de novos cenários, possibilidades. Cartografia capaz de habitar a fresta, o rasgo. Capaz de desmontar certezas, trocando o lugar de onde se formulam as perguntas, antecipar a realidade, imagina-la, projeta-la (Figura 3). Afinal: o que é para-formal? Pode-se afirmar que existe uma cidade para-formal, uma cidade paralela à cidade formal. Cidade para-formal que transita mistura espaços lisos e estriados. O espaço liso não para de ser traduzido, met-amor-foseado em um espaço estriado, e o estriado constantemente abandonado a um espaço liso. Espaço de indicernibilidade, uma zona esfumada, onde podemos abandonar ou encontrar tudo aquilo que ali mesmo havíamos perdido. Agamben (2002, p.15) se pergunta de que modo a vida nua 11 habita a polis? NOTAS 1 O Grupo Cidade+Contemporaneidade (C+C) é um grupo de estudos, ligado ao Laboratório de Urbanismo, da Faculdade 87
9 de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Pelotas, reúne professores, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação. Tem como objetivo articular-se em torno da abordagem multidisciplinar de questões teóricas e empíricas relacionadas à sociedade contemporânea, em especial na relação entre a arquitetura e cidade, habitando para isso as fronteiras da filosofia, das artes e da educação, a fim de criar ações projetuais e perceptos para uma estética urbana atual. [< 2 O grupo Gris Público Americano (GPA) é um coletivo independente, formado por um grupo de arquitetos argentinos com sede em Buenos Aires, integrado por Mauricio Corbalán, Paola Salaberri,PíoTorroja, Adriana Vázquez, Daniel Wepfer e Norberto Nenninger [< Propõe investigações que têm como ponto central as situações de controvérsias urbanas, polêmicas e/ou complexas. 3 Até dezembro de 2012 o grupo C+C já experimentou trechos das áreas centrais das seguintes cidades: Bagé, Salvador, Montevideo, Buenos Aires, Santiago do Chile, Santo Ângelo, La Plata e Brasília. Estão previstas para 2013 errâncias nas cidades de: Jaguarão, Pelotas, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. 4 É difícil na realidade discernir se esses são problemas políticos, econômicos, científicos ou técnicos. Na realidade é possível descrevê-los a partir do que Bruno Latour (2001) relatou como experimentos coletivos. Não é difícil catalogar o crescimento demográfico e a proliferação urbana como experimentos coletivos, onde o resultado da combinação de higienismo, medicina, engenharia, estatística, urbanismo, leis e regulações etc., supera amplamente as previsões de cada disciplina em separado. Estes eventos experimentais fazem que nossas categorias de natureza e técnica sejam mais relativas, menos previsíveis e mais ambíguas. Para nossas ferramentas de desenho urbano isso teria outras consequências, já não se trataria mais somente de fazer cidade, mas também dar visibilidade a essas novas categorias. Estas ações vêm fazendo emergir pouco a pouco realidades que poderiam se chamar de fantásticas, incalculáveis, estranhas, únicas, porém conectadas. Na investigação do para-formal há de se deter naqueles lugares incertos da cidade, lugares calientes, lugares experimentais ou passíveis de experimentação, e na cartografia desses lugares, consequentes narrativas que possam se entrelaçar. 5 A Praça Dois de Julho, também conhecida como Largo do Campo Grande, é um grande largo, bastante arborizado onde se ergue em seu centro um grande monumento chamado Caboclo, símbolo da resistência à Independência na Bahia. O Campo Grande é um bairro de classe média-alta de Salvador. O Bairro Campo Grande surgido no início do século XIX em torno da Praça de mesmo nome, sofreu uma série de transformações urbanas no decorrer da sua história. Constitui-se em um dinâmico centro cultural, nomeadamente devido à presença de instituições como o Teatro Castro Alves (TCA) e o Teatro Vila Velha, de importantes colégios e de associações como a Casa d Itália, na sua área. 6 O grupo errante era formado por: Eduardo Rocha, Pierre Moreira dos Santos, Luana Pavan Detoni, Lucas Boeira Bittencourt, Beatriz Filgueiras, Lumena Adad, Tiago Silva de Souza, Dila Reis, Amanda Marim, Evelin Santos, Edinaldo e Marilia. 7 O São Pedro é um Largo que havia na cidade histórica, com uma igreja de mesmo nome. Ao longo dos anos, o Largo foi demolido, inclusive a igreja, e hoje se configura como um cruzamento de vias de grande tráfego de pessoas e comércio de rua no centro de Salvador. 8 A Avenida Sete como é conhecida, foi idealizada dentro de um plano de reformas urbanas ocorrido em Salvador no início do século XX e no seu traçado liga núcleos morfológicos de diferentes períodos da cidade, como o centro histórico, da época colonial, aos núcleos de expansão que se deram ao longo dos séculos XIX e XX. 9 A Plataforma Para-formal vem sendo desenvolvida paralelamente as Oficinas realizadas, pretende-se no ano de 2013 disponibilizarmo-la como continuidade infinita da experiência para-formal nas cidades [provisoriamente em: < plataformaparaformal.glaucomunsberg.com/>]. 88
10 10 O estar à espreita, tem origem segundo Virginia Kastrup, no conceito de atenção flutuante descrito por Sigmund Freud. Freud aponta que a mais importante recomendação consiste em não dirigir a atenção para algo específico e em manter a atenção uniformemente suspensa. Freud argumenta que o grande perigo da escuta clínica é a seleção do material trazido pelo paciente, operada com base em expectativas e inclinações do analista, tanto de natureza pessoal quanto teórica. [...] em seu sentido mais conhecido, a atenção flutuante, é a regra técnica que, do lado do analista, corresponde à regra de associação livre da parte do analisando, permitindo a comunicação de inconsciente a inconsciente. (KASTRUP; PASSOS; ESCÓSSIA, 2009, p ). 11 Agamben (2002, p. 187) discute o sentido do termo nua no sintagma vida nua que, segundo ele, e em formulação corresponde ao termo grego haplos, com o qual a filosofia primeira define o ser puro. O isolamento da esfera do ser puro, que constitui a realização fundamental da metafísica do ocidente, não é, de fato, livre de analogias com o isolamento da vida nua no âmbito de sua política. Aquilo que constitui, de um lado, o homem como animal pensante, corresponde minuciosamente, do outro, o que o constitui como animal político. Em um caso, trata-se de isolar dos multíplices significados do termo ser [...] o ser puro (õnhaplôs): no outro, a aposta em jogo é a separação da vida nua das multíplices formas de vida concretas. Ser puro, vida nua o que está contido nestes dois conceitos para que tanto a metafísica quanto a política ocidental encontrem nestes, e somente nestes, o seu fundamento e o seu sentido? Qual é o nexo entre esses dois processos constitutivos, nos quais metafísica e política, isolando o seu elemento próprio, parecem chocar-se com um limite impensável? Visto que, por certo, a vida nua é tão indeterminada e impenetrável quanto o ser haplôs e, como deste último também se poderia dizer dela que a razão não pode pensá-la senão no estupor e no assombramento (quase atônita, Schelling). Foto de Edu Rocha A Oficina Espiar o para-formal na cidade de Salvador traz um processo extremamente rico de experimentação da cidade, traduzido na sua capacidade de aguçar nossos olhares para as entrelinhas do espaço urbano. A para-formalidade está ali, nas calçadas, nas esquinas, nos muros, e muitas vezes passamos despercebidos, negligentes, e perdemos a oportunidade de apreender essas poesias e potências tão pulsantes nas ruas de qualquer cotidiano. 89
11 REFERÊNCIAS AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG, CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, v.1. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, São Paulo: Ed. 34, v.1 GEHL, J. Cities for people. London: Island Press, GRIS PÚBLICO AMERICANO. Para-formal: ecologias urbanas. Buenos Aires: Bisman Ediciones/CCEBA Apuntes, JACQUES, P. B. (Org.). Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade/internacional situacionista. Salvador: EDUFBA, JACQUES, P. B. (Org.). Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, KASTRUP, V.; PASSOS, E.; ESCÓSSIA, L. de. Pistas do método da cartografia: pesquisa intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, LATOUR, B. A Esperança de Pandora: ensaio sobre a realidade dos estudos científicos. Florianópolis: EDUSC, PEREIRA, M. da S. Corpos Escritos paisagem, memoria e monumento: visões da identidade carioca. Revista [Re]dobra, Salvador, v.1, n. 5, p , nov ROCHA, E. Cartografias Urbanas. Revista Projectare, Pelotas, n. 2, p ,
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