FERNANDO PESSOA [Professor de filosofia da UFES e organizador dos Seminários Internacionais Museu Vale]

Transcrição

1 Os Seminários Internacionais Museu Vale FERNANDO PESSOA [Professor de filosofia da UFES e organizador dos Seminários Internacionais Museu Vale]

2 O propósito desta introdução, além de apresentar a oitava edição dos Seminários Internacionais Museu Vale, é comemorar a sua história. Comemorar é celebrar a memória, lembrar do que é memorável. Como casa das musas, aquelas que conhecem o passado, o sentido de todo museu se caracteriza fundamentalmente em cuidar da memória, preservando a sua história viva. A memória constitui o maior patrimônio de todo museu. Comemoração significa, então, festa, alegria, satisfação com o próprio patrimônio, o júbilo de recordar a sua história; no caso de nossos seminários, uma história pautada pelo compromisso de semear, com o vigor do pensamento, a transformação do homem. Os Seminários Internacionais Museu Vale se estruturam na relação de dois alicerces fundamentais: a compreensão do pensamento como arte e a sua ação de transformar o real o fato de, por ser originário, o pensamento inaugurar novas compreensões da realidade. Nesse sentido, semear a transformação do pensamento é o propósito fundamental de nossos seminários, o que motiva esse evento do Museu Vale. Desde a sua primeira edição, em março de 2006, os seminários abrem as atividades do Museu Vale com uma reflexão diversificada acerca de algum tema, tecendo um grande mosaico de discursos, questões e pensamentos sobre um mesmo assunto. Seja o seu tema a arte no pensamento ocidental ou os sentidos da arte contemporânea, a necessidade da poesia em tempos indigentes ou a diferença entre criação e crítica, a superação de uma crise ou a produção do homem, seja sobre cidades ou sobre cibernética, 11

3 CYBER-ARTE-CULTURA todos os temas dos seminários nasceram da necessidade de pensar questões fundamentais, que surgem da necessidade histórica de nossa época, e não de qualquer interesse subjetivo. Sempre pautados nessa demanda histórica do tema e na diversidade de sua abordagem, convidamos palestrantes nacionais e internacionais de diferentes campos da filosofia, ciência e arte para pensar a questão proposta conforme a perspectiva de seu horizonte; compreendemos que todo pensamento originário e vigoroso nasce da liberdade de poder apresentar o que lhe interessa propriamente por isso, a partir do tema geral, ao contrário de determinar os pontos das palestras, cada palestrante recorta o assunto na sua perspectiva. Assim, longe de todo patrulhamento ideológico, moral ou estético, a organização das oito edições dos seminários do Museu Vale sempre se estrutura na diversidade de perspectivas, na pluralidade de horizontes, na liberdade do pensamento. A oitava edição dos Seminários Internacionais Museu Vale propõe como tema cyber-arte-cultura: a trama das redes, a fim de pensar aquele que provavelmente seja o fenômeno histórico mais importante do mundo atual: a cibernética. O advento das redes de comunicação, a internet, conectou o mundo nas tramas de suas teias, tecendo uma enorme cultura global, na qual o homem passa a ter acesso incondicional a todas as informações no mundo, a se agrupar em redes sociais e blogs, a se apresentar em sites e se comunicar por s, promovendo uma ampla e profunda revolução histórica. Para pensar esse fenômeno, propomos uma reflexão sobre o advento das redes de comunicação, bem como sobre as suas relações com a arte e a cultura contemporâneas. Nesse sentido e com esse propósito, a organização dos Seminários elaborou um programa estruturado em quatro momentos. Como introdução ao tema, uma apresentação dos fundamentos tanto da ciberarte como da cibercultura que demonstre, 12

4 Os Seminários Internacionais Museu Vale por um lado, os mecanismos, funções, abrangência, dispositivos, possibilidades, etc. da informática e das redes de comunicação e, por outro lado, a relação da tecnologia cibernética com a arte contemporânea. Para proferir a palestra de abertura, convidamos Erick Felinto, pesquisador do CNPq e professor associado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde realiza pesquisas sobre cinema, teoria da comunicação e cibercultura. Ainda como introdução ao tema, o primeiro dia é composto por uma mesa com dois professores: Eduardo Jesus, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-Minas, e Ivana Bentes, professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, ambos com pesquisas na área de audiovisual, arte contemporânea e tecnologia. E para encerrar a introdução, convidamos André Lemos, professor do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da UFBA e pesquisador do CNPq. No segundo momento do seminário, abordaremos a questão da construção de uma nova compreensão da realidade e, consequentemente, a formação de uma nova subjetividade, a partir das imagens geradas pela tecnologia cibernética. Para isso, formaremos uma mesa com dois estudiosos do assunto: André Parente, professor da Escola de Comunicação da UFRJ, onde criou e coordena o Núcleo de Tecnologia da Imagem (N-Imagem), e Rodrigo Savazoni, jornalista, webproducer e realizador multimídia. Para fechar essa parte dos Seminários, teremos a palestra de Gilbertto Prado, artista multimídia e professor do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes da USP. O terceiro momento dos Seminários visa pensar a ciberarte, primeiramente com uma mesa composta por duas professoras brasileiras, 13

5 CYBER-ARTE-CULTURA ambas especialistas nas novas tecnologias das artes visuais: Diana Domingues, pesquisadora do CNPq, professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica e do Programa de Pós-Graduação em Arte da UnB, e Giselle Beiguelman, midiartista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Como conferencista desse dia, também especialista na questão da ciberarte, Simon Biggs, artista multimídia, escritor e curador, com interesses em poéticas digitais, palestrante internacional e professor de artes interdisciplinares na Universidade de Edimburgo, Escócia. Por fim, para encerrar esta edição dos Seminários, convidamos dois jornalistas bastante conhecidos no mundo tanto do jornalismo como da cibercultura: Cora Rónai, colunista do Segundo Caderno e do caderno Economia de O Globo, e Marcelo Tas, jornalista, autor e diretor de TV, para conversarem sobre suas práticas e pensamentos acerca das redes sociais. Tendo como princípio a diversidade e como finalidade a transformação, com esses doze palestrantes dispostos nesses quatro momentos, a organização da oitava edição dos Seminários Internacionais Museu Vale convida a todos a pensar cyber-arte-cultura que foi tecida na trama das redes. 14