Rugby de contato, bom ou ruim?

Transcrição

1 Vejo muitos treinadores reclamar do quanto seus jogadores jogam rugby de contato antes do treino ou nas horas vagas. Talvez tenham medo de que os jogadores criem maus hábitos e não se dediquem aos fundamentos importantes do contato. Sejamos francos: o rugby de contato pode ser divertido, mas está longe de ser o jogo verdadeiro, não é uma preparação realista para a partida de sábado. Alguns problemas básicos do rugby de contato: Na verdade, é de CONTATO. Significa que as fintas e mudanças de direção não são tão eficazes quanto no jogo de placagem. O que seria um bom espaço no jogo de contato não é bastante para que o jogador evite as mãos do adversário no jogo de toque. Tira a vantagem do jogador grande e não acrescenta aos fundamentos de execução e defesa contra o ataque direto. Estimula mais a evasão do que o ataque direto. O toque faz o ficar jogador mais relutante à curta distância do defensor, o que pode contribuir para bom passe e evasão, mas gera problemas no jogo de contato caso não se saiba quando e como chegar à linha de vantagem. Geralmente o rugby de contato não estimula cadência da linha atacante. Um grande problema no ataque em campo aberto é a falta de profundidade suficiente para aceleração e penetração da linha defensiva. A linha atacante no rugby de contato costuma ser muito próxima e aberta. Muitas versões do toque não permitem o chute, um recurso útil de ataque que nem sempre tem a devida atenção no treino e cria mais espaço na linha defensiva porque exige jogar em profundidade. Muitas versões do jogo têm muito jogadores, na maioria das vezes divididos igualmente, o que leva ao congestionamento, não há espaços a explorar e faltam oportunidades para cada jogador dar tratos à bola. Mas o rugby de toque não é de todo ruim. Pode oferecer muitos passes e corridas, tomadas de decisão, fintas, defesas, fases do jogo. Certamente algumas formas do jogo de toque podem ser úteis. Talvez a questão seja não o jogo de toque propriamente, mas COMO é jogado. Vamos ver possíveis variações que possam servir aos treinadores, a começar pelas duas principais modalidades de toque recreativo encontradas no Caribe (e em outras partes do mundo): Rodízio de um toque (também chamado toque de Fiji) Quando o jogador com a bola é tocado, a posse passa ao outro time. A defesa se alinha a 5 m da bola a cada rodada. Essa versão pode estimular passes de "escape" dos jogadores de apoio mais recuados, além de muitos passes para todos os lados. Claro, essa não é sempre a melhor preparação para uma partida importante no sábado. E contraria as expectativas o jogador interceptar um passe e ser placado ao pegar na bola e a posse

2 voltar para o outro lado. Seria melhor NÃO interceptar a bola e bloquear o adversário para retomar a posse. Quando usar essa modalidade? Possivelmente ao preparar o time para contra uma defesa adversária forte no contato. Pode ser útil no jogo de 7, também, já que força o jogador a procurar um companheiro mais distante para fugir à pressão. Voltar para o ponto em que foi tocado e recomeçar Esta é a forma mais comumente vista do toque. O corredor é tocado, para e retorna aonde ocorreu o toque, enquanto a defesa e o ataque se reorganizam. Então o reinício pode ser feito segundo a Liga de Rugby, com a bola rolada para trás com o pé, ou com um tap-kick (que raramente é um chute, na verdade, costuma ser um toque na bola com o pé ou o joelho). Às vezes, é estabelecido um número de toques para que a posse da bola passe à defesa. Essa modalidade permite algumas jogadas e os times podem se acostumar a perceber e reagir à mudanças na situação. Com o retorno ao ponto após cada toque, o jogo fica lento (a defesa tem todo o tempo para se reorganizar) e o método de reinício indica se um ou mais atacantes devem fazê-lo, enquanto os defensores estão todos de volta ao jogo (no jogo de contato, qual é a chance de o mesmo defensor fazer três ou mais placagens seguidas?). Variações Há outras formas de jogo de toque que sejam mais úteis na preparação para o jogo de contato? A seguir, listamos algumas variações, que você pode levar em conta ao usar o rugby de toque no treinamento da equipe. Mudar as regras Se você quiser treinar determinado fundamento, exija seu uso na jogada sob pena de o time perder a posse da bola. Por exemplo, se quiser que o time use inversões e mudança de direção, exija que o ataque faça uma inversão ou passe em duas direções pelo menos uma vez a cada três toques, se não perderá a posse da bola. Se quiser que o time treine o passe longo, para alargar a defesa, crie uma regra para inverter a posse de bola caso o jogador seja tocado no meio de campo ou duas vezes seguidas na linha lateral. Ou exija que façam dois passes antes de ser tocados. Os primeiros recebedores serão levados a se acostumar a distribuir em vez de sair correndo sem pensar. Se o toque estiver levando os jogadores e fugir da pressão e não avançar com a bola, crie uma regra para inverter a posse se o jogador for tocado antes da linha de vantagem. Claro, isso pode desencorajar o passe, por isso crie outras exigências: dois passes por jogada, etc. Quer que o time pratique o chute tático e o contra-ataque? Crie a exigência de que o time faça três jogadas (toques) depois do que a bola deverá ser chutada. Mas se recuperar a bola, o time que chutou ganha mais quatro jogadas no ataque. Quer ensinar aos jogadores a enfrentar um único adversário e evitar ser pego pelo grupo? Permita um passe depois de ser tocado por um defensor, mas marque a

3 inversão se dois ou mais defensores tocarem-no antes do passe. Dê mais pontos para certas partes da linha de try ou se determinados jogadores marcarem. Se quiser treinar a execução e defesa de cobranças rápidas de pênalti e falta, organize um jogo de toque em que o árbitro aleatoriamente marcará faltas e pênaltis e determina uma distância da bola. Os times aprenderão a se colocar em posição de defesa e ataque a partir do quick-tap, reagir com rapidez à perda súbita da posse e ter paciência com a aparente insanidade do juiz. Eu recomendaria o rodízio de jogadores na função de árbitro no jogo de toque e em outros aspectos da prática. Assim o jogador aprende como é a arbitragem e tem mais tranquilidade para lidar com os diferentes estilos de vários oficiais. Mudar o campo Alterar a largura e comprimento do campo altera a percepção e reação do jogador. Ao tornar o campo mais comprido e estreito, você terá penetração pelo meio, com passes curtos e mudança de direção. A defesa deverá cobrir em profundidade e o ataque precisará de um bom apoio e boas jogadas para marcar. Com um campo mais largo e curto, o jogador tem mais espaço lateral e buscará a penetração com passes longos e combates individuais. Haverá mais passes e os tries serão mais frequentes. Você pode alternar os dois formatos, jogando ao comprido até dois tries e passando ao campo largo por outros dois tries. Mudar os números No rugby de toque é muito mais fácil defender do que atacar. É preciso muito mais espaço para criar uma brecha no jogo de toque e são necessários menos defensores para cobri-la. A defesa não precisa de habilidade na placagem, apenas coordenação visual e motora para tocar o oponente que corre. Como corrigir esse desequilíbrio? Uma opção é ter mais atacantes do que defensores. Costumo usar o dobro de atacantes e separá-los em três times. Digamos, cada time com quatro jogadores tem 5 minutos para se defender de dois times combinados e obter o placar mais baixo possível. Outra opção é ter jogadores "curinga". Digamos que haja 12 jogadores. Podem jogar 7 contra 5 e os dois últimos a tocar a bola no lado da meta (passador e pontuador) passam à defesa, que então terá sete jogadores e deve atacar. Se o time com cinco jogadores marcar, ninguém troca de lado, mas nesse caso seria apropriado fazer uma leve troça ao time que sofreu o try. Mudar os jogadores Convenhamos. Nem todos os jogadores de rugby são iguais. E o rugby de toque favorece mais o dançarino de pés ágeis do que ao grandalhão rompedor. Costumo ficar consternado ao ver, no jogo de toque, um fortão corpulento tentar um passe desajeitado a 5 m da linha de try. O instinto que queremos alimentar nesse jogador é atingir a linha com tanta força que só todos os X-Men juntos poderiam detê-lo. Então como incentivar o bloqueador a continuar bloqueando no rugby de toque? Talvez

4 mudando as regras para cada tipo de jogador. Identifique os "jogadores de impacto" em um jogo de toque. Esse jogadores devem ser tocados por três adversários para que baixem ou passem a bola. E se o jogador de impacto tocar no adversário com a bola, marca-se a inversão (assim o atacante se aprende a se manter longe dos bons placadores). Dessa forma o bloqueador tem mais impacto mantendo seu estilo de jogo. Contato gradual Tenho sido acusado de enganar os jogadores e usar contato no treino. Eu mudo as regras a cada poucos minutos e pouco a pouco vou introduzindo um pouco de vitalidade no rugby. Começo com o jogo sem limite de toques e com inversão se a bola cair. Depois permito o passe depois de um toque no jogador, mas com reinício de tap se este for tocado por dois defensores. Um ou dois minutos depois, permito que os defensores agarrem o braço do jogador com a bola para impedi-lo de passar após o toque. Então introduzo a regra de inverter a posse quando os defensores conseguem impedir o jogador com a bola de passar ou de levar a bola ao chão (o jogador com a bola luta para protegê-la, levá-la ao chão e colocá-la bem e isso já é quase contato). A regra seguinte é que, com o jogador com a bola no chão e a bola colocada, o defensor pode tocar a bola com as mãos, configurando a inversão da posse. Assim os jogadores de apoio precisam empurrar e bloquear para que os defensores não cheguem à bola. É quase um ruck (não fale nada, estamos jogando toque). Agora os jogadores estão entusiasmados com um jogo muito mais próximo ao que eles vão ter no jogo do fim de semana e estão usando seus pontos fortes no rugby para ter sucesso (os mais fortes vão se sair tão bem quanto os mais ágeis). Se forem marcados muitos tries no jogo, eu estreito mais o campo até que sejam necessárias 4 ou 5 jogadas. Se você exigir o chute depois da quarta jogada, o ritmo aumenta muito. Esses são apenas alguns dos métodos de alterar regras para tornar o toque mais útil ao desenvolvimento de fundamentos e à preparação para o rugby de contato. P.S.: abaixo você encontra uma breve descrição minha do rugby de toque e de marca.

5 Rugby de bandeira (ou marca) Note que marca e bandeira' são termos comumente usados para indicar a modalidade em que fitas plásticas são presas com velcro aos lados de um cinto especial, de forma a ser puxadas e recolocadas com facilidade. Organizei jogos de marca em que todos usavam meias velhas enfiadas em cada lado do calção para servir de bandeira. Nesta seção usarei os termos bandeira e marca apenas na tentativa de confundi-lo. O rugby de bandeira é uma ferramenta eficiente para desenvolver fundamentos importantes do rugby de contato. Em vez de tocar o jogador com a bola, você deve alcançar-lhe a cintura, visar a bandeira, avançar e agarrá-la. Muito semelhante à placagem e à posição do corpo que o placador deve assumir ao buscar o contato. O jogador com a bola na verdade pode passar por uma pequena brecha, se vier em velocidade, e as fintas funcionam mais no jogo de marca do que no contato. três segundos e três passos para passar, depois do que ele retoma a bandeira das mãos do defensor. Depois de pegar a bandeira de volta, o atacante pode voltar ao jogo. O defensor deve recuar para seu lado depois de gritar "bandeira". Se estiver no outro campo, não poderá interferir no passe e só poderá puxar a bandeira do jogador com a bola quando esta cruzar a linha de vantagem. Alguns usam a linha de impedimento de 5 m a cada jogada, outros só mantêm 5 m de distância para a reposição. Em algumas ligas mistas de rugby de toque, o time ganha o dobro de pontos quando uma menina marca. Scott Harland Há muitas formas de variar as regras, mas a mais usada no rugby de toque é que a reposição é feita com um passe (não um tapkick) após o ponto ou uma marcação do árbitro (pênalti, knock-on, impedimento, etc.). O ponto é marcado ao cruzar a linha, sem necessidade de tocar a bola no chão (o que evita mergulhos e permite que o jogo ocorra em terrenos mais duros). Não é permitido se lançar intencionalmente ao chão. Quando sua bandeira é puxada (o defensor deve segurar a marca no alto e gritar "bandeira ), o jogador com a bola tem