COMUNICADO nº 10/2014. Aos: Senhores Prefeitos, Assessores Jurídicos, Secretários dos Municípios e Executivos de Associações de Municípios.
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- Nathan Bugalho Galvão
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1 COMUNICADO nº 10/2014 Aos: Senhores Prefeitos, Assessores Jurídicos, Secretários dos Municípios e Executivos de Associações de Municípios. Referente: Área de Preservação Permanente - APP em área urbana consolidada. A vem apresentar algumas considerações sobre Área de Preservação Permanente em área urbana consolidada. A aplicação dos limites ambientais é hoje um dos grandes desafios do administrador público, e fonte de discussões diversas. Historicamente, os limites ambientais sempre foram alvo de grandes divergências como preparação para o futuro de nossas cidades, o que se considera uma tarefa desafiadora. A constante busca pela água nas atividades cotidianas e industriais, habitualmente levaram os povos a buscarem ocupação em locais onde os recursos hídricos eram fartos e facilmente captados. A Área de Preservação Permanente APP é a nomenclatura indicada pelo Código Florestal para identificar as áreas que devem ser mantidas com cobertura vegetal. As APP s das margens de rios e dos entornos de nascentes, são aquelas compostas pelas matas ciliares, matas protetivas do corpo hídrico, e se fundamentam na necessidade técnica de manutenção da vegetação destinada a garantir seus aspectos protetivos. No que tange área urbana consolidada, a mesma vem descrita no art. 28 do Código Estadual de Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina, Lei /2014: Art. 28 (...) VII - Área Urbana Consolidada: parcela de área urbana com malha viária implantada e que tenha, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana implantados:
2 a) Drenagem de águas pluviais urbanas; b) Esgotamento sanitário; c) Abastecimento de água potável; d) Distribuição de energia elétrica; ou e) Limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos; A preocupação com a contenção das ocupações em faixas marginais de proteção de rios e lagos, até a última década do Século XX, era uma preocupação de poucos, e, não obstante a existência de legislação que visava conter a implantação de construções nas margens dos rios, essas leis eram, simplesmente, desconsideradas pelos municípios. Em 1934 o Código de Águas, timidamente, abraçou parte da questão ao estipular uma faixa de 15 metros de largura em cada margem como área non aedificandi. O conflito que atualmente existe é entre a Lei Federal nº / Código Florestal - que determina faixas de preservação permanente de 30 metros de largura e a Lei Federal nº 6766/79 - parcelamento do solo urbano - que determina a reserva obrigatória de faixa "non aedificandi" de 15 metros para cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica, ambas lei federal de igual hierarquia. A proteção do meio ambiente como um todo, é considerada matéria de competência comum da União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme previsto no artigo 23, da Constituição Federal: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; (...) VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
3 VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; (...) Já pelo artigo 24, da Constituição Federal, se define competência concorrente para legislar sobre meio ambiente: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Portanto, a Constituição Federal encarregou os municípios, em matéria ambiental, de exercerem competência administrativa em comum com a União e o Estado, e a competência legislativa de forma concorrente, o que significa poder legislar de forma suplementar ao disposto pela Lei Federal. O entendimento do nosso E.Tribunal de Justiça, é pelo uso da Lei de parcelamento de solo em área urbana, conforme se nota em diversos julgados, a qual citamos: APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. REQUERIMENTO DE ALVARÁ PARA CONSTRUÇÃO NEGADO, DIANTE DA NECESSIDADE DE AFASTAMENTO DE 30 METROS
4 DO CORPO D'ÁGUA, CONFORME DISPÕE O ART. 2ª, 'A', 1, DO CÓDIGO FLORESTAL. INAPLICABILIDADE. IMÓVEL INSERIDO EM ÁREA URBANA INEQUIVOCADAMENTE CONSOLIDADA. INCIDÊNCIA, NO CASO, DO ART. 4º, III, DA LEI DE PARCELAMENTO DE SOLO URBANO (LEI N /79), QUE EXIGE O AFASTAMENTO DE 15 METROS AO LONGO DAS ÁGUAS CORRENTES. OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. A aplicabilidade do Código Florestal em áreas urbanas consolidadas é matéria reiteradamente discutida pelas Câmaras de Direito Público desta Corte, que têm decidido no sentido de afastar a incidência daquele Código naqueles casos, não havendo necessidade de declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 2º, 'a', 1, da Lei n /65, sobremaneira quando tal reconhecimento, pela via difusa, pressupõe a utilidade para a solução dos autos, o que não é o caso, pois aplica-se, na hipótese, o art. 4º, III, da Lei de Parcelamento de Solo Urbano (Lei n /79). Diante do contexto inequivocadamente urbano e consolidado em que o imóvel está inserido, pode-se afirmar que, ao exigir o recuo de 30 metros estabelecido pelo Código Florestal, o impetrado afrontou o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, que deve sempre nortear toda ação administrativa, impondo ao administrador não só proclamar decisões revestidas de regularidade formal, mas também que sejam substancialmente razoáveis e corretas, justificando-se com dados objetivos de modo a balancear o meio utilizado ao fim pretendido pela lei. Assim, correta a medida que determinou a autoridade impetrada que se abstivesse de condicionar a emissão do alvará de construção ao recuo de 30 metros a partir do leito do rio que corre defronte ao imóvel do impetrante, devendo observar, contudo, a metragem de 15 metros estabelecida pelo art. 4º, III,da Lei de Parcelamento de Solo Urbano (Lei n /79). SENTENÇA QUE CONCEDEU PARCIALMENTE A ORDEM REFORMADA EM PARTE. APELO DO MUNICÍPIO DE JOINVILLE E REMESSA PARCIALMENTE PROVIDOS. APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
5 DESPROVIDO. (Apelação Cível em Mandado de Segurança n , de Joinville Relator: Des. Subst. Francisco Oliveira Neto ) "AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALVARÁ DE CONSTRUÇÃO. IMÓVEL INSERIDO EM ÁREA URBANA. APLICABILIDADE DA LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO EM DETRIMENTO DO CÓDIGO FLORESTAL. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 'A lei que trata do uso do solo nas áreas urbanas assinala diferenças em relação ao Código Florestal, mas sem quebra da ordem jurídica, uma vez que este é aplicável na área rural e a Lei de Parcelamento do Solo Urbano no perímetro das cidades, conforme autorizado pelo art. 2º, parágrafo único, da Lei n /1965. Em razão do disposto na Constituição Federal (art. 24) e no Código Florestal (art. 2º, parágrafo único), não se verifica incompatibilidade de normas, nem a necessidade de declaração de inconstitucionalidade para que se aplique a Lei n /1979 na área urbana. [...] É entendimento assente nesta Corte de Justiça que em área urbana não se aplicam as distâncias mínimas definidas pelo Código Florestal entre construções e margens de rios, córregos e canais, mas sim aquelas definidas pela Lei de Parcelamento do Solo Urbano'. (Agravo de Instrumento n , rel. Des. Luiz César Medeiros)" (TJSC, Agravo de Instrumento n , de Joinville, rel. Des. João Henrique Blasi, j ); Também entende nosso E.Tribunal que a regulamentação do Código Florestal corresponde para área rural, qual seja, aquela destinada a ambiente não-urbano, e esta Federação também compartilha do mesmo entendimento.
6 Em âmbito estadual, há conflito entre Ministério Público do Estado e o Tribunal de Justiça, que possuem entendimentos diferenciados quanto à delimitação das APP s em áreas urbanas consolidadas. Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº 368/2012, que visa alterar o Código Florestal (Lei nº /2012), permitindo que municípios determinem a largura das faixas das áreas marginais de cursos d água em áreas urbanas consolidadas. Segundo o projeto de lei apresentado, a delimitação destas APP s deverá estar previsto nos planos diretores dos municípios e em lei sobre uso e ocupação do solo, respeitados os planos de defesa civil e após audiência dos Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente. A aprovação do projeto de lei vem ao encontro do Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina, o qual sofreu alterações através da Lei n.º /2014 aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina ALESC, sancionada pelo governador e publicada em 22 de janeiro de Os artigos 122-A a 122 D, da retrocitada Lei, tratam especificamente sobre o assunto, colocando um ponto final na discussão e permitindo decisões consubstanciadas. Imprescindível aos gestores públicos tal conhecimento, haja vista a relevância da matéria, bem como o respeito à legislação federal. Para maiores informações e orientações, a FECAM coloca seu departamento jurídico à disposição para qualquer esclarecimento por meio do endereço juridico@fecam.org.br. Florianópolis/SC, 17 de março de ALEXANDRE ALVES Diretor Executivo EDINANDO LUIS BRUSTOLIN Advogado OAB/SC nº THAYSE STIEVEN FLECK STELLA MARIS BARTH WANIS Advogada OAB/SC nº Advogada OAB/DF Nº
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