NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO CCZ-UFPEL, NO PERÍODO DE 2002 A COMPORTAMENTO ANTIGÊNICO DE SOROVARES LEPTOSPIRAIS EM CÃES,

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1 COMPORTAMENTO ANTIGÊNICO DE SOROVARES LEPTOSPIRAIS EM CÃES, NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO CCZ-UFPEL, NO PERÍODO DE 2002 A Autor(es): Apresentador: Orientador: Revisor 1: Revisor 2: Instituição: RECUERO, Ana Lúcia Coelho; RASSIER, Gabriela Lopes; HENTGES, Andréa; STONE, Simone Cardozo; STARK, Cledir Behling; DIAS, Lúcia Pereira; FERNANDES, Cláudia Pinho Hartleben; JORGE, Sérgio; RECUERO, Rebeca da Cunha; BROD, Claudiomar Soares Ana Lúcia Coelho Recuero Claudiomar Soares Brod Alexandre da Rocha Gonçalves Marta Fernanda Fehlberg Universidade Federal de Pelotas COMPORTAMENTO ANTIGÊNICO DE SOROVARES LEPTOSPIRAIS EM CÃES, NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO CCZ-UFPEL, NO PERÍODO DE 2002 A RECUERO 1, Ana Lúcia Coelho; HENTGES 1, Andréa; STONE 1, Simone Cardozo; STARK 1, Cledir Behling.; DIAS 1, Lúcia Pereira; FERNANDES 1, Cláudia Pinho Hartleben; JORGE 1, Sérgio; RECUERO 1, Rebeca da Cunha; BROD 1, Claudiomar Soares 1-Centro de Controle de Zoonoses Faculdade de Veterinária/UFPel Campus Universitário Caixa Postal 354 CEP anarec@pop.com.br 1. INTRODUÇÃO A leptospirose é uma zoonose que acomete animais domésticos, silvestres e os humanos, sendo uma doença altamente patogênica, que pode levar os indivíduos à morte em sete dias (FAINE, 1999). O agente da doença é transmitido de um mamífero a outro normalmente através do contato direto com urina contendo leptospiras viáveis, e também através de água, solo, alimentos, ou utensílios contaminados. A enfermidade de Stuttgard como é conhecida a leptospirose canina, tem grande importância, pois para os homens, o cão é considerado como a segunda principal fonte de infecção, após os roedores (BROD, 2002). A variabilidade sorológica da Leptospira sp, é muito grande, tem sido relatados mais de 200 sorovares diferentes, não ligados obrigatoriamente às espécies mais comumente infectadas pelos mesmos. Este fator determina uma característica de versatilidade a esta bactéria, proporcionando uma enorme gama de hospedeiros susceptíveis ao agente (ILS, 2003). A virulência da Leptospira sp é uma capacidade que pode ser perdida em sucessivas passagens no cultivo laboratorial, porém pode ser resgatada quando as culturas puras são inoculadas em animais susceptíveis, como em animais de laboratório (FAINE, et al., 1999).

2 Na soroaglutinação microscópica com antígenos vivos (MAT), o soro suspeito deve ser enfrentado com um número expressivo de antígenos leptospirais, entre os quais estejam representantes dos principais sorogrupos patogênicos (Faine, 1982) e de todos os sorovares comuns da localidade de ocorrência dos casos (Torten, 1979). Os títulos de anticorpos geralmente são maiores com antígenos provenientes da região onde estão ocorrendo os surtos ou casos, do que com as cepas de antígenos estocadas no laboratório ainda que do mesmo sorogrupo (Tan; Welch, 1974; Hergt, 1976). Portanto, um número expressivo de sorovares deve ser utilizado no teste de diagnóstico para que sejam detectados sorovares pouco comuns ou não detectados até então (Katz, et al., 1991). As reações da MAT podem não corresponder exatamente ao sorogrupo que causou a infecção, sendo a capacidade de predizer o sorogrupo infectante menor do que 40% (Levett, 1999). As leptospiras que estão espalhadas pelo mundo, possuem características particulares, segundo o ambiente, e os hospedeiros que normalmente naquele ambiente são seus reservatórios, isto se expressa na virulência que apresentam ao infectarem os indivíduos. Em diagnósticos utilizando sorovares importados comparados aos diagnósticos incluindo sorovares isolados locais observa-se a prevalência aumentada, reforçando a importância do isolamento de bactérias regionais para a otimização do diagnóstico de certeza. 2. MATERIAL E MÉTODOS Amostras de soro Foram analisadas 640 amostras sorológicas de caninos reagentes à Leptospirose, durante o período de tempo compreendido entre os anos de 2002 a 2006, avaliando-se a reatividade dos sorovares, bem como o percentual de sorovares reagentes contidos nas vacinas comerciais. Técnicas Laboratoriais O diagnóstico laboratorial da leptospirose realizado no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), baseia-se em duas técnicas. A Pesquisa de Espiroquetas por Microscopia de Campo Escuro em soro (BDFM) e urina (UDFM), e a Soroaglutinação Microscópica com Antígenos vivos (MAT) em soro sangüíneo com uma bateria de 64 sorovares leptospirais, sendo 52 patogênicos, 12 saprófitos e 14 cepas isoladas de casos de leptospirose animal ou humano, do ecossistema local, executadas segundo Faine et al., (1999). Inclui-se na bateria de diagnóstico todas as 19 cepas (18 patogênicas e uma saprófita) recomendadas pela OMS. A sorologia, somada à epidemiologia e sintomatologia expressada nos doentes confirmam o diagnóstico. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os sorovares isolados na área de abrangência do CCZ-UFPel apresentaram 52,8% das reações em soros da espécie canina, enquanto a MAT realizada com a ausência destes sorovares identificaria apenas 38,4% de reações positivas, Cabe ainda ressaltar que se fossem utilizadas somente as 19 cepas recomendadas pela OMS, seriam detectados apenas 88 cães reagentes, ou seja, 13,75% dos positivos. Observa-se também que, considerando a bateria de diagnóstico do CCZ, apenas

3 20,9% dos cães poderiam escapar da infecção, caso houvessem sido vacinados em tempo e com algumas das vacinas que contivessem os sorovares infectantes. Dos sorovares locais reagentes, o sorovar CCZ-Tande apresentou o maior número de sororeações, acompanhado em percentual pelo sorovar CCZ-Kito, incluído na bateria de antígeno para diagnóstico no ano de Estes dois sorovares, ambos pertencentes à espécie genômica L. interrogans, isoladamente, apresentaram o maior número de reações com percentual de 46,09% contra 6,40% de reações no somatório de todos os outros sorovares. Esta situação provavelmente se deve a espécie genômica L.interrogans ser a responsável pelo maior número de casos da doença leptospirose (McBride, 2005). Interessantemente, o percentual de reações associadas aos sorovares CCZ- Tande e CCZ-Kito apresentaram decréscimo gradual na sororeatividade, provavelmente associada às passagens dos cultivos in vitro, concordando com as recomendações da necessidade de recuperação da virulência de cepas, buscando a maior analogia possível com aquelas bactérias que estão no ambiente e infectando hospedeiros suscetíveis (Faine et al., 1999). Associado a este fato, ainda a presença de antígenos expressos somente durante a infecção e presentes em culturas in vitro recém isoladas do hospedeiro infectado ou que tenham tido a virulência recuperada (Croda, et al., 2007) mostrou-se evidente, sendo os sorovares recém isolados capazes de identificar anticorpos em reações cruzadas com outros sorovares, já que os antígenos expressos somente no hospedeiro são relativamente conservados entre os sorovares e espécies genômicas patogênicas de Leptospira (Matsunaga, et al., 2003) Tab. 1. Comportamento antigênico de sorovares leptospirais em 640 cães reagentes à leptospirose, na área de influência do CCZ-UFPel, no período de 2002 à Sorovar Isolados locais Total % Ano 2002 Ano 2003 Ano 2004 Ano 2005 Ano 2006 Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim tande **** kito **** mike **** hook **** kade **** skoll **** ,8% caco **** picanha **** cascata **** bonito **** illini *** (+)patoc *** ,8% rufino *** butembo ** (+)ballum ** (+)autumnalis ** sejroe M24 ** (+)hardjo prajitno ** poi Poi ** (+)bataviae ** ,5% (+)grippotyphosa ** (+)castellonis ** (+)cynopteri **

4 (+)panamá ** shermani ** bratislava * (+)copenh. M20 * ictero. Verdum * ictero. Kantorovic * (+)canicola * (+)ictero. RGA * ,9% copenh. Wijnberg * copenh. Li130 * ictero. Lai * (+)pomona * Total % 46,5 53,7 54,9 45,1 44,8 55,2 47,3 52,7 42,6 57,4 **** isolados locais; *** saprófitos; ** patogênicos; * cepas patogênicas que podem estar contidas nas vacinas comerciais; (+) cepas recomendadas pela OMS. 4. CONCLUSÃO Com os resultados obtidos, observa-se que não só no diagnóstico da leptospirose canina, mas no de qualquer espécie animal e do homem, o que se encontra na maioria dos laboratórios de diagnóstico é somente a ponta do iceberg. Em um trabalho sobre o panorama da leptospirose humana no Brasil e que também se enquadra no panorama da leptospirose canina, foi afirmado: "(...) É só procurar para encontrar. Mas é preciso procurar, é preciso pensar em leptospirose, é preciso lembrar de sua existência para encaminhar o diagnóstico clínico, é preciso dispor de laboratórios dotados de recursos diagnósticos específicos distribuídos em locais estratégicos, preferencialmente em instituições já existentes em algumas de nossas capitais. Para que tais medidas sejam concretizadas, é preciso que se acredite que as leptospiroses humanas existem em praticamente todo o nosso território nacional" (Corrêa, 1973). O isolamento de sorovares leptospirais e sua utilização na bateria de diagnóstico, revelou que a leptospirose canina, como também a humana e muitas outras, estão presentes em nosso ecossistema em índices muito superiores aos normalmente registrados. 5. Referências Bibliográficas 1. BOLIN, C.A. Diagnosis of leptospirosis: a reemerging disease of companion animals. Semin. Vet. Med. Surg. (Small Animal), v. 11, n. 3, p , BROD, C.S. Diagnóstico Laboratorial na Leptospirose Animal e Humana f. Tese (Doutorado em Ciências). Programa de Pos Graduação em Biotecnologia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. 3. CORRÊA M.O.A. Panorama atual das leptospiroses humanas no Brasil. Revista do Instituto Adolfo Lutz, 33: 55-72, FAINE S. Guidelines for the control of leptospirosis. Geneve, World Health Organization, (WHO Offset Publication nº 76), FAINE, S. ADLER, B. BOLIN, C.A. PEROLAT, P. Leptospira and Leptospirosis, 296p. MediSci, Melbourne, Austrália, HERGT R. Meaning of serotype Patoc (biflexa complex) for the diagnosis of leptospirosis by microscopic agglutination test. Zentralblat und Bakteriology. 235: , CRODA, J,; RAMOS, J.G.R.; MATSUNAGA, J.; QUEIROZ, A.; HOMMA, A.; RILEY, L.W.; HAAKE, D.A.; REIS, M.G. and Ko, A.I. Leptospira

5 Immunoglobulin-Like Proteins as a Serodiagnostic Marker for Acute Leptospirosis J. Clin. Microbiol. 45: , KATZ, A.R.; MANEA, S.J. and SASAKI DM. Leptospirosis on Kauai: investigation of a common source waterborne outbreak. American Journal of Public Health. 81: , Levett PN. Leptospirosis: re-emerging or re-discovered disease? Journal of Medical Microbiology. 48: , Matsunaga, J., M. A. Barocchi, J. Croda, T. A. Young, Y. Sanchez, I. Siqueira, C. A. Bolin, M. G. Reis, L. W. Riley, D. A. Haake, and A. I. Ko. Pathogenic Leptospira species express surface-exposed proteins belonging to the bacterial immunoglobulin superfamily. Mol. Microbiol. 49: , McBride, Alan JA; Athanazio, Daniel A ; Reis, Mitermayer G ; Ko, Albert I. Leptospirosis. Current Opinion in Infectious Diseases. 18(5): , October Tan DSK and Welch QB. Evaluation of Leptospira biflexa antigens for screening human sera by the microscopic agglutination (MA) test in comparison with the sensitized-erythrocyte-lysis (SEL) test. Southeast Asian Journal of Tropical Medicine and Public Health. 5:12-16, Torten M. Leptospirosis, p In H. E. Stoenner, M. Torten, and W. Kaplan (ed.), CRC handbook series in zoonoses, section A: bacterial, rickettsial and mycotic diseases, vol. I. CRC Press, Boca Raton, Fla., 1979.