EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SERGIPE
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- Ágatha Barros Veiga
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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SERGIPE AÇÃO CIVIL PÚBLICA O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Procurador da República, vem respeitosamente ante Vossa Excelência, com apoio no art. 129, III da Constituição Federal e disposições similares da Lei Complementar 75/93 e da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em defesa de interesses difusos em face da UNIÃO FEDERAL, em razão de atos e omissões praticadas pela Superintendência da Polícia Rodoviária Federal neste Estado, órgão do Ministério da Justiça, pelos motivos de fato e de direito adiante expostos. SÍNTESE DA DEMANDA 1. A Procuradoria da República em Sergipe recebeu representação da COOPERTALSE-Cooperativa de Transporte Alternativo de Passageiros do Estado de Sergipe e do TRANSPASE, sindicato que reúne empresas de ônibus, dando origem aos procedimentos administrativos em 1
2 anexo, de números / e / , que foram autuados por dependência e distribuídos ao subscritor; 2. As representações alegaram basicamente que a Polícia Rodoviária Federal em Sergipe, nas rodovias federais, não vinha contribuindo na fiscalização do transporte clandestino intermunicipal; 3. Foi realizada uma primeira reunião com os órgãos e entidades envolvidas, cuja ata se vê às fls. 83 do procedimento anexo. Ali, ficaram evidentes alguns pontos de discordância entre a Polícia Rodoviária Federal-PRF e órgãos e entidades do Estado de Sergipe, notadamente Secretaria de Infra-estrutura e Departamento de Estradas de Rodagem-DER. São eles, em síntese: A PRF afirmou não ter competência para autuar veículos (fazendo o transporte irregular) de placa vermelha, isto é, quando estes possuíssem já uma licença para realizar o transporte municipal; A PRF manifestou o seu entendimento de que, nas rodovias federais, os fiscais do DER não tinham competência para autuar os veículos de placa cinza (particulares, não licenciados), ainda que estivessem realizando transporte irregular de passageiros; 4. Dessa feita, até então a situação era, e permanece, a seguinte: nas rodovias federais, a PRF só permite que os fiscais do DER autuem veículos de placa vermelha, em relação aos quais a PRF entende não ter competência; quanto aos veículos de placa cinza, a PRF não permite que o DER os autue, considerando que só ela pode fazê-lo. 5. Analisando a matéria, proferi despacho às fls. 86 e seguintes do procedimento, expedindo, como se vê às fls. 88/89, recomendação à Polícia Rodoviária Federal, nos seguintes termos: 2
3 I A Polícia Rodoviária Federal no Estado de Sergipe não criará óbices a que os fiscais do DER Departamento de Estradas de Rodagem tenham acesso, nessa qualidade, às rodovias federais, com o objetivo de fiscalizar a regularidade da prestação do serviço público de transporte intermunicipal de passageiros; II Os fiscais do DER poderão exercer suas funções em qualquer ponto ou trecho das rodovias federais e poderão autuar veículos particulares, de placa cinza, que estejam realizando irregularmente o transporte intermunicipal de passageiros; III A Polícia Rodoviária Federal, quando solicitada e dentro das possibilidades do seu quadro de servidores, auxiliará os fiscais do DER quanto à sinalização dos locais de fiscalização e orientação dos motoristas, a fim de evitar acidentes. 6. A Polícia Rodoviária Federal mostrou-se até aqui relutante em acatar a recomendação, razão pela qual resolveu o MPF trazer à questão ao órgão encarregado constitucionalmente de dizer o direito. DOS FATOS 7. Apesar de se reconhecer, sem dificuldade, a deficiência do serviço público de transporte, em suas variantes municipal, intermunicipal e interestadual, a solução para essas questões não é em absoluto a completa desregulamentação do setor. A proliferação do transporte clandestino é um problema que causa prejuízos à atividade econômica formal e ameaça a segurança dos usuários, pois não se sujeita à fiscalização e às normas 3
4 pertinentes, sendo lamentavelmente comum a ocorrência de acidentes fatais com bestas e topics que fazem ilegalmente transporte intermunicipal; 8. A pior política é, seguramente, deixar o problema crescer, como em várias capitais do país, inclusive Aracaju, permitindo que se transmude em explosiva questão social; 9. Infelizmente, a fiscalização do transporte clandestino intermunicipal no Estado de Sergipe tem sido feito com extrema incipiência e, se não adotada uma providência séria, o que está agora ao alcance dessa respeitada Justiça Federal, a situação se tornará incontrolável; 10. A incipiência em tela é devida em grande parte ao entendimento errôneo da Polícia Rodoviária Federal quanto às competências do DER para realizar fiscalizações nas rodovias federais; as restrições seriam menos nocivas se a PRF realizasse ela própria, com eficiência, a fiscalização, mas se sabe quão pequeno é o seu efetivo; 11. Atualmente, a PRF só permite que os fiscais do DER fiscalizem no próprio posto da PRF, na saída da cidade, o que por si só inibe a fiscalização, que é facilmente burlada pelos topiqueiros; 12. Por outro lado, adota a PRF o entendimento errôneo de que somente os seus agentes podem multar, nas rodovias federais, carros de placa cinza, particulares; ocorre que o transporte clandestino tem sido sobretudo realizado por esse tipo de veículo; 13. Os carros de placa vermelha são aqueles licenciados para atuar dentro de um município (transporte municipal), mas que não estão autorizados a operar o transporte intermunicipal; esses veículos também fazem o transporte entre os municípios, de forma indevida, mas tem se observado, segundo o DER, uma migração para os carros de placa cinza, justamente porque a fiscalização em relação a esses é menor; 14. Nas reuniões realizadas, o DER considerou que, se tivesse ampla autonomia de fiscalizar nas rodovias federais, debelaria o 4
5 transporte clandestino em nosso Estado. E, como se verá, esse é um direito que cabe aos órgãos do Estado de Sergipe, não podendo a União cerceá-lo ou dificultar o seu exercício. DOS INTERESSES PROTEGIDOS 15. Os interesses que o Ministério Público visa a defender na presente ação são difusos, pertencentes a uma coletividade indeterminada de pessoas. Consiste na correta prestação do serviço público intermunicipal, que é a finalidade buscada pela fiscalização, com repercussões na segurança do serviço prestado, na sua qualidade e, ainda, na segurança do tráfego nas rodovias federais. DO DIREITO 16. Não existe qualquer dúvida de que é estadual o serviço público de transporte intermunicipal, conforme se pode constatar, a contrario sensu, do art. 21, XII, e, da Constituição Federal, considerando-se ainda que as competências do Estado-membro são residuais. Assim, o Estado de Sergipe é o titular do serviço em questão, atribuição que vem desempenhando normalmente no que respeita à concessão das linhas. 17. Por outro lado, a propriedade de determinados bens por algum dos entes federativos não pode servir de empecilho a que os demais exerçam suas competências e prerrogativas constitucionais. O fato de as rodovias federais serem bens da União não tem o condão de lhe atribuir, na sua superfície, toda e qualquer competência estatal. 18. No sentido do item anterior, temos que já se dá normalmente, nas rodovias federais, pelos órgãos dos Estados-membros, a fiscalização tributária do ICMS. Da mesma forma, numa área de praia, mormente em se tratando de bem de uso comum do povo, todas as pessoas 5
6 federativas podem exercer as suas competências tributárias, ambientais, sanitárias etc. 19. Quanto à autuação dos veículos de placa cinza pelos fiscais do DER, vimos, na parte fática, que se faz absolutamente necessária à eficácia do combate ao transporte clandestino. Seria mesmo uma contradição que esses fiscais pudessem multar os veículos de placa vermelha, que de qualquer forma já detêm uma licença parar efetuar o transporte de passageiros, e por isso são vistoriados pelo DETRAN para essa finalidade, e nada pudessem fazer com relação aos veículos particulares que se arvoram a exercer ilegalmente a atividade. Seria como um fiscal do trabalho que se recusasse a exercer suas atribuições numa empresa em que os empregados não tivessem a carteira assinada, só desempenhando os seus misteres fiscalizatórios em relação às empresas regulares!!! 20. Por outro lado, nunca foi objeto dos procedimentos em anexo, e nem o é da presente ação, discutir qual a legislação a ser aplicada pelos fiscais do DER, se o Código de Trânsito Brasileiro ou outro diploma. O que realmente importa é que o Estado de Sergipe detém uma competência constitucional de prestação do serviço público e está sendo limitado no seu direito de exercê-la plenamente, particularmente no tocante à fiscalização de sua regularidade. 21. A fiscalização exclusiva da Polícia Rodoviária Federal, nas rodovias federais, é a fiscalização de trânsito. Os fiscais do DER limitar-se-ão exclusivamente à fiscalização do transporte intermunicipal de passageiros. Tal fiscalização não tem caráter de fiscalização de trânsito e não colide com qualquer atribuição ou exclusividade da PRF; trata-se do exercício do poder de polícia administrativa na fiscalização da regularidade da prestação de um serviço público. 22. Finalmente, de nada adiantaria reconhecer a competência do DER para fiscalizar nas rodovias federais com a condicionante de estar, sempre, acompanhados de policiais rodoviários federais, pois equivaleria ainda uma vez a deixar o exercício dessa competência estadual ao alvedrio da União, o que tem ocorrido até aqui, com grande prejuízo. Para que 6
7 a fiscalização em tela seja exercida com real autonomia e eficiência, faz-se necessário que se permita sejam os fiscais do DER acompanhados pela Companhia de Policiamento Rodoviário-CPRv, órgão estadual, sendo certo que os policiais da CPRv ficarão adstritos a dar segurança à operação e aos fiscais mencionados, não podendo autuar por infrações de trânsito. DOS PEDIDOS Federal: ANTE O EXPOSTO, requer o Ministério Público I. Cite-se a requerida para, querendo, no prazo legal, apresentar contestação; II. Condene-se a União às obrigações de não fazer consistentes em não criar óbices de qualquer espécie a que: 1. os fiscais do DER tenham acesso a qualquer ponto ou trecho das rodovias federais neste Estado e nelas se desloquem livremente, independentemente de acompanhamento por parte de policiais rodoviários federais, com vistas a realizar a fiscalização do transporte intermunicipal de passageiros; 2. os fiscais do DER autuem, nas rodovias federais, qualquer tipo de veículo, de placa vermelha ou cinza que, a seu critério exclusivo, estejam realizando irregularmente o transporte intermunicipal de passageiros, resguardadas para os autuados as vias administrativas e judiciais cabíveis; 7
8 3. os fiscais do DER, na fiscalização multicitada, façam-se acompanhar de policiais da CPRv, órgão estadual, que ficarão adstritos a dar segurança às operações e aos agentes públicos envolvidos, não podendo autuar veículos por infrações de trânsito. III.Fixe-se multa diária, em valor a ser fixado por Vossa Excelência, para o caso de descumprimento de quaisquer obrigações impostas na sentença, a ser apurado por qualquer meio, sendo a quantia revertida para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos. Dá-se à causa o valor de R$ 240,00. Nestes Termos Pede Deferimento. Aracaju(SE), 20 de janeiro de PAULO GUSTAVO GUEDES FONTES Procurador da República 8
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