Vistos, relatados e discutidos estes autos de. AGRAVO DE INSTRUMENTO n /0-00, da Comarca de SÃO

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTSCA REGISTRADO(A) SOB N * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO n /0-00, da Comarca de SÃO PAULO, em que é agravante EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS E.C.T. sendo agravada MAISON Dü VIN COMÉRCIO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA { MASSA FALIDA).: ACORDAM, em Câmara Especial de Falências e Recuperações Judiciais de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "POR MAIORIA, DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O RELATOR SORTEADO, QUE FARÁ DECLARAÇÃO DE VOTO. ACÓRDÃO COM O 2 o JUIZ.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ELLIOT AKEL (Presidente) e JOSÉ ROBERTO LINO MACHADO. São Paulo, 17 de janeiro (de 2^07. 12

2 Comarca : São Paulo - 1 a Vara de Falências e Recuperações Judiciais Agravante(s) : Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT Agravado(a)(s) : Maison Du Vin Comércio Importação e Exportação Ltda. (massa falida) VOTO N "Agravo de Instrumento. Recuperação Judicia!. Impugnação apresentada pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Determinação para recolhimento das custas processuais. Interpretação do artigo 12, do Decreto-lei n 509/69 que transformou o Departamento de Correios e Telégrafos em empresa pública e concedeu a ela os mesmos privilégios da Fazenda Pública, tais como, imunidade tributária, impenhorabilidade de seus bens e rendas, bem com os concernentes a foro, prazos e custas. Recepção do referido Decreto-lei pela Constituição Federal, excluída a ECT da regra do ~y r~»s

3 artigo 173, 1 o, El, da Constituição Federal, pois não explora atividade econômica, mas executa serviço público. Agravo provido, para afastar a exigência de recolhimento das custas processuais e deferir a observância do artigo 188, do Código de Processo Civil." "A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, empresa pública, tem os mesmos privilégios conferidos à Fazenda Pública, entre os quais, a imunidade tributária, impenhorabilidade de bens e rendas, bem como os privilégios de foro, prazo e custas, estando, portanto, dispensada do recolhimento de custas processuais." Vistos. 1. Trata-se de agravo de instrumento manejado por EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS, na Impugnação de Crédito formulada na falência de MAISON DU VIN COMÉRCIO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA., irresignada com a decisão que

4 indeferiu o pedido de isenção de custas processuais e as prerrogativas do artigo 188 do CPC, determinando à agravante o recolhimento das custas iniciais exigidas pela Lei Estadual n /2003, sob pena de indeferimento do pedido. Argumenta fazer jus ás prerrogativas processuais da Fazenda Pública, conforme determina o artigo 12 do Decreto-lei n 509/69, dispositivo que foi recepcionado pela Carta da República, consoante o entendimento pretoriano emanado da Suprema Corte e consagrado nas ementas dos julgados proferidos em Recurso Extraordinário e Recurso Especial, reproduzidas no inconformismo. Pede seja provido o agravo e reconhecido à agravante as prerrogativas processuais da Fazenda Pública, concernentes a prazos e isenção de custas. O efeito suspensivo foi indeferido pelo eminente Desembargador ELLIOT AKEL, relator sorteado (fls.30). A Agravada, por seu Administrador Judicial, apresentou contraminuta (fís.38/40). Relatados. 2. O presente agravo de instrumento foi interposto sem o recolhimento de preparo, nem do porte de retorno, e, será conhecido, pelos motivos que serão adotados para julgar o mérito recujrsai.

5 O Decreto-lei n 509, de 20 de março de 1969, que dispõe sobre a transformação do Departamento dos Correios e Telégrafos em empresa pública, estabelece, no artigo 12, que: "A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação à imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente aforo, prazos e custas processuais". Cumpre examinar se referido Decreto-lei foi, ou não, recepcionado pela Constituição Federal de 1988, especialmente à luz do artigo 173, parágrafo 1 o, e inciso II, "in verbis": Art "Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definido em lei. I o -- A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:.rjnr..

6 II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários ", Da exegese do dispositivo constitucional acima transcrito, verifica-se que ele se refere expressamente às empresas públicas que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, as quais, por serem concorrentes das demais empresas privadas, sujeitam-se ao mesmo regime jurídico destas, ou seja, submetem-se às mesmas normas de direito privado, trabalhistas e tributárias. O notável Professor CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, ao examinar a Lei de Recuperações Judiciais e Falências (Lei n /2005), que excluiu as empresas públicas e as sociedades de economia mista da incidência da aludida legislação sob o enfoque de sua constitucionaiidade, afirma; "Sem embargo, cumpre dizer que o dispositivo constitucional mencionado se refere expressamente às "exploradoras de atividade econômica". Logo, a exclusão não pode alcançar estas últimas, mas pode, sem incidir em inconstitucionalidade, atingir as ''prestadoras de serviço público", obra pública ou atividades públicas em geral" (...). Quando, pelo contrário, forem prestadoras de serviço ou obra pública, é bem de ver que os bens afetados ao serviço e as obras em questão são ben\ públicos e não podem ser distraídos

7 da correspondente finalidade, necessários que são ao cumprimento dos interesses públicos a que devem servir. " (Curso de Direito Administrativo, Malheiros Editores, São Paulo, 20 a edição, pág.190). Nesta linha de entendimento, de se concluir que não há qualquer inconstitucionalidade no Decreto-lei n 509/69, ao conferir à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT -, os privilégios concedidos à Fazenda Pública, notadamente os concernentes a foro, prazos e custas processuais, já que, evidentemente, ela é prestadora de serviço público e não é concorrente de outras empresas que exerçam igual atividade. O Excel so Supremo Tribunal Federal já decidiu que o Decreto-lei n 509/69 foi recepcionado pela atual Carta Constitucional, conforme se constata peta ementa a seguir transcrita: "Recurso Extraordinário. Constitucional. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços. Recepção do artigo 12 do Decreto-lei n 509/69. Execução. Observância do regime de precatório. Aplicação do artigo 100 da Constituição Federal. 1. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorab viidade de seus bens, rendas e serviços.

8 Recepção do artigo 12 do Decreto-lei n 509/69 e não incidência da restrição contida no artigo 173, I o, da Constituição Federal, que submete a empresa pública, a sociedade de economia mista e outras entidades que explorem atividade econômica ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias. 2, Empresa pública que não exerce atividade econômica e presta serviço público da competência da União Federal e por ela mantido. Execução. Observância ao regime de precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 100 da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e provido." (RE /DF, rei. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julgado em 16/11/2000). Mais recentemente, já em nova composição de seus membros, o Excelso Superior Pretório, ao julgar o Recurso extraordinário n /MG, em 23 de maio de 2005, relatado pelo eminente Ministro JOAQUIM BARBOSA, perfilhou o mesmo entendimento, ao afirmar: "Quanto à condenação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos nas custas processuais, com razão a recorrente. O artigo 12 do Decreto-lei n 509/69 dispõe sobre a transformação dos Correios e Telégrafos em empresa pública: "Art. 12: A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação à imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, querxio concernente ao foro, prazos e custas

9 processuais". O Plenário desta Corte, no julgamento do RE (rei. Min. Maurício Corrêa, DJ de ) decidiu que foi recebido pela atual Constituição o Decreto-lei n 509/69, o qual estendeu à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos os privilégios conferidos à Fazenda Pública, entre eles os concernentes a foro, prazos e custas processuais". Em razão disso, referido a resto deu provimento parcial ao Recurso Extraordinário, tão-somente para excluir a condenação da EBCT nas custas processuais. No mesmo sentido: RE RO Rei. Min. Carlos Velloso; RE PE, Rei. Min. Maurício Corrêa; RE RJ, Rei. Min. Joaquim Barbosa. Diante da orientação do Excelso Supremo Tribunal Federa), intérprete e guardião da Constituição Federal, de rigor, portanto, o provimento do recurso, para se reconhecer que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT -, tem os mesmos privilégios da Fazenda Pública, especialmente no que concerne a foro, prazos e custas processuais, pelo quê, será cassada a decisão hostilizada que determinou à agravante o recolhimento das custas, para fins de processamento da Impugnação Judicial apresentada em Recuperação Judicial. Da mesma forma, reconhece-se expressamente que a agravante tem o direito de se valer do artigo 188, do Código fie Processo Civil J

10 vimmmlliriiiwriiiíi PODER JUDICIÁRIO 3. provimento ao agravo. Isto posto, pelo meu voto, dou DESEMBARGADOR MANOEL DE/QUEIROZ PEREIRA CALÇAS RELATOR

11 üfimi.rrlrn HliHilHinUtin -,. _, ^^._. PODER JUDICIÁRIO CÂMARA DE FALÊNCIAS E RECUPERAÇÕES JUDICIAIS DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE AGRAVO DE INSTRUMENTO n /0 SÃO PAULO Agravante: EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS ECT Agravada: MAISON DU VIN COMÉRCIO EXPORTAÇÃO LTDA. Voto n IMPORTAÇÃO E VOTO Ousei divergir da douta maioria. Nos termos do artigo 12 do Decreto-Lei 509/69, "A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação à imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabiiidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente a foro, prazos e custas processuais". Ocorre que, no caso em exame, não se justifica a isenção de custas tal como pretendida, em que pesem respeitáveis entendimentos em contrário, Eventual concessão dos benefícios da gratuidade à recorrente, no âmbito da habilitação de crédito, importaria afronta até mesmo ao princípio da parcondictio creditorium. Voto n W^^BBÊ

12 CÂMARA DE FALÊNCIAS E RECUPERAÇÕES JUDICIAIS Cediço que hoje, como ocorre no mercado de serviços de transporte e entrega de encomendas, existem empresas que concorrem diretamente com os Correios. Na relação contratual da qual decorreu o crédito habilitando, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, embora definida como prestadora de serviços públicos, atuou como mera exploradora de atividade econômica, submetida primordialmente ao regime próprio das sociedades privadas. Não pode se beneficiar, então, de privilégios não extensivos aos demais credores na execução concursal. Como bem assinalou o MM. Juiz de primeiro grau, "a EBCT exerce atividade econômica empresarial explorando a atividade postal, sendo fato notório, também, que é lucrativa pois faz contratos de franquias de sua marca e serviços com terceiros". Assim, ao menos em sede de habilitação de crédito na falência, não faz jus a agravanje-à~íséltçao\de custas processuais. Pelo expo rovimento ao recurso. ELLIO ator sorteado, vencido. AGRAVO DE INSTRUMENTO n /0 - SÃO PAULO - Voto n SFT/PMBC/TFV