PREFEITURA MUNICIPAL DE VALENÇA ESTADO DA BAHIA - BRASIL PROCURADORIA JURÍDICA

Transcrição

1 Parecer Normativo PMG n : 001/2015. Consulentes: Poder Executivo Municipal. Interessado: Servidores públicos municipais ocupante do cargo de professor. Assunto: Direito ao enquadramento no regime de 40h (quarenta horas) semanal Ementa: Enquadramento automático de servidor público municipal, ocupante do cargo de professor, em regime de 40h (quarenta horas) semanal. Impossibilidade. O enquadramento de 40h (quarenta horas) semanal, dos ocupantes do cargo de professor, é ato discricionário da Secretaria Municipal da Educação, por força de interpretação sistemática do 3 o do art. 46 com o art. 45, ambos da Lei Municipal n o 2.164/2011 (Plano de Carreira do Magistério. Impossibilidade, também, do aludido enquadramento, toda vez que os gastos de pessoal do Poder Executivo Municipal, encontrar-se acima do limite (54% da receita corrente líquida). Infração a alínea b, inciso III, do Art. 20 cc o parágrafo único do art. 22, todos da Lei Complementar n o 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Alteração da estrutura da carreira que implique em aumento de despesa. Impossibilidade. Recomenda-se, com fundamento no inciso III do parágrafo único do Art. 22 da Lei

2 Complementar n o 101/2000, suspensão temporária dos pedidos de concessão de enquadramento de 40h (quarenta horas) semanal aos servidores públicos municipais, ocupantes do cargo de professor, toda vez que as despesas com pessoal, encontrem-se acima dos limites permitidos pela Lei Complementar no 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). 1 INTRODUÇÃO. Existem diversos processos administrativos de servidores públicos municipais, ocupantes do cargo de professor, requerendo direito ao enquadramento ao regime de 40h (quarenta horas) semanal, sob o fundamento que tal enquadramento seria automático, tendo em vista o que dispõe o 3 o do art. 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011 (Plano de Carreira do Magistério), daí fomos consultados pela Secretaria Municipal da Educação sobre a legalidade dos pedidos. Ante o exposto, resolvemos, com fundamento no inciso I do Art. 7º da Lei Complementar Municipal n o 1.950, de 10 de junho de 2008 combinado com o inciso LXXVIII do art. 5 o da Constituição Federal, emitir este parecer normativo, com vistas a esclarecer a recomendar as medidas devidas junto aos processos administrativos que tramitam neste Poder Executivo Municipal, objetivando enquadramento ao regime de 40h (quarenta horas) semanal. 2 ENTENDIMENTO.

3 A Jornada de trabalho dos servidores públicos municipais, ocupantes do cargo de professor, encontra-se regulada pelos incisos I e II do art. 44, art. 45, 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011 (Plano de carreira do magistério), verbis: Art Os Profissionais do Magistério da Rede Pública Municipal de Ensino que exercem atividades de docência e de suporte pedagógico direto à docência, submeter-se-ão às Jornadas de Trabalho a seguir: I. Jornada mínima semanal de 20(vinte) horas; II. Jornada máxima semanal de 40 (quarenta) horas. Art O aumento ou a redução da carga horária do professor para os limites máximo e mínimo levará em conta reciprocamente o interesse da Secretaria de Educação e a opção do professor. Art O titular do cargo de Professor, que não esteja em acumulação de cargo, emprego ou função pública, poderá ser convocado para prestar serviço em regime suplementar, para substituição temporária de professores em função docente, em seus impedimentos legais e nos casos de designação para exercício de outras funções de Magistério, de forma não concomitante com a docência. 1 A convocação em regime suplementar será remunerada proporcionalmente ao número de horas adicionadas à jornada de trabalho do Professor. 2 - Cessados os motivos que determinaram à atribuição do regime suplementar de trabalho, o Professor retoma; ' automaticamente, a sua jornada normal de trabalho. 3 - Após 3 (três) anos em regime de quarenta horas, o funcionário no cargo de professor passará a ter direito à referida carga horária com todas as vantagens. É sobremodo importante assinalar que os requerentes foram concursados, nomeados e empossados para trabalhar no regime de 20h (vinte horas) semanais, tendo, nos termos do art. 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011, sido convocados para trabalhar em

4 regime de mais 20h (vinte horas) semanais (aulas complementares), de forma suplementar. O 3 o do art. 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011, diz que o professor que passar 3 (três) anos em regime de quarenta horas passará a ter direito a esta carga horária. Entretanto, este dispositivo deve ter uma interpretação sistemática nenhuma regra pode ser interpretada alheia ao sistema normativo ao qual está inserida 1 - com o art. 45 da mesma Lei, ao dizer que O aumento ou a redução da carga horária do professor para os limites máximo e mínimo levará em conta reciprocamente o interesse da Secretaria de Educação e a opção do professor. E a interpretação não poderia ser diferente, pois não podemos perder de vista um problema que afeta toda rede municipal de ensino, que é a diminuição, gradativa, do número de alunos, que culmina com o fechamento de salas de aulas e até de escolas, em função de 02 fatores externos que fogem ao controle deste Poder Executivo: a diminuição do número de filhos por família e emigração de alunos para outras regiões. Neste caso, recomenda-se, manter uma parte dos servidores ligados a educação com carga horária flexível. Portanto, o 3 o do art. 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011 não é auto aplicável, haja vista depender de processo administrativo para apurar o devido preenchimento dos requisitos legais subjetivos para ter direito a vantagem e, consequente expedição de ato administrativo devidamente motivado, com vistas a atender ao princípio da legalidade e ao princípio da solenidade dos atos, os quais, 1 ROCHA, Fernando Luiz Ximenes. Controle de Constitucionalidade das Leis Municipais. São Paulo: Atlas, p. 28.

5 via de regra, devem ser escritos, registrados (ou arquivados) e publicados. O que nos faz concluir que a ampliação de carga horária do professor, a teor do que estabelece o art. 45 da Lei Municipal n o 2.164/2011, é ato discricionário da Secretaria Municipal da Educação. O saudoso Mestre HELY LOPES MEIRELLES 2 ensinando-nos sobre poder discricionário, deixa patente que: A faculdade discricionária distingue-se da vinculada pela maior liberdade de ação que é conferida ao administrador. Se para a prática de um ato vinculado a autoridade pública está adstrita à lei em todos os seus elementos formadores, para praticar um ato discricionário é livre, no âmbito em que a lei lhe concede essa faculdade. (sem grifo no original). MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO 3, com a elegância e clareza que lhe são peculiar, define Poder Discricionário. Diz a Mestra que a atuação da Administração Pública no exercício da função administrativa é Discricionária quando a Administração, diante do caso concreto, tem a possibilidade de apreciálo segundo critérios de oportunidade e conveniência e escolhe uma dentre duas ou mais soluções válidas para o direito. Colocar a ampliação de carga horária do professor aqui referida, na categoria de ato discricionário foi a decisão mais acertada do legislador municipal, isto porque segundo o saudoso Mestre HELY LOPES MEIRELLES 3 : A atividade discricionária encontra plena justificativa na impossibilidade de o legislador catalogar na lei todos os atos que a prática administrativa exige. O ideal seria que a lei regulasse minuciosamente a ação administrativa, modelando cada um dos atos a serem praticados pelo administrador; mas, como isto não é possível, dadas a multiplicidade e diversidade dos fatos que pedem pronta solução ao Poder Público, o legislador somente regula a prática de alguns atos administrativos que reputa de maior relevância, deixando o cometimento dos demais ao prudente critério do administrador. (sem grifo no original) 2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. Ed. 31. São Paulo: Malheiros, p DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13 ed. S.Paulo: Atlas, 2001, pág.197.

6 Por outro lado, não podemos esquecer, também, que a aplicação automática do 3 o do art. 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011 não é possível, também, pelo fato de que a Administração Pública sofre algumas limitações para o pagamento de seus servidores, além de depender da existência de recursos orçamentários, dentre as quais a do artigo 169 da Constituição, segundo a qual a despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. A lei complementar a que o artigo se refere é a de nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Neste sentido, não podemos perder de vista que o Poder Executivo Municipal de Valença, conforme parecer prévio do Tribunal de Contas dos Municípios TCM, referente as contas do exercício de 2013, expedido em 2014, constatou que o ente ultrapassou o limite de gasto com pessoal determinado pela alínea "b", do inciso III, do art. 20 da Lei Complementar nº 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal), senão vejamos: 5.6 DESPESAS TOTAL COM PESSOAL. O Parecer Prévio referente às contas do exercício de 2012 determinou à Gestora, com lastro no art. 23 c/c 66 da Lei Complementar no 101/00, a redução de, pelo menos, um terço no 2 o quadrimestre do exercício de 2013 e o remanescente do excesso no 1 o quadrimestre do exercício de 2014, do percentual excedente ao limite máximo prescrito no art. 20, III, b, do normativo, da despesa total com pessoal que ao final do 3 o quadrimestre do exercício de 2012 correspondia a 60,72% da receita corrente líquida pertinente. Como a despesa total com pessoal ao final do 2 o quadrimestre do exercício sob exame importou em R$ ,80, correspondente a 65,87% da Receita Corrente Líquida de R$ ,00, constata-se que a exigência não restou cumprida. Importa salientar que a despesa total com pessoal ao final do 3 o quadrimestre do exercício sob exame importou em R$ ,53, correspondente a 69,3% da Receita Corrente Líquida (RCL) de R$ ,39, superior ao limite máximo prescrito no art. 23, II, b, da Lei Complementar n o 101/00.

7 Alega a Gestora que não obstante a despesa com mão-de-obra encontrarse segregada nas notas fiscais dos credores Cooperativa de Promoção e Desenvolvimento Humano - Conectar e ECOLURB Engenharia, Conservação e Limpeza Urbana Ltda., a 17 a IRCE incluiu, indevidamente, na apuração da despesa total com pessoal, as despesas com equipamentos e outros insumos que foram processadas no elemento Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Jurídica, no valor global de R$ ,13, conforme se comprova mediante cópia dos processos de pagamento acostados (DOC. 42). Após análise dos processos encaminhados referentes aos citados credores, entende esta Relatoria que devem ser excluídos das outras despesas com pessoal a importância global de R$ ,90, sendo R$ ,08 relativos ao credor Cooperativa de Promoção e Desenvolvimento Humano - Conectar e R$ ,82 ao credor ECOLURB Engenharia, Conservação e Limpeza Urbana Ltda., contabilizada no elemento Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Jurídica. De maneira que deduzindo-se a referida importância do montante originalmente apurado para a despesa total com pessoal (R$ ,53), resulta uma despesa efetiva com pessoal de R$ ,63, correspondente a 63,3% da RCL pertinente, ainda assim superior ao ao limite máximo prescrito no art. 23, II, b, da Lei Complementar no 101/00. [...] O não atendimento ao limite de gastos com pessoal, implica em obrigação do Gestor adotar medidas para levar tal limite ao patamar legal determinado na alínea "b", do inciso III, do art. 20 da Lei Complementar nº 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal), sendo que isto deve ser feito na forma e no prazo estabelecido no art. 23 da aludida lei, a saber: Art 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências nos 3º e 4º do art. 169 da Constituição. (grifo nosso). A Lei de Responsabilidade Fiscal, também, indica as medidas a serem adotadas pelo gestor para reduzir o gasto com pessoal, entre elas estão as previstas nos incisos I a V do parágrafo único do art. 22 da mencionada lei, verbis:

8 Art 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos art. 19 e 20 será realizada ao final de cada quadrimestre. Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco por cento) do limite são vedados ao Poder ou órgão referido no art. 20 que houver incorrido no excesso: I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição; II - criação de cargo, emprego ou função; III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa; IV - provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer título, ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento de servidores das áreas de educação, saúde e segurança; V - contratação de hora extra, salvo no caso do disposto no inciso II do 6º do art. 57 da Constituição e as situações previstas na lei de diretrizes orçamentárias. Observe-se que, entre as medidas para redução de gasto com pessoal, está, expressamente, a vedação de alteração da estrutura da carreira que implique aumento de despesa, daí a impossibilidade do Poder Executivo Municipal, no momento, de atender a solicitação dos requerentes, uma vez que ao fazer isto, estaria transformando seu adicional por extensão de carga horária, em vencimento, sobre o qual incidem diversas gratificações, o que implicaria, diretamente no aumento de despesas com pessoal da administração. 3 Da Conclusão. Ante todo o exposto, CONCLUÌMOS, com fundamento: I. no art. 46 da Lei Municipal n o 2.164/2011, que o enquadramento de 40h (quarenta horas) semanal para o cargo de professor não é automático e é considerado ato discricionário da Secretaria Municipal da Educação; II. no inciso III do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n o 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), a suspensão temporário,

9 dos pedidos de concessão de enquadramento de 40h (quarenta horas) semanal, aos servidores públicos municipais, ocupantes do cargo de professor, até que as despesas com pessoal, retornem aos limites permitidos na Lei Complementar n o 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). É o nosso parecer, Sub sensura À aprovação do Chefe do Poder Executivo Municipal. Valença-Ba, 25 de março de Isis Maria Menezes da Silva Subprocuradora do Município Decreto nº: 1.290/2013 OAB: 5853 Aprovo integralmente o presente parecer, determinando a Secretaria Municipal da Administração que emita despachos suspendo a tramitação dos processos que se enquadrem nas finalidades deste parecer normativo. Valença-Ba. 25 de março de Jucélia Sousa do Nascimento Prefeita Municipal