AULA: MARCADORES CONVERSACIONAIS
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- Mateus Bastos Ferreira
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1 AULA: MARCADORES CONVERSACIONAIS 1. Introdução: definição de marcadores conversacionais Elementos típicos da fala, de grande frequência e significação discursivo-interacional Não integram o conteúdo cognitivo do texto Dentro do enfoque conversacional, ajudam a construir e a dar coesão e coerência ao texto falado Funcionam como articuladores não só das unidades cognitivoinformativas do texto, como também dos interlocutores Elementos que amarram o texto não só como estrutura verbal cognitiva, mas também como estrutura de interação interpessoal Os marcadores conversacionais são específicos e com funções tanto conversacionais como sintáticas o Estabelecem relações estruturais e linguísticas na organização da conversação em turnos (troca de falantes) e ligação interna das unidades constitutivas do turno Os marcadores podem ser: (a) verbais, (b) não verbais e (c) suprassegmentais Funções: servem de elo de ligação entre as unidades comunicativas, servem de orientadores dos falantes entre si Podem aparecer em várias posições: na troca de falantes, na mudança de tópico, nas falhas de construção, em posições sintaticamente regulares Operam como iniciadores ou finalizadores de unidade comunicativa (UC) o UC: unidades que podem ou não coincidir com uma frase, marcadas por pausas, pela entoação e por elementos lexicais ou paralexicais Em relação aos fatos gramaticais: os marcadores conversacionais podem co-ocorrer com certa frequência com elementos gramaticais, como a elipse, o anacoluto e os parênteses relevância como marcadores sintáticos com motivação comunicativa 2. Classes de marcadores Recursos verbais (linguísticos): classe de palavras ou expressões estereotipadas, de grande recorrência, não contribuem com informações novas para o desenvolvimento do tópico, mas situam-no no contexto geral, particular ou pessoal da conversação Podem ser: o Lexicalizados: sabe? (simples), entende? (simples), eu acho que... (oracional), quer dizer (complexo ou composto), no fundo (complexo ou composto), eu tenho a impressão de que (oracional), mas acho que (combinado) o Não-lexicalizados: mm, ahã, ué, uhn 1
2 Recursos não-verbais ou paralinguísticos (não-linguísticos): o olhar, o riso, os meneios de cabeça, a gesticulação interação face a face; estabelecem, mantêm e regulam o contato Recursos suprassegmentais (linguísticos): de natureza prosódica a entoação, o alongamento, mudança de ritmo, pausas. o As pausas podem ser curtas, médias ou longas; são frequentes em final de unidades comunicativas e geralmente co-ocorrem com outros marcadores; podem aparecer no início de turno (como hesitações ou pausas preenchidas) e propiciar mudança de turno o Diferentes tipos de pausas (cf. Rath, 1979): 1. Pausas sintáticas a. De ligação: no lugar de um conector e, então, mas funciona para construção interna da unidade sem iniciar uma nova b. De separação: delimita ou separa unidades comunicativas após um sinal de fechamento de unidade ou abaixamento do tom de voz 2. Pausas não-sintáticas a. De hesitação: idiossincráticas, preenchidas ou não, servindo para o planejamento verbal, têm motivação cognitiva b. De ênfase: sinalizador de pensamento, reforçando ou chamando a atenção. Pode aparecer no interior de um sintagma, entre o artigo e o nome, por exemplo Problemas dessa classificação: as pausas de hesitação e de separação podem ter a mesma função sintática e algumas pausas de hesitação têm função semelhante às de ligação Fenômenos de hesitação (repetições, pausas meditativas, preenchidas): indicadores de planejamento cognitivo do texto em oposição aos sinais de separação, aparecem nos momentos em que o texto se organiza (passagem de um tópico para outro). Quando as hesitações ocorrem em início de UC acarretam também cortes no plano linguístico 3. Aspecto semântico dos marcadores conversacionais Elementos esvaziados de conteúdo semântico o 1º. Tipo - elementos prosódicos o 2º. Tipo - os elementos verbais não lexicalizados ( eh, ah, ah ah, ahn ahn ) 3º. Tipo: vocábulos que, embora esvaziados do conteúdo semântico original, valem para o falante testar o grau de atenção e participação do interlocutor elementos lexicalizados sabe?, certo? 4º. Tipo: expressões que continuam semanticamente válidas, mas a informação que passam não colabora diretamente para o conteúdo referencial do texto como estrutura tópica, refere-se à 2
3 postura do falante em relação ao que vai dizer: eu acho que, eu tenho a impressão de que 5º. Tipo: marcadores que mantém parcialmente o sentido e a função sintática originais, assumindo por acréscimo a função pragmática. Ex.: assim continua na função de adjunto adverbial, ao mesmo tempo em que se liga à enunciação, numa função modalizadora, sinalizando hesitação ou dúvida do falante pág Aspecto sintático dos marcadores conversacionais Marcadores verbais não lexicalizados: emissões do ouvinte ( ahn ahn, uhn uhn ), pronunciados em turnos autônomos, ou emissões do falante ( ah, ahn eh ), entremeando a estrutura oracional, são completas por si só, autônomas entoacionalmente e são totalmente independentes sintaticamente. Marcadores verbais lexicalizados: sabe?, certo?, né? sintaticamente independentes, principalmente quando iniciais e quando não são constituídos por verbos A independência sintática nem sempre é fácil de ser identificada casos em que há uma relação de complemento entre a oração encaixada e o marcador, que funciona sintaticamente como oração principal o Ex.: eu acho que me realizaria mais como orientadora do que como professora pág. 103 eu acho que não é sintaticamente independente, mas o é em relação ao conteúdo da oração seguinte poderia ser suprimido sem prejuízo à quantidade de informação o Caráter de frase intercalada goza de certa liberdade quanto à posição: a. me realizaria - eu acho - mais como orientadora do que como professora b. me realizaria mais como orientadora - eu acho - do que como professora c. me realizaria mais como orientadora do que como professora - eu acho 5. Tipos, funções e posições dos marcadores Apenas para os verbais Classificação de acordo com a fonte de produção: o Sinais do falante o Sinais do ouvinte Classificação de acordo com a função: o Conversacional o Sintática Classificação de acordo com a posição dentro do turno: o Em início de turno o Em início de UC o Em final de turno o Em final de UC 3
4 Ver detalhadamente quadro da pág. 68. Quanto à classificação de função conversacional, os marcadores podem ser: o Sinais produzidos pelo falante: servem para sustentar o turno, preencher pausas, organizar o pensamento, monitorar o ouvinte, explicitar intenções, nomear e referir ações, marcar unidades temáticas, indicar início e fim de uma asserção, dúvida, avisar, antecipar o que será dito, corrigir-se, reorganizar e reorientar o discurso o Sinais produzidos pelo ouvinte: orientar o falante e monitorá-lo quanto à recepção, marcam a posição pessoal do ouvinte localmente, encorajam (marcas de concordância: ahã, sim, claro ), desencorajam (marcas de discordância: não, impossível ), solicitam esclarecimento (sinais como diga, diga ) e não têm apenas uma função fática Quanto às funções sintáticas: os marcadores conversacionais são responsáveis pela sintaxe da interação, pela segmentação e pelo encadeamento de estruturas linguísticas; marcam sintaticamente as unidades quando co-ocorrem com pausas, correções, anacolutos, reduplicações e elipses Quanto às posições: o Sinais do falante: início, meio ou fim do turno o Sinais do ouvinte: vêm geralmente no ponto de discordância ou concordância com o tópico, portanto, localizados Relação entre forma, função e posição dos marcadores: o Sinais de tomada de turno: expressões com as quais se inicia ou se toma o turno em algum momento: olhe, certo, mas, você me pergunta se, entendi, mas, eu? (quando o turno iniciado é uma resposta); bem (quebra com o precedente); é isso, boa idéia (introduzem opinião, marcam endosso), voltando ao tema, em relação a isso (retomam o tópico); a propósito, antes que eu me esqueça (digressão); depois a gente volta a isso (adiamento do tópico) o Sinais de sustentação do turno: usados para manutenção do turno pelo falante ou para conseguir o assentimento do ouvinte; aparecem, no geral, em final de UC e na forma indagativa ( viu?, sabe?, entende?, correto? ). Também pode ser usada a paráfrase ( em resumo, em outras palavras ) o Sinais de saída ou entrega do turno: aparecem no final do turno, predominando na forma indagativa né?, viu?, entendeu?, é isso aí, o que você acha? o Sinais de armação do quadro tópico: podem ocorrer no início ou no meio do turno e indicam o panorama em que 4
5 se encontra a conversação agora que estamos neste ponto o Sinais de assentimento ou discordância: produzidos pelo ouvinte durante o turno do parceiro, quase sempre em sobreposição de vozes e não possuem função apenas fática: mhm, ahã, não, não, como?, ué o Sinais de abrandamento: mitigam efeitos negativos e minoram impactos na comunicação de más notícias e informações desagradáveis Forma passiva: maneira impessoal de levar o foco da questão fui incumbido de ; Marcadores de distanciamento: deslocam responsabilidades os regulamentos prevêem para este caso... Marcadores de rejeição: pequenos prefácios odeio fazer estas coisas, a menos que me equivoque Verbos parentéticos: em construções parentéticas você não se oporá, suponho, não estou sendo inconveniente, espero ; ou uso de advérbios como certamente, presumivelmente Indagações pospostas: você esteve aqui, não esteve?, fiz bem, não fiz? Evasões: afastam a indisposição do ouvinte em relação ao falante, funcionam como precaução, anteparo tecnicamente..., oficialmente... Referência bibliográfica MARCUSCHI, L. A. Marcadores conversacionais. In:. Análise da conversação. São Paulo: Editora Ática, URBANO, H. Marcadores conversacionais. In: Preti, D. (Org.) Análise de textos orais. São Paulo: Humanitas,
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