AULA 16: CORREÇÃO. X Y = x R y (R = relação semântica) R. (2) que fo/ do:: daquele menino pág. 156
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- Sérgio Sacramento Lopes
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1 AULA 16: CORREÇÃO 1. Introdução: caracterização da correção Uma das características da conversação Procedimento de reelaboração do discurso que visa a consertar seus erros o Erro : escolha lexical, sintática, morfológica ou fonético-fonológica do falante, já posta no discurso e que ele e/ou seu interlocutor consideram inadequada (1) L2 H. você escreveu qualquer coisa muito interessante sobre a a Marília Medalha e eu perdi essa sua::... o que foi que você disse sobre a Marília Medalha o ( ) me disse que era... que estava muito interessante este seu::... esta sua crônica pág. 154 Na correção é produzido um enunciado linguístico (enunciadoreformulador ER) que reformula um anterior (enunciado-fonte EF), considerado errado pelos interlocutores: X Y = x R y (R = relação semântica) R Correção como ato de reformulação textual tem por objetivo levar o interlocutor a reconhecer a intenção do locutor, procura garantir a intercompreensão 1.1. Diferença entre correção e paráfrase (também ato de reformulação textual) Estratégias usadas com propósitos comunicativos diferentes e diferenças quanto à natureza da relação semântica enunciado fonte/enunciado reformulador o Na correção: pretensão de apagamento do enunciado fonte (EF), por ser considerado inadequado pelos interlocutores, e substituição pelo enunciado reformulador (ER) o Na paráfrase: EF é a matriz para movimentos semânticos de especificação ou generalização, expressos por ER, determinando uma progressão textual e gerando novos sentidos o Na correção: no geral, relação de contraste entre o enunciado a ser reformulado e o reformulador traços semânticos opostos ou contrários que distinguem o elemento corrigido do corretor o Objetivo da reformulação na correção: marcar a intenção do locutor com uma diferença de sentido o Marcador conversacional indicador de correção: não (2) que fo/ do:: daquele menino pág. 156 (3) L1 não não... parece que não... eu não POsso jurar sobre os evangelhos mas me parece que... ahn:: ela seria Medalha com L e H... e ele MeDA-glia pág
2 o Na paráfrase: no geral, relação de equivalência semântica (podendo ser parcial) entre o enunciado a ser reformulado e a reformulação grande quantidade de traços semânticos comuns o Objetivo da reformulação na paráfrase: assinalar a intenção do interlocutor por reforço o Marcadores conversacionais indicadores de paráfrase: isto é, aliás, quer dizer (4) L2 e:: e:: e Ponteio é uma música maravilhosa aliás uma coisa linda... pág. 156 Há casos intermediários em que a distinção entre correção e paráfrase se anula: (5) L1 - eu:: disse a ela que ela ah ela ainda não se conhecia ela ainda não tinha se percorrido (...) - pág Diferença entre correção e hesitação Correção: solução a um dado problema de formulação retrospectiva Hesitação: produzida prospectivamente Hesitação e correção se diferenciam quanto ao estágio de desenvolvimento da formulação/reformulação textual o Na hesitação: interrupção no fluxo informacional, devido à dificuldade de seleção de um ou mais termos do enunciado, gerando enunciado ainda não concluído quanto à organização sintagmática: (6) L2 é... es/essas esses progressos... houve isso houve muito progresso o Na correção: instaura-se quando a seleção inadequada já se deu, o enunciado é concluído, mas deve ser reformulado 2. Classificação das atividades de correção 2.1. Reparação Reparação de infração conversacional - erros (ex.: sobreposição de vozes) no sistema de tomada de turnos e que violam as regras da conversação Por exemplo: o interlocutor pode tentar reparar o erro do locutor em falar o tempo todo e não ceder a palavra, sendo que as regras conversacionais estabelecem que deve haver pelo menos uma troca de falante na conversação Estratégias de reparação: o Implícitas/Indiretas tomada ou devolução de turno, sobreposição de voz, manutenção de voz ou formulação de novas perguntas. Exemplo pág. 159 o Diretas/Explícitas quando o falante de quem tomaram a vez retruca com frases do tipo: era eu quem estava com 2
3 a palavra, como eu dizia, antes de ser interrompido, não lhe dei a palavra. Ou quando quem interrompeu realiza uma auto-reparação explícita como desculpe-me, você estava falando o Heterorreparação o interlocutor repara as falhas do locutor o Auto-reparação o próprio falante repara suas falhas 2.2. Correção Ato de formulação, cujo objetivo, ao consertar erros e inadequações, é assegurar a intercompreensão no diálogo Tipos o Autocorreção: o próprio falante se corrige, pode ocorrer no mesmo turno (mais frequente) ou em turnos diferentes. Exemplos (1) e (2) Auto-iniciada processada pelo próprio falante no mesmo turno ou em turno diferente Heteroiniciada o ouvinte começa a correção que é efetivada pelo falante. Ex.: (23) pág. 266, Fávero et al., 2006 o Heterocorreção: o interlocutor corrige o locutor. Exemplo (3) Auto-iniciada o falante começa a correção que é efetivada pelo ouvinte. Ex.: (24) pág. 266, Fávero et al., 2006 o Correção total (infirmação): nega-se o erro e afirma-se o correto. Ex. (3) o Correção parcial (retificação): não se nega o elemento anterior e apenas se amplia ou restringe, semanticamente, o termo corrigido: (7) (...) todo o::... toda a América Latina já se (...) pág. 164 O elemento corrigido pode estar verbalizado totalmente (Exemplo (1): que era... que estava), parcialmente (Exemplo (2)) ou apenas projetado (Exemplo (7)) 3. Tipos de erros Fonético-fonológicos correção de pronúncia ou articulação: (8) Inf. evidentemente que a democracia para a democracia plana plena... esta nunca existiu Morfossintáticos - erros de gramática normativa (erros de concordância, regência) (9) L2 ele já ia à escola da manhã que eu comecei quando eu comecei a trabalhar... comecei a trabalhar há dois anos Lexicais a seleção léxica não era a pretendida e há uma substituição 3
4 (10) L2 vovó tinha um:: um sírio um turco... que ele vinha trazer em casa para ela (a sacola) Semântico-pragmáticos - impropriedades de informação, imprecisões na expressão de sentimentos e opiniões dos interlocutores. Estratégias de correção: novas escolhas lexicais (exemplo (11)) ou alterações de direção da conversação: (11) L1 a irmã dela eu conheço que é jornalista né? é uma moça jornalista... L2 - poetisa 4. Marcadores e padrões linguísticos de correção Marcam dúvidas ou dificuldades do falante em relação ao prosseguimento do discurso e asseguram-lhe o tempo necessário à reformulação o Marcadores prosódicos: pausas, mudança na curva entoacional, velocidade da elocução, alongamento, intensidade de voz Pausa sozinha ou acompanhada de prolongamento de vogais, entre o erro e sua correção (12) que não aceitaria... não isso não é fofoca (...) (13) (...) se não fosse...o::... se não recebesse (...) Prolongamento de vogais sozinho (14) (...) que fo/do:: daquele menino o Marcadores discursivos Certas expressões verbais: não, aliás, quer dizer, bom, ah bom, então, etc. ver exemplo (12) Marcadores fracos e fortes Marcadores fracos: relação semântica entre os dois termos da reformulação é reconhecível, logo, um marcador fraco é suficiente retificação ( enfim, finalmente, quer dizer ) Marcadores fortes: relação semântica entre os dois termos da reformulação é fraca e um marcador forte é necessário para compensá-la infirmação ( não ) Ausência de marcadores de qualquer tipo: correções atenuadas, casos cujo objetivo é apenas precisar as opiniões e sentimentos dos falantes, que reforçam a intenção do locutor e que muitas vezes se confundem com a paráfrase: (15) (...) foram acho que foram os dois 5. Funções da correção Adequação informativa, precisão referencial o falante que corrige procura levar o ouvinte a bem compreender suas informações objetivas 4
5 (16) L1 - (...) porque esse filme... aliás vi dois filmes (...) (17) L2 - Edu... Edu Lobo não é? Enunciativas ou pragmáticas garantem na conversação a compreensão das opiniões, crenças e sentimentos do locutor e o reconhecimento de seu papel social BARROS, D. L. P. A correção. In: PRETI, D. (Org.) Análise de textos orais, v. 1. São Paulo: Humanitas, FÁVERO, L. L.; ANDRADE, M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. O. Correção. In: JUBRAN, C. C. A. S. & KOCH, I. G. V. (Orgs.) Gramática do português culto falado no Brasil: construção do texto falado, v. 1. Campinas: Editora da UNICAMP, (18) L1 - (...) foram acho que foram os dois (...) Adequação aos registros sociolinguísticos adequação à norma culta, ver exemplo (9) Interacionais cooperação e participação dos falantes na conversação, atenção e interesse pela fala do interlocutor, envolvimento emocional (19) L2 o Buarque... L1 Chico Buarque o Corrigir o outro: forma de exercer controle sobre o parceiro, de mostrar saber e poder, de brigar pela direção da conversação, de acentuar as diferenças e discordâncias entre os interlocutores Referências bibliográficas 5
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