REVISÃO INTEGRATIVA CONTRIBUINDO PARA A (RE)CONSTRUÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM FALTA DE ADESÃO
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1 774 Trabalho 172-1/5 REVISÃO INTEGRATIVA CONTRIBUINDO PARA A (RE)CONSTRUÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM FALTA DE ADESÃO CÉLIDA JULIANA DE OLIVEIRA 1 DANIEL BRUNO RESENDE CHAVES 2 BEATRIZ AMORIM BELTRÃO 3 THELMA LEITE DE ARAUJO 4 FRANCISCA BERTILIA CHAVES COSTA 5 Aderir a um regime terapêutico implica em algum tipo de comportamento terapêutico no qual a pessoa está suficientemente motivada para, por exemplo, procurar atenção médica ou tomar a medicação adequadamente devido a um autobenefício percebido ou a um resultado positivo, sendo, no entanto, um construto multidimensional, já que o indivíduo pode ter adesão a um aspecto do regime terapêutico, mas não ter a outros. Assim, as medidas não farmacológicas e os medicamentos utilizados no tratamento de doenças, especialmente as doenças crônicas, devem permitir a redução dos fatores de risco, dos sinais/sintomas e das complicações associadas a elas. Muitos pesquisadores têm se empenhado em estudar os conceitos, atributos, antecedentes, conseqüentes e instrumentos para verificar, quantificar e/ou identificar a presença ou a falta de adesão. Os baixos índices de adesão aos regimes terapêuticos prescritos pelos profissionais de saúde são um dos principais problemas apresentados pelos portadores de doenças crônicas, sendo extremamente necessária a identificação precoce do diagnóstico Falta de Adesão para que soluções sejam buscadas por toda a equipe de saúde junto ao paciente e sua família. Atualmente, o diagnóstico de enfermagem Falta de Adesão é 1 Enfermeira; Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde; Discente do curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC); Bolsista CAPES; Integrante do Projeto de Pesquisa Cuidado em Saúde Cardiovascular (PAISC), financiado pelo CNPq, MCT/CNPq 14/2009 Universal, processo / Enfermeiro; Discente do curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC); Bolsista CAPES; Integrante do PAISC e do Projeto Cuidado de Enfermagem na Saúde da Criança (CUIDENSC) da UFC. 3 Enfermeira; Discente do curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC); Bolsista CAPES; Integrante do PAISC e do Projeto Cuidado de Enfermagem na Saúde da Criança (CUIDENSC) da UFC. Endereço: Rua Monsenhor Catão, 1491; beatriz.enfermagem@yahoo.com.br. 4 Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem e docente do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFC; Coordenadora do PAISC. 5 Enfermeira da Prefeitura Municipal de Fortaleza/CE. Mestre em Enfermagem.
2 775 Trabalho 172-2/5 definido como o comportamento da pessoa e/ou cuidador que deixa de coincidir com um plano de promoção da saúde ou terapêutico acordado entre a pessoa (e/ou família e/ou comunidade) e o profissional de saúde (1). Como a prática de enfermagem se caracteriza por uma constante tarefa de coletar, arquivar e fazer uso de informações sobre pacientes, viabilizando seu cuidado, é cada vez maior a necessidade de uma linguagem uniforme e clara que permita o registro e a informatização das informações de enfermagem (2). É notório que os enfermeiros da prática assistencial apresentam dificuldades na utilização e definição dos diagnósticos de enfermagem, especialmente na identificação de suas características definidoras e fatores relacionados, que podem ser explicadas pela diferenciação dos sinais e sintomas apresentados no referencial usado pela NANDA-I daqueles manifestados pelos pacientes. Visando solucionar estes problemas, no Brasil observa-se uma tendência crescente em relação ao desenvolvimento de pesquisas sobre a taxonomia da NANDA-I, tanto em relação à padronização deste sistema de classificação, como no que se refere à validação dos diagnósticos ou seus componentes. É reconhecida a importância de pesquisar cada vez mais os elementos do processo de enfermagem que dão base às classificações para sua utilização na prática, na pesquisa e no ensino (3). Para um diagnóstico de enfermagem ser incluído na classificação da NANDA-I, ele necessita previamente ser refinado, ou seja, passar por processos de validação, de forma a assegurar uma aplicação prática precisa, o que o torna legítimo para aquela situação e para todos os enfermeiros. Embora os diagnósticos propostos por esta taxonomia sejam bem reconhecidos e aplicados em diversas situações e cenários, os mesmos não são definitivos, uma vez que pesquisas em populações específicas podem permitir seu aprimoramento, sendo esta mais uma motivação para a realização deste estudo. Além disso, os diagnósticos necessitam de uma argumentação teórica consistente, com base na literatura e na descrição de casos clínicos reais. Devido à grande quantidade e complexidade de informações nessa área, há necessidade da produção de métodos de revisão da literatura de saúde e para tanto, destacamos a revisão integrativa, por ser um método de pesquisa que permite a busca, avaliação crítica e síntese das evidências disponíveis do tema investigado, que visa mostrar o estado atual do conhecimento acerca do tema investigado, a implementação de intervenções testadas e realmente efetivas e a identificação de lacunas que direcionam para o desenvolvimento de futuras pesquisas. Assim, o objetivo do estudo
3 776 Trabalho 172-3/5 foi caracterizar as pesquisas sobre adesão à terapêutica de doenças crônicas, produzidas por profissionais da saúde nacional e internacional, com o propósito de realizar a revisão e validação do diagnóstico de enfermagem Falta de Adesão e seus componentes em indivíduos portadores de hipertensão arterial. Este objetivo fundamenta-se na hipótese de que ao promover a validação de um diagnóstico de enfermagem, o enfermeiro terá dados concretos para ajudar o indivíduo a dar um seguimento adequado à terapêutica instituída. Ou seja, este conhecimento poderá favorecer a execução de cuidados de enfermagem melhor direcionados à saúde da população portadora de hipertensão arterial, dimensionando a prática do trabalho de enfermagem para as reais necessidades dessa clientela. Para a revisão integrativa foi realizado um levantamento bibliográfico a partir da Biblioteca Cochrane e do Portal de Periódicos online da CAPES, o qual deu acesso às bases de dados LILACS, CINAHL, PubMed e o banco de teses da CAPES, considerando todo o período de abrangência dessas fontes. Foram utilizados os descritores Diagnóstico de enfermagem, Cooperação do paciente e Recusa do paciente ao tratamento, incluindo seus respectivos correspondentes nas línguas inglesa e espanhola, além dos descritores não controlados adesão terapêutica e adesão ao tratamento. Para análise, foram selecionadas todos os estudos encontrados envolvendo a temática, incluindo artigos originais, revisões da literatura, relatos de experiência, estudos de caso, teses e dissertações. Os critérios utilizados para a seleção da amostra foram: artigos, dissertações ou teses que abordaram o controle do regime terapêutico ou a adesão à terapêutica de doenças crônicas como foco principal, disponíveis nos idiomas Português, Inglês ou Espanhol e artigos completos disponíveis eletronicamente. Foram selecionados 107 artigos, distribuídos nas bases de dados da seguinte forma: nove artigos no LILACS, 11 artigos na biblioteca Cochrane, 26 artigos no CINAHL, 48 artigos no PubMed e 13 estudos no banco de teses da CAPES. Os resultados mostraram que pesquisadores procuraram estudar o fenômeno adesão relacionado à hipertensão arterial (23 estudos, sendo um deles referente à associação da HA com diabetes), à síndrome da imunodeficiência adquirida (14 estudos), ao diabetes (14 estudos), aos distúrbios mentais (seis estudos), às doenças respiratórias (quatro estudos), à obesidade (três estudos), à esquizofrenia (três estudos), à doença renal crônica (três estudos), ao câncer (dois estudos), à colite ulcerativa (dois estudos), à depressão (dois estudos), à dislipidemia (dois estudos), à doença coronariana (dois
4 777 Trabalho 172-4/5 estudos), distúrbios odontológicos (dois estudos), osteoporose (dois estudos), tuberculose (dois estudos), a transplante de órgãos (dois estudos) e outras situações (esclerose múltipla, feridas, fibrose cística, lúpus eritematoso sistêmico, malária, talassemia e úlceras de perna um estudo para cada). Os outros nove artigos abordaram a prevalência e as causas da não adesão medicamentosa sem especificar a doença crônica e três artigos tratavam de conceitos relacionados à adesão e problemas de adesão. Trinta estudos foram escritos por profissionais da medicina, quinze por enfermeiros, seis por farmacêuticos, um estudo foi desenvolvido por nutricionista, um por odontólogo, três por profissionais da psicologia e dez estudos foram desenvolvidos por profissionais de duas ou mais áreas diferentes. Quarenta estudos não informaram a área dos autores. Os países que mais pesquisaram o fenômeno adesão em doenças crônicas foram os Estados Unidos (51 estudos) e o Brasil (21 estudos). Apenas um estudo foi desenvolvido na década de 80, dez estudos foram desenvolvidos na década de 90 e os demais foram publicados nesta década. Os resultados apontaram ainda que os estudiosos sobre adesão referem ser importante conhecer os motivos que influenciam os indivíduos a não aderir completamente ao tratamento, com vistas ao desenvolvimento de estratégias pontuais para incrementar a adesão terapêutica. Ademais, os autores apontam algumas dessas estratégias, como a co-responsabilização, empoderamento do paciente, utilização da prática baseada em evidências e ações educativas, apesar de ficar claro na literatura que por ser um fenômeno multicausal, não há uma fórmula única para promover a adesão. Há ainda a preocupação em mostrar os diversos conceitos e instrumentos inerentes ao fenômeno, mas sem uma concordância sobre qual a melhor forma para sua descrição, análise, identificação e/ou quantificação. Outro aspecto levantado com a revisão integrativa foi a maior ênfase ao tratamento medicamentoso, sendo que é sabido que o principal meio de incrementar a adesão é investir no seu aspecto não farmacológico, como a mudança do estilo de vida e a formação de parcerias e redes de apoio entre profissionais, pacientes e famílias. Concluímos que a pesquisa integrativa proporciona embasamento teórico e científico para o desenvolvimento da revisão da definição do diagnóstico de enfermagem Falta de Adesão e a construção de definições constitutivas e operacionais para suas características definidoras e fatores relacionados, além de sua validade no ambiente clínico com portadores de hipertensão. Para o enfermeiro traçar estratégias de promoção da saúde para os portadores de
5 778 Trabalho 172-5/5 doenças crônicas, com o intuito de favorecer o seguimento terapêutico no seu tratamento e contribuir na prevenção de complicações decorrentes dessas doenças, deve-se guiar por indicadores clínicos. Esses indicadores devem permitir predizer a ocorrência ou não do diagnóstico, contribuindo para que a enfermagem utilize com maior propriedade os seus diagnósticos, tanto na pesquisa, quanto na prática clínica, investigando de maneira padronizada o estado de saúde, prevenindo potenciais condições de morbidade, fundamentando decisões que favoreçam o desenvolvimento de ambientes saudáveis e positivos à promoção da saúde dessas pessoas. Referências 1. North American Nursing Diagnosis Association. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação Tradução Regina Machado Garcez. Porto Alegre: Artmed, p. 2. Costa FBC, Oliveira CJ, Araujo TL. Intervenções de enfermagem a portadores de hipertensão arterial: análise documental. Rev. Enf. UERJ, 2008; 16: Chaves ECL, Carvalho EC, Rossi LA. Validação de diagnósticos de enfermagem: tipos, modelos e componentes validados. Rev. Eletr. Enf. [Online]. 2008; 10(2): Acesso em 13 de janeiro de Disponível em: Palavras chave: Diagnóstico de enfermagem; Adesão terapêutica; Pesquisa.
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