A origem da habitação social no Brasil: Moradia um direito de todos.
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1 A origem da habitação social no Brasil: Moradia um direito de todos. Francispaula Luciano¹, Marcelo de Mello² ¹Mestranda do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências Sociais e Humanidades: Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER), paula.cart@hotmail.com. ² Docente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências Sociais e Humanidades: Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER), Câmpus de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas, Anápolis (GO) INTRODUÇÃO Desde o século XIX que o déficit habitacional se tornou um grande problema nas cidades, pois a população urbana aumentava rapidamente através dos processos de migração campo cidade em decorrência do processo de industrialização brasileira; principalmente nos principais centros urbanos, o que demandava uma maior quantidade de habitação para alojar essas pessoas que se deslocavam para as cidades. O aumento expressivo do contingente de habitantes nas cidades produziu um déficit habitacional. A partir da década de 1890 surgem as primeiras alternativas para a questão da moradia operaria: as vilas operarias. Elas entram em cena com o objetivo de atender a população de baixa renda que necessitava moradia. OBJETIVOS A moradia é um direito de todos os cidadãos. Ao longo do processo urbanização brasileiro as demandas por moradia não foram correspondias pelas ações do Estado. A população de baixa renda habitava em lugares impróprios, sem condições básicas de saúde. O acesso à habitação de qualidade era restrito, apesar de ser um direito previsto em lei. O déficit habitacional existente no Brasil é hoje fruto de intervenções políticas, que tem Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015
2 como objetivo amenizar o problema habitacional. Para melhor compreender esse déficit construído ao longo do tempo, buscamos analisar a origem da habitação de interesse social em território nacional. METODOLOGIA Ao analisar o uso do solo urbano, Corrêa (1995) delimita as áreas das cidades conforme suas funções: as áreas industriais, de serviço, dentre outras. O autor ainda destaca que a produção do espaço urbano não é marcada pela simplicidade. Segundo Corrêa (1995), o espaço urbano é produto da ação de vários agentes: o Estado, que tem papel importante nessa organização espacial; os empresários imobiliários, que usam da especulação do solo na valorização de áreas para o capital especulativo; os proprietários fundiários; os proprietários industriais a classe popular segregada. O espaço urbano pode ser analisado como um conjunto de pontos, linhas e áreas. Pode ser abordado a partir da percepção que seus habitantes ou alguns de seus segmentos tem dele ou de suas partes. Outro modo possível de análise considera-o como forma espacial em suas conexões com estrutura social, processos e funções urbanas. Por outro lado ainda o espaço urbano, como qualquer outro objeto social, pode ser abordado segundo um paradigma de consenso ou conflito. (CORRÊA, 1995, P. 06). O espaço urbano é produto de vários conflitos sócio-espaciais. Entre uma gama infinita de questões promotoras de conflitos aparece, de maneira evidenciada, a habitação. A falta de moradia, as péssimas condições de habitação, a configuração dos cortiços, as invasões e os assentamentos precários ocupam lugares privilegiados nos debates centrados na produção do solo urbano. A produção do solo não ocorre em uma sociedade marcada pela homogeneidade, pelo contrário, o que vigora é uma heterogeneidade profunda; pautada, fundamentalmente, em um antagonismo de classes sociais territorializadas. Tal antagonismo não emerge como resultados de processos recentes, estando presentes, em solo brasileiro, desde antes da proclamação da república. RESULTADOS E DISCUSSÃO O acesso ao solo urbano, no Brasil, tem sido regulado por leis. Contudo, as normas
3 reguladoras não são elaboradas para garantir o acesso ao solo; mas para restringir, limitar o acesso, alimentando uma lógica especulativa. No contexto do processo aqui destacado, a cidade emerge no curso de um processo industrializador. O Estado, ao viabilizar a industrialização, deveria empreender ações com vistas ao atendimento das demandas por moradia dos operários. Estava em andamento, na segunda metade do século XX, o processo de industrialização por substituição de exportação 1, o que provocou um expressivo êxodo rural e o consequente aumento da população urbana. Cidades como São Paulo recebiam levas de migrantes do campo em busca de trabalho nas indústrias. Apesar de reconhecer a necessidade da moradia, principalmente por comprometer a paisagem da cidade com a expansão da moradia coletiva, o Estado não interviu na construção ou mesmo na locação de casas populares. Desta forma, beneficiava os agentes privados, que construíam habitações com o objetivo de alugar para a classe trabalhadora. Um negócio que promoveu lucro para os empresários imobiliários. Conforme Bonduki (1994), na década de 1920 os operários que habitavam nas cidades já eram acomodados em imóveis de aluguel, com mais de uma família por habitação e em espaços pequenos, configurando os cortiços. Os cortiços eram caracterizados pelas péssimas condições de moradia. Para ele, esta foi uma das: inúmeras soluções habitacionais, a maior parte das quais buscando economizar terrenos e materiais através da geminação e da inexistência de recuos frontais e laterais, cada qual destinado a uma capacidade de pagamento do aluguel: do cortiço, moradia operária por excelência, sequência de pequenas moradias ou cômodos insalubres ao longo de um corredor, sem instalações hidráulicas, aos palacetes padronizados produzidos em série para uma classe média que se enriquecia, passando por soluções pobres, mas decentes de casas geminadas em vilas ou ruas particulares que perfuravam quarteirões para aumentar o aproveitamento de um solo caro e disputado pela intensa especulação imobiliária. (BONDUKI, 1994, P.713) 1 A industrialização por substituição de importação corresponde ao momento em que o capital estrangeiro entra no Brasil. Com as multinacionais foram o campo brasileiro toma outros rumos, os trabalhadores rurais são substituídos por maquinas, configura-se o êxodo rural no campo, e o inchaço das cidades brasileiras, principalmente as capitais. Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015
4 Os cortiços foram, por muito tempo, à única moradia da classe trabalhadora, pois, neste período conhecidos como Republica Velha ( ), não existia financiamento que promovesse o acesso à casa própria, com vistas ao atendimento da população de baixa renda. As primeiras vilas operárias foram construídas no território nacional no final do século XIX e inicio do século XX, conforme destaca Rodrigues (2001), as indústrias interessadas em construir moradias para instalação dos seus operários, teriam incentivos na compra da área e estariam livres de impostos por um período de 15 anos. Esta foi uma pequena barganha direcionada para uma modificação da paisagem das cidades, tendo em vista que os cortiços se multiplicavam rapidamente. Rodrigues (2001) diferencia as Vilas Operárias de outras formas de moradia: as primeiras são aquelas construídas pelas indústrias, onde as casas seriam alugadas para os trabalhadores, uma forma de aproximar a mão-de-obra e combater a falta de moradia. O segundo modelo foi construído por empresas que atuavam no ramo da construção, e o principal objetivo era alugar os imóveis para aqueles que dispunham de melhores salários, e assim obter lucros. Por muito tempo, a construção de casa para os operários foi um bom negócio, gerador de riqueza, pois não existiam normas que estabelecessem os preços dos alugueis. Assim os locadores ficavam totalmente nas mãos dos proprietários de imóveis, tendo muitas vezes que pagar altos valores para não residir nos cortiços. A tendência do Estado e da elite dominante durante a República Velha sempre foi considerar as vilas operárias como uma iniciativa modelar a ser estimulada, pois garantia condições dignas de moradia, superando a insalubridade dos cortiços, sem exigir a intervenção do poder público, e, ainda, proporcionando um controle ideológico, político e moral aos trabalhadores, muito bem visto frente ao sempre presente temor de uma revolta operária. (BONDUKI, 1994, p. 715,716) Mesmo com o surgimento das Vilas Operárias, não foi possível resolver o problema habitacional. Elas proporcionavam o acesso a melhores condições de moradia a uma pequena porcentagem da população, o que não impedia a expansão dos cortiços reproduzidos no século XX, com uma quantidade ainda maior de habitações coletivas. De acordo com a Constituição Federal de 1988, a moradia é direito social de todos os habitantes de áreas urbanas e rurais, bem como é dever das esferas públicas Municipais, Estaduais e Federais
5 garantir esse direito, conforme descreve: Art.7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: Dentre outros parágrafos: IV salario mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e a de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuários, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. Art. 23º - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: Dentre outros parágrafos: IX promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos. A moradia sempre foi uma questão social, mas ao mesmo tempo ela é um fator da economia, uma vez que para ter acesso à casa própria torna-se necessário efetivar o pagamento por este bem que é direito de todos. Nesta linha de raciocínio Rodrigues (2001) destaca que: Para morar é necessário ter capacidade de pagar por esta mercadoria não fracionável, que compreende a terra e a edificação, cujo preço depende também da localização em relação aos equipamentos coletivos e a infraestrutura existente nas proximidades da casa/terreno. (RODRIGUES, 2001, p. 14). Morar, não significa apenas ter um teto, mas sim ter acesso a serviços públicos de qualidade, a infraestrutura, saneamento, água tratada, segurança, dentre tantas outras necessidades que fazem parte do direito a vida na cidade. A moradia, no contexto histórico de déficit habitacional, se tornou um grande desafio. Combater o déficit habitacional e as precariedades das moradias existentes foi, no século passado, e têm sido neste século, um dos principais discursos dos diversos partidos políticos. Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O crescimento da população urbana produziu uma nova configuração nas cidades brasileiras. Estas, conforme Corrêa (1995), passaram a apresentar um espaço urbano simultaneamente fragmentado e articulado: e o déficit habitacional esta cada dia mais presente nesses espaços. Ao abordar a questão da habitação social no Brasil, as esferas públicas Federais, Estaduais e Municipais buscam soluções para os problemas habitacionais e o acesso à moradia. Contudo, as alternativas desenvolvidas ao longo dos tempos não tem sido suficientes para resolver a questão da moradia popular. REFERÊNCIAS BONDUKI, Nabil Georges. Origem da Habitação no Brasil. In: Analise Social, Vol. XXIX(127), 1994 (3º), Disponível em : BRASIL. Senado Federal. Constituição Federal de Disponível em: CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 3ª ed. São Paulo: Ática, RODRIGUES, Arlete Moyses. Moradia nas cidades brasileiras. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2001.
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