ACUPUNTURA COMO TERAPIA ADJUVANTE NO CONTROLE DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA ADQUIRIDA - RELATO DE CASO

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1 ACUPUNTURA COMO TERAPIA ADJUVANTE NO CONTROLE DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA ADQUIRIDA - RELATO DE CASO Maria Lopes CORRÊA 1 ; Patrícia Maria Coletto FREITAS 2 ; Marcelo Rezende LUZ 2 ; Acacia Rebello COUTINHO 3 ; Breno Curty BARBOSA 4 e Marthin Raboch LEMPEK 1 1 Aluno de mestrado do programa de pós-graduação em Ciência Animal, UFMG. marialc_vet@yahoo.com.br 2 Professor da Escola de Veterinária da UFMG. 3 Graduanda em Medicina Veterinária da Escola de Veterinária da UFMG 4 Doutorando do programa de pós-graduação em Ciência Animal, UFMG Resumo Algumas cadelas podem desenvolver incontinência urinária pós-castração, sem etiologia totalmente compreendida. Assim, como possui característica multifatorial, seu tratamento pode ser de difícil resolução, requerendo associação de estratégias para controle. Há algumas décadas, a acupuntura vem sendo indicada como terapia adjuvante para o tratamento da incontinência urinária. O presente relato descreve o caso de uma cadela na qual foi realizada ovariectomia, e após 4 meses apresentou incontinência urinária. Para o tratamento instituiu-se administrações de dietilestilbestrol associadas a técnicas de acupuntura. Após 21 dias do início do tratamento com acupuntura o animal apresentou remissão total da incontinência urinária. Palavras-chave: Acupuntura Incontinência Urinária Estrógenos Keywords: Acupuncture - Urinary Incontinence - Estrogens Revisão de Literatura A incontinência urinária adquirida (IUA) é uma condição debilitante para cães (COIT et al., 2008). Segundo BEAUVAIS et al. (2012), a ovariectomia (OEc) em cadelas está associada à ocorrência de IUA. Forsee et al. (2013) identificaram prevalência de 5,12% de IUA em estudo retrospectivo realizado nos Estados Unidos, em população de 566 fêmeas caninas ovariectomizadas. A fisiopatogenia da IUA em fêmeas neutralizadas parece estar relacionada ao desequilíbrio homeostático provocado pela ablação da atividade secretória gonadal, e consequente abalo na sinalização entre estrógenos, LH, FSH, GnRH e o tecido urogenital. Tal alteração neuroendócrina parece influenciar sobre constituição ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1088

2 morfológica das paredes de bexiga e uretra e decréscimo da competência do esfíncter uretral instituindo a perda do controle da micção (COIT et al., 2008; PONGLOWHAPAN et al., 2008; NOËL et al., 2010; REICHLER e HUBLER, 2014). Por sua característica multifatorial, o tratamento da incontinência pode de difícil resolução, requerendo associação de estratégias para controle a longo prazo (NOËL et al., 2010; DE BLESER et al., 2011; CLAYES et al., 2011). A acupuntura (AP) é uma técnica terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) pouco invasiva e com mínimos efeitos adversos, sendo sua aceitação pela Medicina Ocidental incentivada por relatos de sua aplicação clínica, bem como estudos controlados que elucidam sobre suas bases fisiológicas (LITSCHER, 2010). Na década de 1980, a Organização Mundial da Saúde recomendou AP para o controle de diversas patologias, incluindo gênito-urinárias (CHANG, 2012). De acordo com Giovaninni e Piai (2010), a acupuntura tem sido descrita como eficaz para controle de micção involuntária no homem com IUA. A técnica consiste na inserção de agulhas em pontos localizados na epiderme (SCGNAMILLO-SZABÓ e BECHARA, 2010). Os pontos são distribuídos ao longo de canais por onde a energia vital (Qi) circula. O estímulo de cada ponto acarreta em efeitos sobre tecidos e órgãos no intuito de reestabelecer a homeostase e controlar a condição de desequilíbrio característica do organismo doente (BUDGIN, FLAHERT, 2013). A inserção das agulhas nos pontos estimula terminações nervosas de fibras C e Aδ. A vasodilatação e a liberação de substâncias anti-inflamatórias agem local e distalmente estimulando as terminações periféricas e de vias aferentes podendo, de acordo com a intensidade do estímulo, desencadear respostas sistêmicas neurofiológicas e comportamentais (HAYASHI e MATERA, 2005; BAKER, 2008). Descrição do Caso Foi atendida no Hospital Veterinário da UFMG uma cadela de 1 ano e 8 meses, com peso corporal de 6,5 kg, da raça Lulu da Pomerânia, com histórico de incontinência urinária há 8 meses, a qual havia se iniciado após 4 meses de a fêmea ter sido submetida a intervenção cirúrgica de ovariectomia. De acordo com seu histórico, o animal apresentava micção espontânea várias vezes ao dia, não estando associado aparentemente a sinais de estresse físico ou psicológico. Inicialmente foi instituído o tratamento com o hormônio dietilestilbestrol ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1089

3 (DES), na dose de 0,15 mg/kg/sic/30 dias, e a paciente foi encaminhada para o Serviço de Acupuntura. Assim, após 30 dias do início do tratamento hormonal, e ainda com incontinência, o animal foi avaliado, e seu diagnóstico pela MTC foi de síndrome de deficiência do Yang do Rim. Foi instituído o tratamento pela acupuntura, sendo realizado por meio de uma sessão semanal. Foram associadas duas técnicas de estimulação dos acupontos, por meio da eletroestimulação e da farmacopuntura. Os pontos VC2 (Qugu), VC4 (Guanyuan), R3 (Taixi), R7 (Fluiu), R11 (Henggu), R12 (Dahe) e BP6 (Sanyinjião) foram estimulados por corrente contínua de 20Hz, durante 10 minutos, e os pontos B26 (Guanyuanshu) e B28 (Pangguangshu) por meio da aplicação de solução de procaína 0,3%. Associadamente, a cadela continuou com o uso do DES, a cada 48h, por 1 semana. Após a segunda sessão de acupuntura, o DES passou a ser utilizado a cada 72h, e após a 3ª sessão, semanalmente. Após três sessões de acupuntura a paciente teve remissão total da incontinência urinária, contudo o animal realizou mais sete sessões semanais. Após a 10ª sessão, o DES passou a ser utilizado a cada 3 semanas, e as sessões de acupuntura passaram a ser quinzenais. Entre a 3ª sessão de acupuntura e a 14ª, o animal não teve mais nenhum episódio de incontinência urinária. Discussão Segundo a literatura, a gonadectomia em cães é um fator de risco para o desenvolvimento da IUA, havendo uma maior ocorrência nas fêmeas (COIT et al., 2008; DE BLESER et al., 2011). No caso descrito, a paciente apresentou IUA após 4 meses da ovariectomia, sugerindo uma relação causativa entre ambos. O tratamento foi iniciado com o hormônio DES, e a acupuntura foi indicada para auxiliar e potencializar os efeitos, já que é uma técnica que não antagonizaria a ação da terapia hormonal já instituída. Como o diagnóstico pela MTC foi de síndrome de deficiência do Yang do Rim, os pontos escolhidos a eletroestimulação teve o objetivo de tonificar esse Yang. Além disso, os acupontos foram selecionados de acordo com a indicação da MTC, contudo por estarem localizados na região pélvica, a vasodilatação e neuroestimulação locais podem ter favorecido o controle da micção pela bexiga, uretra e músculos abdominais, além da possível ativação de mecanismos de ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1090

4 controle eferentes do sistema nervoso central. A eletroestimulação e a terapia neural foram empregadas no intuito de potencializaram a estimulação dos pontos e prolongarem os efeitos da AC durante o intervalo entre as sessões. Conclusão Pode-se concluir que a associação de eletroacupuntura/farmacopuntura com o uso de dietilestilbestrol promoveu a remissão total da incontinência urinária póscastração da cadela. Por permitir a associação com terapias farmacológicas, a acupuntura pode ser incluída em protocolos da medicina veterinária ocidental aumentando as chances de sucesso no tratamento de diversas patologias. O caso clínico deste estudo explorou a associação entre acupuntura e protocolo farmacológico para controle da IUA. Apesar da resolução satisfatória dos sinais de incontinência, os dados apresentados são insuficientes para confirmar a eficácia da AC como monoterapia, tampouco da influência que cada uma das estratégias utilizadas exerceu sobre a outra. Referências BAKER, D.J. Getting to the point: the potencial for modern acupuncture in dermatologic therapy. Clinics in Dermatology, v.26, n. 3, p , BUDGIN, J.B.; FLAHERT, M.J. Alternative therapies in veterinary dermatology. Clinics of Small Animals, v.43, n.1, p , BEAUVAIS, W.; CADWELL, J.M.; BRADBELT, D.C. The effect of neutering on the risk of urinary incontinence in bitches- a systematic review. Journal of Small Animal Practice, v.53, p , DE BLESER, B.; BRODBELT, D.C.; GREGORY, N.G.; MARTINEZ, T.A. The association between acquired sphincter mechanism incompetence in bitches and early spaying: a case-control study. The Veterinary Journal, v.187, p.42-47, CHANG, S. The meridian system and mechanism of acupuncture a comparative review. Part 1: the meridian system. Taiwanese Journal of Obstetrics & Gynecology, v.51, n.4, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1091

5 CLAYS, S.; RUSTICHELLI, F.; NOËL, S.; HAMAIDE, A. Clinical evaluation of a single daily dose of phenylpropanolamine in the treatment of urethral sphincter mecanismo incopetence in the bitch. Canadian Veterinary Journal, v.52, n.5, p , COIT, V.A.; IAN, F.G.; EVANS, N.P.; DOWELL, F.J. Neutering affects urinary bladder function by different mechanisms in male and female dogs. European Journal of Pharmacology, v.584, n.1, p , FORSEE, K.M.; DAVIS, G.J.; MOUAT, E.E.; SALMERI, K.R.; BASTIAN, R.P. Evaluation of the prevalence of urinary incontinence in spayed female dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.242, n.7, p , GIOVANINNI, L.H.; PIAI, V.S. O uso da acupuntura no auxílio à terapia da doença idiopática do trato urinário inferior dos felinos. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.3, , HAYASHI, A.M.; MATERA, J.M. Acupuntura em pequenos animais. Revista de Educação Continuada CRMV-SP, São Paulo, V.8, n.2, p , LITSCHER, G. Ten years evidence-based high-tech acupuncture. Part 3: a short review of animal experiments. Evidence Based Complement Alternative Medicine, v.7, n.2, p , NOËL, S.; CLAYES, S. HAIMAIDE, A. Acquired urinary incontinence in the bitch: update and perspectives from human medicine. Part2: the urethral componente, pathophysiology and medical treatment. The Veterinary Journal, v.186, n.1, p.18-24, PANGLOWHAPAN, S.; CHURCH, D.B.; KHALID, M. Differences in the proportion of collagen and muscle in the canine urinary tract with regard to gonadal status and gender. Theriogenology, v.70, n.9, p , REICHLER, I.M.; HUBLER, M. Urinary incontinence in the bitch: na update. Reproduction in Domestic Animals, v. 49, n.s4, p.75-80, SCOGNAMILLO-SZABÓ, M.V.R.; BECHARA, G.H. Acupuntura: histórico, bases teóricas e suas aplicações em medicina veterinária. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.2, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1092

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