Anais do 38º CBA, p.0956

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1 O USO DE FORMULÁRIO CLÍNICO PARA A AVALIAÇÃO DE DISTÚRBIO COGNITIVO EM CÃES IDOSOS THE USE OF CLINICAL FORM FOR THE EVALUATION OF COGNITIVE DISTURBANCE IN ELDERLY DOGS Claudijane de Carvalho MATOS¹; Gilda Marcolino da SILVA ² ; Kelly Cunha VITAL 3, Fernando Wiecheteck de SOUZA 4 ; Pierre Barnabé ESCODRO 4 ; Márcia Kikuyo NOTOMI 4 1 Estudante de graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Alagoas, claudijanematos@gmail.com 2 Medica Veterinária, Universidade Federal de Alagoas, gilda.vet@hotmail.com 3 Estudante de pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Alagoas 4 Professor(a) Doutor do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Alagoas Resumo Com o envelhecimento, diversas alterações podem ser encontradas, como: redução gradual de todas as funções fisiológicas, redução na capacidade de aprendizado e memória, diminuição da competência imune, alterações degenerativas em diversos sistemas e problemas comportamentais. Os distúrbios de cognição em cães são de difícil reconhecimento e apenas 7% dos proprietários procuram um médico veterinário com esta queixa. Este trabalho teve como objetivo avaliar a frequência de sinais compatíveis com distúrbios cognitivos em cães idosos através da utilização de formulário de observação comportamental. Foram selecionados para o estudo cães com mais de oito anos de idade e hígidos ao exame clínico. Somente foram consideradas as alterações comportamentais que tiveram início progressivo após a idade de sete anos. Todos os animais apresentaram pelo menos uma resposta positiva ao questionário, sendo 57% mais de 4 categorias diferentes. As cinco alterações mais relatadas foram: (1) necessidade de contato constante; dependência emocional excessiva (63%), (2) o aumento ou redução do apetite (57%) (3) ansiedade quando separado dos proprietários (47%), (4) aumento do sono diurno (47%), e (5) alterações ou problemas com a hierarquia social (43%). O formulário clínico para diagnóstico de sinais de distúrbios cognitivos demonstrou ser uma ferramenta simples e prática para avaliação inicial de indivíduos geriátricos, porém a existência de enfermidades clinicamente silenciosas deve ser excluída. Palavras-chave: Cão, Senil, Comportamento, Alzheimer. Keywords: Dog, Senile, Behavior, Alzheimer's disease. Anais do 38º CBA, p.0956

2 Introdução Muitos dos problemas comportamentais encontrados nos animais idosos são decorrentes de processos degenerativos do sistema nervoso central, resultando em alterações de memória e aprendizado (NEILSON et. al., 2001), como na Disfunção Cognitiva Canina (DCC). DCC é uma desordem neurodegenerativa progressiva caracterizada por mudanças comportamentais com deterioração gradual de funções cognitivas, que não podem ser atribuídas a condições médicas ou às disfunções sensoriais/motoras relacionadas ao envelhecimento (RUEHL e HART, 1998; FRANK, 2002; LANDSBERG et. al., 2005; LANDSBERG, 2012). Porém, apenas 7% dos proprietários de cães reconhecem a DCC como uma doença e procuram um médico veterinário, (AUTRAM, 2006). De acordo com Heckler et al., (2011) a suspeita clínica da DCC é baseada na identificação de sinais clínicos e na exclusão de outros processos mórbidos que possam causar ou contribuir para o surgimento desses sinais, sem a identificação de uma causa médica primária no exame físico ou testes diagnósticos. Diante da dificuldade de diagnóstico, formulários clínicos (LANDSBERG e HEAD, 2008) e testes comportamentais (HECKLER et al., 2010) foram elaborados para ajudar os médicos a reconhecer DCC. A prevalência do diagnóstico de DCC em cães idosos é subestimada porque as alterações comportamentais desenvolvidas são assumidas por muitos proprietários como algo inerente à idade e intratável (RUEHL et al., 1998). É necessária a comprovação de métodos que facilitem o reconhecimento de DCC em cães idosos por tutores e médicos veterinários, possibilitando a implantação de tratamento e assim, retardar a evolução da enfermidade (LANDSBERG, 2012). Metodologia Foram selecionados para o estudo cães com mais de oito anos de idade, tendo como critérios de inclusão a: (1) ausência de qualquer doença médica na anamnese e exame físico; e (2) que não recebessem quaisquer drogas ou medicamentos que pudessem alterar as respostas cognitivas ou comportamentais. Somente foram consideradas as alterações comportamentais que tiveram início progressivo após a idade de sete anos. Um perfil do paciente geriátrico foi realizado através de uma entrevista ao proprietário onde eram feitas perguntas na forma de Anais do 38º CBA, p.0957

3 questionário, avaliando o perfil do paciente e informações relevantes de hábitos alimentares, manejo e cuidado sanitário. A avaliação de DCC foi realizada através do Formulário Clínico sugerido por Landsberg e Head, (2008) baseado em perguntas sobre o comportamento do animal respondidas pelo tutor. O formulário apresenta questões em sete diferentes categorias: (A) Confusão, inconsciência, orientação espacial, (B) Relacionamentos e comportamento social, (C) Nível de atividades (C1: Aumentada e repetida; C2: Diminuída), (D) Ansiedade e irritabilidade, (E) Ciclo de Sono-vigília, (F) Treinamento higiênico e (G) Aprendizado e memória. Uma análise estatística descritiva, frequência e análise de variância dos dados obtidos nos formulários, comparação entre os gênero e correlação entre os diferentes portes físicos. Resultados e Discussão Foram estudados 30 cães idosos com idade variando entre oito e 17 anos (média de 12,07), sendo 17 fêmeas e 13 machos. Destes animais, cinco eram de grande porte, 11 de médio porte e 14 de pequeno porte. Não foi observada a correlação entre idade e presença de sinais compatíveis com DCC, assim como, a influência do gênero e porte físico. Isso pode ter ocorrido devido ao pequeno número de animais estudados, porque já é conhecido que o processo de envelhecimento é diferenciado de acordo com o porte do animal (FREITAS et. al., 2006). Adicionalmente, a interferência socioambiental vivenciada pelo paciente, como o enriquecimento ambiental, experiências cognitivas prévias e a dieta, podem retardar o desenvolvimento de DCC com consequente menor aparecimento de sinais (LANDSBERG et. al, 2012). Todos os animais apresentaram pelo menos uma resposta positiva ao questionário, sendo 6,66% apresentava alteração e uma das categorias, 14,3% em 2 categorias, 28,6% em 3 categorias, 17,8% em 4 categorias, 17,8% em 5 categorias, 10,7% em 6 categorias e 10,7% em todas as categorias. Foi observado um elevado número (93,2%) de cães idosos com sinais de distúrbios comportamentais de cognição, quando comparado com estudos realizados com formulário e metodologia semelhante. Akzona et. al. (2009) estudaram DCC através de entrevista telefônica com proprietários de 325 animais selecionados randomicamente e verificaram prevalência de 22,5% de sinais de prejuízo da função cognitiva. Já Pantoja (2010), Anais do 38º CBA, p.0958

4 verificou a presença de sinais em 37,66% (29/77) dos animais, cujos proprietários foram entrevistados pessoalmente ou via . As cinco alterações mais relatadas foram: (1) necessidade de contato constante; dependência emocional excessiva com 63% de respostas positivas, (2) o aumento ou redução do apetite com 57%, (3) ansiedade quando separado dos proprietários e (4) aumento do sono diurno com 47%, e (5) alterações ou problemas com a hierarquia social com 43% de relatos presentes. Alterações na Categoria B (relacionamentos e comportamento social) também foi o item mais relevante em outros estudos com formulários clínicos de DCC (Osella et. al., 2007; Azkona et. al., 2009; Pantoja, 2010). Entretanto, nas demais categorias há uma variação entre os estudos realizados. A Categoria C (nível de atividade), também frequente neste estudo e foi a terceira e quarta categoria descrita por Osella et. al. (2007) e Pantoja (2010). A Categoria F (perda do treinamento higiênico) foi uma categoria pouco mencionada neste estudo, concordando com Osella et. al. (2007), porém, ela foi a segunda categoria mais mencionada nos estudos de Akzona et. al. (2009) e Pantoja (2010). Apesar do estudo realizado por Rofina et. al., (2006) ter encontrado uma correlação significativa entre pontuações do formulário e determinadas lesões cerebrais, o diagnóstico de distúrbio cognitivo através da utilização do formulário demonstrou ser pouco específico para o DC em animais que não realizaram exames complementares para exclusão de enfermidades. Porém, poderia ser utilizado como uma ferramenta auxiliar para exclusão inicial de DCC em animais idosos pela fácil realização e interpretação das perguntas pelos proprietários. Conclusão O formulário clínico para diagnósticos de sinais de distúrbios cognitivos demonstrou ser uma ferramenta simples e prática para avaliação inicial de indivíduos geriátricos, porém somente para uma triagem inicial, sendo necessários exames complementares para um diagnóstico mais preciso. Referências AUTRAN, H. M. Una introduccion al proceso de envejecimiento y sus consecuencias. In: The Latin American Veterinary Conference, 2006, Lima, Peru. p Anais do 38º CBA, p.0959

5 AZKONA, G. et. al. Prevalence and risk factors of behavioural changes associated with age-related cognitive impairment in geriatric dogs. Journal of Small Animal Practice, v. 50, p 87-90, FRANK, D. Cognitive dysfunction in dogs. Hill s European Symposia on Canine Brain Ageing Disponível em: < Acesso em 10 nov FREITAS, E.P.; RAHAL, S.C.; CIANI, R.B. Distúrbios físicos e comportamentais em cães e gatos idosos. Archives of Veterinary Science, v. 11, n. 3, p.26-30, HECKLER M. C. T.; SANTOS F. H.; AMORIN R. M. Testes para avaliação das funções cognitivas de memoria e aprendizado em cães. Neurologia, v. 73, p , HECKLER M. C. T.; SVICERO D.; AMORIN R. M. Síndrome da disfunção cognitiva em cães. Clinica Veterinária, v. 90, p , HOSKINS, JD. Geriatrics and gerontology of the dog and cat. 2ed, Missouri:Saunders, 2004, 415 P. LANDSBERG, G.; HUNTHAUSEN, W.; ACKERMAN, L. In:. Problemas comportamentais do cão e do gato. São Paulo: Roca, 2005, cap. 12, p LANDSBERG, G.M.; HEAD, E. Geriatria e Gerontologia do Cão e Gato. 2. ed. São Paulo: Roca, cap. 4, p LANDSBERG G.M. et. al. Cognitive dysfunction syndrome a disease of canine and feline brain aging, Vet Clin Small Anim , p NEILSON J. C. et.al. Prevalence of behavioral changes associated with age-related cognitive impairment in dogs. J Am Vet Med Assoc, v. 218, n. 11, p , OSELLA M. et. al. Canine cognitive dysfunction syndrome: prevalence, clinical signs and treatment with a neuroprotective nutraceutical. Applied Animal Behaviour Science, v. 105, p , PANTOJA, L. N. Contribuição ao diagnóstico clínico da disfunção cognitiva canina. 54 f. Dissertação (Curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Veterinária, Seropédica, 2010 ROFINA, J. E. et. al. Cognitive disturbances in old dogs suffering from the canine counterpart of Alzheimer s disease. Brain Research, v. 1069, n.1, p , RUEHL, W.W; HART, B.L. Psychopharmacology of animal behavior disorders. In: DODMAN, N.H.; SHUSTER, L. Iowa: Blackwell Science, 1998, cap 13, p Anais do 38º CBA, p.0960