Inovação Empresarial e QREN
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- Kevin Bugalho Gil
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1 Nelson de Souza Gestor PO Factores de Competitividade Inovação Empresarial e QREN 105 O enfoque do QREN na inovação é visível ao longo de toda a cadeia do conhecimento e da inovação, começando do lado da oferta do conhecimento, mas não descurando a procura e a sua utilização nas empresas com vista à inovação através da produção de novos bens e serviços ou da adopção de novos processos tecnológicos e organizacionais. É do lado da procura por parte das empresas, que o enfoque estratégico na inovação é mais visível no QREN. É ao incentivo ao investimento das empresas que é afecto uma parte substancial dos recursos financeiros do Programa Factores de Competitividade do QREN, acreditando-se que a opção pela prioridade à inovação resultaria fortemente diminuída se uma parte significativa da totalidade dos recursos financeiros a ela se não se submetesse. Criando rupturas quando necessário ou conferindo impulso a dinâmicas iniciadas num passado recente, o QREN faz uma aposta decidida na inovação, a ela dedicando uma fatia substancial dos recursos da Agenda da Competitividade.
2 106 The focus of QREN on innovation is visible throughout the whole chain of knowledge and innovation, beginning on the side of knowledge supply, though not forgetting the demand and its use on companies, with a view to innovation through the production of new goods and services or the adoption of new technological and organizational processes. It is from the side of demand on the part the companies that the strategic focus of QREN is most visible. A substantial part of the financial resources of the Competitiveness Factors Program of the QREN is directed to the incentives on investment of the companies, based on the belief that the option of prioritizing innovation would be seriously diminished if a substantial part of the financial resources was not submitted to it. By creating divides when necessary or by conferring impulse to dynamics initiated in the recent past, QREN is decidedly betting on innovation, dedicating to it a substantial slice of the resources from the Competitiveness Agenda.
3 OQuadro de Referência Estraté gico Nacional (QREN) não poderia deixar de considerar o conhecimento e a inovação como prioridades fundamentais, estando estes objectivos presentes na generalidade dos instrumentos e medidas do Plano Operacional (PO), Factores de Competitividade e dos PO Regionais na sua dimensão económica. De facto, é hoje generalizadamente aceite que as economias com maiores desempenhos estão sustentadas no conhecimento e na inovação e assim não poderá isso deixar de suceder também com a sociedade portuguesa. O enfoque do QREN na inovação é visível ao longo de toda a cadeia do conhecimento e da inovação, começando não apenas do lado da oferta do conhecimento, mas também, e sobretudo, não descurando a procura e a utilização do conhecimento nas empresas, com vista à inovação através da produção de novos bens e serviços ou da adopção de novos processos tecnológicos e organizacionais. Na perspectiva da produção/oferta do conhecimento, o objectivo do QREN é de preservar e consolidar o stock de know-how crítico para o desenvolvimento do País. Do lado da procura, pretende-se que esse stock de conhecimento seja transferido e disponibilizado com vista à inovação da base produtiva empresarial. Observemos como estas preocupações, expressas a nível do discurso, se traduzem em instrumentos concretos de aplicação do QREN. Do lado da produção tecnológica e científica, por parte dos centros de saber residentes em universidades e outras instituições do sistema científico, o QREN prevê recursos importantes sobretudo para o desenvolvimento de actividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D) menos próximas do mercado. Aliás, a concentração do QREN num número muito reduzido de Programas Operacionais permitiu que o «apoio à ciência» estivesse integrado no mesmo programa que lida com a competitividade empresarial, numa tentativa de descobrir sinergias entre ciência e economia que a dispersão em vários programas em anteriores Quadros Comunitários de Apoio (QCA) dificultava. O Eixo I do PO Factores de Competitividade «Conhecimento e Desenvolvimento Tecnológicos» vai reforçar o apoio das políticas públicas orientadas para o fortalecimento da base científica e tecnológica do nosso país. No entanto, e com o intuito de orientar a produção científica para as actividades económicas, o essencial do apoio do QREN às instituições irá traduzir-se no desenvolvimento do seu mercado, isto é, no estímulo à procura empresarial que recorra aos seus serviços. Por exemplo, ao incentivar o desenvolvimento de projectos de I&DT nas empresas portuguesas cria-se mercado para as instituições científicas e tecnológicas o que lhes propicia novas oportunidades de intervenção, quer como entidades subcontratadas das empresas, quer como parceiras destas em projectos de I&D em consórcio. Um bom exemplo de apoio à inovação em simultâneo pelo lado da oferta e da procura de conhecimento é-nos fornecido pelo novo instrumento de «Vale de I&DT» e «Vale de Inovação». Vejamos com maior detalhe o funcionamento deste mecanismo de apoio do QREN: a) Numa primeira fase, os gestores dos PO do QREN qualificarão um conjunto de instituições científicas ou tecnológicas com disponibilidade e capacidades para prestarem serviços às PME nos domínios da I&D ou da inovação; recorde-se que o concurso para a qualificação deste tipo de entidades teve início no passado dia 15 de Fevereiro, terminando o prazo em meados do próximo mês; b) Numa segunda fase, será desencadeado um concurso para atribuição de vales ou vouchers às PME que se iniciará em Maio do corrente ano; a candidatura será muito simples e resume-se a uma breve identificação do problema a solucionar recorrendo aos serviços de uma entidade do sistema científico e tecnológico, escolhida de entre as qualificadas pelo QREN; c) Com o «vale» do QREN, a PME poderá adquirir serviços até um valor de 25 mil euros, pagando por eles apenas 25% do seu valor; os restantes 75% serão pagos pelo QREN directamente aos prestadores dos serviços, isto é, às instituições científicas ou tecnológicas previamente qualificadas para participarem neste processo. 107
4 108 Com base neste mecanismo de apoio irá conseguir-se obter um duplo efeito positivo: a) Nas PME, que passam a dispor de um esquema muito simples de apoio ao desenvolvimento da inovação de produtos ou processos, ensaiando em muitos casos um primeiro contacto com os centros de saber; b) Nas instituições de I&D e de inovação, pelo mercado que criam o que propicia oportunidades de ganhar novos clientes empresariais; recorde-se que as instituições qualificadas podem desencadear verdadeiras campanhas de marketing das suas capacidades junto das empresas. O «vales» I&DT e Inovação são instrumentos inovadores que materializam a opção do QREN em apoiar as infra-estruturas sobretudo em função da qualidade e da quantidade dos serviços que efectivamente prestam aos cidadãos e à economia. Neste caso, as infra-estruturas terão maior mercado, mas se só forem capazes de atrair ou convencer as PME para se constituírem como suas clientes. Mas é do lado da procura, por parte das empresas, que o enfoque estratégico na inovação é mais visível no QREN. É ao incentivo ao investimento das empresas que parte substancial dos recursos financeiros de programas de promoção da competitividade são afectos, e o PO Factores de Competitividade do QREN não foge à regra. A opção pela prioridade à inovação resultaria fortemente diminuída se uma parte significativa da totalidade dos recursos financeiros a ela se não se submetesse. Por isso, é nos sistemas de incentivos às empresas do QREN que a ruptura com práticas do passado foi mais vincada. Em anteriores QCA criou-se a ideia de que qualquer investimento nas empresas deveria ser credor de incentivo público. A opção do QREN foi a de maior selectividade e de focalização em torno do conhecimento e da inovação. Não bastará que os projectos sejam positivos para a empresa promotora, sendo necessário que se traduzam complementarmente em vantagens para a economia local, regional ou nacional, consoante a dimensão do investimento em causa. O investimento de simples reposição ou substituição de equipamentos não será objecto de apoio, tendo-se restringido os projectos elegíveis a um leque bem identificado de categorias prioritárias: a) Através do Sistema de Incentivos à Inovação, apoiam-se os investimentos produtivos de i) novos produtos ou serviços; ii) novos processos tecnológicos ou organizacionais; iii) empreendedorismo qualificado e de maior conteúdo tecnológico;
5 b) Através do Sistema de Incentivos à Qualificação de PME irá privilegiar-se a renovação do modelo de negócios resultante de factores mais imateriais de competitividade (capacidades de gestão, uso de TIC, energia, ambiente, internacionalização, moda e design, responsabilidade social, etc.). Ou, seja, o incentivo ao investimento produtivo focalizou-se em torno da inovação nas empresas, entendida esta última nas suas diversas dimensões: empreendedorismo, produção de novos produtos ou processos e uso de factores mais dinâmicos da competitividade nas PME. Investimentos que não contribuam para acrescentar algo de novo às realidades existentes nas empresas, nas regiões ou no País dificilmente terão enquadramento nos Sistemas de Incentivos às empresas do QREN. È claro que a exigência da novidade será graduada em função da dimensão da empresa promotora e do investimento candidato. Mas todos em conjunto têm de ser capazes de demonstrar o seu contributo para a inovação empresarial. Outra prioridade relacionada com a inovação tem que ver com o objectivo do QREN de favorecer um aumento drástico das actividades de I&DT nas nossas empresas. De facto se o peso da I&D total no PIB português é muito reduzido, quando comparado com o da União Europeia, a importância da I&D nas empresas ainda é muito menos significativa. Em consequência, favorecer a I&D empresarial constitui uma das prioridades do PO Factores de Competitividade, mediante a criação do SI I&DT, com as seguintes características: a) O SI&DT encontra-se dotado de recursos financeiros fortemente acrescidos quando comparados com os alocados a este tipo de projectos no quadro do PRIME; b) O SI&DT incluiu uma gama completa de instrumentos de suporte à I&DT vocacionados para empresas em estádios diferenciados de adesão às estratégias de inovação desde os instrumentos orientados para as micro e pequenas empresas (como o caso dos vales de I&D, os núcleos de I&DT e os projectos de I&D colectivo de um conjunto de empresas), até às tipologias mais apropriadas às empresas de maior dimensão e habituadas a desenvolver e organizar projectos de I&D (individuais, em consórcio e de natureza estratégica e mobilizadora). Estes são instrumentos fortemente focados na prioridade conferida à inovação no seio do QREN e já estão no terreno. A primeira fase dos concursos iniciados no ano passado terminaram em Janeiro deste ano e as primeiras decisões sobre os incentivos começarão a ser tomadas em breve. QREN - sistemas de incentivos às empresas Candidaturas apresentadas aos concursos terminado em Janeiro 08 Projectos Investimento SI QREN Nº % total Mil % Total SI INOVAÇÃO % % Inovação Geral % % Empreendedorismo 113 7% % Proj. especiais 18 1% % SI Qualif. PME % % Proj. individuais % % Proj. Conjuntos 33 2% % SI I&DT % % Proj. I&DT % % Núcleos I&D 35 2% % TOTAL % % A procura de incentivos ao QREN nesta primeira fase de concursos foi muito significativa, como os números já anunciados comprovam. Este nível de adesão pela parte das empresas ganha significado acrescido, se tivermos em conta o contexto de selectividade e enfoque na inovação que acabamos de descrever. Em breve, provavelmente até ao final do mês de Abril, o QREN finalizará a gama de instrumentos complementares que irá favorecer a inovação: a) complementando os incentivos com mecanismos de engenharia para o financiamento e partilha de risco na inovação, através da criação de um grande fundo de apoio à inovação, a partir do qual serão alimentados fundos de capital de risco, 109
6 110 com particular prioridade para as fases seed e start-up de actividades com maior conteúdo tecnológico; a partir do mesmo fundo serão ainda consolidados outros esquemas facilitadores de financiamento de PME (garantias, operações grupadas de financiamento ou de titularização, etc.), sobretudo para os projectos de maior risco, onde estas empresas se defrontam com respostas deficientes dos mercados financeiros; b) dinamizando Acções Colectivas integradas no Eixo 5 do PO Factores de Competitividade, que sustentem iniciativas de sensibilização e mobilização das empresas e de outros actores económicos, na perspectiva de disponibilização de bens públicos ou semipúblicos; este tipo de acções serão protagonizadas por entidades de intermediação e de aplicação de políticas públicas, quer de natureza privada (como as associações empresariais) quer de agências públicas nacionais ou regionais, e visarão a intervenção colectiva em domínios como o da promoção da imagem de Portugal e das suas regiões e sectores, o empreendedorismo, a informação e inteligência estratégicas, a vigilância tecnológica, a eficiência energética e a responsabilidade social; c) finalmente, criando condições para a concretização das chamadas «estratégias de eficiência colectiva» que visam favorecer a inovação de um agregado de empresas organizadas numa base territorial ou numa lógica de pólos de competitividade, clusters ou estratégias de desenvolvimento regional ou urbano; estas «estratégias de eficiência colectiva» irão constituir «a cereja em cima do bolo» da Agenda da Competitividade do QREN, porquanto permitirão ajustar às necessidades específicas de cada cluster, ou outro agregado, os instrumentos do QREN que assumem naturalmente uma natureza transversal. Criando rupturas quando necessário ou conferindo impulso a dinâmicas iniciadas num passado recente, o QREN faz uma aposta decidida na inovação, a ela dedicando uma fatia substancial dos recursos da Agenda da Competitividade. Para além dos recursos, precisamos de protagonistas para esta estratégia renovada do lado das agências públicas e do lado das empresas e das organizações que as apoiam. Estamos certos que seremos capazes de concretizar esta ambiciosa Agenda, tanto mais que os primeiros sinais propiciados pelos concursos do QREN já finalizados constituem fundamento para tal convicção.
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