Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6

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1 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Sumário 1 INTRODUÇÃO OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO Inserção Regional Dinâmica Populacional Crescimento Populacional Caracterização Etária e Étnica da População Perfis de Rendas Domiciliares Domicílios de Uso Ocasional Caracterização da População Flutuante INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA Relações Sociopolíticas em Santos A Organização da Sociedade Civil Organização e Articulação Os Espaços de Gestão Participativa Leitura Comunitária: Visão do Município e os Desafios para o Desenvolvimento Sustentável A Gestão Pública e as Políticas Públicas em Santos Santos não é mais para os Santistas O Porto de Santos Visões sobre o Pré-sal em Santos O Papel da Petrobras no Município O Turismo como Atividade Econômica ainda de Peso Potencialidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável de Santos Considerações Finais e Aspectos Relevantes DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Introdução Mercado Produtivo - Produção de Bens e Serviços Informações Gerais A especialização produtiva do trabalho no Município A estrutura produtiva da economia local Algumas decisões cruciais que podem atingir a economia local Rede Petros Baia de Santos Considerações preliminares ORDENAMENTO TERRITORIAL Evolução da Mancha Urbana entre 1970 e Regulação dos princípios e diretrizes de política urbana e ordenamento territorial Regulação do ordenamento territorial Santos e o Zoneamento Econômico Ecológico da Baixada Santista

2 6.3. Regulação das Áreas de Expansão Urbana Regulação das Áreas de Expansão Urbana Áreas de Monitoramento Territorial Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial Litoral Paulista Bens da União do Município de Santos Dinâmica Imobiliária Empreendimentos Imobiliários Verticais Regulação dos Empreendimentos Imobiliários Verticais Loteamentos e Condomínios Horizontais Regulação dos Loteamentos e Condomínios horizontais Patrimônio Histórico Cultural Regulação dos Bens da União nas Legislações Municipais e Federais Regime Jurídico dos Bens Públicos Municipais Uso Privativo dos Bens Municipais Alienação ou Aquisição de Bens Públicos Bens Públicos Municipais e os Loteamentos e Condomínios Bens federais no Município

3 1 INTRODUÇÃO Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 O presente relatório apresenta um conjunto de leituras técnicas sobre as condições e tendências urbanas e socioambientais do Município de SANTOS. As leituras sobre as condições urbanísticas e socioambientais apresentadas neste relatório estão articuladas com análises sobre diferentes aspectos como, por exemplo, o desenvolvimento econômico, a cultura, a segurança alimentar e nutricional, a saúde, a segurança pública, as finanças publicas entre outros. Tais leituras estão articuladas também com um exame detido sobre marcos jurídicos relativos às políticas públicas que incidem nos espaços territoriais daquele Município, bem como com a visão de moradores e representantes de entidades sobre o município. Os marcos regulatórios e conceituais a nível federal e estadual foramm tratados no volume 1 do relatório, e os temas e questões no âmbito regional, serão tratados em relatório especifico. Este relatório faz parte de um conjunto de estudos que abrangem as realidades de 13 municípios do litoral paulista que estão sendo analisados no âmbito do convênio entre a Petrobras e o Instituto Pólis. Esses relatórios municipais deverão servir como base para a consolidação de um estudo regional. Como posto adiante, todos esses estudos tem como objetivo principal formular programas de desenvolvimento local e regional considerando as transformações que poderão ocorrer no litoral paulista em função de diversos projetos e obras de impacto tais como as explorações de petróleo e gás nas camadas do pré sal, a ampliação dos portos, duplicação de rodovias, entre outros. A organização dos conteúdos do presente relatório segue uma estrutura básica, constituída pelos seguintes componentes: - caracterização geral do município a partir dos seguintes aspectos: (i) inserção regional; (ii) dinâmicas populacionais, inclusive da população flutuante; (iii) domicílios de uso ocasional; - análises do ordenamento territorial a partir dos seguintes aspectos: (i) crescimento da mancha urbana no período entre 1970 e 2010; (ii) dinâmica imobiliária, especialmente da implantação de empreendimentos verticais, loteamentos e condomínios horizontais; (iii) áreas potenciais para ocupações urbanas futuras; (iv) imóveis públicos; (v) imóveis de interesse histórico e cultural e (vi) áreas com restrição à ocupação urbana; - análises sobre os diferentes tipos de necessidades habitacionais, especialmente aquelas existentes em assentamentos precários e irregulares, e sobre a provisão habitacional recente promovida pelo poder público; - análises sobre as demandas e desempenhos relativos ao sistema de saneamento básico constituído pelos sistemas de abastecimento de água, de coleta e tratamento de esgoto, de drenagem urbana e de gestão de resíduos sólidos; - análises sobre as condições de mobilidade local e regional, especialmente aquelas relacionadas aos problemas relativos aos sistemas viários e às diferentes modalidades de transportes coletivos municipais e intermunicipais; - análises sobre as características e implicações dos grandes equipamentos e infraestruturas de logística existentes e previstos, principalmente as ferrovias, rodovias, armazéns, indústrias, portos e aeroportos; - análises sobre os espaços territoriais especialmente protegidos, em especial as diferentes modalidades de unidades de conservação instituídas pelos governos federal, estadual e municipal e as áreas de interesse ambiental definidas no zoneamento ecológico-econômico e em zoneamentos municipais; - análises sobre as questões relativas ao desenvolvimento econômico local, à cultura,à segurança pública, à segurança alimentar e nutricional e à saude; - análises sobre aspectos da gestão pública e democrática considerando especialmente as finanças municipais. - analises a partir de escutas da sociedade, sobre suas organizações, a participação em espaços de gestão democrática e suas visões sobre o município e seu desenvolvimento; 3

4 Vale dizer que todas essas análises se referenciam em políticas e programas públicos nacionais e estaduais que envolvem atuações dos governos municipais e incidem nos territórios locais. Nesse sentido, leva-se em conta, entre outras, as seguintes políticas nacionais: - política nacional e estadual de desenvolvimento urbano, compostas pelas políticas de ordenamento territorial, de habitação, de regularização fundiária, de mobilidade urbana e de saneamento ambiental; - política nacional e estadual de resíduos sólidos; - política nacional e estadual de segurança alimentar e nutricional. - politica nacional e estadual de segurança publica - política nacional e estadual de saúde; - política nacional e estadual de cultura; Ademais, aquelas análises procuram traçar um quadro geral das ofertas e demandas relativas a serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas em âmbitos municipais e regionais a fim de identificar déficits, gargalos e pontos críticos que necessitam ser superados na busca por um desenvolvimento que promova o dinamismo econômico, mas também melhore as condições de vida das pessoas e não provoque perdas e desequilíbrios ambientais. 2 - OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO Os principais objetivos do presente diagnóstico é subsidiar a formulação de programas de desenvolvimento local, regional e no litoral paulista baseados no envolvimento dos diversos agentes governamentais e da sociedade civil. Tais programas deverão se referenciar na articulação entre políticas públicas nacionais já instituídas no país. Deverão se referenciar também em políticas, programas e ações realizadas pelo Governo do Estado de São Paulo inscritas em diferentes setores. As análises que compõem esse diagnóstico não se encerram em si mesmas. Pretendem se constituir em instrumentos que orientem ações estruturantes direcionadas ao ordenamento territorial e ao atendimento de diferentes tipos de necessidades sociais. 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO 3.1. Inserção Regional O Município de Santos possui fortes articulações com toda a Baixada Santista, com outras regiões do Estado de São Paulo, com outras partes do país e até com países da América Latina e de outros continentes. Tais articulações não são recentes e possuem determinantes históricos, econômicos, políticos, culturais e ambientais. No século XVI, a colonização portuguesa do Brasil começou com a ocupação da costa marítima onde portos foram construídos para permitir a atracagem das embarcações oriundas de outras partes do mundo e também de pontos distintos do extenso litoral brasileiro. Nessa costa, os colonizadores construíram sólidos fortes militares utilizados na defesa do Brasil Colônia. Algumas das primeiras cidades brasileiras se formaram nas proximidades desses fortes militares. Outras, como Santos e Rio de Janeiro, se estruturaram nos arredores daqueles portos marítimos. Essas cidades serviram como pontos de articulação entre a economia colonial das regiões litorâneas e os mercados europeus. Com os avanços da colonização em direção ao interior do Brasil Colônia, outros núcleos urbanos surgiram em pontos mais distantes da orla marítima. O litoral paulista foi um dos locais onde houve os primeiros núcleos de ocupação que logo foram acompanhados por outros que se implantaram nas terras altas do planalto após vencer os obstáculos impostos pelas encostas da atual Serra do Mar. Com o passar do tempo, algumas dessas cidades se tornaram importantes polos regionais, capitais estaduais e sedes de grandes regiões metropolitanas. As atividades portuárias realizadas no período colonial influenciaram diretamente a formação dos núcleos que deram origem à ocupação urbana na Baixa Santista. No território do atual Município de Santos foram instalados os primeiros trapiches do Porto que passou a ter o mesmo nome. No último quarto do século XIX o

5 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Porto de Santos ganha importância econômica com o desenvolvimento da produção do café nas fazendas do interior da então Província de São Paulo direcionada para exportação. Essa produção cafeeira oriunda das fazendas do interior paulista chegava ao Porto de Santos por meio da antiga ferrovia São Paulo Railway, inaugurada em Na cidade de São Paulo, essa ferrovia atravessava as várzeas dos Rios Tietê e Tamanduateí que, nas décadas seguintes, passaram a receber importantes plantas industriais que buscavam se instalar nos terrenos mais planos. No final do século XIX, o aumento da importância econômica do Porto de Santos colocou a necessidade de expansão física e de melhoramentos nas infraestruturas e nas condições de funcionamento. Em 1892, marco oficial da inauguração desse Porto, a Companhia Docas de Santos entregou os primeiros 260 metros de cais na área que até hoje é denominada como Valongo, localizado no centro histórico de Santos. Nesse período, os velhos trapiches e pontes fincados em terrenos lodosos foram sendo substituídos por aterros e muralhas de pedra (Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Santos - PDZPS, 2012: p. 13). Já no século XX, o Porto de Santos ganha novo impulso com a abertura da Rodovia Anchieta (SP-150) realizada na década de 1940, com o desenvolvimento industrial da atual Região Metropolitana de São Paulo, especialmente na Região do Grande ABCD (com os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema) e com o processo de industrialização de Cubatão. Esse processo de industrialização representa um ponto de inflexão na economia paulista iniciado a partir da década de Trata-se de uma inflexão marcada pela instalação de grandes empresas multinacionais em cidades que passaram a receber grandes contingentes migratórios e iniciaram acelerado processo de urbanização periférica baseada na produção de assentamentos precários, muitas vezes irregulares do ponto de vista fundiário, ocupados pelas moradias das populações de baixa renda. Essa imbricação entre crescimento da base econômica e urbanização precária estruturou grande parte dos territórios das maiores cidades brasileiras, inclusive da metrópole paulistana e da principal cidade portuária da Baixada Santista. As características desse processo de urbanização são examinadas adiante. O fortalecimento e a estruturação do trinômio porto-indústria automobilística-indústria de base no sistema econômico regional formado por Santos, São Paulo e Cubatão é baseado na conexão do Porto de Santos com os parques industriais do Município de São Paulo e da atual Região do Grande ABC, onde se instalaram indústrias da cadeia de produção de bens duráveis, como eletrodomésticos e automóveis, e de Cubatão onde se instalou um polo industrial de base formado pela Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), hoje parte do grupo USIMINAS, e pela Refinaria de Petróleo Presidente Bernardes da Petrobras. A Rodovia Anchieta (SP- 150), importante eixo articulador desse trinômio, amplia a ligação entre o Porto de Santos e aqueles parques industriais formando um complexo sistema econômico e logístico de importância nacional e internacional. Na década de 1970 essa ligação se fortalece com a abertura da Rodovia Imigrantes (SP-160). Apesar de o Porto de Santos ter forte articulação com os polos industriais mais próximos, é necessário levar em conta a sua influência macrorregional. De acordo com o PDZPS (2012) a vocação natural desse Porto é atender às necessidades de movimentação de cargas dos estados do Sudeste e de grande parte do Centro- Oeste do país (PDZPS, 2012: p. 44). O PDZPS define o chamado vetor Logístico Centro-Sudeste como a área de influência primária do Porto de Santos. Segundo esse documento, a área de influência secundária compreende todo o restante do Brasil e alcança também parte de outros países sul-americanos, como Paraguai e Uruguai e parte da Argentina, Bolívia e Chile (PDZPS, 2012: p. 45). Os municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista, instituída pela Lei Complementar Estadual nº 815 de 30 de julho de 1996, conectam-se com as áreas de influência primária do Porto de Santos a partir de vias de acessos rodoviários, ferroviários e dutoviários existentes. O modal rodoviário é responsável por aproximadamente 73% da carga movimentada, o ferroviário por aproximadamente 20% e o dutoviário por aproximadamente 7% (PDZPS, 2012: p. 74). Os dutos são basicamente utilizados para a movimentação de derivados de petróleo e produtos petroquímicos transportados de/para as refinarias de Cubatão (principalmente) e o terminal da Transpetro, na Alemoa. Os acessos rodoviários que chegam ao Porto de Santos também promovem fortes ligações da Baixada Santista com diferentes regiões do planalto e do litoral paulistas. As já mencionadas Rodovias Anchieta (SP- 150) e Imigrantes (SP-160) ligam o Planalto Paulista com a Baixada Santista. Esse complexo rodoviário 5

6 Anchieta-Imigrantes estreita as relações entre as atuais Regiões Metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista. Milhares de moradores dessa parte do litoral paulista se dirigem para aquela Região Metropolitana para trabalhar e estudar todos os dias. A Rodovia Manoel Hyppolito Rego (SP-055) faz a conexão entre Santos e o Litoral Norte. Nos meses de verão muitos turistas vindos de outras metrópoles paulista ou dos municípios do interior usam essa Rodovia para chegar ao Litoral Norte passando pela Baixada Santista. A Rodovia Cônego Domênico Rangoni (SP-055), mais conhecida como Piaçaguera-Guarujá, interliga o Sistema Anchieta- Imigrantes, que chega a Santos e Cubatão vindos do Planalto Paulista, com o Município de Guarujá. Muitos empregados das indústrias de Cubatão usam essa Rodovia. A Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-055) liga Santos com os municípios na porção Sul da Região Metropolitana da Baixada Santista (Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe) e, a partir daí, com os municípios do Litoral Sul (Iguape, Cananéia e Ilha Comprida). Moradores dos municípios localizados nas porções Sul da Baixada Santista usam essa Rodovia para ir a Santos, São Vicente e Cubatão para trabalhar e estudar. Isso provoca congestionamentos como se verá adiante. Ademais, o PDZPS descreve rotas que ligam regiões produtoras do país com Santos e seu importante Porto. Trata-se das rotas RondonóPólis-Santos (utilizada no escoamento de granéis agrícolas e derivados como soja, farelo milho, entre outros, produzidos no Centro Oeste do país); Dourados-Santos (utilizada no escoamento de granéis agrícolas produzidos no Mato Grosso do Sul) e Brasília-Triângulo Mineiro-Santos (utilizada no escoamento de granéis agrícolas produzidas em regiões de Goiás). Além dessas rotas mais longas, há rotas curtas que servem para o escoamento da produção de açúcar e etanol do interior do Estado de São Paulo e a produção e importação de bens manufaturados acondicionados em contêineres na Grande São Paulo e no Vale do Paraíba (PDZPS, 2012: p. 64). As ferrovias operadas pelas empresas MRS Logística, ALL Logística e FCA se somam àqueles acessos terrestres regionais e macro regionais ao Porto de Santos. A ferrovia da MRS faz a ligação do Porto de Santos com regiões dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais enquanto as da ALL conecta aquele Porto com os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, demais regiões do Estado de São Paulo e com estados do Sul do Brasil. As ferrovias da FCA (Ferrovia Centro Atlântica) acessam o Porto de Santos a partir de uma malha que se espalha por 7 estados: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. Vale citar, com base no PDZPS (2012) que a MRS utiliza os trilhos da antiga Santos- Jundiaí, enquanto a ALL utiliza os trilhos da antiga FERROBAN; as duas se encontram em Cubatão no pátio de intercâmbio de Perequê. Do pátio as composições são conduzidas até as duas margens do Estuário, onde a PORTOFER (que realiza as operações somente no interior das dependências do Porto de Santos) assume as composições (PDZPS, 2012: p. 69). O acesso aquaviário é o que interliga os diferentes terminais portuários e berços de atracação do Porto de Santos. Esse tipo de acesso é de abrangência local e consiste no Canal da Barra com extensão de aproximadamente 25 km dos quais 13 km com instalações de acostagem, largura de 150 m até a Barra do Saboó e de 110 m desse ponto em diante e profundidade variável entre 12 m e 14 m (PDZPS, 2012: p ). Nas margens direita (Santos) e esquerda (Guarujá) desse Canal distribuem-se aqueles berços de atracação e terminais portuários utilizados na movimentação de cargas e descargas. O Porto de Santos não é beneficiado por acessos hidroviários importantes devido às condições geográficas existentes. Segundo o PDZPS (2012), a hidrovia Tietê-Paraná movimenta cargas (principalmente grão, farelo e açúcar) do sudeste e centro-oeste, tendo como destino final o Porto de Santos. A maior parcela é transbordada para a ferrovia ALL (malha da antiga Ferroban), em Pederneiras, ou para caminhões em Anhembi, no interior do Estado, antes de acessar o porto (PDZPS, 2012: p. 56). Além das bases econômicas e logísticas descritas anteriormente, outros fatores promovem as articulações regionais que inserem o Município de Santos e toda a Baixada Santista em outras dinâmicas urbanas e demográficas. Trata-se dos fatores relacionados com as características de balneário existentes em municípios de todo o litoral paulista. Em meados do século XX, o Município de Santos era um importante destino turístico para os moradores dos municípios localizados no planalto, especialmente da capital paulista e dos seus municípios vizinhos. Nas décadas de 1950 e 1960 o Município de Santos recebeu vários empreendimentos imobiliários constituídos pelas chamadas segundas residências destinadas ao veraneio. Tais empreendimentos se implantaram principalmente nas orlas marítimas, junto às praias de maior interesse dos investidores e dos consumidores de renda média e alta. Esse segmento imobiliário se expandiu a partir de Santos avançando sobre as áreas junto às praias do Guarujá, São Vicente e demais municípios da Baixada Santista. A influência dessas atividades de veraneio no processo de uso e ocupação do espaço urbano de Santos será

7 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 analisada mais detalhadamente adiante. Do ponto de vista da inserção regional, vale dizer que, até hoje, muitas famílias que vivem nos municípios do planalto e do interior paulista, e em outras partes do país, se dirigem para Santos e outros municípios da Baixada Santista durante os feriados e os períodos de férias. A maior parte desses visitantes se instalam nas segundas residências que permanecem ociosas parte do ano. Com o fortalecimento e crescimento das atividades portuárias, industriais, comerciais e de serviços, houve certa retração no turismo de veraneio em Santos principalmente nas décadas de 1970 e 1980 quando as condições de balneabilidade das praias estavam muito ruins por causa da poluição provocada por esgotos domésticos e efluentes líquidos oriundos do porto e até das indústrias. Porém, isso não significa que essas atividades de veraneio deixaram de existir. Tais atividades sempre existiram na Baixada Santista, principalmente nos município localizados a Sul de Santos e São Vicente (Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe). Nas últimas décadas houve melhorias nas condições de saneamento básico e no controle de emissão de poluentes com reflexos positivos nas praias. Ademais, foram realizados investimentos em melhorias urbanas e paisagísticas nessas praias. Isso tem provocado valorização nos imóveis mais próximos ao mar e atraído grande quantidade veranistas e visitantes de veraneio e de fins de semana. Vale dizer que as rodovias mencionadas anteriormente facilitam o acesso de centenas de milhares de turistas que se dirigem para suas casas de veraneio, hotéis e pousadas na Baixada Santista. Como dito anteriormente, a Região Metropolitana da Baixada Santista, instituída pela Lei Complementar Estadual nº 815 de 30 de julho de O Município de Santos polariza essa Região Metropolitana junto com São Vicente, Guarujá e Cubatão. A Sul desses municípios, a Região Metropolitana da Baixada Santista contem Praia Grande, Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe e a Norte Bertioga. Essa Lei autoriza o Poder Executivo a instituir o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (CONDESB), uma autarquia responsável pela gestão metropolitana e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista (FUNDESB). Em 23 de dezembro de 1998, a Lei Complementar Estadual nº 853 cria a Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM) entidade autárquica vinculada à Secretaria dos Transportes Metropolitanos, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução das funções públicas de interesse comum nesta região. Em 2004, Lei Complementar nº 956 transfere a AGEM para a Secretaria de Economia e Planejamento. 3.2 Dinâmica Populacional Crescimento Populacional O município de Santos vem apresentando crescimento populacional praticamente zero nas últimas duas décadas. Entre 1991 e 2000 a taxa geométrica de crescimento anual (TGCA) foi de 0,02%a.a., ao contrário dos demais municípios do litoral paulista que, em sua maior parte, durante o mesmo período apresentaram altas taxas de crescimento. Na década de 2000 a 2010 esta tendência se manteve com o município crescendo a apenas 0,04%a.a. Nesse período Santos saltou de para habitantes, conforme tabela abaixo. Tabela. Municípios do Litoral Paulista - População Residente e Taxa Geométrica de Crescimento Anual - TGCA Município Ano TGCA Bertioga - SP ,34 4,42 Cubatão - SP ,94 0,96 Guarujá - SP ,60 0,93 Itanhaém - SP ,08 1,92 Mongaguá - SP ,04 2,80 Peruíbe - SP ,14 1,52 Praia Grande - SP ,12 3,17 Santos - SP ,02 0,04 São Vicente - SP ,37 0,94 São Sebastião - SP ,16 2,48 Ilhabela - SP ,91 3,12 Caraguatatuba - SP ,55 2,49 Ubatuba - SP ,90 1,72 Fonte: Censos Demográficos IBGE, 1991, 2000 e TGCA

8 Os mapas abaixo permitem visualizar as diferenças nessas taxas geométricas de crescimento anual dos municípios litorâneos que estão sendo analisados. Como pode-se observar, Santos distaca-se na década de 1990 como o municipio que apresenta uma taxa de crescimento inferior a 1%. Já no mapa que apresenta a performace da década de 2000, observamos que existe uma tendência geral de diminiuição do ritmo de crescimento populacional nos municípios da regiões, fator que faz com que alguns municipios se aproximem da faixa de crescimento populacional de Santos que ainda é muito baixa. Mapa. Municípios do Litoral Paulista Taxa Geométrica de Crescimento Anual - TGCA e Fonte: Censos Demográficos IBGE, 1991 e 2000 e Censos Demográficos IBGE, 2000 e O município de Santos possui uma área total de 28 mil hectares e divide-se em duas áreas geográficas distintas: a área insular e a área continental. As duas áreas diferem tanto em termos demográficos, quanto em termos econômicos e geográficos. A área insular estende-se sobre a Ilha de São Vicente, cujo território é dividido com o município vizinho de São Vicente, e é densamente ocupada. Já a porção continental do município, que representa a maior parte do território do município, tem quase 70% do seu território inserida em unidades de conservação e permanece não ocupada. A área efetivamente urbanizada ocupa apenas aproximadamente 12% do território, resultando em uma densidade populacional total do município de apenas 15hab/ha. Já a área urbanizada do município atinge densidades maiores, chegando a 119 hab/ha, dentre as maiores densidades dentre os municípios analisados.

9 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Tabela. Municípios do Litoral Paulista - Área do Município e Densidade demográfica 2010 Município População 2010 Área total do município (hectare) Densidade demográfica do município (Habitante por hectare) Área urbanizada (hectare) Densidade demográfica da área urbanizada (Habitante por hectare) Bertioga , ,5 Caraguatatuba , ,9 Cubatão , ,2 Guarujá , ,4 Ilhabela , ,9 Itanhém , ,6 Mongaguá , ,2 Peruíbe , ,3 Praia Grande , ,7 Santos , ,6 São Sebastião , ,5 São Vicente , ,0 Ubatuba , ,1 Fonte: Censo Demográfico IBGE, No município de Santos, a maior parte de sua área urbanizada possui densidade populacional de até 200hab/ha. As áreas que apresentam maior densidade encontram-se próximas ao litoral e nos bairros de Campo Grande, Santa Maria, Radio Clube e no Saboo, conforme pode-se observar no Mapa, abaixo. 9

10 Mapa. Santos - Densidade Demográfica de População Residente Segundo Setores Censitários Caracterização Etária e Étnica da População A primâmide etária do município de Santos reflete o perfil diferenciado da população bem como seu envelhecimento. A população jovem de até 29 anos passou de 44% em 2000 para 38% da população total em 2010, enquanto a população de 30 até 59 anos aumentou de 39% para 42% da população total. Neste período, também percebe-se o aumento da população com mais de 60 anos que passou de 15% para 19% sobre a população total, ver figura.

11 faixas etárias Faixas Etárias Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. Santos - Pirâmides Etárias 2000 e anos ou mais 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 69 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 20 a 24 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos Pirâmide Etária - Santos população 80 anos ou mais 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 69 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 20 a 24 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos Pirâmide Etária - Santos População Fonte: Censos Demográficos IBGE, 2000 e Em relação à classificação da população de acordo com as categorias de cor e raça utilizadas pelo IBGE, Santos é o município que concentra maior porcentagem de população branca residente, ao contrário da maior parte dos municípios litorâneos paulistas onde o percentual da população parda e negra sobre a população total está acima do percentual verificado para o Estado de São Paulo. No caso de Santos o percentual de população branca sobre a população total é quase 10% superior à média do estado. Tabela. Estado de São Paulo e Municípios do Litoral Paulista - População Residente Segundo Cor ou Raça Unidade da Federação e Municípios Cor ou raça Total Branca Preta Amarela Parda Indígena Estado de São Paulo ,9% 5,5% 1,4% 29,1% 0,1% Bertioga - SP ,0% 7,6% 1,1% 43,8% 0,5% Cubatão - SP ,6% 7,7% 0,7% 48,8% 0,2% Guarujá - SP ,0% 6,7% 0,6% 45,5% 0,2% Itanhaém - SP ,4% 5,0% 0,7% 35,5% 0,4% Mongaguá SP ,2% 6,3% 0,6% 34,2% 0,7% Peruíbe - SP ,8% 6,0% 1,3% 34,1% 0,7% Praia Grande SP ,1% 5,9% 0,8% 36,1% 0,1% Santos - SP ,2% 4,7% 1,0% 22,0% 0,1% São Vicente SP ,5% 7,1% 0,6% 38,7% 0,1% São Sebastião SP ,9% 6,4% 0,7% 38,5% 0,4% Ilhabela - SP ,2% 5,1% 0,7% 41,8% 0,2% Caraguatatuba SP ,2% 4,4% 0,9% 28,3% 0,1% Ubatuba - SP ,2% 5,9% 1,0% 33,5% 0,4% Fonte: Censo Demográfico IBGE,

12 Gráfico. Santos Distribuição Percentual da População Segundo Cor ou Raça Cor ou raça da população residente Santos Indígena; 0,1% Amarela; 1,0% Preta; 4,7% Parda; 22,0% Branca; 72,2% Fonte: Censo Demográfico IBGE, Quando observa-se a distribuição territorial da população de Santos segundo raça ou cor, percebe-se maior presença da população branca nos setores censitários mais próximos às faixas litorâneas, beneficiada pela proximidade com a praia, enquanto as populações pardas e negras estão mais distantes da orla marítima, concentradas nos setores censitários vizinhos ao município de São Vicente e na região portuária. Ao mesmo tempo a distribuição da população parda e preta, parece fazer o inverso do mapa de distruição da população branca, concentrando-se com mais intensidade justamente nas áreas mais afastadas da orla marítma e na porção continental do município. Mapa. Santos. Distribuição dos Percentuais da População Branca Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

13 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Mapa. Santos Distribuição dos Percentuais da População Parda Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE,

14 Mapa. Santos Distribuição dos Percentuais da População Preta Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE, De acordo com dados do censo, não há uma concentração expressiva de população indígena no município de de Santos.

15 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Mapa. Santos Distribuição dos Percentuais da População Indígena Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE,

16 3.3 Perfis de Rendas Domiciliares Para analisarmos os perfis de renda no município de Santos utilizaremos dois tipos de variáveis: a renda mensal do responsável pelo domicílio; e a renda mensal domiciliar, composta de todos os rendimentos dos moradores. Estes são importantes indicadores da capacidade de consumo das famílias. A pessoa responsável pelo domicílio é identificada pelo IBGE como homem ou mulher, de 10 anos ou mais de idade, reconhecida pelos moradores como responsável pela unidade domiciliar. No município de Santos, 44% das pessoas responsáveis por domicílios possuem rendimento mensal de 0 a 3 salários mínimos. Gráfico. Santos Distribuição Percentual das Pessoas Responsáveis Segundo Faixas de Renda Mensal 2010 Rendimento nominal mensal das Pessoas responsáveis por domicílios - Santos 18% 7% 2% 19% 10% 44% Sem rendimento Até 3 S.M. Acima de 3 até 5 S.M. Acima de 5 até 10 S.M. Acima de 10 até 20 S.M. Acima de 20 S.M. Fonte: Censo Demográfico IBGE, Elaboração: Instituto Pólis. Dentre todos os municíoios analisados, Santos se distingue por ter maiores percentuais de responsáveis por domicílios que possuem níveis mais altos de renda, conforme gráfico a seguir, sendo o único município que tem menos de 50% dos responsáveis com menos de 3 salários mínimos.

17 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Gráfico. Municípios do Litoral Paulista Distribuição Percentual das Pessoas Responsáveis Segundo Faixas de Renda Mensal 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE, Elaboração: Instituto Pólis. Com o objetivo de observar a distribuição espacial dos domicílios e dos responsáveis domiciliares segundo os níveis de renda, somamos o valor do rendimento nominal mensal de todos os responsáveis pelos domicílios em cada setor censitário. O resultado foi dividido pelo número total de responsáveis pelo domicílio do próprio setor. Com isso se obteve o rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios segundo os setores censitários. A espacialização desse indicador segundo diferentes faixas de renda (conforme mapa abaixo) permite visualizar as desigualdades socioespaciais existentes em Santos. Verificamos uma maior concentração de responsáveis domiciliares com os maiores níveis de rendimento na parte insular do município. Quanto maior a proximidade com a orla marítima maior a renda. Já a parte continental do município concentra população de média renda entre R$ 622,00 e R$ 1.866,00 (1 a 3 salário mínimos). 17

18 Mapa. Santos Rendimentos Nominais Médios dos Responsáveis pelos Domicílios Segundo Setores Censitários R$ Conforme mapa abaixo, há vários setores com alta concentração de responsáveis domiciliares com renda maior do que 10 salários mínimos, todos próximos a orla, as maiores concentrações estão no Bairro do Boqueirão, ponta da Praia e Gonzaga. Mapa. Santos Percentuais de Responsáveis por Domicílios com Rendimento Nominal Mensal Acima de 10 Salários Mínimos Segundo Setores Censitários 2010

19 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Já os responsáveis por domicílios sem rendimento estão concentrados na parte insular e em setores censitários dispersos na parte insular do município, mas sempre mais afastados da orla oceânica conforme pode ser visto no mapa abaixo. Mapa. Santos Percentuais de Responsáveis por Domicílios Sem Rendimentos Segundo Setores Censitários 2010 Como visto anteriormente, 44% dos responsáveis por domicílios de Santos possuem renda até 3 s.m. Este grupo social se distribui na parte continental do município e no interior da parte insular. Apresentando maior concentração na porção continental, que como pode-se observar no mapa abaixo, é quase integralmente ocupada por famílias com chefes que ganham até 3 s.m. 19

20 Mapa. Santos Distribuição, Segundo Setores Censitários, do percentual de concentração da pessoa responsável com rendimento nominal mensal de até 3 Salários Mínimos 2010 Outra importante variável de rendimento observada é a renda domiciliar que corresponde à somatória da renda individual dos moradores de um mesmo domicílio. Como dito antes, este indicador tem relação com a capacidade de consumo da família e deve ser considerado para a definição de critérios para a formulação e implementação de diversas políticas públicas, especialmente no setor habitacional. Foram adotadas as faixas de renda utilizadas pelo IBGE nas tabulações realizadas. Desse modo, foram consideradas as seguintes faixas: sem rendimentos, de 0 a 2 s.m.; mais de 2 a 5 s.m.; mais de 5 a 10 s. m. e mais de 10 s.m. O município de Santos possui somente 15% dos domicílios com renda até 2 salários mínimos, 33% dos domicílios com renda entre 2 e 5 salários mínimos, 28% com renda domiciliar entre 5 e 10 salários mínimos e 21% com renda maior que 10 s.m., apresentando uma renda domiciliar média superior aos outros municípios estudados, conforme comentado anteriormente.

21 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Gráfico. Santos Distribuição Percentual dos Domicílios Segundo Faixas de Renda Domiciliar Mensal 2010 Rendimento mensal domiciliar Santos 3% 28% 21% 15% 33% % sem rendimento % até 2SM % mais de 2 a 5 SM % mais de 5 a 10 % mais de 10 SM Fonte: Censo Demográfico IBGE, Domicílios de Uso Ocasional Segundo dados censitários do IBGE, o Município de Santos passou de domicílios em 2000 para domicílios em 2010, confirmando a tendência ao baixo crescimento populacional ocorrido no período anterior. Diferentemente da maior parte dos municípios do litoral paulista que também possuem característica de municípios turísticos e de veraneio, o município de Santos apresenta um percentual de domicílios de uso ocasional mais baixo. Domicílio de uso ocasional é o domicílio particular permanente que serve ocasionalmente de moradia, geralmente usado para descanso nos fins de semana, férias, entre outras finalidades. De acordo com dados do Censo 2010, 11,33% dos domicílios particulares permanentes de Santos são de uso ocasional. Apesar de ser um número expressivo, é proporcionalmente bem menor do que no restante do litoral paulista onde em alguns municípios o número de domicílios de uso ocasional chega a 60% do total de domicílios. Isso ocorrem em Bertioga e em Mongaguá. Este fato demosntra a reversão do municipio de Santos como cidade de veraneio com ocupação de segunda residências e confirma a presença de uma maioria de população fixa. Tabela. Santos - Domicílios Recenseados Segundo Condição de Ocupação Domicílios recenseados- dados 2010 Município Total recenseados Particular - ocupado Nº Nº % do total de domicílios Particular - não ocupado - uso ocasional Nº % do total de domicílios Particular - não ocupado - vago Nº % do total de domicílios Coletivos Nº % do total de domicílios Santos - SP ,70% ,33% ,84% 238 0,13% Fonte: Censo Demográfico IBGE,

22 Gráfico. Santos Domicílios Recenseados Segundo Condição de Ocupação Domicílios recenseados Santos ocasional; 11,33% vago; 6,84% coletivo ; 0,13% ocupado; 81,70% Fonte: Censo Demográfico IBGE, Entre 2000 e 2010, o crescimento dos domicílios de uso permanente em Santos foi de 7,54%, enquanto o domicílios de uso ocasional diminuiu nesse mesmo período indicando fixação crescente de moradores no município, que já representam um percentual muito mais elevado em relação aos domiclios de uso ocasional. Tabela. Municípios do Litoral Paulista Variação no Percentual de Domicílios Particulares Permanentes Ocupados, de Uso Ocasional e Vagos Municípios Crescimento (%) entre os anos de 2000 e 2010 Domicílios ocupados permanentes Domicílios de uso ocasional Bertioga - SP 13,05% 27,18% 1,72% Caraguatatuba - SP 15,00% 4,80% -0,23% Cubatão - SP 16,76% -0,24% -2,15% Guarujá - SP 9,15% 0,99% -1,52% Ilhabela - SP 22,32% 6,72% 4,15% Itanhaém - SP 11,44% 12,07% 0,63% Mongaguá - SP 11,32% 9,91% -0,47% Peruíbe - SP 11,92% 6,69% 1,49% Praia Grande - SP 14,29% 5,82% -0,10% Santos - SP 7,54% -0,42% -2,76% São Sebastião - SP 16,99% 6,69% 0,17% São Vicente - SP 14,76% -2,31% -2,39% Ubatuba - SP 11,25% 10,07% 1,62% Fonte: Censos Demográficos IBGE, 2000 e Domicílios não ocupados vagos

23 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Como já se comentou, em Santos, a maior parte dos domicílios são de uso permanente, servindo à população moradora. Os domicílios de uso ocasional estão concentrados nos setores censitários mais próximos à orla marítima. Nesses setores censitários, entre 25% e 75% dos domicílios são de uso ocasional. Ver figuras e. Mapa. Santos Distribuição dos Percentuais dos Domicílios Particulares Permanentes Ocupados Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE,

24 Mapa. Santos Distribuição Percentual dos Domicílios de Uso Ocasional Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE, Em relação ao tipo de domicílio, ou seja, se são casas ou apartamentos, o Censo 2010 classifica somente os domicílios particulares permanentes ocupados com moradores fixos. Vale dizer que os domicílios particulares permanentes de uso ocasional, correspondentes a 11% do total de domicílios de Santos, não são computados nessa classificação. O município apresenta residências predominantemente verticais, com mais de 63% dos domicílios ocupados classificados como apartamentos e 34% classificados como casas. Os apartamentos estão predominantemente concentrados nos setores censitários próximos às faixas litorâneas, em quanto as casas estão concentradas nos setores censitários mais afastados.

25 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Gráfico. Santos Distribuição Percentual dos Domicílios Particulares Permanentes Ocupados Segundo Tipo (Casa, Casa de Vila ou de Condomínio, Apartamento) % Santos tipo de domicílio Casa 34% Casa de vila ou em condomínio 63% 2% Apartamento Fonte: Censo Demográfico IBGE, Figura. Santos Distribuição Percentual dos Domicílios Particulares Permanentes com Residentes Fixos do Tipo Apartamento Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE,

26 Figura. Santos Distribuição Percentual dos Domicílios Particulares Permanentes com Residentes Fixos do Tipo Casa Segundo Setores Censitários 2010 Fonte: Censo Demográfico IBGE, Caracterização da População Flutuante Dentre as diversas formas de turismo, a modalidade balneária é um dos segmentos mais significativos da economia regional, contribuindo efetivamente para o crescimento do setor terciário. No entanto, há um grave desequilíbrio provocado pela adoção, ao longo do século XX, de um modelo de turismo baseado na sazonalidade, e na criação de um significativo parque de residências de veraneio, em todas as cidades litorâneas de São Paulo. A modalidade de turismo denominada de segunda residência, e que se desenvolveu por todo o litoral paulista, menos a baseada em meios de hospedagem, e mais a baseada na comercialização de unidades habitacionais, em tipologias horizontais ou verticais, é problemática, pois demanda a implantação de infraestrutura urbana para atender os picos das temporadas de veraneio, deixando-a ociosa grande parte do ano. Assim, os sistemas de saneamento básico, de fornecimento de energia elétrica, de transportes e trânsito, além de serviços de saúde e do terciário, devem estar dimensionados de forma a atender população muito superior à residente. Esta dinâmica, historicamente, sempre implicou em investimentos estatais necessários ao atendimento desta demanda, os quais sempre foram realizados em nível insuficiente, produzindo significativo passivo socioambiental. Contudo, este fenômeno há várias décadas vem reduzindo seus impactos nos municípios da ilha de São Vicente. Como demonstra o gráfico abaixo, tanto em Santos, como em São Vicente, a proporção da população flutuante com relação a fixa é muito inferior do que nos demais municípios analisados. Em Santos, segundo o mencionado gráfico, a população flutuante é cerca de 20,0% da população fixa total.

27 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Gráfico. Municípios do litoral paulista: Aumento populacional baseado nas contagens populacionais oficiais de 2002 e Fonte: IBGE apud Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo 2011 (CETESB, 2012, p.18). Nos itens em que serão avaliados os sistemas de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos de Santos, bem como no capítulo em que será estudada a mobilidade urbana neste município, serão apresentadas análises mais aprofundadas dos impactos da população flutuante sobre o desempenho destes sistemas. O estudo da evolução populacional realizada para Santos, no âmbito dos estudos do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos (DAEE, 2010), apresenta projeções da população fixa e flutuante para este município. Segundo esta fonte (DAEE, 2010, p.34), tal projeção foi realizada em conjunto com a dos outros municípios da Baixada Santista através de diferentes técnicas, antes da elaboração do Censo Demográfico Na projeção denominada Inercial, os saldos migratórios aumentavam ligeiramente entre 2005 e Conforme este estudo, esta seria a projeção recomendada para a avaliação dos investimentos em melhorias e ampliação dos sistemas de saneamento básico, caso não estivesse a região sujeita a uma série de investimentos que atraem população, além de sua vocação turística por excelência devido à proximidade da RMSP e de pertencer ao Estado de São Paulo, que tem grande contingente populacional com renda crescente. Na projeção denominada Dinâmica, considerada a mais provável pelo referido trabalho, os saldos migratórios apresentados na época, que eram positivos e crescentes, tenderiam a diminuir no longo prazo. Mas, por causa dos grandes investimentos previstos, se supôs que estes saldos continuariam a subir entre 2010 e 2015 para começar a diminuir lentamente a partir deste ponto. Na terceira projeção, denominada Porto Brasil, foi considerada a hipótese de que, além dos investimentos na região, o projeto de um porto no município de Peruíbe seria implantado, o que aumentaria em pessoas o saldo migratório da projeção Dinâmica. Contudo a construção deste empreendimento já foi descartada. Segundo o mesmo estudo (DAEE, 2010, p.34), a ênfase nessa análise recaiu sobre as variáveis e fatores que afetam os movimentos migratórios, pois esse é o componente mais importante para entender a dinâmica demográfica brasileira. A razão principal reside no fato de que as taxas de fecundidade e de mortalidade baixaram significativamente nos últimos anos e apresentam tendência nítida à estabilização e à 27

28 homogeneização. Assim, restaria à migração a explicação das maiores mudanças na dinâmica populacional futura dos municípios do país e, especificamente, da Baixada Santista. O referido trabalho, baseado nos estudos acima mencionados, apresenta o gráfico abaixo, que mostra a projeção para o município de Santos, em diferentes cenários. Gráfico. Santos segundo diferentes projeções de 1980 a Fonte: SABESP (2011) apud Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.35). Conforme este trabalho, os municípios da Baixada Santista apresentavam, em 2000, uma população urbana muito próxima dos 100%, variando de 97,1% (Bertioga) a 100% (Praia Grande e São Vicente). Por este motivo o estudo foi realizado somente com a população total. Além disso, pela análise dos estudos já realizados, optouse por adotar a projeção dinâmica (Cenário 2). Considerando que as projeções foram realizadas até o ano de 2030, as mesmas foram avaliadas para o ano de 2039 de forma a alcançar o período de planejamento de 30 anos do Plano Integrado de Saneamento, conforme apresentado na tabela a seguir, para o caso de Santos. Tabela. Santos: Projeção populacional completa. Ano População Domicílios Residente Flutuante Total Ocupados Ocasionais Total A população de 2010 foi estimada conforme estudos demográficos produzidos para o Plano Diretor de Abastecimento de Água da Baixada Santista

29 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE Fonte: Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.36). Observa-se que a projeção acima apresentada superestimou a população residente, que segundo o Censo Demográfico de 2010 era de habitantes. Segundo esta projeção a população fixa permaneceria estável até 2039, com variação de cerca de 0,1% e no mesmo período, a população flutuante decresceria 16,0%. Portanto, em função deste descompasso e de algumas tendências verificadas no Censo, que abordaremos no item sobre abastecimento de água, é necessário que esta projeção seja reconsiderada. De fato, os municípios da ilha de São Vicente, em especial Santos, apresentaram um processo de ampliação significativa de suas bases econômicas, nas últimas décadas e são muito menos dependentes da atividade turística balneária, principalemente de segunda residencia, com relação aos demais municípios da região, fato demonstrado já na análise sobre os percentuais dos domicilios de uso ocasional. Além deste aspecto, deve-se considerar que a saturação urbana e o adensamento da ilha, que resultou em um quadro de declínio da balneabilidade de suas praias, a partir da década de 1970, contribuíram para o deslocamento do fluxo turístico para outros municípios da região. Este deslocamento foi em muito facilitado pelos investimentos estatais na melhoria e ampliação da rede rodoviária regional, a partir desta década. No caso de Santos, o peso econômico do turismo balneário nunca chegou a ser superior ao da atividade portuária e o parque de domicílios de uso ocasional, que atingiu um patamar elevado nas décadas de 1950 e 1960, passou a declinar. Ao final da primeira metade da década de 1980, conforme Soares (1984, p.79), a população flutuante de Santos foi reduzida de 13,86% para 12,68% 2. Em São Vicente, a redução foi de 19,62% para 12,75%. Enquanto isso, em Praia Grande ocorreu o inverso, passando de 19,62% para 56,27%. Em Guarujá os domicílios ocasionais também cresceram, passando de 31,23% para 35,40%. Segundo Carriço (2006, p.194) pode-se afirmar que a partir deste decênio a atividade turística passou a produzir mais imóveis de veraneio nas extremidades da RMBS. Por outro lado, os municípios mais populosos e mais centrais, passaram a contar com uma proporcionalmente maior população fixa. 2 Nesta década o atual município de Bertioga era um distrito de Santos. 29

30 4. INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA 4.1. Relações Sociopolíticas em Santos O mapeamento das organizações da sociedade civil de Santos identificou 162 organizações civis, das quais 16 foram entrevistadas e mais de 50 pessoas de 27 diferentes organizações estiveram presentes à oficina pública, realizada no dia 12 de junho. Dentre elas, encontram-se sindicatos, ONGs e Institutos, OSCIPs, associações de moradores e sociedades de melhoramentos de bairro, entidades representativas de categorias profissionais, movimentos populares, associações classistas regionais, centros comunitários e redes socioassistenciais, organizações religiosas, cooperativa de catadores, entre outras. Portanto, com base nas conversas, nas entrevistas, nas informações públicas disponíveis e nos debates estabelecidos, junto a essa gama de sujeitos políticos, é que são feitas as seguintes ponderações e análises a respeito da sociedade civil organizada de Santos A Organização da Sociedade Civil A história de Santos parece ser profundamente permeada pela história da participação, organização e mobilização de sua sociedade. Uma das cidades mais antigas do país, de grande valor histórico, Santos também é reconhecida por ter abrigado uma série de movimentos de ideais abolicionistas, anarquistas, comunistas e artísticos. A posição de cidade portuária teria lhe conferido o lugar de porta de entrada para muitos dos imigrantes que chegaram ao Brasil, a partir do final do século XIX, contribuindo para a construção de uma imagem de cidade cosmopolita e de efervescência cultural. A existência do porto e a sua dinâmica econômica, de modo semelhante, teriam contribuído para estabelecer, desde o início e em sintonia com os movimentos políticos da época (sobretudo, anarquistas, anarco-sindicalistas e comunistas), um lastro de organizações classistas de intensa vivência política. A ampla organização sindical, a quantidade significativa de greves dos trabalhadores e a resistência a regimes ditatoriais (já com o Estado Novo, em 1937) foram elementos-chave para que a cidade de Santos se tornasse conhecida, nas primeiras décadas do século XX, sob as denominações de Cidade Vermelha (como teria lhe apelidado Jorge Amado em um de seus romances), de Moscou Brasileira ou de Porto Vermelho aludindo, dessa forma, às matizes políticas mais à esquerda da cidade. Destarte, a história das primeiras organizações civis da cidade parece se confundir com a própria história da constituição do porto de Santos. A Associação Comercial de Santos, por exemplo, existe desde 1870 e parece ser uma das mais antigas da cidade. Teria surgido em virtude da atividade cafeeira, voltada ao escoamento de sua produção pelo porto: Santos sempre foi e continua sendo uma praça cafeeira. A origem foi o café e, depois, ao longo dos anos, foi se diversificando, ampliando. Ainda hoje, 80% do café brasileiro exportado sai pelo porto de Santos. O histórico de mobilização e de associativismo da sociedade santista, na vida política local das primeiras décadas do século XX, teria ocorrido sob a forma de sindicatos (de operários ligados ao porto e à construção civil sobretudo), ou de sociedades mutualistas-beneficentes (principalmente, entre os imigrantes espanhóis, portugueses e italianos), ou de associações profissionais (mais vinculadas às classes médias que trabalhavam com o comércio e com a atividade portuária), além de organizações partidárias. Essa vivência política carregada, por sua vez, desembocaria na forte repressão política sofrida pela cidade durante os anos da ditadura militar ( ), como aponta o episódio marcante da chegada do navio Raul Soares ao porto de Santos, ainda nos primórdios da ditadura militar (em 24 de abril de 1964), para servir como presídio flutuante dos sindicalistas considerados subversivos no período. O navio veio a ser um símbolo histórico da forte repressão política vivida pela cidade, além de ser considerado um divisor de águas no sindicalismo de Santos 3. Ainda durante o regime militar, Santos teve a sua autonomia política cassada ao ser designada área de segurança nacional pelo governo, sob o pretexto de sediar o maior porto do país - perdendo, desse modo, o direito de eleger o seu próprio prefeito durante as duas décadas seguintes. Apenas 3 Melo, Lídia Maria de. Há 48 Anos, o Navio Raul Soares Virava Prisão no Porto. Retirado do Diário do Litoral (24 de abril de 2012, página 07). Disponível em: Acessado em 09/08/2012.

31 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 em 1983, com o enfraquecimento do regime e com as pressões políticas da sociedade em prol da autonomia política, a cidade pôde eleger, democraticamente, um novo prefeito (Oswaldo Justo, que assumiu em 1984). Santos, nesse momento histórico, também se insere no contexto sociopolítico que permeou o surgimento dos novos movimentos sociais e das novas modalidades de organizações da sociedade civil, atrelado às lutas pela redemocratização do país e pelo alargamento das fronteiras colocadas à cidadania e aos direitos sociais. Se alguns dos sindicatos de Santos sofrem certo abalo com a privatização do porto, na década de 1990, por outro lado, também parecem surgir novas formas organizativas no seio da sociedade civil santista, como ONGs e movimentos populares (sobretudo, ligados à moradia e à saúde). A eleição subsequente de duas gestões municipais ligadas ao PT, entre 1989 e 1996, também parece colocar a cidade de Santos em uma posição de vanguarda frente aos desdobramentos políticos que serão vivenciados posteriormente pelo país, a partir dos anos 2000 (o que, até aquele momento, parece reforçar a sua imagem de Cidade Vermelha ). A eleição de um governo petista, segundo algumas das organizações entrevistadas, teria dado impulso ao surgimento e ao fortalecimento de movimentos populares, em torno de demandas como o direito à moradia, uma vez que a participação popular se colocava como um eixo da gestão pública municipal de então. A breve descrição da história de organização, mobilização e participação da sociedade de Santos, na vida política de sua cidade, serve apenas como uma ilustração das profundas heranças que se encontram ainda entranhadas na vivência política das organizações civis de hoje. Apesar do arrefecimento da mobilização popular em Santos, mencionado e sentido por muitas organizações, parece ainda prevalecer um alto grau de politização das organizações da sociedade civil, bem como uma indicação latente de que a mobilização popular constante é imprescindível na garantia de conquistas sociais: Porque o povo santista é lutador, bem antenado. E esse túnel para o Guarujá que não sai de jeito nenhum... então, a gente tem que pressionar, para que isso saia do papel.... É possível verticalizar no morro também, e é possível verticalizar nas comunidades... primeiramente, falta muita vontade política e vontade para fazer... e falta nós do povo pressionar para fazer.... Perspectiva de desenvolvimento sustentável não vai acontecer enquanto não houver também uma cobrança por conta da sociedade da atenção dos gestores a essa questão. É preciso cobrar dos gestores políticas públicas que combatam a desigualdade. Temos que pensar nas eleições. Não adianta a gente falar aqui entre a gente só. A gente tem que falar com os caras que vão assumir a Prefeitura. A gente elege e não é só ir lá cobrar. Tem que exigir que a sociedade tenha participação. Não existe nenhum Conselho, nessa cidade, que não seja dirigido hoje pela Prefeitura. Em outras palavras, parece haver uma cultura política local, com toda a sua bagagem histórica, que ainda se encontra bem arraigada hoje, bem como vivenciada, no cotidiano de boa parte das organizações da sociedade civil de Santos. Santos também é uma cidade que se destaca dos demais municípios do litoral paulista, em termos organizativos, por abrigar uma profusão dos mais diversos tipos de organizações da sociedade civil e por concentrar, em seu território, uma gama de conflitos e de interesses que são característicos a qualquer cidade grande - o que se reflete, por sua vez, na natureza plural de seus tipos organizativos, assinalada acima. A cidade abriga, nesse sentido, desde associações de bairro e movimentos populares reivindicatórios de direitos considerados básicos (como a moradia digna), passando por ONGs e institutos de assessoria (com perfil predominante de classe média e composto por profissionais liberais), até organizações que representam grandes interesses empresariais e industriais, que ultrapassam o nível local. Essa diversidade de formas organizativas e de sujeitos políticos permanece, em alguns pontos, como outrora, vinculada a interesses e a conflitos gestados a partir da existência do porto. Contudo, ainda no século XX, 31

32 novos arranjos sociais e organizativos passam a ser criados com a instalação do polo industrial de Cubatão, com o crescimento do setor da construção civil e mesmo relacionados às atividades turísticas de Santos (e seus impactos). Mais recentemente, alguns dos processos organizativos da sociedade santista também passam a ser interpelados por uma nova dinâmica regional, imprimida pelas operações e pelos empreendimentos em torno da Petrobras, que os influencia na sua forma de seleção: 1) de temas relevantes para a atuação (como a questão ambiental ou a qualificação profissional de jovens), 2) de tipos organizativos, 3) de possibilidades abertas ao financiamento externo, além de condicioná-los a diferentes graus de autonomia interna. Como foi mencionado acima, apesar da forte cultura política local de organização, o fôlego de mobilização e de participação popular se encontraria mais fraco hoje, segundo algumas das organizações da sociedade civil entrevistadas. Além disso, as queixas mais recorrentes parecem recair sobre a falta de articulação entre as organizações, em espaços ampliados de discussão, contribuindo para gerar lutas fragmentadas (e, por isso, menos eficazes): A pessoa não participa mais, olha só pra si, não se juntam mais para exigir do governo. Ninguém aqui participa de muita coisa... são muito poucas pessoas. Se você contar, são umas vinte.... (...) então, o pessoal tá sendo expulso da cidade... virou assim uma coisa que as pessoas falam tanto, cada um visando o seu interesse... você tem 60 entidades falando sobre habitação, e você não consegue fazer o governo construir habitação... ninguém se une na real, ninguém se articula... não estão levando a sério a questão da habitação em Santos. Dentro desse contexto de descenso da participação popular, parece haver referências implícitas ao cansaço e ao desgaste de algumas lideranças locais atuantes há mais tempo o que pode ser visto como resultante de uma hiperparticipação de alguns na contrapartida da desmobilização mais generalizada da população. Ao contrário de outros municípios, em Santos, não houve referências diretas aos entraves colocados à participação política (como a dificuldade na mobilidade urbana, o horário e o local das reuniões ou dos eventos públicos, a pouca divulgação das atividades etc). Uma ou outra organização apenas fez menção indireta à ausência de resultados concretos dos processos participativos, referindo-se à iniciativa inicial de construção de uma Agenda 21 em Santos. No conjunto, Santos parece estar mudando seu perfil socioeconômico (ver leitura comunitária abaixo), tornando-se progressivamente uma cidade de classe média alta. Tal transformação, por sua vez, parece ser importante para contextualizar as recentes mudanças sentidas no perfil político e organizativo de sua sociedade, tanto em termos de desmobilização popular quanto em termos de posicionamento mais à direita no espectro político (comparada à imagem de Cidade Vermelha até a década de 1990) Organização e Articulação Como apontado anteriormente, a pluralidade de organizações civis espalhadas pelo território santista torna difícil a tentativa de dar contornos mais precisos ao perfil predominante dessas organizações. Várias são as formas de organização assumidas pela sociedade civil de Santos, bem como as suas temáticas de atuação, seu funcionamento interno, seus níveis de articulação (municipal, metropolitano, regional e nacional), sua localização no território, sua composição social (segmentos populacionais e grupos identitários), entre outras características organizativas. De um modo geral, entretanto, pode-se afirmar que as organizações civis da cidade são predominantemente de natureza urbana, institucionalizadas, concentradas na área insular (sobretudo, na parte central) e costumam manter relações próximas com o Poder Público - seja na forma de cobrança mais direta, seja na forma de parcerias, de convênios ou de cooperações técnicas. No que diz respeito às ONGs locais, a qualificação profissional parece ser o tema central que desponta hoje e que mais parece mobilizá-las. Esse tema vem frequentemente associado à atuação junto a segmentos populacionais em situação de maior vulnerabilidade social, como jovens e mulheres de baixa renda. Não raras vezes, a preocupação com a qualificação profissional, visando à inserção desses segmentos populacionais no mercado de trabalho, também aparece vinculado à questão da sustentabilidade: A gente trabalha numa linha de protagonismo juvenil. Capacitação de jovens para o turismo, por causa dos megaeventos, como Copa do Mundo.

33 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Não tem mais como desenvolver sem pensar na sustentabilidade. A sustentabilidade é um tema transversal a todos os nossos trabalhos. Prevalecem, assim, trabalhos de qualificação profissional voltados à gestão ambiental, à gestão de negócios sustentáveis, ao turismo sustentável e à gastronomia e ao artesanato gerados a partir do aproveitamento de produtos nativos da região. Esse viés de atuação parece dialogar com as principais demandas sociais apontadas pela leitura comunitária (ver abaixo), acirradas pelo novo contexto econômico regional. Outro viés de atuação frequente costuma ser aquele associado a temas de saúde pública (como prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e ao uso de drogas, bem como a atuação na área de saúde mental 4 ), além da assistência a problemas sociais como violência doméstica e familiar. Algumas outras organizações, por sua vez, atuam diretamente com as temáticas da participação popular, do fortalecimento da sociedade civil e do controle social das políticas públicas. As ONGs parecem se articular mais entre si, contudo, algumas mantêm parceria e diálogo com as universidades locais. Muitas das organizações não governamentais costumam ter sua origem ligada à iniciativa empresarial, ou tecem relações de parcerias com as empresas, para a obtenção de financiamento dos seus projetos. No que se refere ao seu funcionamento interno, parece prevalecer uma estrutura composta por equipes enxutas em virtude das dificuldades de manutenção interna geradas por um financiamento irregular de projetos. Na maior parte das vezes, a prática consiste em contratar consultores temporários quando existe algum projeto em andamento, que costuma ser financiado pelo Poder Público ou por empresas: A nossa ideia é trabalhar com uma equipe enxuta, porque não temos recurso para manter todo mundo sempre... mas a gente tem uma diversidade profissional enorme dentro dessa equipe enxuta. A particularidade das organizações santistas parece residir no fato de que boa parte de suas atuações e articulações foge ao escopo do território municipal apenas, abarcando uma dimensão metropolitana, dada a fluidez das fronteiras que separam Santos dos municípios do entorno. Dispersas pelo território da cidade, encontram-se também as inúmeras Sociedades de Melhoramentos de bairro que, ao contrário da particularidade exposta acima, tendem a concentrar seus esforços na reivindicação por melhorias na infraestrutura urbana de seus respectivos bairros. Relativamente antigas, essas Sociedades de bairro têm obtido certo grau de sucesso nas suas atuações ao longo das décadas, trazendo obras (como asfaltamento, ligação à rede de saneamento básico e iluminação pública) para as suas comunidades territoriais localizadas: Desde aquele tempo, até agora, o principal objetivo sempre foi a melhoria da situação do bairro. Todavia, como as outras organizações, as Sociedades de Bairro nem sempre conseguem obter a ampla participação dos moradores dos bairros que pretendem representar. Há queixas quanto à participação volátil dos moradores nas reuniões: Depende do que você colocar para discutir. Tem discussão que não aparece ninguém. Aparece quando é regularização fundiária, por exemplo. Também parece haver pouca articulação entre as Sociedades de bairro. Em alguns casos, existe diálogo entre as organizações territorialmente vizinhas, mas em momentos pontuais, sem que isso represente uma articulação duradoura ou uma mobilização em torno de um objetivo comum. A relação mantida por cada uma das Sociedades de bairro com a Prefeitura, além disso, parece variar bastante. Embora haja sempre alguma interface com a Prefeitura, as relações podem surgir sob a forma de reivindicações diretas ou de parcerias e convênios (por vezes, dentro de uma mesma Sociedade de bairro). Quanto aos movimentos populares de Santos, sobressaem-se aqueles vinculados à demanda por moradia principalmente (o que parece entrar em sintonia com as preocupações centrais reveladas pela leitura 4 Vale destacar aqui que Santos se tornou uma das referências mundiais na luta antimanicomial. Várias organizações, hoje, continuam atuando e discutindo em torno dessa temática. 33

34 comunitária abaixo). Entretanto, os movimentos de luta por moradia também parecem atuar a partir de um enfoque integral, aliando a conquista da habitação própria à criação de emprego e renda, ao direito à cultura e à saúde etc. Esses movimentos surgem, além disso, com o intuito de manter os seus envolvidos nos locais de moradia já ocupados (seja no centro da cidade, seja na zona noroeste), através da conquista da regularização fundiária ou do cadastro de suas casas junto à Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Por isso, a conquista de outros direitos sociais básicos, para além da habitação, é fundamental para alicerçar a sociabilidade e a vivência plena em seus territórios. Muitos dos movimentos populares santistas, como foi visto acima, surgem em meados da década de 1990, tendo como pano de fundo a redemocratização do país, o surgimento dos novos movimentos sociais e, no plano local, a eleição de um governo com viés de participação popular. No caso dos movimentos de luta por moradia da cidade, portanto, parece haver o reconhecimento de algumas conquistas importantes alcançadas por meio da forte mobilização popular, em Santos, ao longo dos anos: Santos é uma cidade diferenciada. Para se cadastrar na COAB, é preciso procurar os movimentos por moradia (entre movimentos, cooperativas e outras organizações). Cada movimento tem sua dinâmica própria. Aqui, a gente se organiza por reuniões mensais. No que toca a articulação, foi mencionada a existência de um Conselho Popular da Baixada Santista, gerido pelos próprios movimentos, que elaboraria as reivindicações conjuntas a serem levadas para outros espaços. Além desse espaço importante, foram também mencionadas algumas articulações com outras organizações e entidades locais, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Santos (AEAS) e o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Santos, bem como articulações com organizações de representação nacional, como a União Nacional dos Movimentos por Moradia, ou sediadas em outros municípios da Baixada Santista. Em geral, não parece existir relação de parceria entre esses movimentos e o governo municipal. Os sindicatos de Santos, por sua vez, são difíceis de serem contabilizados, dada a sua quantidade significativa, e difíceis de serem avaliados de forma conjunta, uma vez que abrangem uma imensa gama de profissões, setores econômicos e segmentos populacionais em sua composição. Contudo, pode-se afirmar que são majoritariamente de natureza urbana, se encontram concentrados nas principais atividades econômicas da cidade (como o porto, o comércio, a construção civil e o turismo) e parecem ser ativos, em muitos casos, nos Conselhos municipais de políticas públicas. Considerando a posição de destaque de Santos na Baixada Santista, alguns dos sindicatos possuem raio de influência regional ou metropolitano também. Quanto às associações classistas e as associações representativas de categorias profissionais, surgiram menções, nas entrevistas com as organizações da sociedade civil, ao poder de influência política detido por algumas dessas organizações (sobretudo, do ramo imobiliário e da construção civil) e ao peso de suas atuações no rumo de importantes decisões políticas municipais: Eu vejo essas associações [como a de engenheiros e arquitetos] como uma congregação de categorias que, em muitos pontos, têm semelhanças. Essas associações acabam tendo um peso de opinião, sobretudo, no que concernem atividades urbanísticas. Vejo muita relação entre essas associações e o mercado imobiliário, a produção imobiliária. Elas têm um perfil muito ligado aos interesses ligados ao mercado imobiliário. A Assecob [Associação dos Empresários da Construção Civil da Baixada Santista] reúne o pessoal da produção imobiliária, os construtores, que têm uma atuação muito forte. E o Secovi [Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais] que, na verdade, trabalha com a intermediação da venda no mercado... esses dois têm um protagonismo muito acentuado na cidade. Eles são órgãos que agrupam setores específicos. As associações classistas e representativas de categorias profissionais parecem se articular mais entre si, não compartilhando tanto da mobilização de movimentos populares e da atuação das ONGs locais (exceto em alguns casos, quando são agentes financiadores de projetos). Em geral, detêm poder de influência sobre a política local, inclusive, através dos Conselhos municipais (onde algumas dessas organizações costumam ter muitos assentos). Discussões estratégicas para a cidade, envolvendo Plano Diretor e outras regulações urbanísticas, sobretudo, costumam ter apelo entre essas associações: O Plano Diretor foi todo decidido aqui [durante uma reunião de Conselho, em uma das salas da Associação].

35 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 O Fórum da Cidadania parece ser hoje, em Santos, um espaço importante de articulação da sociedade civil local (ao menos em termos quantitativos, uma vez que consegue aglutinar diversos movimentos, sindicatos, ONGs, institutos e outras entidades, abarcando diversas temáticas dentro de si). Pretende ser uma instância de caráter plural, democrático, suprapartidário e sem finalidade lucrativa, tornando-se (desde 2011) uma entidade de utilidade pública estadual: Eu daria um destaque à parte para o Fórum [da Cidadania], que tem uma posição sempre crítica, do aprofundamento das relações democráticas... O Fórum da Cidadania... qualquer pessoa pode ir lá, para participar das Plenárias, das reuniões... O Fórum é absolutamente democrático. Ele acaba agregando aqueles que, de alguma forma, têm críticas às práticas da sociedade civil, do Poder Público.... O Fórum foi o único que fez uma pré-conferência [da Consocial]... e foi o único espaço que se abriu para que os movimentos fossem lá, apresentar as suas posições... que sentiam necessidade de colocar e sistematizar as suas propostas, para levar para a Conferência. A ideia do Fórum teria surgido há cerca de dez anos, a partir da Semana SESC de Cidadania, em 2001, quando o grupo responsável pela realização da Semana propôs a criação de um instrumento que pudesse agregar, de maneira mais articulada, os seus sujeitos participantes. Ainda no seu início, em 2003, o Fórum realizou uma Conferência Municipal de Cidadania, envolvendo cerca de duas mil pessoas. Alguns anos após o evento, houve a ideia de ocupar o atual espaço que sedia o Fórum, chamado hoje de Estação da Cidadania (antes pertencente ao grupo Pão de Açúcar e cedido pela empresa em 2006), passando a ser sustentado pela ONG Concidadania, fundada em A instituição teria surgido, portanto, com o propósito de dar a necessária infraestrutura e representação jurídica ao Fórum da Cidadania. Hoje, esse espaço público de discussão ampliada da sociedade civil serve também à realização de atividades de outras ONGs e abriga algumas das atividades desenvolvidas pelas Secretarias Municipais. O Fórum da Cidadania procura atuar na articulação das políticas públicas da cidade de Santos, com grande foco nas demandas sociais existentes, embora estejam especialmente envolvidos, hoje, com as questões relativas aos direitos da criança e do adolescente. Agenda 21 em Santos A Agenda 21 local de Santos foi a pioneira no Brasil. Contudo, por uma série de dificuldades e descontinuidades, não se encontra mais ativa hoje. O processo de construção da Agenda 21 Local de Santos terá se iniciado a partir do Programa Comunidades Modelo, promovido pelo ICLEI (International Council for Local Environmental Initiatives), organização internacional dos governos locais criada em 1990 e voltada à temática ambiental. Santos teria se filiado ao ICLEI em 1993, como resultado da política ambiental que o governo municipal, em exercício desde 1989, seguia. Em larga medida, Santos se encaixava no perfil desejado pela organização internacional, na medida em que tinha um histórico de organização e participação da comunidade nos processos de decisão. Para o "Programa Comunidades Modelo" do ICLEI teriam sido selecionadas apenas 14 cidades nos cinco continentes, sendo a cidade de Santos a única cidade brasileira a ser escolhida. O objetivo principal da organização, naquele momento, era testar a metodologia de implantação das Agendas 21 locais. O primeiro seminário, em Santos, para o Programa Comunidades Modelo, teria ocorrido ainda em 1994, com o intuito de envolver, sensibilizar e mobilizar a sociedade civil em torno da construção da Agenda 21 local, além de dar início à formação do Grupo de Sustentação do espaço. Nesse primeiro momento, o seminário teria conseguido aglutinar os mais diversos setores da sociedade civil e do Poder Público, como técnicos da administração municipal, ONGs, ambientalistas, Conselhos municipais, universidades, cooperativistas, movimentos populares entre outros sujeitos políticos 5. 5 CARMO, Silvia de Castro Bacellar do; FALCOSKI, Luiz Antonio Nigro. Agenda 21 Local de Santos: elaboração e ações. Disponível em: Acessado em 18/07/

36 Todavia, os anos que se seguiram à construção inicial da Agenda 21 de Santos teriam sido marcados por interrupções sucessivas, em grande parte, devido ao ritmo das eleições municipais e às mudanças na gestão, que passou a não priorizar a pauta da Agenda 21. Ademais, teria havido um enfraquecimento no grau de adesão e de envolvimento da própria comunidade com o passar do tempo (em boa medida, também, por não enxergar mais a adesão do governo municipal, enquanto indutor do processo, e, portanto, por não perceber os resultados concretos de sua participação). Indagadas hoje sobre o processo de construção da Agenda 21 local na cidade, algumas organizações civis se remetem ainda a essas dificuldades encontradas: O pessoal faz um monte de oba-oba e não vai pra frente. Não foi muito frutífero. Assim como a maioria das conferências municipais, as decisões não são perseguidas. Há uma inércia na execução. O Fórum da Cidadania teria participado da Secretaria-Executiva da Agenda 21 em 2007, inclusive, quando teriam participado cerca de 130 entidades civis ao todo. Esse processo teria durado mais dois anos, sofrendo nova interrupção (definitiva até o presente), quando então o Fórum resolveu se afastar, em virtude do não repasse da verba prometida aos projetos. Um artigo sobre o tema da Agenda 21 santista 6, indicado pelo Fórum da Cidadania, aponta alguns outros problemas enfrentados na trajetória de construção desse espaço participativo: 1) a própria dificuldade de se reunir grupos ou pessoas diversas, com interesses específicos, em torno de um objetivo comum, de uma forma assídua e com um comprometimento socioambiental; 2) a ausência de participação de representantes de comunidades específicas e de setores econômicos importantes, considerando as características da cidade, ligados à atividade portuária, turística e pesqueira; 3) a falta de divulgação na mídia, no que toca a evolução dos trabalhos, com esclarecimentos quanto às metas propostas e ao efetivamente alcançado; 4) a escassa interação intermunicipal, para pensar os problemas urbanos e ambientais de forma metropolitana; 5) o pouco interesse quanto ao registro das ações e das decisões da Agenda 21 local, tornando difícil a sua posterior recuperação. Em suma, o artigo demonstra que a Agenda 21 local da cidade de Santos teve sucesso enquanto conseguiu mobilizar uma parte da sociedade civil e do Poder Público e implantar ações, ainda que parciais, em relação à questão dos resíduos sólidos. Entretanto, teria fracassado ao não conseguir dar continuidade ao processo e transparência pública às suas ações, pelos motivos destacados acima. Mesmo assim, é importante notar que Santos teve uma experiência pioneira no assunto e serviu de exemplo para a construção (ainda em andamento) das Agendas 21 locais de alguns dos seus municípios vizinhos, como Cubatão e Guarujá. Nesse sentido, parece reforçar a sua posição histórica de vanguarda, na região, quando se trata de mobilização e de participação popular Os Espaços de Gestão Participativa a. Legislação Municipal A participação popular encontra-se entre os princípios administrativos do município de Santos (art. 1º, parágrafo 3º, inciso III, da Lei Orgânica Municipal) e sua Lei Orgânica assevera que a soberania popular manifesta-se quando a todos são asseguradas condições dignas de existência (art. 1º, parágrafo 2º). Para tanto, destaca os seguintes instrumentos de para seu exercício: I - o sufrágio universal, por meio do voto direto e secreto com valor igual para todos; II - o plebiscito, a respeito de questões relevantes, quando pelo menos um por cento do eleitorado do Município o requerer ao Tribunal Regional Eleitoral, ouvida a Câmara; III - o referendo, quando ao menos um por cento do eleitorado do Município o requerer à Câmara; IV - o veto; V - a iniciativa popular, no processo legislativo; VI - a participação popular nas decisões do Município e no aperfeiçoamento democrático de suas instituições; 6 Carmo, Silvia de Castro Bacellar do; Falcoski, Luiz Antonio Nigro. Agenda 21 Local de Santos: elaboração e ações. Disponível em: Acessado em 18/07/2012.

37 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 VII - a ação fiscalizadora sobre a Administração Pública (art. 1º, parágrafo 2º, incisos, da Lei Orgânica). A convocação de plebiscitos e a autorização de referendos competem privativamente à Câmara municipal (art. 21, inciso XIV, da Lei Orgânica), sendo que qualquer alteração territorial no Município dependerá de consulta prévia mediante plebiscito nos termos de lei complementar estadual (art. 4º, parágrafo único, da Lei Orgânica). Ademais, as Comissões permanentes ou temporárias da Câmara, em razão da matéria de sua competência deverão realizar audiências públicas com entidades da comunidade e receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades públicas municipais (art. 30, incisos I e III, da Lei Orgânica). Cabe à Câmara, também, disciplinar a Tribuna Popular (art. 21, inciso XXII, da Lei Orgânica), espaço garantido nas sessões ordinárias de segunda-feira da Câmara para que qualquer cidadão, que represente entidade ou organização popular, tenha voz, respeitando as estipulações do Regimento Interno da casa legislativa (art. 76, inciso IV, do Regimento Interno da Câmara Municipal de Santos). Com relação à iniciativa popular, caberá à Câmara normatizar os projetos de lei que forem apresentados através da manifestação de 5% do eleitorado (art. 20, inciso IV, da Lei Orgânica), em consonância com a determinação constitucional (art. 29, inciso XIII da Constituição Federal). Contudo, a Lei Orgânica determina, em seu artigo 37, parágrafo único, que não serão suscetíveis de iniciativa popular matérias de iniciativa exclusiva ou privativa. Tal dispositivo legal contraria a Constituição Federal, que não restringe as matérias que podem ser objeto de iniciativa popular. Ainda no âmbito do processo legislativo, podem os cidadãos apresentar emenda à Lei Orgânica, devendo conter após cada uma das assinaturas, e de modo legível, o nome dos signatários, o número de seu título eleitoral, zona e seção em que vota, e a indicação do responsável pela coleta de assinaturas (art. 36, incisos II e III, parágrafo 2º e 3º, da Lei Orgânica). Da mesma forma devem fazê-lo os cidadãos que apresentem iniciativa de lei complementar, que devem ser aprovadas por maioria absoluta (art. 37, caput, 38 e 46 da Lei Orgânica). São objeto de lei complementar: I - Código Tributário do Município; II -Código de Edificações; III -Plano Diretor Físico do Município; IV -Código de Posturas; V -Estatuto dos Servidores Públicos Municipais; VI -criação de cargos, funções ou empregos públicos; VII -criação, transformação, fusão, cisão, incorporação, privatização ou extinção de fundações, autarquias e órgãos da administração indireta (art. 40, incisos da Lei Orgânica). Algumas matérias dependem de voto favorável de dois terços dos membros da câmara, quais sejam: a) aprovação e alteração do Plano Diretor de Desenvolvimento e Expansão Urbana; b) zoneamento urbano; c) concessão de serviços públicos; d) concessão de direito real de uso, e) alienação de bens imóveis; f) aquisição de bens imóveis por doação com encargo; g) obtenção de empréstimo particular (art. 12, parágrafo único, inciso I, alíneas, da Lei Orgânica). Por fim, a Lei Orgânica também poderá ser emendada por proposta do Prefeito Municipal, e de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara. Em qualquer dos casos, inclusive quando proposta pelos cidadãos, a proposta deverá ser discutida e votada em dois turnos, com intervalo mínimo de dez dias, considerando-se aprovada se obtiver, em cada um, dois terços dos membros da Câmara (art. 36, incisos I e II, e parágrafo 1º da Lei Orgânica Municipal). No que tange a ação fiscalizadora sobre a Administração Pública, qualquer cidadão poderá examinar e apreciar, e questionar a legitimidade das contas municipais, que deverão ficar a disposição de todos durante sessenta dias, a partir de sua apresentação. Passado esse prazo, serão enviadas ao Tribunal de Contas para emissão de parecer prévio (art. 49, caput e parágrafo único, da Lei Orgânica). A Lei Orgânica prevê também a participação popular nas decisões do poder público, e a realização periódica de audiências públicas com entidades da comunidade (art. 50, parágrafo único, da Lei Orgânica). A Lei Orgânica prevê ainda instrumentos específicos para se garantir a gestão democrática da política de desenvolvimento urbano com consultas e audiências públicas com entidades organizadas (art. 136). E dentre 37

38 as diretrizes para esta política, assegura a consulta e aprovação prévia da população local, nos casos de desafetação de bens de uso comum do povo, mediante mecanismos a serem criados por lei específica posterior (art. 137, inciso III, da Lei Orgânica). A Lei Orgânica de Santos prevê ainda uma série de Conselhos: Conselhos de Desenvolvimento Econômico (art. 130) de Desenvolvimento Urbano (art. 138), de Habitação (art. 149), de Defesa do Meio Ambiente (art. 165), de Metropolização (art. 170), de Saúde (art. 185), de Promoção Social (art. 195), de Educação (art. 202), de Cultura (art. 209), de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (art. 209), de Esportes (art. 219), de Defesa do Consumidor (art. 223), dos Direitos da Criança e do Adolescente (art. 230), Antidrogas (art. 231), do Idoso (art. 235), e Conselho para Assuntos da Mulher (art. 241). Todos tratam da gestão democrática em seus princípios. Destes, apenas o Conselho de Educação (Lei nº de 1995 e alterações), de Cultura (Lei nº de 1994, alterada pela Lei nº de 2012), de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Lei nº Lei nº 753 de 1991, com alterações), Esportes (Lei nº 710 de 1990 e alterações), de Defesa do Consumidor (Lei nº de 1992), dos Direitos da Criança e do Adolescente (Lei nº 736 de 1991), Antidrogas (Lei nº de 1999), do Idoso (Lei nº de 2007 e alterações), dos Direitos da Mulher (Lei nº de 2002), foram instituídos e regulamentados por lei posterior. O prazo para que aqueles conselhos não existentes no momento da promulgação da Lei Orgânica fossem criados mediante lei de iniciativa do Executivo, foi de 180 dias (art. 247 da Lei Orgânica). Observar que o Conselho de Metropolização (art. 170, caput e parágrafo único da Lei Orgânica), previsto para ser criado pelo Estado por lei complementar, e ter caráter normativo e deliberativo, contando com a participação da população no planejamento, tomada de decisões e fiscalização das funções públicas a nível regional, foi criado pelo Decreto estadual nº , de 1996, com o nome de Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista. Qualquer conselho deverá contar com a participação de representantes de grupos ou organizações de mulheres (art. 247, parágrafo segundo, da Lei Orgânica e Lei nº 1176 de 1992). Além destes conselhos previstos na Lei Orgânica, o Município de Santos criou outros por lei municipal específica. É o caso dos Conselhos da Administração e Remuneração de Pessoal (Lei nº de 2001), de Alimentação Escolar (Lei nº de 1997), de Assistência Social (Lei nº de 1994), da Participação e desenvolvimento da Comunidade Negra (Lei nº de 1994), da Juventude (Lei nº de 1999), das Pessoas com deficiência (Lei nº de 2000), de Segurança Alimentar e Nutricional (Lei nº de 2004), de Trânsito (Lei nº 803 de 1991), de Turismo (Lei nº de 1999) e de Acompanhamento e controle social do Fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica e de valorização dos profissionais da Educação - FUNDEB (Lei nº de 2007). Importante destacar que o plano diretor municipal (Lei municipal nº 731/2011) estabelece que a política de desenvolvimento e planejamento do município deve ser formulada e executada pelo Sistema de Planejamento, que definirá as ações do Poder Público com a participação dos setores público, privado e da sociedade em geral (art. 3º do plano diretor ), visando coordenar suas ações, e garantir um processo dinâmico, permanente e transparente de implementação de seus objetivos gerais (art. s 48 e 49 do Plano Diretor). O plano diretor prevê ainda os seguintes instrumentos, dotados de plena acessibilidade e de conteúdo às pessoas com deficiência: - debates, audiências e consultas públicas; - conferências sobre assuntos de interesse urbano (art. 49, parágrafo único, do plano diretor). Compõe o Sistema de Planejamento, como órgãos de apoio e informação ao Prefeito, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano CMDU, e o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Santos CDES, aos quais caberá apreciar qualquer proposta de alteração do Plano Diretor encaminhada ao Poder Legislativo (art. 51 e 56, parágrafo único do Plano Diretor). O Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano, criado pela Lei nº de 1999 e alterado pelas leis nº 1978 de 2001, Lei nº de 2002 e Lei nº 2774 de 2011, tem caráter consultivo e de assessoramento ao Prefeito Municipal, e integra o Sistema de Planejamento, O Presidente do Conselho, bem como seu Secretário Executivo, são eleitos entre os membros empossados na primeira reunião ordinária após a posse,

39 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 cabendo ao Secretário Executivo, substituir o Presidente em sua ausência (art. 6º da Lei de 1999, alterado pela Lei nº de 2001). Para este conselho devem ser apresentados o conjunto de indicadores, bem como as análises resultantes do processo de monitoramento, do Sistema de Planejamento (art. 46, do Plano Diretor). Há também outros instrumentos previstos tais como os planos de ação integrada (art. 11, inciso II do Plano Diretor), que serão implantados com base nos Vetores de Desenvolvimento: : I - Plano de Sustentabilidade Ambiental; II - Plano de Desenvolvimento Urbano; III - Plano de Desenvolvimento Turístico; IV - Plano de Pesquisa e Desenvolvimento; V - Plano de Desenvolvimento Energético; VI - Plano de Desenvolvimento Portuário, Retroportuário e de Logística; VII - Plano de Desenvolvimento de Pesca e da Aquicultura (art. 13º, incisos, do Plano Diretor). Contudo, o Plano Diretor cria a Gestão de Sustentabilidade do Plano Diretor, que consiste nos mecanismos de planejamento, incentivos, monitoramento e avaliação dos Vetores de Desenvolvimento, composta pelos processos de Articulação e Monitoramento (art. s 31 e 32, incisos, do Plano Diretor). As análises resultantes do processo de articulação deverão ser apresentados e discutidos na administração municipal para definição de estratégias em conjunto com os organismos de participação, em especial os Conselhos (art. 37, do Plano Diretor ). Assim, é a partir desses espaços que se dará a participação dos munícipes e de suas entidades representativas. As determinações acerca da elaboração e revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento e Expansão Urbana coadunam com a legislação federal no que diz respeito processo participativo e democrático (art. 139, parágrafo quarto, da Lei Orgânica e art. 4º, inciso IX e art. 28, do Plano Diretor), incluindo a publicidade e acesso a documentos e informações (art. 56, caput e incisos, do Plano Diretor). E, dentre seus objetivos, encontram-se a instituição e diversificação das formas de parceria entre o Poder Público Federal, Estadual e Municipal, iniciativa privada e entidades civis, na elaboração e execução dos projetos de interesse público que dinamizem o setor produtivo (art. 4º, inciso IV, do Plano Diretor). Vale notar, que as normas disciplinadoras do plano diretor devem seguir também as regras relacionadas à gestão democrática das cidades tal como previsto pelo art. 57 do plano diretor. Para a Habitação, compreendida como função social do Município, a Lei Orgânica prevê a criação de um Fundo de Incentivo à Construção de Habitação popular, a ser criado por lei específica, administrado pelo Conselho Municipal de Habitação (art. 143, 148 e 149, da Lei Orgânica). Também prevê a Lei Orgânica a criação de um fundo para preservação e recuperação do meio ambiente, o que foi feito pela Lei nº 748 de 2012 e regulamentado pelo Decreto nº de Finalmente, na política de saúde foi instituído um fundo municipal de saúde, um conselho e uma conferência municipal (art. 183, parágrafo primeiro, e 184, caput, da Lei Orgânica) b Espaços de Gestão Participativa e seus Desafios A política de gestão participativa, no município de Santos, parece se concentrar em torno dos Conselhos Municipais de Políticas Públicas. Existe, de fato, um link específico direcionado para o Portal dos Conselhos, no site da Prefeitura ( o que sinaliza um passo importante para a transparência desses espaços de gestão participativa. No Portal, podem ser encontrados dados para contato de cada um dos Conselhos, além de informar sobre a composição e sobre as atribuições específicas de cada um o que, comparado a outros municípios do litoral paulista, significa um avanço. Entretanto, esse importante canal institucionalizado de comunicação e divulgação não parece ser atualizado há algum tempo, descumprindo algumas de suas funções básicas ao não disponibilizar as atas de reuniões recentes, as agendas de reuniões, bem como as resoluções tiradas pelos Conselhos. Chama atenção também a ausência de boa parte das leis que instituíram os respectivos Conselhos (o Portal só disponibiliza alguns decretos na maioria dos casos, à exceção do Conselho de Proteção à Vida Animal, do Conselho sobre Tabaco, Álcool e outras Drogas e do Conselho de Entidades de Bairro, para os quais as informações contidas no Portal estão mais completas do que no site da Prefeitura). As leis tiveram que ser buscadas diretamente no site da Prefeitura, 39

40 mas poderiam ser disponibilizadas pelo próprio Portal dos Conselhos, concentrando todas as informações sobre esses espaços de gestão participativa em um único site. O município de Santos conta com uma grande pluralidade de Conselhos de Políticas Públicas (foram contabilizados vinte e cinco ao todo), que abarcam as mais diversas temáticas, além de contar com quatro comissões permanentes específicas (de AIDS, de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto Juvenil, de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e de Políticas de Referência e Otimização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio). É importante notar que Santos não conta ainda com um Conselho de Transparência e Controle Social. A criação de tal Conselho foi uma das propostas selecionadas pela sociedade civil por ocasião da Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social (Consocial), realizada nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2012, no campus da Unisanta: Criar Conselhos municipais, estaduais e nacional de Transparência e Controle Social (Eixo 3). Interessante apontar também a existência de um Conselho de Entidades de Bairro na cidade, composto por Associações de Moradores, Sociedades de Melhoramentos e Centros Comunitários. Entretanto, vale ressaltar que o Conselho tem caráter consultivo, podendo apenas acompanhar, solicitar e reivindicar o andamento de processos na Prefeitura, em favor das entidades filiadas ao Conselho. O site da Prefeitura, de modo geral, é bem-estruturado, claro e fornece todo tipo de informações úteis aos munícipes, assim como aos turistas. Nele, pode ser encontrado um link específico para o Portal da Transparência ( portal/transparencia.aspx), para acesso às contas públicas, condizente com a Lei Complementar nº 131 de 2009, que acrescentou novos dispositivos à Lei de Responsabilidade Fiscal, para a qual Santos seria legalmente obrigada a ter esse serviço instituído, uma vez que possui mais de 50 mil habitantes. Além desse instrumento de controle social, o site da Prefeitura disponibiliza ao munícipe uma Cartilha do Orçamento Público ( santos.sp.gov.br/egov/page.php?73), iniciativa importante e que representa avanços no que tange a matéria de transparência da gestão pública. Nessa mesma direção, também pode ser encontrado um link específico endereçado à requisição eletrônica de documentos e informações por parte dos cidadãos ( transparencia/), o que sinaliza, pelo menos formalmente, o acato à recente recomendação expressa pela Lei Federal n de 18 de novembro de 2011, conhecida como a Lei de Acesso a Informações. O município também conta com um Diário Oficial atualizado em versão eletrônica, com acesso à pesquisa de versões anteriores ( // o que contribui para publicizar as últimas notícias e a agenda cultural do município, os atos do Executivo e do Legislativo, os processos licitatórios em andamento, assim como as atividades e resoluções dos Conselhos de políticas públicas. Ao navegar pelo site da Prefeitura, nota-se que existe um link específico para o serviço de Ouvidoria Pública Municipal, disponível para a população, com informações sobre a sua função e com dados para contato ( O mesmo mecanismo de controle social parece não existir em relação ao Poder Legislativo (ou não se encontra disponível no site da Câmara Municipal). Existe apenas um canal de comunicação virtual entre os cidadãos e a Câmara, para envio de ideias e sugestões, mas sem uma estrutura institucional e autônoma que leve a cabo as reclamações e queixas. O site da Câmara Municipal, por sua vez, é bem-estruturado, claro e também fornece todo tipo de informação útil ao munícipe, como: links para notícias e agenda de atividades da Casa, consulta online de proposituras e pesquisa de legislações, apresentação dos Vereadores e das Comissões, dados para contato, histórico da Câmara etc. Não conta, entretanto, com seu próprio Portal da Transparência. Quanto à Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social (Consocial), algumas entidades entrevistadas demonstraram desconhecer a realização da Conferência, devido à falta de divulgação e de transparência por parte do Poder Público: Não ficamos sabendo. Não há transparência. Muitas organizações importantes não participaram, mesmo sabendo de sua realização, o que pode sinalizar certo desinteresse ou descrédito quanto aos espaços de gestão participativa existentes no município (sobretudo, quanto aos seus resultados concretos e às suas possibilidades de discussão política). Outras organizações, por sua vez, participaram da Conferência, mas teceram severas críticas ao seu modo de funcionamento e aos resultados alcançados: Foi um pouco prejudicada, pois existe uma criminalização da política [no sentido de que o Poder Público não está disposto a enfrentar questionamentos políticos].

41 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 O evento, em si, serviu mais para plataforma de políticos do que qualquer outra coisa. Não houve apresentação de planos de transparência ou algo do tipo. A preocupação dos organizadores foi mais apresentar as ações de governo do que servir como ferramenta de participação popular. O espaço não foi utilizado para seu propósito principal: a transparência das contas e das realizações deles [do Poder Público]. As propostas aprovadas não corresponderam a um projeto de estabelecer diretrizes para o controle social. Pra mim, foi um abacaxi. Não foi como deveria ter sido. Não fiquei satisfeito. Não apresentaram avaliação nenhuma depois. O conjunto das resoluções tiradas, por ocasião da Conferência Municipal, pode lançar luz (apesar das críticas apontadas por alguns dos participantes acima) sobre os principais problemas locais relativos aos espaços de gestão participativa (os Conselhos Municipais de Políticas Públicas) e à transparência no trato da gestão pública. Os assuntos debatidos, durante o evento, foram divididos em quatro eixos temáticos, sendo eles: Promoção de Transparência Pública e Acesso à Informação e Dados Públicos (Eixo 1), Mecanismo de Controle Social, Engajamento e Capacitação da Sociedade para o Controle da Gestão Pública (Eixo 2), Atuação dos Conselhos de Políticas Públicas como Instâncias de Controle (Eixo 3) e Diretrizes para Prevenção e Combate à Corrupção (Eixo 4). Dentro de cada eixo, foram aprovadas algumas propostas (elencadas pela ordem de prioridade dos participantes), depois encaminhadas às etapas estadual e federal (as propostas podem ser encontradas no link: cipal& uf=sp&cidade=santos&eixo=1). No que tange este item específico do relatório, destacam-se as seguintes propostas: Eixo 1: Que as votações, em todos os níveis de representação (Congresso Nacional, Assembleias e Câmaras), sejam por meio de voto aberto e nominal, com o fim das seções secretas e abstenções, com a publicação das votações em seus respectivos veículos. Abertura da Tribuna Livre, para que os cidadãos se manifestem no Congresso, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais. Transparência nas prestações de contas das ONGs, entidades que recebem verbas federais, estaduais, municipais e através de doações. Democracia sem obrigatoriedade em votar vota quem quer. Divulgação da TV Pública em banda larga, com sinal aberto a todo o território nacional. Que as despesas emergenciais, lançadas nos demonstrativos financeiros como despesa de adiantamento, sejam publicadas de forma descritiva. Eixo 2: Assegurar a inserção, na grade curricular do ensino fundamental e médio, de disciplinas que tenham como objetivo transmitir conhecimento dos mecanismos de controle social e promover a prática da gestão participativa nas unidades escolares. Eleição direta para Ouvidores Públicos, regulamentando o funcionamento das Ouvidorias com mecanismos de fiscalização e avaliação sistemática, inclusive, com a realização de pesquisas de satisfação da qualidade dos serviços públicos. Instituição da Ficha Limpa em todos os níveis, abrangendo cargos eletivos e cargos de confiança. Previsão de recursos orçamentários para a realização de cursos de capacitação da comunidade, voltados ao entendimento dos componentes da gestão pública, para assegurar a participação mais efetiva e qualitativa da população nos diversos mecanismos de controle social, por meio de parcerias, convênios e contratos com instituições de ensino públicas e privadas. Capacitar os conselheiros tutelares e instituir um código de ética que permita a punição dos maus conselheiros. Eixo 3: Realização de seminários para discussão das temáticas pertinentes à atuação dos Conselhos, criando mecanismo para melhor atuação, proporcionando a mobilização social. Cumprimento efetivo das legislações federal, estadual e municipal de acessibilidade em todos os espaços de controle social, com sanções pelo não cumprimento. Maior integração entre os Conselhos, formando uma rede para fortalecimento da atuação dos mesmos. Reuniões itinerantes para a realização das atividades dos Conselhos. Criar Conselhos municipais, estaduais e nacional de Transparência e Controle Social. Eixo 4: Extinguir a impunidade e a imunidade formal em todas as Esferas do Poder. Instituir o máximo de dois mandatos consecutivos para todos os cargos do Legislativo, bem como para todas as instâncias da Sociedade 41

42 Civil. Alterar a Lei 8666/93 - Lei de Licitações, visando à modernização de seus procedimentos. Extinção da aposentadoria compulsória com vencimentos vigentes, como forma de punição a Juízes e Promotores. De um modo geral, percebe-se que a transparência da gestão pública e a participação cidadã ativa são temas candentes no município. Para além da criação dos Conselhos municipais, estaduais e nacional de Transparência e Controle Social (mencionado acima), a transparência aparece vinculada às demandas pelo fim do voto secreto no Legislativo, pela eleição direta para Ouvidores Públicos e pela maior transparência e descrição na prestação de contas do Poder Público e das entidades da sociedade civil que recebam verbas públicas por ventura. A participação cidadã ativa e a mobilização popular, por sua vez, aparecem atreladas às demandas pela abertura da Tribuna Livre, pela mudança da grade curricular das escolas (defendendo a inserção de disciplinas que abordem os mecanismos de controle social existentes), pela gestão participativa nas unidades escolares, pela previsão de recursos orçamentários para a realização de cursos de capacitação da comunidade, voltados ao entendimento dos componentes da gestão pública. O Eixo 3, referente à atuação dos Conselhos municipais, é especialmente ilustrativo das principais dificuldades encontradas por esses espaços de gestão participativa hoje e condiz, sobremaneira, com a demanda por maior participação e envolvimento dos cidadãos santistas: 1) Realização de seminários para discussão das temáticas pertinentes à atuação dos Conselhos, criando mecanismo para melhor atuação, proporcionando a mobilização social ; 2) Cumprimento efetivo das legislações federal, estadual e municipal de acessibilidade em todos os espaços de controle social ; e 3) Reuniões itinerantes para a realização das atividades dos Conselhos. Além dos seminários, para qualificação da atuação dos conselheiros, também fica explícita a necessidade de maior articulação entre os Conselhos municipais, para o fortalecimento de suas respectivas atuações. Tendo em vista a centralidade dos Conselhos de Políticas Publicas para a política de gestão participativa de Santos, foram realizados um mapeamento e uma breve qualificação desses espaços a partir dos dados oficiais disponíveis no site da Prefeitura e no próprio Portal dos Conselhos, bem como a partir das entrevistas realizadas com as organizações da sociedade civil. Uma parte dos resultados é esboçada, de forma sintética, no quadro anexo a este trabalho. Além das informações disponíveis nos sites, as informações disponibilizadas pelas organizações da sociedade civil, por meio das entrevistas, serviram para guiar a avaliação dos Conselhos. O quadro acima permite apontar e destacar algumas características gerais, previstas nas legislações que os instituíram e no funcionamento que foi possível aferir. Parece que a totalidade dos Conselhos tem prevista uma composição paritária ou tripartite, o que sinaliza, pelo menos formalmente, a intencionalidade de garantir uma representação equilibrada entre o Poder Público e a sociedade civil. É evidente que a previsão legal não é, por si só, garantidora da representatividade do conjunto da sociedade civil e do equilíbrio na participação entre sociedade civil e Estado. Entretanto, em Santos (ao contrário de outros municípios do litoral paulista), quando não ocorre exatamente paridade numérica entre sociedade civil e Poder Público, parece ao menos prevalecer uma representação favorável à primeira categoria. É o caso do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, por exemplo, bem como do Conselho de Proteção à Vida Animal, do Conselho de Turismo e do Conselho dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Já o Conselho de Políticas Públicas sobre Tabaco, Álcool e outras Drogas pode ser destacado como um caso particular, no qual a legislação prevê a paridade, mas que institui, na prática, uma diferença numérica na representação das partes, pendendo para a maior representação do Poder Público. Em consonância com a demanda por maior participação e envolvimento da sociedade civil nos Conselhos, expressa pelas resoluções da Consocial, houve também quem questionasse o princípio da paridade tal como ele é empregado hoje. O argumento parece se basear no fato de que a paridade legal coloca em posição desfavorável, na prática, a sociedade civil com assento nos Conselhos, frente ao Poder Público, devendo a mesma ter maior representação numérica consequentemente: Em Santos, os Conselhos... esses Conselhos eles tem uma participação muito grande do Executivo municipal... só pra ter uma ideia... no CMDU [Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano] são 41 membros, sendo que 20 são representantes do Executivo... os demais são representantes da sociedade civil e de outras instâncias estaduais, como a AGEM... isso vem do princípio, que eu discordo, da paridade... dá um peso desproporcional aos órgãos públicos.... Outro ponto crítico, no que tange a representação equilibrada entre as partes que compõem os Conselhos, também parece estar relacionado ao fato de que praticamente a metade dos Conselhos municipais (ou doze

43 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 dos vinte e cinco contabilizados 7 ) é presidida pelo Poder Público hoje. Não raras vezes, esse fato pode servir de impeditivo à plena autonomia dos espaços de gestão participativa, influindo sobre o seu real poder de deliberação. Chama atenção, também, que essa presidência do Poder Público recaia sobre boa parte dos Conselhos considerados estratégicos para o município, como o de Desenvolvimento Urbano, o de Desenvolvimento Econômico, o de Emprego, Trabalho e Renda, o de Habitação, o de Turismo, o de Cultura e o de Segurança. No que diz respeito ainda à participação da sociedade civil nos Conselhos e à sua relação com o Poder Público, uma das principais queixas parece residir na fragilidade de atuação desses espaços, enquanto instâncias de participação popular efetiva e de deliberação de políticas públicas, em virtude da manipulação e da influência exercida pelo Poder Público sobre os representantes da sociedade civil indo ao encontro do que foi dito acima. Em muitos casos, inclusive, parecem existir relações pouco transparentes e de favor entre Poder Público e organizações da sociedade civil, segundo relatos das entrevistas: São frágeis e manipulados os Conselhos. Muitos dos conselhos não funcionam bem, pois acabam se configurando mais como ferramenta de manipulação do Poder Público do que um espaço privilegiado para a elaboração de políticas públicas pautadas pelas demandas da sociedade. Não há espaço para participação popular. Santos tem bons conselhos, funcionando e bem estruturados. Mas volta-e-meia existe a influência de algum governo, que emperra alguma coisa; por isso, precisa da participação da sociedade. Infelizmente, existem muitos Conselhos que fecham com a Prefeitura, outras lideranças de movimentos populares, inclusive. Muitos trabalham na Prefeitura ou com políticos, são cabos de alguém. É uma dificuldade. Existe uma fragilidade política também; qualquer Conselho está à mercê de sofrer influência política. Muitas pessoas enxergam os Conselhos como um degrau político. A solução vislumbrada, por sua vez, seria a ampla participação da sociedade nos Conselhos, como forma de controle social permanente. Contudo, existiria uma série de entraves colocados à participação popular efetiva nesses espaços. Entre eles, leis que definem os tipos de entidades civis que deverão ter assento na composição dos Conselhos, resultando em problemas representativos, como o vínculo frágil entre as entidades e os segmentos sociais que deveriam representar; a presença de organizações civis que mantêm laços estreitos de dependência com o Poder Público; ou a grande representação, nos Conselhos, de entidades civis que comungam de interesses e de posições semelhantes às do Poder Público: As pessoas têm interesse em participar, mas são muitos os entraves criados pelo Poder Público para isso se concretizar. Em Santos, temos um grande problema: há uma lei que define que entidades podem participar dos Conselhos, e não a própria sociedade. De vez em quando, vemos coisas absurdas que a gente questiona [referindo-se à participação de ONGs financiadas com verba da Prefeitura, para cumprir funções que seriam do Poder Público]. (...) e, por outro lado, tem um peso grande de representações... identificadas com determinados interesses dominantes da sociedade... eu identifico as posições dessas representações como posições que concordam no essencial... com as posições do Executivo.... São só os interesses do Poder Público. Algumas organizações também se queixaram do baixo nível de participação sistemática dos conselheiros, tanto da sociedade civil quanto do Poder Público, cuja participação mais efetiva se daria em momentos decisivos de votação interna: 7 Sendo que, dos vinte e cinco Conselhos, não foi possível identificar a presidência do Conselho de Assistência Social e nem do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional. 43

44 Eu acho que as organizações estão muito frágeis em sua organização social... elas comparecem praticamente quando é para voto... elas não acompanham diretamente... talvez, sejam muito pequenas.... E a gestão pública que também participa, mas está mais presente nas eleições. O Conselho [de Habitação] trabalha corretamente. Mas a participação das autoridades é pouca. Apesar dos problemas de representação listados acima, vale apontar o fato de que algumas das leis que instituíram os Conselhos de Santos, diferente do que ocorre em outros municípios do litoral paulista, fazem uma distinção entre entidades de idosos, jovens e deficientes, por exemplo, e entidades para idosos, jovens e deficientes que não representam necessariamente os interesses desses segmentos sociais. Os dois tipos de entidades possuem assento nos Conselhos em questão, mas em proporções e enquanto categorias diferentes. O caráter da maioria dos Conselhos de Santos parece ser deliberativo. Formalmente, portanto, esses Conselhos teriam o poder de propor e deliberar sobre as políticas públicas a serem implementadas nas suas respectivas temáticas. Algumas organizações endereçaram avaliações positivas, nesse sentido, no que toca a atuação dos Conselhos municipais: [Os Conselhos funcionam] Perfeitamente. Com poder de deliberação e tudo. Caso contrário, nós não participaríamos... Se não fosse assim, nós não participaríamos. Nós sempre somos atendidos. Os Conselhos cumprem seu papel. Entre os Conselhos deliberativos, receberam elogios os Conselhos de Saúde e de Direitos da Criança e do Adolescente, principalmente, enquanto espaços que cumpririam o seu papel de elaboração de políticas públicas. Entretanto, chama atenção o fato de que nove dos vinte e cinco Conselhos contabilizados sejam de natureza apenas consultiva, o que é proporcionalmente significativo. Além disso, são consultivos muitos dos Conselhos de cunho estratégico para o município (e que, portanto, deveriam estar abertos à deliberação efetiva e democrática por parte da sociedade), como os Conselhos de Desenvolvimento Urbano, de Segurança Municipal, de Segurança Alimentar e Nutricional, de Turismo, de Entidades de Bairro e de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra. O resultado, apontado por algumas das organizações entrevistadas, seria o enfraquecimento do real poder dos Conselhos de incidir sobre os rumos das políticas públicas que lhe dizem respeito: Funcionam regularmente. O que existe é o seguinte: por lei, não pode ter nenhuma alteração do Plano Diretor sem consultar o Conselho [de Desenvolvimento Urbano], mas o Conselho é consultivo apenas. A decisão final cabe ao Secretário. Outra organização, por sua vez, destacou o problema da fragmentação existente entre as diversas atuações dos Conselhos, faltando uma maior articulação, entre esses espaços de gestão participativa, como forma de fortalecer as suas respectivas atuações. Essa crítica encontra ressonância, inclusive, nas demandas apresentadas pela Consocial de Santos, especificamente, no Eixo 3, sobre a atuação dos Conselhos: Os serviços muito segmentados, o que prejudica a comunidade no fim das contas. Isso diz respeito, inclusive, aos Conselhos, que acabam não conseguindo construir política, principalmente por conta do número de tarefas. Falta o estabelecimento de equipes técnicas por exemplo. Maior integração entre os Conselhos, formando uma rede para fortalecimento da atuação dos mesmos [proposta apresentada no Eixo 3 da Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social de Santos]. Faltam informações para avaliar a incidência dos Conselhos no Orçamento Público do município, principalmente, na discussão geral do Orçamento. Alguns Conselhos (sobretudo, aqueles vinculados a sistemas nacionais de políticas públicas, como os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Saúde, da Assistência Social e do FUNDEB) possuem Fundos municipais próprios especificados por lei, pelos quais são responsáveis no que toca a deliberação e a fiscalização da aplicação de seus recursos. Além dos listados acima, possui Fundo próprio também o Conselho de Habitação, responsável pelo Fundo de Incentivo à Construção de Habitação Popular FINCOHAP. É interessante notar que o Conselho de Desenvolvimento

45 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Urbano dispõe de Fundo semelhante, contudo, a lei que o institui prevê apenas, como atribuição do Conselho, a apresentação de propostas e a sua opinião anual sobre a programação do Fundo de Desenvolvimento Urbano, bem como sobre o acompanhamento e a avaliação da gestão econômica do Fundo. Portanto, não possui poder deliberativo, de fato, sobre a aplicação dos recursos do Fundo (correspondendo à sua natureza consultiva a priori). Aliado ao pequeno número de Conselhos com Fundos estabelecidos por lei, soma-se, portanto, a característica de que poucos parecem dispor do poder de decisão da aplicação dos recursos destinados aos Fundos. De acordo com a indicação de uma das organizações entrevistadas, parece existir uma cisão entre a deliberação das políticas feitas pelos conselheiros e a decisão de aplicação dos recursos públicos reservados aos Fundos, afetando diretamente o grau de autonomia final dos Conselhos: O Fundo Municipal da Criança e do Adolescente é composto por diferentes segmentos. Quem decide o que pode, ou que não pode gastar, não é a pessoa que está lá, decidindo as políticas para a criança e o adolescente, mas o burocrata, que fica batendo carimbo.... Quer dizer, não existe toda uma questão de autonomia dos Conselhos. Tá tudo lá, parado [os recursos]. O município consegue captar recursos, mas, muitas vezes, pela burocracia e pelos burocratas.... A capacidade e a possibilidade dos Conselhos de intervirem, no Orçamento Público, se tornam ainda mais restritas quando se constata que não existem espaços públicos específicos para esse fim, que possibilitem a participação e a intervenção da sociedade na definição e na priorização de políticas, no âmbito do processo orçamentário (através, por exemplo, do Orçamento Participativo, instrumento amplamente conhecido no país). Segundo os relatos obtidos, a experiência do Orçamento Participativo não teria vingado em Santos: Nunca funcionou aqui, em Santos. Em São Vicente, teve uma experiência que avançou mais. A falta de infraestrutura necessária à realização das atividades dos Conselhos não foi mencionada, tanto pelos entrevistados quanto pelas demandas apresentadas na Consocial, como um ponto crítico ao funcionamento desses espaços de gestão participativa (diferente do que ocorre em outros municípios do litoral paulista). Conforme aponta a tabela acima, os Conselhos são vinculados ao Poder Executivo municipal por meio das Secretarias municipais, as quais são responsáveis, por lei, pela manutenção da infraestrutura básica e do apoio administrativo aos Conselhos, para o funcionamento regular de suas atividades. Uma das organizações, entretanto, apontou a ausência de dotação orçamentária própria, prevista por lei, enquanto um sério impeditivo à consecução de algumas atividades internas dos Conselhos (e que também pode implicar uma perda relativa de autonomia desses espaços em relação ao Poder público): Os nossos Conselhos não têm dotação [orçamentária]. Quer dizer, você tem que ficar passando o chapéu... [para ir às atividades, ou para contratar consultorias de fora, para capacitar os conselheiros]. Em relação aos canais institucionais de comunicação, entre Conselhos e sociedade, parece ter havido uma melhora no nível de transparência e na divulgação das resoluções e do funcionamento desses espaços nos últimos anos. Tal fato pode ser atribuído, em parte, à construção do site Portal dos Conselhos : [De maneira geral] apesar de ainda estarem aquém do funcionamento que seria apropriado, nos últimos anos, a divulgação desses espaços e seus resultados pelo Poder Público melhorou muito. Parece não haver atividades formativas regulares e sistemáticas para os conselheiros. Segundo algumas organizações entrevistadas, a ausência de dotação orçamentária própria, prevista por lei, bem como a existência (em alguns casos) de um Fundo gerido pela burocracia estatal, seriam entraves colocados ao financiamento de consultorias externas para a capacitação dos conselheiros: O CMDCA consegue mais facilmente, hoje, financiar o conserto de uma cozinha do que uma pesquisa, uma consultoria, um projeto. Outras organizações, por sua vez, destacaram os problemas de participação da sociedade civil originados, em parte, da falta de uma política sistemática de formação dos conselheiros. Desconhecimento das atribuições 45

46 dos Conselhos, individualismo e desigualdade de condições de intervenção efetiva nesses espaços, entre Poder Público e sociedade civil, estão entre os problemas listados: (...) os Conselhos ainda não compreenderam a sua função (o que pode e o que não pode); a gente ainda está experimentando muito sobre o tema, acho que faz parte de um caminho para uma nova instituição. As pessoas estarem ainda se acostumando com a participação, elas não sabem ainda o que podem dentro de um Conselho... precisa criar essa cultura. Ele é paritário. De um lado, você tem os técnicos da Prefeitura, que têm as informações. De outro lado, você tem a população que não foi capacitada e que tem aquela cultura do individualismo que nos é particular. A demanda por capacitação, inclusive, foi formulada em proposição específica, no Eixo 3 da Consocial, sob a forma de seminários de discussão das temáticas pertinentes aos Conselhos, como forma de fortalecer a atuação dos conselheiros e de mobilizar a sociedade. Nesse ponto, a capacidade de discutir e de interferir nas políticas públicas, o conhecimento sobre o processo orçamentário, o conhecimento da temática tratada pelo respectivo Conselho, bem como da questão da autonomia, da representação e da representatividade, se apresentam como temáticas importantes para os processos formativos a serem desencadeados, fortalecendo a atuação dos conselheiros nos seus espaços e o próprio funcionamento dos Conselhos: Realização de seminários para discussão das temáticas pertinentes à atuação dos Conselhos, criando mecanismo para melhor atuação, proporcionando a mobilização social [proposta apresentada no Eixo 3 da Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social de Santos]. Partindo das legislações que os instituíram, de um total de vinte e cinco Conselhos municipais de Políticas Públicas, cerca de onze Conselhos preveem a possibilidade de se convocar e propor Conferências públicas, instrumentos importantes para a definição das grandes diretrizes das respectivas políticas públicas que serão implementadas no município, com a participação de todos os segmentos relacionados com a temática. Seria importante, nesse sentido, explicitar essa atribuição específica nas legislações que instituíram os outros catorze Conselhos, garantindo-lhes a necessária autonomia. Os Conselhos com possibilidade para propor e organizar Conferências municipais são, em geral, aqueles vinculados a sistemas nacionais de políticas públicas (como Saúde, Assistência Social, Idoso e Cultura). No caso de Santos, parece não haver essa atribuição específica na legislação do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, embora o Conselho convoque Conferências municipais regulares na prática. Além desses, as legislações dos Conselhos dos Direitos das Pessoas com Deficiência, de Habitação, de Juventude, de Emprego, Trabalho e Renda, de Segurança Alimentar e Nutricional, de Proteção à Vida Animal e de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra preveem a proposição e organização de Conferências municipais. Contudo, as legislações de alguns Conselhos estratégicos - como de Meio Ambiente, de Desenvolvimento Urbano, de Turismo, de Desenvolvimento Econômico, de Educação e de Segurança não estipulam a convocação regular desses espaços participativos importantes. Está prevista uma periodicidade mensal para as reuniões ordinárias de praticamente todos os Conselhos, além de possíveis reuniões extraordinárias quando necessário. A regularidade no funcionamento dos Conselhos municipais, conforme definem as suas legislações, parece ser um ponto positivo frequentemente mencionado pelas organizações entrevistadas. A despeito das outras críticas elencadas acima (sobretudo, no que se refere à representação da sociedade civil e ao caráter pouco deliberativo e autônomo de alguns Conselhos), parece prevalecer a imagem de que esses espaços de gestão participativa funcionam regularmente. Se o funcionamento ainda não é considerado ideal, para algumas organizações, por outro lado, existe o reconhecimento de que estão em situação mais favorável do que aquela verificada em municípios vizinhos: Santos tem bons conselhos, funcionando e bem estruturados. E é o melhorzinho da região [os Conselhos em Santos] Leitura Comunitária: Visão do Município e os Desafios para o Desenvolvimento Sustentável (O olhar da sociedade civil organizada e o olhar dos moradores pela pesquisa de opinião) As considerações, abaixo, resultam do processo participativo desencadeado no município de Santos, junto às organizações da sociedade civil, por meio de entrevistas, além de uma Oficina Pública com a participação de mais de 50 pessoas, representando 27 instituições. Além disso, foi realizada uma pesquisa qualitativa junto a

47 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 quatro grupos de moradores de Santos, sendo dois de classe econômica CD e dois com perfil de classe AB 8. É importante destacar que reuniões de articulação, com algumas organizações locais da sociedade civil, também antecederam as entrevistas e a Oficina Pública. Os dados resultantes desse processo foram compilados e sistematizados abaixo, procurando refletir as principais questões e visões apresentadas sobre o município, suas políticas públicas, perspectivas de desenvolvimento e visão sobre os possíveis impactos dos grandes projetos previstos para o litoral paulista. Procuramos explicitar, no texto, os diferentes pontos de vista dos mais variados segmentos entrevistados e os interesses diversos evidenciados pelos mesmos, sempre a partir de uma perspectiva democrática e inclusiva, no sentido de considerar legítimas todas as opiniões que se colocaram, ainda que contraditórias e/ou excludentes entre si. As citações destacadas são ilustrativas das sínteses alcançadas A Gestão Pública e as Políticas Públicas em Santos Gestão Pública A avaliação da gestão pública, por parte dos entrevistados e dos participantes da Oficina Pública, apontou para uma gama de diferentes problemas no município (ainda que complementares entre si), compondo, destarte, um rico mosaico de percepções sobre o tema. Essa pluralidade de opiniões, por sua vez, permitiu a elaboração de um quadro geral sobre a gestão pública de Santos. Parece ser consenso a percepção de que Santos possui lugar de destaque, hoje, no cenário regional, enquanto cidade de referência da Baixada Santista por sua importância histórica, política e socioeconômica (fato que parece se consumar, sobremaneira, diante dos novos empreendimentos previstos e em andamento no litoral). Além disso (e, em parte, por essa mesma razão), Santos também usufruiria de melhores condições em termos de infraestrutura e de serviços públicos, tendo conquistado o reconhecimento regional em diversas áreas das políticas públicas, ao longo das últimas duas décadas. Nessa perspectiva, poderia se dizer que Santos ocupa, dentro de uma rede de relações e de hierarquia de lugares, uma posição privilegiada comparada aos demais municípios do entorno: Ele tem oportunidade de oferecer uma gama de serviços maior, por ser mais estruturado [Santos]. Santos é uma cidade que se destaca por ter uma estrutura melhor para implantação de políticas públicas. Uma cidade maravilhosa para morar, tem tudo perto. Eu não saio de carro para nada, é tudo a pé, tem padaria, tem supermercado, tem tudo, um colado um no outro (segmento AB). Eu morava no Taboão, eu já morei na favela, na favela do Pantanal, hoje são prédios da COHAB maravilhosos (segmento CD). Essa mesma posição regional privilegiada, por outro lado, estaria entre as causas de muitos dos problemas enfrentados pelos serviços públicos, como será observado abaixo, devido ao peso significativo da demanda externa sobre os serviços e equipamentos públicos do município. De modo geral, portanto, parece prevalecer a percepção de que Santos seria uma cidade completa e estruturada, mas com um longo caminho para aperfeiçoar seus serviços públicos, ainda que sempre em posição mais favorável do que os seus municípios vizinhos: É uma cidade moderna, referência, então, você imagine o que acontece por aí afora.... Tem dificuldade como as outras cidades, mas comparando com as outras cidades, Santos é mais confortável que todas as outras (segmento CD). 8 Será indicado, no texto, quando se trata do segmento AB ou CD, na tentativa de identificar possíveis diferenças caracterizadas pelo viés econômico. 47

48 Em termos de concepção política, um dos entrevistados destacou que, no imediato período pós-constituição Federal de 1988, o exercício de pensar e de elaborar políticas públicas para a cidade de Santos teve um caráter mais inovador. Hoje, esse ideal teria se perdido dentro da gestão municipal, predominando uma lógica voltada mais à manutenção do que à inovação e ao planejamento no terreno das políticas públicas. Esse fato seria agravado, ademais, quando colocado em contraposição ao aumento exponencial do orçamento municipal, ao longo dos anos: O orçamento aumentou 39 vezes, e o esforço de planejamento de políticas públicas não acompanhou essa expansão com a mesma intensidade, também não aproveitou esse aumento para inovar. Ao contrastar o montante do orçamento público disponível e os poucos avanços recentes no que toca os serviços públicos, alguns entrevistados da sociedade civil organizada sugerem que o entrave ao desenvolvimento da cidade seria a falta de vontade política ou, por vezes, o desvio ilícito de verba pública. Aliado à falta de inovação na proposição de políticas públicas e ao enriquecimento da cidade ao longo dos anos, que fez aumentar a arrecadação orçamentária sem significar necessariamente maiores avanços nos serviços públicos oferecidos, parece prevalecer, para alguns, a percepção de que o foco das políticas públicas e dos investimentos gira mais em torno das demandas levantadas pelas grandes empresas, que lideram os setores econômicos de peso na região, do que propriamente em torno das demandas da população local: As políticas públicas, que estão vindo pra cá, estão atendendo muito mais as demandas das grandes empresas, principalmente da construção civil, do que as outras [da população]. Nós [da população de Santos] somos invisíveis nessa questão [dos investimentos na região]. Outros entrevistados, por sua vez, somando-se à opinião dos demais moradores ouvidos na pesquisa sinalizaram para a distribuição desigual dos serviços públicos no espaço e, consequentemente, para a atenção diferenciada da gestão pública ao se debruçar sobre o território santista. Mesmo entre o segmento AB entrevistado, há quem aponte que Santos é uma cidade cheia de contrastes. Um mini Rio de Janeiro que tem a favela e a cidade linda, tudo ao mesmo tempo. O lado nobre é bem atendido e o lado pobre tem diferença. É a mesma coisa: você vai na Policlínica, na Ponta da Praia, é um atendimento, se vai na periferia é outra coisa (segmento CD). As desigualdades na acessibilidade aos serviços públicos e à infraestrutura, plasmadas no território, foram identificadas nas falas de alguns dos entrevistados da sociedade civil, ao pontuarem as diferenças entre as áreas turísticas e centrais da cidade e as áreas continental e degradada do centro antigo. A gestão pública de Santos teria investido em algumas melhorias positivas, segundo um interlocutor, como: o processo de revitalização do centro, a avenida da praia, as áreas de lazer (parques, aquário, horto, bondinho). Contudo, faz uma ressalva: É ótimo, mas pro outro lado do centro da cidade. Melhorou também o morro, Zona Noroeste e área central, mas nesta área não funcionam as coisas, referindo-se à região esquecida do centro antigo, onde se encontram os cortiços. Também foi mencionada a presença constante de usuários de drogas nessa região, que, de acordo com o mesmo interlocutor, seria devido a uma prática sistemática, por parte do Poder Público local, de recolher os usuários espalhados em outros pontos da cidade e de depositá-los na região do centro: As pessoas são pegas de toda a cidade e jogadas aqui. Tal prática apontaria para uma postura de gestão pública pautada antes pelo embelezamento dos espaços nobres da cidade, voltada à preocupação com as áreas turísticas, do que pela integração territorial, pela inclusão social de seus cidadãos ou pela vivência plena do direito à cidade por parte de todos. Uma miríade de outros problemas da gestão pública foi identificada pelos entrevistados. Junto com alguns moradores, indicaram a ausência de articulação e de planejamento conjunto, entre as políticas públicas, como um forte fator prejudicial à eficácia da gestão: O que falta é uma organização, para que o trabalho em rede possa acontecer. Os diferentes serviços de diferentes áreas não se conversam. Isso falta. Os serviços muito segmentados, o que prejudica a comunidade no fim das contas. Isso diz respeito, inclusive, aos conselhos, que acabam não conseguindo construir política, principalmente por conta do número de tarefas. O cara constrói uma ciclovia no meio da Francisco Glicério, termina a ciclovia e ele destrói para aumentar a rua. Faz a obra duas vezes. Agora vai fazer o VLT, só que ele fez a ciclovia, então ele vai ter que quebrar de novo (segmento AB).

49 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Outra organização mencionou a falta de uma cultura de avaliação local como um grave problema, sinalizando para o fato de que o ciclo habitual de implementação das políticas públicas (formulação, implementação, monitoramento e avaliação), em Santos, não chegaria a termo: Monitoramento e avaliação não é coisa que faz parte das politicas públicas. Vem sempre gente de fora trabalhar os indicadores do município... é complicado isso... não existe uma cultura de avaliação. Você fica enxugando gelo. Você não para de ficar fazendo orçamento, não para de ficar fazendo plano.... No tocante à avaliação e ao monitoramento, a mesma organização pontua um dado a mais, destacando que queixas ou reclamações são, muitas vezes, repassadas através de uma rede informal metropolitana de funcionários públicos e de moradores, mesmo que não haja articulação e comunicação entre as Prefeituras: O que prevalece é a rede informal mesmo... [as reclamações passam de um assistente social daqui para outro de Peruíbe, sobre uma infração]. Pode não haver uma integração entre as Prefeituras, mas entre os moradores tem. É a metropolização do cidadão. Esses limites que existem, que são geográficos e que são tênues, acabam não existindo para a população. Por fim, também foi apontado o baixo grau de eficiência e de eficácia da gestão pública causado pelo excesso de burocracia estatal: Tudo é muito burocrático. Tudo custa muito mais caro e não caminha. Tá tudo lá, parado [os recursos]. O município consegue captar recursos, mas, muitas vezes, pela burocracia e pelos burocratas.... Outra organização entrevistada procurou frisar as características peculiares da gestão pública de Santos, comparando-a à gestão de Cubatão, indicando (em Santos) a existência de uma estrutura já consolidada de funcionamento, com todos os trâmites burocráticos e formalidades pré-definidos, digna de uma cidade de grande porte e que possui um largo histórico de vida política. Por outro lado - e por contar com uma rede de relações políticas já consolidada -, organizações e grupos de fora encontrariam maior resistência à atuação conjunta com a gestão pública de Santos: Em Santos, a gente ainda é olhado como quem é de fora. Cubatão é muito mais rápido em relação a isso. Em Cubatão, as coisas fluíram de outro modo. Em Santos, tem que namorar, as pessoas são mais desconfiadas. Políticas Públicas A avaliação dos serviços públicos de saúde costuma levar em consideração, com frequência, a situação da saúde em âmbito nacional. Em geral, avalia-se que o serviço de saúde do município é insuficiente e insatisfatório; contudo, o fato parece ser contemporizado, através de uma perspectiva que coloca em escala a situação da saúde em Santos, nos municípios vizinhos e no Brasil, prevalecendo um contraste favorável para Santos: A saúde não é só em Santos, é no Brasil... é um problema crônico!. A saúde é um problema aqui, mas é um problema nacional também. A saúde é um problema que preocupa todos nós. Em Santos, ainda não é tão crítica [a saúde], mas, mesmo assim, não é um modelo a ser copiado. Na área da saúde, Santos é muito boa. Perto das outras, é muito bom, senão não teria gente vindo de Mongaguá, de Guarujá, tudo vem para cá (segmento AB). Não é assim tão boa, mas em comparação com as outras, é bem melhor (segmento CD). 49

50 A insatisfação com o serviço é maior a depender dos setores populacionais entrevistados. Regiões afastadas do centro da cidade ou tidas como esquecidas pelo Poder Público, como partes da área continental, da zona noroeste e da região antiga do porto, sentem ser as mais lesadas nos quesitos de acessibilidade e de qualidade no tratamento prestado: Como a gente é da classe última, a gente sente na pele a questão da saúde. Além disso, quanto às assistentes sociais do próprio serviço de saúde, só uma ou duas que realmente o são. O resto é policial. A pessoa já não está bem e fica pior. Fazem de tudo pra não mostrar os direitos de cada um. Problemas é o que não faltam na área de saúde, aqui, em Santos. A saúde... não tenho muito o que falar... aqui é médico da família, não é pronto-socorro... é consultas, não é pronto-atendimento.... Tem uma ambulância que é do SUS. Você pode estar morrendo, se você ligar, ele não vai, só se a central mandar ele ir.... Eu digo que estou com dor de cabeça, ele me manda para um especialista em Santos... [como se o seu bairro não fosse considerado parte da cidade]. Ela está falando da convivência boa dela com os médicos, quem tem dentista, mas é porque, no Gonzaga, é considerado nobre. Onde eu moro, no bairro de Aparecida, lá não é essa maravilha que você está falando (segmento CD). Entre os problemas listados, figuram aqueles relativos à insuficiente infraestrutura, para atender toda a demanda da população local, faltando mais médicos - inclusive, especializados. O mau atendimento tende a ser justificado, tendo em vista as condições de trabalho dos profissionais de saúde, que recebem baixa remuneração e trabalham excessivamente, para compensar a falta de mais médicos: Os centros de atendimento de Santos não dão conta da demanda, nem em pessoal, nem em estrutura. (...) são seis médicos para seis mil moradores... se um morador for hoje, no final de junho, ele só consegue para final de agosto... eu acho que Santos tem muito problema na prevenção e atendimento, encaminhamento. Saúde aqui está cruel. Vou te falar: o meu filho mais velho é policial. Ele passou mal e pensei vou levar pra CPI. Cheguei lá, e o que é que tem lá? Não tem ambulatório, tem um médico e o papel desse médico é mandar a pessoa ir ao CREI ou a outro pronto-socorro.... O CREI é uma bagunça, uma desorganização geral. Nem te examinam, nem põe a mão... E superlotado. Eu acho que muito também é descaso. Serviços, em Santos, são péssimos. Você vai pro hospital, não tem pediatra. Todo mundo tem medo de morrer. Especialidade é muito complicado. Se você marca o ginecologista e ele pede ultrassom, você vai fazer daqui a dois meses (segmento CD). Já faz três meses que não tem medicação (segmento CD). Antigamente, tinha quantidade de médicos, tinha três pediatras por dia, em três horários diferentes, hoje só tem um (...) os equipamentos não estão funcionado, é tudo ultrapassado (...). O atendimento é péssimo dos funcionários (segmento AB). Médicos alegam baixos salários e falta mão de obra, o que também compromete o atendimento. É um problema de gestão, condições de trabalho e baixa remuneração, o que compromete o alcance do serviço no município. Também existe um grande número de profissionais não capacitados, uma condição que, inclusive, acaba estimulando processos como o do aumento da medicalização indiscriminada. Outro problema de grande destaque, que permeou o discurso dos mais diferentes interlocutores, diz respeito ao agravamento do serviço de saúde local em virtude da grande demanda externa vinda de outros municípios do entorno. A infraestrutura municipal ficaria ainda mais fragilizada, na medida em que Santos é

51 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 vista enquanto uma referência regional na área da saúde. Afora isso, a cidade sofreria com a demanda adicional da população flutuante que vem curtir as altas temporadas no litoral: Na área da saúde, especificamente, a gente tem Santos como polo da região, e tem os outros municípios que começaram a se organizar tardiamente. Os mais tímidos, que ficam dependendo muito da ajuda de outros municípios, são Mongaguá e Bertioga. Política de saúde não é prioritária para o governo. Hoje, o serviço não consegue absorver a demanda, que ainda é engrossada pela procura dos habitantes de cidades vizinhas, onde o setor de saúde funciona ainda pior. A população aqui é muito flutuante. No verão, é muito maior que as 500 mil que, mais ou menos, existem na cidade. E a cidade não tem uma estrutura, pra um atendimento adequado, nem pra essas 500 mil pessoas. Vem muita gente de fora, vem gente de São Vicente, de Praia Grande, então já é ruim e piora mais ainda. O dia que os prefeitos falarem que o hospital de Santos vai atender só quem mora na cidade, daí melhora e muito (segmento CD). Porque Santos recebe as outras cidades; recebe todas as cidades da Baixada Santista na emergência, eles poderiam ter uma filtragem. (...) Aumentou também a procura por esse serviço até por ter aumentado o número de turistas, outras cidades vem procurar ajuda aqui... (segmento AB). Diante desse cenário, há ainda quem volte os olhos para o futuro, prevendo uma maior debilidade nos serviços de saúde, por conta do potencial aumento demográfico gerado pelas expectativas em torno do crescimento econômico da cidade: O que acontece na saúde, aqui de Santos, é um absurdo, porque Santos é uma cidade muito populosa. E nossa saúde não consegue atender a demanda... Santos não está preparada para receber essa demanda de gente aqui... impacta mais ainda esse problema...é impactado especialmente por essas megalomanias.. olha, o porto vai crescer, não sei quê lá...o Pré-sal, não sei das quantas.... De forma mais pontual, surgiram queixas, também, em relação à gestão pública do serviço de saúde. Uma das organizações entrevistadas fez menção à inexistência de uma política efetiva de articulação entre a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Assistência Social (intersetorialidade), bem como à ausência de um planejamento baseado em diagnósticos concretos dos problemas que afligem a Saúde municipal, para resolvê-los efetivamente: Falta uma política pública integrada entre Saúde e Assistência Social, para atender, sobretudo, os deficientes. Para todos os segmentos populacionais também. Na Saúde, por exemplo, falta diagnóstico dos problemas. Vai no achismo.... Já os participantes da oficina pública criticaram a concepção do funcionamento da Saúde no município, hoje pautada por políticas pontuais, como os dias de campanha (o que parece dialogar com a ausência de diagnósticos concretos, mencionado acima): Um grande problema que tem é na saúde... é um dia de sei do quê, outro dia de sei do quê lá... As outras especialidades fazem campanha uma vez [ou outra]... a AIDS faz até mais campanhas... faz um trabalho mais firme... as outras especialidades deveriam fazer a mesma coisa. Quando o assunto é educação, as opiniões se dividem. Os representantes de organizações da sociedade civil mostram-se mais críticos. Apontam o número insuficiente de escolas e creches na cidade e, mais ainda, de escolas que ofereçam educação integral de qualidade para as crianças matriculadas. Semelhante à avaliação da saúde, as críticas mais contundentes costumam vir dos segmentos populacionais dos bairros mais afastados do centro da cidade ou dos bairros mais carentes de toda sorte de infraestrutura urbana. No caso dos participantes dos grupos de pesquisa de ambos os segmentos sociais, a avaliação tende a ser mais positiva. Destacam a melhor situação do ensino municipal face ao estadual. Os moradores 51

52 entrevistados de classe CD valorizam a entrega de uniformes e material escolar, ainda que se refiram ao atraso na sua entrega aos alunos da rede. Ainda são muitas crianças fora da escola... e muitas crianças sem creche... tão construindo muita cadeia... tem que dar é futuro para essas crianças. Faltam escolas, e escolas de período integral e de qualidade... as escolas viram depósitos de criança... não tem esporte, não tem alimentação.... Os professores têm dificuldade de se locomover de Santos pra aqui. Não tem computadores... [referindose ao seu bairro da área continental]. Educação aqui é complicada. Eu acho que o que deu um passo a mais foi a educação. As crianças tem uniforme,material e isso não tinha há uns anos atrás (...) como foi falado, melhorou, eles estão dando uniforme, mas as aulas começam em janeiro, e eles estão dando o uniforme e material em junho (segmento CD). A educação de 1ª à 5ª série é ótima. Se eu tivesse condições de ter meus filhos na escola particular, eu não teria porque está ótimo. Agora da 6ª à 9ª sai de baixo, não tem professores (...) eu acompanho minha afilhada que estuda nos Andradas, no BNH, e é de ótima qualidade (segmento AB). Entre os segmentos organizados, a ideia da Escola Total foi mencionada algumas vezes, como um modelo a ser seguido no plano educacional, embora esteja aquém do desejado ainda, por falta de mais infraestrutura, recursos humanos e qualidade na gestão. Quanto aos grupos de pesquisa, a Escola Total é citada e valorizada por alguns moradores de classe AB. O fato de um projeto de tal envergadura não ser citado pelos segmentos CD pode ser um indicativo de que ele ainda não alcançou o grau de universalização desejável. A Escola Total (integral) foi uma grande conquista. A ideia da Escola Total é boa, o problema é a infraestrutura. Às vezes, não tem professor, não tem pessoal, então, as crianças ficam no pátio, convivendo com crianças maiores, sem nenhuma atividade. Agora não sei, mas estava faltando até alimentação. Isso são coisas que as mulheres contam pra gente aqui. Elas têm reclamado muito sobre essa questão. A Escola Total seria boa, o que tá faltando é gestão. O que tá faltando é que não tá funcionando. Tem Escola Total para as crianças, elas passam o dia inteiro lá com atividades, quem não fez a lição de casa tem uma professora que ajuda. Eu pago para o meu filho o que eles tem lá de graça. Tem tae-kwondo, eles lancham na escola... (segmento AB). Outra queixa apontada pelas organizações ouvidas refere-se à quantidade insuficiente de professores na rede pública, que sobrecarregaria de trabalho o quadro de profissionais existente: As crianças são mal formadas... faltam professores na rede pública. Hoje, o professor trabalha demais. Os professores morrendo de câncer nas cordas vocais, e não botam microfone nas salas de aula. Por outro lado, também foi destacado, por algumas organizações, o baixo grau de qualificação e preparo profissional dos educadores e a ausência de uma política sistemática de supervisão e de inovação pedagógica no ensino público, mais voltada às questões candentes enfrentadas pelos jovens hoje, comprometendo a formação de qualidade nas escolas: O ensino está mal. As crianças passam sem saber nada direito. As professoras são mais problemáticas que as crianças... Há muita discriminação.... Há muitos problemas no atendimento às pessoas com deficiência. Falta preparo profissional, principalmente. A educação básica continua o mesmo nó de sempre... a escola pública eu acho que não muda, fica na mesma situação.... Dificuldade de diagnóstico, de supervisão de equipe... As próprias equipes da escola não são preparadas para dar resposta aos professores.

53 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Crack, sexualidade, diversidade sexual, inclusão digital... a gente não está preparado... A gente fala tanto em inclusão digital, mas ainda tem problema de giz que quebra. Deveriam contratar gente das universidades para dar consultoria para os professores, mas pensando numa determinada linha de formação. Que mudasse paradigmas. Muitas vezes, a gente sente que é um negócio só para inglês ver.... Vale ressaltar que, na discussão sobre educação, o foco das atenções recaiu mais no ensino público fundamental e menos no ensino superior. Parece ser consenso a existência de uma grande oferta de faculdades e universidades em Santos, embora a maioria seja instituições privadas. De todo modo, o ensino superior sempre aparece associado à discussão sobre emprego e renda, através da qualificação profissional, para inserção no mercado de trabalho e para obtenção de empregos socialmente valorizados, como os da Petrobras. Uma das organizações entrevistadas destacou, contudo, além da insuficiência de vagas em universidade públicas, o número insuficiente de instituições para atender a demanda regional. Assim como no caso da saúde, Santos seria referência regional no tocante ao ensino superior: Está muito aquém do que a região precisa. E só tem em Santos e São Vicente. A região da Baixada, como um todo, não dispõe de muitas possiblidades. Santos parece gozar das vantagens e dos problemas comuns a uma grande cidade brasileira no que toca as políticas públicas de incentivo à cultura. A atividade turística parece concentrar, em torno de si, boa parte dos investimentos em cultura, por ser ainda um setor de peso na economia local. Além disso, essas políticas culturais também tenderiam a privilegiar as áreas centrais e nobres da cidade, incentivando, sobremaneira, atividades de lazer e recreação ao ar livre, na avenida da praia principalmente, consideradas como a identidade cultural de Santos por uma das organizações entrevistadas (junto à manifestação do carnaval). O fato da avaliação da cena cultural do município ter suscitado mais críticas e comentários por parte da sociedade civil organizada dos bairros mais afastados do centro da cidade (como a área continental) ou dos bairros mais carentes de infraestrutura urbana é revelador da distribuição desigual dos equipamentos e dos investimentos culturais públicos no território, indicando, talvez, uma concentração desses recursos. Nos grupos de pesquisa, foram os segmentos de classe socioeconômica AB que mais discorreram sobre o tema, sempre enaltecendo as opções existentes, o que corrobora com a opinião acima da sociedade organizada. Cabe mencionar que os participantes dos quatro grupos lamentaram o fim das atividades realizadas na Concha Acústica/ shows na praia, assim como, no geral, aprovaram a mudança do carnaval para a Zona Noroeste, com vistas a preservar os jardins da orla, por todos valorizados e citados como um dos orgulhos da cidade. Cultura popular jovem não recebe estímulo, investimento ou atenção. O investimento em cultura vai bem, mas para um público muito restrito. Além disso, mais equipamentos de cultura e lazer... a gente tinha alunos que não conheciam o cinema... e que funcionem nos finais de semana... para ter atividades e essas crianças não estarem nas ruas.... Há pouco incentivo para a prática de esportes. Aqui, nós não temos um cinema, um lugar para pessoas idosas... tivemos casos de pessoas deprimidas se enforcarem... porque não têm convivência com nada... Aqui, só tem igreja ou bar. Você escolhe. Aqui, falta lugar para se distrair... tudo é em Santos! Lá tem tudo. Lá tem feirinha de artesanato. O Meio Ambiente não deixa você montar uma barraquinha para vender aqui [referindo-se ao bairro da área continental onde reside]. Santos tem um polo cultural de elite, porém, com uma cena cultural que é ruim. Aqui tem o SESC, sempre está tendo coisas no Coliseu, na Pinacoteca (...) tem essas tendas de verão (...) acho que tem bastante coisa de graça e o que não é de graça é barato (...) o teatro Guarany foi restaurado, mas não é divulgado (...) eu acho que o Coliseu também não é divulgado e é caro (segmento AB). 53

54 Lazer é só praia (...) aqui, para ir numa casa de show, tem que ir numa cidade mais próxima ou então pagar muito caro (...) de dia, tem o Aquário que paga R$ 5,00 para entrar (segmento CD). Vale notar que apenas uma organização fez menção aos acontecimentos recentes na cena musical de Santos, que envolveu denúncias de assassinatos de cantores de funk por parte de grupos internos da Polícia Militar: A cena musical que domina, em Santos, é o funk. A cena hoje sofre muita repressão da PM. Recentemente, dois MCs foram executados por PMs. Três dos assassinos já foram detidos. No que toca às políticas públicas de emprego e renda, a maior parte das críticas reside na necessidade urgente do Poder Público centrar seus esforços na promoção da qualificação profissional, de forma abrangente, voltada à população local. Quase todas as organizações da sociedade civil entrevistadas e participantes da oficina pública destacaram, em algum momento e com exemplos particulares, a persistência de um padrão econômico que importa mão de obra de fora, sobretudo, para atividades de baixa remuneração, como no ramo da construção civil: Poxa, mas para bater concreto, precisa trazer gente de fora, não podia contratar gente daqui?. Vem de fora, vem de fora... e, muitas vezes, vem de fora trazendo a mão de obra de fora mascarada... [se inscrevem no CAT (Centro de Atendimento ao Trabalhador) para dizer que foi trabalhador municipal]. Traz 200 funcionários de Minas [Gerais]... inclusive, empreiteira da Petrobras. Um dos participantes da oficina e uma das organizações entrevistadas fizeram uma ponderação nesse quesito, pontuando a existência de demanda contínua por mão de obra, para os empreendimentos da construção civil, ao mesmo tempo em que não existiriam trabalhadores locais para esse tipo de emprego justificando, desse modo, a vinda de mão de obra de fora. Foi mencionada, inclusive, a iniciativa do SENAI nesse setor, que tem aberto cursos em Santos, para qualificar mais profissionais da construção civil: (...) o setor da construção civil aqui nunca empregou tanto. Aqui, mão de obra, em Santos, é complicado. Se você vê as pessoas que trabalham numa obra, é do Ceará, é da Bahia... mora todo mundo junto... o povo daqui [de Santos] começa a trabalhar e some... eu montei uma empreiteira, comecei a chamar gente daqui para trabalhar, mas me decepcionei... naquele shopping, estão procurando gente de fora para trabalhar... às vezes, a gente quer mudar, mas tem que ver se o povo quer isso.... Essas falas, entretanto, parecem dialogar com outras intervenções feitas durante a oficina pública de Santos. Algumas organizações presentes foram contundentes ao discorrerem sobre o tema da qualificação profissional principalmente, aquela voltada à inserção do jovem no mercado de trabalho -, procurando apontar os novos horizontes almejados pela juventude de hoje quando o tema é emprego: Que o jovem escolha o curso que ele quer... jovem não quer fazer azulejo, jovem quer ser técnico de química...tem que ver o que o jovem quer.... O pessoal não quer fazer tijolo, não... quer fazer web design... não é escolinha de SENAI, não... isso é uma escola antiga.... De modo semelhante, é possível que uma parte da população local já se antecipe ou vislumbre outras possibilidades de inserção no mercado de trabalho, em empregos mais estáveis e de maior remuneração, diante dos novos empreendimentos, no litoral, de que tomam conhecimento. É sob essa perspectiva, ou seja, pensando nos negócios da cadeia do petróleo e gás, que os participantes dos grupos de pesquisa projetam a contratação da mão de obra de fora para ocupar os empregos, ou pelo menos as funções/cargos mais qualificados a serem gerados. Mencionam os inúmeros cursos existentes na área de petróleo e gás, sinal de que parte da população já está se capacitando para se inserir nesse mercado. Não obstante, tal como uma das organizações entrevistadas, tendem a se mostrar um tanto céticos em relação às possibilidades de inserção de mão de obra local nas operações da empresa estatal:

55 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Virá de fora a maioria. É mentira que não temos mão de obra qualificada, [ou que] o problema é que não temos mercado que possa pagar esses profissionais. Isso é mito. Algumas empresas trazem gente de fora porque, muitas vezes, é política da empresa. Todos os olhos estão voltados para Santos, Santos vai virar mina de ouro e o pessoal que está se preparando, que está investindo em cursos, em cursos de língua, ninguém garante que essas pessoas vão ter emprego. Quem garante que quando isso acontecer eles não vão trazer gente de fora para trabalhar aqui? (segmento CD). Aqui tem muito curso de petróleo e gás (...) estão abrindo muitos cursos (...) mas nem é para trabalhar aqui, não vai ficar aqui; se for é para trabalhar no Rio (segmento AB). Outra organização entrevistada questionou, nesse sentido, a excessiva oferta de cursos de ensino superior voltados para a área de petróleo e gás, que estariam se proliferando pelas faculdades e universidades de Santos nos últimos anos, já preocupada com as possibilidades de absorção dessa mão de obra especializada local no futuro: É problemática [essa propaganda massiva voltada para venda desses cursos]. Pois não é verdade, necessariamente, que essa mão de obra especializada será absorvida pela estatal. Parecem existir ainda opiniões diversas, no seio da sociedade civil organizada de Santos, no que toca a qualidade dos cursos disponíveis atualmente, visando à qualificação profissional da população e, mais ainda, se eles são capazes de responder à altura às exigências de contratação da Petrobras: A qualidade dos estudantes é muito ruim. Eu acho que parte vai ser absorvida [A outra representante da mesma organização discorda]. Há necessidade de qualificar mão de obra... praticamente todas as nossas universidades aqui tem cursos de petróleo e gás... Isso é positivo, porque, de alguma forma, pode estar trabalhando aqui... A Petrobras é altamente e rigorosamente seletiva em relação à sua mão de obra... se pergunta se esses cursos vão atender às exigências da Petrobras... mas são especulações.... Eu acho que a coisa vem da base. Não pode montar os cursos de petróleo e gás e não ter a base... a física é a base, e a pessoa não sabe nada! Como é que ele vai aprender elétrica, mecânica, se não tem a base?. Ponderações diversas à parte, parece ser consenso a necessidade candente de investir na qualificação profissional da população santista. Também parece ser majoritária a percepção de que esse processo deve ser desencadeado pelo Poder Público, como uma das responsabilidades e funções inerentes ao Estado (ao passo que a participação do Mercado, nesse processo, é vista de forma mais cética por alguns). Novamente, o número insuficiente de vagas em cursos de ensino superior público aparece, entre as organizações entrevistadas e os participantes da oficina, como um entrave à acessibilidade de larga parcela da população santista no que se refere à qualificação profissional de alto nível : Então, tem que garantir que a mão de obra local seja empregada... mas tem que ter qualificação pra isso, também... e quem vai fazer isso? A Petrobras é que não é, que ela não tem interesse.... Boa qualificação, pra trabalhar na Petrobras, está custando mais de mil reais por mês. E a maior parte das pessoas não pode pagar isso. Onde está a iniciativa do Poder Público, para criar possibilidades de qualificação de alto nível para essas pessoas [mais pobres], cursos gratuitos, acessíveis. A mim me preocupa que exista uma massa grande de jovens entrando no segundo grau, com capacidade para cursar esses cursos de alta qualificação, mas que não têm recursos para isso. Segundo uma das organizações, existiria uma grande oferta de qualificação profissional gratuita, em Santos, mas com baixo perfil técnico em sua maioria, uma vez que exigem poucos recursos por parte do Poder Público. Ao tratarem da forte demanda por qualificação profissional, os interlocutores acabaram fazendo referência indireta às consequências sociais perversas do desemprego. Além de relatos de violência doméstica contra mulheres, impulsionada por sentimentos de frustração masculina quando da dificuldade de inserção no 55

56 mercado de trabalho, a falta de oportunidades também foi frequentemente listada como um vetor fundamental para explicar o aumento no uso de drogas (sobretudo, entre aqueles jovens que vivenciam a falta de perspectiva de futuro). A qualificação profissional, nesse sentido, aparece sempre como a alternativa ou a porta de saída inicial do universo das drogas: Uso de droga é um problema. É uma geração perdida que tem aqui, por falta de perspectiva.... Essa garotada, a gente tá perdida com ela... se não fizer alguma coisa.... Uma grande questão aqui é droga. É o crack. Antes, eu via jovens adultos, hoje, eu passo na rua e vejo crianças. Cadê o dinheiro para esses fazerem curso, para se qualificarem?. Gente, os jovens da gente, que estão saindo do ensino médio, o serviço que eles estão arranjando é da biqueira... acorda, minha gente... nós estamos perdendo muitos jovens na biqueira...é esse gancho, quando se fala na educação.... No que toca a segurança pública do município, vale destacar que as críticas estiveram presentes entre as organizações da área continental e da zona noroeste ou entre algumas organizações com atuação no centro antigo da cidade - embora o tema não tenha suscitado tantas intervenções no conjunto de organizações entrevistadas. Já entre os participantes dos grupos de pesquisa, tanto os do segmento AB como os do segmento CD avaliam que a segurança é um problema que afeta várias cidades do país e que, nesse quesito, Santos apresenta uma situação melhor do que muitos municípios vizinhos. De modo geral, as falas fizeram referência à insegurança pública causada pela proliferação do tráfico e uso de drogas em diversos pontos da cidade, sem que tenha sido mencionada qualquer relação com o porto de Santos. Uma organização da área continental também destacou a necessidade de mais policiamento na região: [A segurança pública está] terrível... Santos está perdendo essa característica de uma cidade mais tranquila pra se viver. O forte aqui é as drogas... muito, muito, muito!. O que a gente está pedindo muito é segurança... policiamento. O sargento que fica na base é só enfeite, não serve pra nada. Nós fomos assaltados na segunda passada... A gente precisa urgente de segurança. Eu concordo com você quanto à segurança. A nossa segurança é péssima, só que em outros lugares é pior ainda. Então, ela acaba se tornando não tão ruim (segmento AB). Vamos dizer que a segurança é razoável. Em vista do que a gente vê na TV, vê por aí, acho que aqui está melhor que em muitos lugares, Praia Grande, por exemplo, (segmento CD). Quando se trata de mobilidade urbana e regional, a percepção predominante entre os entrevistados é de que Santos aumentou significativamente a sua frota diária de veículos e caminhões em circulação, nos últimos anos, o que vem contribuindo para gerar mais congestionamentos na cidade: A quantidade de veículos aumentou enormemente. Santos não tinha, na hora de pico, tantos congestionamentos. Trânsito péssimo. O principal problema a ser resolvido é o trânsito. É horrível o trânsito, está quase igual a São Paulo. Santos não tem para onde crescer mais, só que os carros não param de crescer (segmento AB). Uma das organizações entrevistadas ressaltou, entretanto, que o planejamento viário dominante, hoje, seria aquele pautado pelo transporte individual automotivo em detrimento do transporte público de uso coletivo. Redução da quantidade de paradas e inexistência de faixas exclusivas para circulação de ônibus seriam alguns dos sinalizadores deste viés particular de se conceber a mobilidade urbana. Nos grupos de pesquisa, a ciclovia foi bastante valorizada pelo segmento AB: A gente tem um gerenciamento de trânsito voltado para atender o transporte individual. Eu vi que eliminaram duas paradas de ônibus... a parada do ônibus é [vista como] um entrave... o ônibus é o menos

57 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 danoso... ele deveria ser mais incentivado... mas não é o que acontece... quando se tira ponto de ônibus, se penaliza quem usa o transporte coletivo... a gestão do trânsito é feita priorizando o transporte individual.... Santos tem um sistema viário muito bem definido e organizado... já deveria ter sido implantado faixas só de ônibus... isso significa remover áreas de estacionamentos... porque nossas grandes vias não são muito largas.... Eu consigo ir da Zona Noroeste à Ponta da Praia de bicicleta. Você vai de um extremo a outro da cidade. A ciclovia é maravilhosa (segmento AB). Outra organização mencionou que o uso de bicicletas tem crescido, bem como a construção de ciclovias, mas coloca uma ressalva: Essas vias alternativas não foram sempre bem planejadas (talvez, indicando a pouca centralidade dada ainda a tais vias alternativas por parte do Poder Público). Durante a oficina pública, os interlocutores presentes também fizeram menção a problemas com calçamentos e com a manutenção das ruas, dificultando a mobilidade de pedestres, mas, sobretudo, de deficientes. Não obstante essa constatação, surge espontaneamente a comparação com outros municípios do entorno, os quais estariam em situação mais desfavorável do que a de Santos: Como um deficiente pode andar nesse tipo de rua que hoje tem aqui? Nessas ruas quebradas, nessas árvores que estouram tudo... eu não entendo como é liberado isso... isso é muito, muito... não dá pra entender... se isso é lei, como essa lei não tá sendo usada no próprio município.... E isso em Santos, que é um município mais avançado.... Em São Vicente... uh! Não tem nem calçada!. No que se refere ao sistema de transporte de Santos, as críticas mais recorrentes recaem sobre o alto preço das passagens e/ou sobre o número insuficiente de ônibus em circulação, que resulta em demora no tempo de espera (fatores injustificados, segundo os interlocutores, considerando o tamanho da cidade): Eu acho muito ruim... chega final de semana, a frota é reduzida pela metade... afora que eu acho a tarifa muito cara na região... é R$2,90... e quer dizer, você tem que ir e voltar... é R$5,80. Minha maior reclamação é a frequência dos veículos. É muito caro e insuficiente para a necessidade dos moradores. Problema nosso de condução. Além de ser difícil, que demora muito, não é barato, vem lotado (nos horários de pico, vai).... Qualidade é boa, mas falta alguns ônibus a mais na frota. Além disso, transporte é um pouco caro. O transporte público é muito caro para o tamanho da cidade e não se percebe a aplicação do dinheiro arrecadado, com o alto valor da tarifa, no melhoramento da estrutura de mobilidade da cidade. Trânsito péssimo e transporte muito caro para uma cidade tão pequena. A condução é muito cara. Eu acho bom. Não são cheios os ônibus que nem noutros lugares. Mas é caro porque, em Santos, você pega o transporte, para ir em determinado lugar, e você leva 20 minutos. Então, se torna caro (segmento CD). É ruim porque é monopólio. É demorado e cheio, sempre cheio, lotado. Não importa o horário que você vai pegar (segmento AB). Uma das organizações entrevistadas da área continental também sinalizou para as implicações originadas do alto preço das passagens de ônibus, assinalando o fato de que o custo restringe o direito de usufruir plenamente da cidade e suas oportunidades (como ter acesso a cursos de qualificação profissional). Nesse sentido, os impeditivos da ampla mobilidade urbana seriam um fator adicional (e reprodutor) de desigualdades sociais existentes: 57

58 Olha, para fazer um curso no SENAC, você tem que pegar dois ônibus, custa R$6. Quem pode fazer isso, você pode me dizer?. Alguns participantes da oficina pública destacaram, por sua vez, o problema de superlotação das vans ( peruas ) e dos ônibus: A população sofre... eu tenho sempre a impressão de que, apesar de as pessoas estarem migrando para o transporte individual, os ônibus estão cada vez mais cheios.... Eu tenho que pensar que aquela população, que usa a van [lotada], se tiver um acidente, vai morrer tudo. Outra preocupação compartilhada, entre os participantes da oficina, diz respeito à violação sistemática dos direitos dos idosos e deficientes quando estes utilizam o transporte municipal: Eles cobram passagem de deficientes e idosos... no meu bairro.... Os próprios motoristas dos ônibus têm cobrado isso do Poder Público, de colocar lugar para cadeirante... então, existe cunho político nessa questão aí, que tem que ser tratada com delicadeza. Precisa ter mais conhecimento da população! O senhor conhece a lei? Não. Então, fale pro seu chefe aí... Eu chamo agora a polícia, a televisão... isso é uma lei federal! E realmente não pagou [a passagem de ônibus]. Então, a falta de informação das pessoas que atendem é o principal problema. Não é todo mundo que se interessa, infelizmente. Se afixassem cartazes no local de trabalho... Vai trabalhar com o público? Então, tá aqui [referindo-se ao desconhecimento dos motoristas, dos cobradores e da população, em geral, sobre os direitos dos idosos e dos deficientes]. Em relação à mobilidade intermunicipal, várias organizações da sociedade civil pontuaram a ausência de uma concepção metropolitana e integrada no que tange o funcionamento do sistema de transporte de Santos. Seria problemática, por exemplo, a ligação de Santos com municípios vizinhos, como São Vicente e Guarujá, apesar da mobilidade pendular ser uma realidade cotidiana para boa parte da população santista. Assim como no caso do transporte municipal, o custo da condução intermunicipal seria excessivo: O transporte não deveria ser pensado em termos de município, mas de região metropolitana, pois grande parte dos trabalhadores da cidade vem de outras regiões, principalmente de São Vicente. Não é apropriado, mas melhorou bastante. É caro para as condições da população. Para Cubatão, por exemplo, o custo hoje é de cinco reais para um trecho que dura aproximadamente 25 minutos. Por fim, o túnel Santos-Guarujá e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) foram dois elementos frequentemente listados por praticamente todos os interlocutores, enquanto meios de transporte intermunicipal necessários e desejáveis, mas que permaneceriam ainda como promessas políticas de longa data do governo estadual: A minha avó já morreu e esse túnel não saiu. E esse túnel para o Guarujá que não sai de jeito nenhum... então, a gente tem que pressionar, para que isso saia do papel.... É um assunto discutido há mais de 50 anos, mas parece que vai sair agora [sobre o túnel]. Mas essa discussão também tem mais de dez anos. A discussão é sempre reavivada em época de pleito municipal [sobre o VLT]. Só eu já participei... toda eleição, vem o candidato para assinar aquele papel [do VLT]. O túnel, entre Santos e Guarujá, está no papel desde que minha mãe era criança (segmento AB). No tocante ao saneamento, surgiram críticas a problemas estruturais de base, como a falta de rede de esgoto em alguns bairros precários da cidade (notadamente, críticas à situação calamitosa da Vila Gilda, onde moram cerca de 30 mil pessoas atualmente): A região sofre com a questão do saneamento... particularmente, a falta de rede de esgoto, mesmo Santos estando com rede... é uma grande fragilidade, a falta de rede de esgoto para conseguir alcançar as potencialidades... a resolução dessas questões de base é que vão poder ajudar as potencialidades.... A região tem muitos problemas também em relação ao saneamento básico, principalmente tratamento de esgoto. Como os governantes enxergam isso, sabendo que estamos numa área de mananciais?

59 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Precisamos criar condições para que [as indústrias que se instalarão na região] pensem nisso e não agridam mais ainda a região. Alguns participantes dos grupos de pesquisa e uma organização entrevistada fizeram referência à questão da balneabilidade das praias de Santos, afirmando que estariam comprometidas para o uso de banhistas: Os passeios à praia acontecem mais em São Vicente. As praias aqui são sujas, com água de péssima qualidade. Quando chove, toda a água suja que se acumula pelos canais cai no mar. A praia é bem poluída, mas todo mundo vai lá. É que tem esgoto clandestino jogado no canal e ele vai parar na praia (segmento CD). As principais queixas, todavia, ficaram por conta do sistema de coleta de lixo domiciliar e, em particular, da coleta seletiva. Segundo os relatos, alguns bairros parecem não contar com um sistema de coleta de lixo regular ainda e, a despeito da existência do Cata-Treco, serviço bastante valorizado nos grupos de pesquisa, muitos pontos da cidade ainda sofreriam com o descarte desregulado de entulho nas ruas: Santos precisa melhorar muito a coleta de lixo. O lixo fica todo na rua. O pessoal de fora trata o bairro como depósito de lixo. O Cata-Treco passa uma vez por semana. Há muita infestação por ratos. Não tem fiscalização. A higiene aqui é ruim. Cata-Treco funciona, mas gerou o descarte desregulado de todo o tipo de materiais pela cidade. Atrás do campo do Bom Retiro, na favela da Vila Gilda, há muito descarte de entulho, mas é recolhido regularmente pelo Cata-Treco. Mas, mesmo assim, o descuido com o lixo espalhado pela cidade ainda é grande. Além disso, parece existir amplo consenso em torno da percepção de que a coleta seletiva, embora existente em alguns pontos da cidade, é insuficiente para atender a quantidade total de resíduos sólidos produzidos diariamente. A esse respeito, algumas organizações também sinalizaram para a distribuição desigual do sistema de coleta seletiva pelo território: Existe a coleta seletiva e tal, mas o percentual que Santos consegue aproveitar é muito pequeno. Poderia ser melhor trabalhada essa questão do lixo. Eu acho que não há um empenho que seria de se esperar, como aumentar a coleta seletiva... que é feita por essa multidão de catadores... eu vejo aqui, no meu prédio, chega segunda-feira é uma montanha de lixo... a maior parte é lixo reciclável... eu não vejo do Poder Público um incentivo para um aumento dessa coleta seletiva. O aterro sanitário acaba recebendo um montante de lixo reciclável. Ah, isso é bom! A coleta [de lixo] é boa... eles vêm três vezes por semana... mas o que a gente quer é coleta seletiva... mas a gente queria gerar emprego aqui. Não, tudo aqui é misturado [referindo-se à separação do lixo]. Existe coleta [de lixo] todos os dias e é bem feita... mas não tem coleta seletiva. Tem coleta seletiva e funciona. Cada dia, é um bairro específico. Claro que não é algo bem desenvolvido, mas é feito sim. Em Santos, a coleta seletiva é uma caixa preta. A Prefeitura designou à Codesan, que é uma empresa pública criada na época da ditadura, a responsabilidade de dar conta de diversos tipos de serviços. Mas esses serviços foram sendo desativados paulatinamente. Hoje, a empresa não tem uma função bem definida. Uma coisa sobre a qual ela tem responsabilidade é a coleta seletiva, mas ela terceiriza esse trabalho à TERRACOM. Uma das organizações entrevistadas afirmou que Santos, hoje, realizaria a coleta seletiva de apenas 3% do total de lixo descartado, sendo feita uma vez por semana (por local de coleta). A organização ainda ressalta: (...) não se sabe exatamente se todo o lixo consegue ser tratado, ou se parte acaba no lixão do mesmo jeito. 59

60 Alguns interlocutores responsabilizam o Poder Público pela falta de vontade política no trato da questão. Uma organização específica, por sua vez, destacou a necessidade de se pensar uma articulação com o trabalho de coleta seletiva já existente, realizado por catadores individuais, cooperativas e associações de catadores. A Prefeitura teria o cadastro de aproximadamente 250 catadores, com licença para circular; contudo, não se reuniria com eles, para informá-los sobre os aspectos que envolvem uma cooperativa. A mesma organização também apontou a necessidade de endereçar a questão do tratamento do lixo através de uma articulação regional, mas rejeitou o projeto de uma usina de incineração na região e o argumento de que a queima de lixo geraria energia: (...) mas é uma incongruência, pois, para gerar energia, terá de se investir em energia muito maior antes, ainda mais devido à grande umidade do solo. A prioridade, segundo a organização, seria iniciar uma discussão que pautasse a obrigatoriedade da separação do lixo: Precisamos ganhar as Prefeituras no sentido de que a coleta seletiva é a melhor saída no momento. A questão da moradia, sem dúvida, transparece como uma das preocupações centrais da cidade de Santos hoje, identificável pelo número significativo de queixas e de menções ao tema encontradas nas falas dos interlocutores. Os processos de urbanização recentes, engendrados e impulsionados pela nova dinâmica econômica regional em torno dos empreendimentos da Petrobras, são vivenciados pela população local no seu cotidiano, sobretudo, naquilo que contêm de excludente. É importante destacar a existência de um conhecimento de causa amplamente difuso, entre as organizações da sociedade civil, acerca dos efeitos adversos que vêm sofrendo os moradores de mais baixa renda, por exemplo, em virtude desses processos. São frequentemente listadas as características principais do modelo de urbanização em vigor, tais como a verticalização, a especulação imobiliária e a expulsão gradativa da cidade de moradores pertencentes aos segmentos CD: O que tá acontecendo aqui, em Santos, é esse processo de verticalização. Isso acontece também na área continental [especulação e invasão de populações vindas de fora]. Moradia está mais cara. (...) a questão da fragilidade, tá muito, muito frágil a cidade de Santos, para receber essa população... que tá tendo que sair da cidade de Santos para correr para tudo quanto é local... então, o pessoal tá sendo expulso da cidade...virou assim uma coisa que as pessoas falam tanto, cada um visando o seu interesse... não estão levando a sério a questão da habitação em Santos. Então, não dá para você pegar todo o povo pobre, carente de Santos, para colocar em São Vicente!. Nos grupos de pesquisa, esse tema também ganhou centralidade e permeou toda a discussão sobre a cidade. Tanto os segmentos CD quanto os AB mostraram-se surpresos e indignados com o alto custo de vida e, sobretudo, com a excessiva valorização dos imóveis vigentes em Santos. Ao falarem sobre a intensa especulação imobiliária em curso, na cidade, foi recorrente a menção a Armênio Mendes. Da mesma forma, foi também comum atribuírem ao Pré-Sal o acirramento de um processo que já ocorria, mas em proporções menores, em razão do perfil turístico de Santos. Eles colocaram o preço lá em cima porque só os paulistas podem pagar, mas, para nós que moramos aqui, é jogo duro (...) ainda mais agora, com o Pré-Sal, a cidade está crescendo mais, mas o que acontece? Cresce para cima e quem vai reclamar mais somos nós que somos mais desfavorecidos. Agora, quem tem condições é uma maravilha (...) é bom viver nessa área central. Eu já morei no Canal Três, no Canal Dois, mas só que eu não dei conta; ninguém dá conta (...) é difícil santista comprar casa em Santos. Agora não compra mais não (...) até para pessoa comprar um apartamento na periferia, hoje em dia, está caro (segmento CD). Eu morava aqui no Gonzaga e vendi o apartamento que tinha aqui e comprei uma casa na Zona Noroeste. Lá está um valor absurdo. Uma casa que eu comprei por R$ ,00, hoje, eu não vendo por menos de 600. Isso em cinco anos. Porque aqui, no centro, não tem mais onde expandir (segmento AB). Santos é uma cidade turística e o custo de vida é muito elevado, muito caro (...) o custo de vida está aumentando cada vez mais depois que se falou do Pré-Sal. Por causa do Pré-Sal tudo aumentou. No morro, o aluguel subiu por causa disso (segmento CD). É uma cidade de alto padrão. O Pré-Sal mudou o preço dos imóveis. Mas agora está exorbitante (...) vocês repararam que estão começando a elitizar a nossa cidade? Estão construindo apartamentos

61 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 enormes, prédios enormes com valores altos. Hoje, você não pega um apartamento de 400 mil (segmento AB). Algumas organizações apontaram a relação causal entre o aumento do número de habitações em locais irregulares (como morros e mananciais) e os grandes projetos da construção civil, responsáveis por importar mão de obra de fora com baixa qualificação profissional e com baixa remuneração, sem garantirlhe condições dignas de habitação. Outras organizações também sinalizaram os riscos envolvidos nessas habitações irregulares: Tem muita gente morando em áreas de risco. A nossa população é uma população que mora em morros, e, quando chove, o volume de água que desce é fantástico. Vira uma cachoeira. Toda vez que chove, a gente fica com o coração apertado. Além dos problemas já assinalados, as organizações entrevistadas destacaram a situação precária de habitação dos moradores de cortiços do centro da cidade e para as dificuldades que esses moradores do centro enfrentam para permanecerem no local e desenvolverem uma relação de pertencimento com o seu território. De modo semelhante, foi apontada a dura condição de vida das pessoas em situação de rua, por vezes, vulneráveis a outros tipos de problemas sociais, como as drogas: [O centro] É uma área onde as pessoas não conseguem se fixar. Estão sempre em busca de outro lugar. Já outras regiões têm uma relação de pertencimento com seu local de habitação. Assim, uma das fragilidades que a gente percebe... é a questão social das pessoas moradores de rua... é um problema social muito grande... e apesar de ser mundial, uma coisa puxa a outra, a questão das drogas... falando do povo geral... não é só baixa renda.... Em suma, apesar de ser uma cidade reconhecidamente estruturada, entre as organizações entrevistadas, parece existir um consenso em torno da percepção de que Santos encontra-se aquém das condições urbanas desejadas e de que falta ainda uma política habitacional e de desenvolvimento urbano que crie, de fato, condições dignas de habitação (em vez de exclusão ) e que garanta o direito à moradia para todos os seus cidadãos: Eu acho que é ter uma política de desenvolvimento urbano que atenda a todos, principalmente àqueles mais pobres, que vivem em cima da água, em palafitas... em condições sanitárias péssimas... em área de risco nos morros... morando em cortiços, onde os índices de tuberculose é assustador... no centro... vivem em condições urbanísticas péssimas... a gente não tem uma política que atenda isso... ao contrario, nós temos uma politica que tende a reforçar isso.... As políticas públicas tinham que se preocupar com isso, porque isso [moradia] é acessível para os ricos, não para os pobres de Santos. Menções foram feitas a parcerias entre a Prefeitura e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), no que se refere a obras de habitação para segmentos populacionais de baixa renda. Nos grupos de pesquisa, tais construções foram bastante valorizadas. Contudo, entre os segmentos organizados, as críticas principais foram endereçadas aos atrasos, ao não cumprimento dos prazos e à demora na entrega dos apartamentos, afora os problemas de realocação das famílias para lugares indesejados: No morro da Nova Cintra, tem um conjunto bonito de prédios da COHAB para pessoas de classe média e pobre. Porque as pessoas que moravam no mangue, aos poucos, estão sendo retirados (segmento CD). Sai gente do cortiço e está indo morar em locais dignos, CDHU (segmento AB). Existem muitas obras atrasadas em parceria entre a Prefeitura e CDHU. Uma demora que demora vinte anos... é complicado isso. O comprometimento que eles têm com as datas marcadas não funciona. A CDHU vai construir apartamentos para o Alemoa, mas não vai conseguir abarcar a todas as pessoas. Elas vão ser divididas pelos bairros da Caneleira 4 e Jardim São Manoel. Tem uma discussão grande nisso, as pessoas estão ali há muito tempo e não querem sair dali. 61

62 Diante de tantos problemas habitacionais apontados, há aqueles que vislumbram saídas possíveis, para diminuir o déficit habitacional existente e para conter o processo de expulsão alavancado pela especulação imobiliária recente, por meio da verticalização nos morros e do aproveitamento das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS): Todo mundo sabe que a cidade de Santos é muito caridosa... eu fui acolhida por ela... existe, sim, ainda espaço... na verticalização... morro que, há cinco anos atrás, só tinha casinhas, agora, tá verticalizado... nós não podemos excluir, nós somos de braços abertos... a gente só questiona que esses prédios sejam altos demais... então, sejam bem-vindos e venham mais um ou dois.... É possível verticalizar no morro, também, e é possível verticalizar nas comunidades... primeiramente, falta muita vontade política e vontade para fazer... e falta nós do povo pressionar para fazer.... A gente sabe que tem as ZEIS... se der para construir nessas áreas, 50 % do déficit habitacional já melhora... então, se a gente ocupar essa parte que já é nossa Santos não é mais para os Santistas Em estreito diálogo com o que foi mencionado acima, pode-se dizer que a temática central da leitura comunitária de Santos, capaz de aglutinar as mais diversas opiniões em torno de si, foi o recente processo de urbanização vivenciado de perto pelos moradores da cidade e suas consequências adversas. Temas como verticalização e especulação imobiliária permearam sistematicamente os discursos dos interlocutores; entretanto, foi a questão da expulsão quem melhor catalisou e sintetizou as percepções e os sentimentos predominantes na sociedade civil santista, no que se refere à temática. De início, pode-se afirmar que existe uma percepção do problema que costuma levar em consideração a própria conformação geográfica de Santos - constituída por uma significativa área insular -, a fim de compreender (em parte) as razões da especulação imobiliária local e os entraves colocados ao desenvolvimento futuro. O espaço limitado seria uma das causas nesse sentido: Santos é uma cidade pequena, limitada, não tem espaço pra crescer mais. Uma das coisas que dificulta o desenvolvimento de Santos é seu próprio limite físico, por ser uma ilha. A ilha vai afundar.... O espaço limitado, tomado como ponto de partida para alguns, seria então agravado pelo fato de Santos ser uma cidade estruturada e em franca expansão econômica, dotada de uma rede de infraestrutura e de serviços bem desenvolvida, o que alavancaria a especulação imobiliária. A consequência lógica dessa equação seria o desencadeamento de um processo inflacionário dos locais de habitação, responsável pela expulsão de um grande contingente de santistas para fora de sua cidade - assustando todos, inclusive, os segmentos de classe AB participantes dos grupos de discussão: O espaço é pequeno. Se as empresas quiserem investir, vão buscar espaço, e quem será desalojada é a população mais pobre. Infraestrutura, qualidade de vida, cidade prestadora de serviços e portuária. O espaço é extremamente limitado e caríssimo. Em se pensar habitação pra todo mundo, em Santos, é complicado. Nos morros, na zona noroeste? Santos, não dá pra pensar mais em habitação pra todo mundo... as pessoas que não têm condição estão migrando... Não tem mais espaço físico pra isso, exceto na área continental que ninguém quer morar... eu prefiro morar em São Vicente do que na área continental... é questão de infraestrutura. Sabe quem vai comprar esses apartamentos que estão construindo? Gente que trabalha para a Petrobras que está vindo de fora para cá (...) estão construído isso para uma sociedade que não existe em Santos hoje (segmento CD). Não estão construindo casa para a população de Santos, não. Estão construindo para o pessoal que vem de fora, para os diretores da Petrobras vir morar para cá, é visando esse público aí (...) o morador daqui está indo para a Zona Noroeste, São Vicente, está sendo exilado para lá, porque não tem condições (...) vai girar mais dinheiro na cidade, mas nós não estamos querendo ir para a Zona Noroeste, não, eu estou querendo morar aqui mesmo (...) a cidade está ficando elitizada. O custo de vida pra mim vai ficar super alto, eu mesma não vou conseguir me sustentar. (segmento AB).

63 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 É a própria vivência cotidiana dos moradores, nos seus espaços em rápida transformação, que lhes sinaliza as alterações mais amplas pelas quais passa a cidade. Percebem, desse modo, a redistribuição territorial da população, ao longo dos anos, que vem se espraiando gradativamente da área insular rumo à área continental e aos demais municípios vizinhos, como São Vicente e Praia Grande. Também percebem certa reordenação na hierarquia de valores dos lugares que compõem a cidade, como a área continental que, apesar de menos favorecida ainda em termos de infraestrutura, já começa a se valorizar e a se integrar à espiral dominante da especulação imobiliária: O que a gente está vendo aqui... Santos não tem para onde crescer, a ilha... então, a ideia deles é jogar o pessoal pra cá [para a área continental]... o preço lá é fora do normal... há doze anos atrás, tinha muito terreno por aqui, vai procurar hoje.... A área continental é uma região que, até pouco tempo, tinha muito pouco prestígio. As pessoas não tinham orgulho de morar aqui. Não davam muito valor. Menos conhecidas do que as consequências são as razões que embasariam esse processo, pelo menos, recentemente. Dito de outra forma, não parecem ser justificáveis, à primeira vista e aos olhos dos interlocutores, as razões para tamanha especulação imobiliária vista nos últimos anos. Se se reconhece a influência exercida pelos novos empreendimentos econômicos ligados à Petrobras, por outro lado, a percepção geral costuma ser a de que a especulação imobiliária tem excedido os limites do desenvolvimento experimentado hoje por Santos (de fato) e a de que o setor da construção civil estaria se beneficiando largamente desse processo inflacionário à custa dos moradores locais: Eu estou assustada com os rumos da minha cidade. Prédios monumentais com valores imensos que não podem ser bancados pelos santistas. Especulação criada por essa vinda da Petrobras. Tá criando um rebaixamento enorme da qualidade de vida. Eu ainda vejo expectativas altíssimas... a área imobiliária tira muito proveito disso, está extrapolando as expectativas da cidade.... Sabe o que eu acho? Santos tá virando uma cidade muito comercial. É uma cidade que a construção cresceu demais e tá rolando dinheiro demais... e eles não querem saber se as pessoas tão gostando ou não... eles nem quer saber... eles chutam todo mundo.... Chama atenção o grau de concordância, entre os interlocutores, quanto à caracterização do perfil demográfico de Santos hoje e, por extensão, quanto ao perfil que se vislumbra para a cidade em um futuro próximo. Com o processo de urbanização excludente em curso, Santos estaria ganhando novos contornos sociais, tornando-se progressivamente uma cidade de classe média alta, mais desigual e composta majoritariamente por idosos: Com o boom imobiliário, a nossa população está sendo jogada, cada vez mais, para lá.... Além disso, existe uma divisão muito clara entre pobres e ricos. Há também um boom imobiliário que está fazendo com que as populações mais pobres sejam expulsas da cidade para zonas muito distantes da área urbana. Faz parte dessa segregação que as regiões de populações pobres não tenham ou tenham muito menos estrutura que as áreas de populações mais ricas. Santos está se tornando uma cidade de classe média alta. Os pobres de Santos são cada vez mais pobres. A desigualdade de Santos é aberrante.... Santos exporta pobres para fora de Santos. A classe média vai sendo expulsa para outros municípios, mas também os mais pobres vão sendo levados para fora. Estamos virando uma cidade de classe média alta e de velhos. A mim dói muito imaginar que, no futuro, a gente não vai ter tantas crianças quanto desejamos ter, tantos jovens. Como consequência, vislumbra-se a possibilidade de que Santos venha a se constituir em uma cidade mais voltada ao trabalho e menos à moradia, uma vez que esta se tornaria acessível a poucos. Espera-se que o espraiamento da população santista pelos municípios vizinhos, por conseguinte, potencialize a lógica da mobilidade pendular, aumentando os problemas de trânsito já correntes: 63

64 Sinto meio que os santistas estão sendo expulsos de Santos, pois estão precisando buscar outros lugares para morar, para conseguirem viver. Está ficando bonita a cidade. Mas estão querendo colocar aqui uma nova população. E quem não fincar raiz, não fica. Está sendo valorizada a faixada, não as pessoas que têm a história na mão [referindo-se aos moradores do centro da cidade]. A moradia está se tornando muito cara, e as pessoas estão indo morar nos limites... Preferem ir e vir várias vezes, porque não têm condição de pagar. Os espaços vão ser ocupados mais por empresas e menos por moradia. Santos vai virar uma cidade só para trabalho, porque algumas classes vão ser impedidas de morar aqui [por causa da especulação imobiliária]. Vai ficar mais difícil de se viver aqui. É uma cidade cada vez mais cara pra se viver e vai aumentar muito a população, trânsito cada vez mais caótico, os preços altos dos imóveis... Vai mudar muito a cidade. Algumas organizações entrevistadas se queixam da ação pouco incisiva do Poder Público nesse tocante, uma vez que não estaria colocando peso na tentativa de reverter o processo em curso, responsável por expulsar / exportar os segmentos populacionais de mais baixa renda da cidade para municípios vizinhos ou por negar-lhes seu direito à moradia digna em Santos: O município não faz uma tarefa que é de obrigação dele, que é a de regular o mercado imobiliário. Nós temos que brigar por políticas urbanas inclusivas, que pense em novas práticas. Contudo, uma das organizações entrevistadas da sociedade civil procurou ressaltar outra perspectiva (indo além do Poder Público), para a compreensão do quadro social que dá suporte aos processos urbanos listados, focando-se antes nas profundas diferenças de posição, de interesse e de concepção política que permeiam a própria sociedade civil de Santos: Tem gente que está adorando isso... que vai ser uma limpeza étnica, social... que vai dar uma limpeza e só vai ficar os bons... A gente tem uma parcela [da população] que está muito preocupada com isso, com os reflexos para a sociedade local e a cidade... e tem um grupo que levanta as mãos e diz: isso não chegou na minha casa ainda. Então, tem esses três grupos A Vocação Econômica de Santos Potencialidade na cidade de Santos já tá vista aí... é porto, depois passou a ser dormitório, hoje, não se sabe ainda se Santos é só porto, ou turismo, ou dormitório...os empregos aqui não cumprem a demanda...o Pré-sal aí... todo mundo tá endeusando... mas até aí... ainda não vi progresso nessa área. Essa fala parece sintetizar bem o conjunto de percepções quando se trata de enunciar a vocação econômica de Santos hoje. Traço típico das grandes cidades, Santos já usufrui de uma maior diversificação econômica, o que torna mais difícil a identificação de uma vocação específica ou predominante. Em geral, foram citadas as atividades portuária, turística, de serviços e de construção civil como as principais atividades dinamizadoras da economia local. Vale ressaltar que as atividades relacionadas a petróleo e gás ainda são vistas como atividades subsidiárias, mas de grande potencial no futuro: É atividade portuária, em Santos, a principal atividade econômica. [O porto] ainda movimenta muito a economia. Pra mim, é o porto sem dúvida nenhuma. Eu não consigo ver ainda o setor de petróleo e gás como um setor importante pra gente. Isso é evidenciado até nos planos de expansão do porto. Devido ao petróleo, Santos está evoluindo, fora isso, é a construção civil, não há outros indutores do desenvolvimento em Santos, no momento. É construção civil e setor de serviços. A vocação do município é a prestação de serviços e o turismo.

65 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 O turismo também tem peso. Dificuldade de mensurar o peso do turismo na economia... a gente sente o peso nas férias e nos finais de semana... principalmente, de dezembro até o carnaval... é visível, a gente sente... embora não dê para mensurar muito isso, porque muito da infraestrutura de turismo também é utilizada pelos habitantes.... Santos tem o maior porto do Brasil, mas o forte de Santos é o turismo (segmento CD). A principal atividade econômica de Santos é o turismo, só (...) mas e o comércio, não é? Os comerciantes sempre foram muito fortes aqui (...) é o porto, o principal é o porto (segmento AB). Uma das organizações entrevistadas também levantou uma perspectiva mais metropolitana em relação ao tema da vocação econômica da cidade, associando a dinâmica econômica de Santos à dinâmica de outros municípios vizinhos, como Cubatão, dentro de uma rede de interdependências: Não está localizado em Santos, mas que tem sempre a ver com aqui, é o polo industrial de Cubatão. Uma boa parte dos que trabalham no polo mora em Santos. Toda vez que acontece uma coisa boa ou não, repercute aqui. Quando teve a privatização da Cosipa, Santos se ressentiu muito... Foram dispensados quatro mil funcionários, muitos que moravam aqui.... De forma semelhante, outras duas organizações da área continental de Santos destacaram a dinâmica econômica particular de seus territórios, que parece ser mais próxima daquela vivida por municípios como Bertioga (dada sua proximidade geográfica), São Vicente e Guarujá, apesar de fazerem parte de Santos. A distância geográfica em relação à área insular e as dificuldades encontradas na mobilidade urbana, como vistas acima, parecem imprimir outro ritmo de vida e outra identidade ao cotidiano dessas localidades: O povo daqui vive da pesca. Caranguejo. Outras mulheres vão trabalhar na Riviera, época de temporada. As pessoas trabalham mais em Bertioga, Guarujá, Vicente de Carvalho O Porto de Santos Não obstante a sua importância na composição do quadro das principais atividades econômicas de Santos hoje, assinaladas por todos os entrevistados, chama atenção o fato do porto não ter atraído tantos comentários em torno de si, no decorrer das entrevistas com moradores e organizações da sociedade civil e durante a oficina pública. Surgiram, de fato, diversas falas sobre a sua importância para a cidade e para a região, mas poucas menções sobre o seu papel estratégico na economia brasileira como um todo, ou à sua posição de destaque enquanto maior porto da América Latina ou, ainda, à sua relação específica com a cidade e suas implicações (diretas ou indiretas) sobre a vida dos cidadãos. Talvez as poucas, mas contundentes menções feitas sobre essas temáticas sinalizem não para o desconhecimento da realidade portuária, mas, como sugerem as intervenções feitas em relação à sua importância, para a naturalização da presença do porto na dinâmica cotidiana da cidade (a despeito de seus impactos). Outra hipótese, surgida nos grupos de pesquisa com moradores, é de que o porto já não incide tão fortemente no cotidiano da população local, ou seja, na produção da vida material dos santistas. Algumas falas são indicativas do impacto social do processo vivido pelo porto a partir dos anos 90, quando ele entrou em nova fase de exploração, com o arrendamento de áreas e instalações à iniciativa privada. O Porto ainda bate recordes, mas não é aquilo tudo que já foi anos atrás. Mudou porque privatizou. Outras empresas chegaram, os empresários tomaram conta e começaram a contratar gente de fora, contrataram gente daqui também, mas mudou muita coisa. A profissão de estivador era muito boa, todos que tinham carteira preta ganhavam muito bem. Mudou o ganho, muita coisa em termos de gerar emprego. Logicamente que tudo o que vai para fora do Brasil passa pelo porto, mas não é a mesma coisa. O ganho da estiva caiu (...) só para você ter uma ideia, o porto já chegou a ter 23 mil trabalhadores da Codesp e hoje ele tem 2 mil e poucos trabalhadores (segmento CD). 65

66 Santos é o porto, só que o porto não é todo mundo que se beneficia. Antigamente sim, agora não. Antigamente, todo mundo tinha alguém da família que trabalhava no porto, hoje não (segmento AB). Hoje, o forte de Santos e região é o porto. Se Santos quisesse privilegiar algum outro setor, devia ter feito isso lá atrás. Porto continua sendo a mola-mestra que vai impulsionar essa cidade. Mas é um setor [o portuário] que segura a economia de Santos quando os outros ciclos econômicos que tomam a cidade morrem. Ainda hoje, 80% do café brasileiro exportado sai pelo porto de Santos. Algumas organizações relataram problemas no que toca a relação do porto com a população santista, sobretudo, quanto aos incômodos gerados pela movimentação de cargas por container, à relação proporcional entre o crescimento econômico do porto e o número de casos de exploração sexual e infantil na região portuária e, por fim, ao aumento populacional da cidade em virtude da vinda de trabalhadores de fora. Outra organização, por sua vez, destacou os problemas logísticos e de infraestrutura enfrentados pelo porto de Santos hoje, enquanto um entrave para o seu pleno desenvolvimento. Em outras palavras, no caso das organizações entrevistadas, a natureza das preocupações assinaladas costuma divergir bastante a depender dos interlocutores da sociedade civil entrevistados: O domínio da movimentação de cargas por container mudou completamente a relação da cidade com o porto. Também é um problema. Uma invasão de mineiros. Uma população que vem buscando melhores condições, que acaba ficando. O grande problema do porto de Santos e que, de certa forma, retarda o desenvolvimento mais acelerado é a questão da infraestrutura logística. É um entrave ao desenvolvimento... principalmente, em termos de acessibilidade. Vários gargalos logísticos. São um entrave... quando a gente fala em gargalo, a gente fala em infraestrutura. É um problema muito sério, que precisa ser resolvido logo. [Deu o exemplo de crescimento da China.] O Brasil, nesse aspecto, ainda é muito burocrático, muito lento. Se resolver os problemas logísticos e de infraestrutura, o porto tem tudo para se desenvolver mais ainda. O governo federal investiu muito em dragagem. A tendência mundial é de os navios serem cada vez maiores, para carregarem mais carga. Construiu uma avenida perimetral, só para os caminhões. Isso, do ponto de vista da logística, do acesso ao porto, é importantíssimo. Em termos de perspectiva de desenvolvimento sustentável, junto às organizações da sociedade civil, o porto parece ser visto com ressalvas talvez, como peça antiga e fundamental de uma mola-mestra que sempre impulsionou a cidade, mas da qual já se esperam poucos avanços ou potenciais quando o assunto é economia sustentável. Para esses segmentos, a imagem do porto, dentro de um projeto de sustentabilidade, aparece mais associada aos empregos que poderiam ser gestados a partir da revitalização da área do Valongo, voltados à atividade turística. Surgem também questionamentos sobre o modo como esse crescimento econômico à vista, com a expansão já noticiada do porto, irá gerar desenvolvimento de fato para as comunidades locais. Ao contrário, a expansão portuária bancada pela Odebrecht, segundo uma das organizações entrevistadas, seria o avesso do esperado em termos de sustentabilidade. As empresas que estariam se instalando na região não teriam comprometimento efetivo com a preservação ambiental ou com o desenvolvimento social da população local. A atuação dessas empresas, na cidade, estaria ainda enfraquecendo a cultura de organização caiçara segundo essa mesma organização, devido ao declínio da pesca artesanal ocasionada pela expansão do complexo industrial portuário: Porto apenas gera riqueza para os grandes, e a tendência é piorar. Estão escravizando essas populações [de regiões continentais, como a Ilha Diana]. Eles não conseguem mais fazer as coisas que faziam antes Visões sobre o Pré-sal em Santos A percepção mais recorrente, quando se trata do Pré-sal, parece ser a de que a recente descoberta de grandes reservas, na Bacia de Santos, teria imprimido um novo ritmo à cidade. Não obstante essa impressão, vale notar que, diferente de outros municípios da região, não surgiram falas em torno da maior visibilidade

67 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 ou projeção nacional conquistada por Santos, através da exploração econômica do Pré-sal. Existe um reconhecimento generalizado de que a descoberta do Pré-sal trouxe consigo um conjunto de grandes promessas e expectativas que, a despeito de não terem sido plenamente cumpridas ainda e de permanecerem no horizonte de futuro (como especulação ), já carregariam alguns efeitos colaterais danosos desde agora. Foi mencionada a questão da especulação imobiliária mais uma vez, como fator de expulsão de parte da população santista para outros municípios vizinhos, assim como o aprofundamento do perfil urbano/metropolitano da cidade: O efeito tá sendo muito ruim... pela especulação imobiliária, e aí não é só em Santos... sem que nada de objetivo e concreto explique esse crescimento.... O boom imobiliário com essa grande expectativa do Pré-sal.... O que encareceu muito também foi o preço da moradia, aluguel inclusive. A história do Pré-sal é um monte de especulação, que eu não sei se isso vai acontecer... muita gente tem petróleo no mundo... em Santos, está havendo uma especulação dos escritórios... e o crescimento do porto... isso eu vejo e estou aqui há oito anos... essas são as novidades... isso tá trazendo recursos e riquezas pra cidade... tão especulando pra caramba... já tá tendo bolha na cidade.... Aqui, o que mais avança é o comércio. Algumas empresas estão instalando escritórios aqui, com a expectativa de que, com o Pré-sal, a cidade vai dar um boom. Santos está perdendo essa característica de uma cidade mais tranquila pra se viver. Junto às organizações entrevistadas, houve quem sinalizasse para as diferenças de percepção entre o Poder Público e a população de um modo geral (não inserida em organizações da sociedade civil), no que tange o dimensionamento do significado real do Pré-sal para Santos. Essa diferença notória poderia, por outro lado, ser indício de uma desigualdade de acesso ao debate e às informações que circundam o tema na cidade: O ambiente político de gestão tem umas ideias mais consistentes, mais realísticas, do que vai acontecer com a região. Mas a população está viajando... Eles tão achando que a cidade vai ficar rica da noite pro dia... vai virar uma Nova Iorque, só que só com as coisas boas de Nova Iorque.... A mesma organização sinalizou para o número restrito de espaços públicos de discussão e debate sobre o Pré-sal e suas consequências para a cidade, bem como para o pouco fomento do Poder Público nesse sentido: O tema Pré-sal foi muito pouco desenvolvido nos municípios que serão atingidos... acho que ainda não se discutiu o suficiente... tem uma audiência ou outra, mas as coisas são divulgadas assim... não dá muita chance das pessoas estarem presentes.... E eu não estou vendo muito as pessoas discutindo esses impactos. A única especulação que tem é financeira. O Poder Público deveria fomentar essa discussão com a sociedade, mais a fundo, sobre esse tema. No caso dos grupos de moradores do segmento AB, não raro a postura é de cobrança por uma discussão pública sobre o significado e os impactos do Pré-sal na cidade. Há falas muito contundentes que se inscrevem no âmbito de um sentimento de indignação e medo de que o Pré-sal, conforme já mencionado, acabe por expulsá-los em razão do aumento do custo de vida e da especulação imobiliária. Cabe aqui mencionar que, no geral, os grupos de moradores entrevistados (de ambos os segmentos sociais) avaliaram mais positivamente a cidade (do que os representantes das organizações da sociedade civil). O risco de virem a perder tal patamar de condição de vida e acesso a políticas/ serviços públicos gera reações: Teve uma convenção muito boa sobre o Pré-sal ali no Mendes, mas só o pessoal do ramo é que foi. Nós queríamos saber, por exemplo, o que isso vai beneficiar. E nós não podíamos entrar lá, porque eram só pessoas da Petrobras e setores que foram convidados. Que impacto ele vai causar na minha vida, no meu 67

68 transporte, no meu dia-a-dia? Foi isso que eu queria saber, mas não podia (...) será que nós estamos dispostos a pagar um preço desses? Alguém perguntou para nós se queremos pagar? (segmento AB). A sensação é de perder as coisas pelos dedos (...) você vendo uma história de uma cidade indo embora, perde a identidade, a cidade está perdendo a identidade (...) o santista não é mais dono da casa dele. Está vindo um povo de fora que você não conhece, com interesse de compra de outra coisa, o povo daqui pode não preencher as necessidades deles, eles trazem outras pessoas de fora para trabalhar, o santista está indo para fora, está indo para outras cidades, está deixando de ser santista (segmento AB). A pouca discussão ou transparência sobre os impactos e as oportunidades que poderão ser geradas pela exploração do Pré-sal, de fato, estaria contribuindo negativamente para gerar mais expectativas e antecipações por parte da população local: A gente ouve falar que o Pré-sal está lá. Mas tudo está na base da perspectiva. Então, tem gente que vai, faz curso do Pré-sal. Tem um monte de gente diplomada já, mas só que está todo mundo chupando o dedo. Ninguém conseguiu uma colocação ainda lá [na infraestrutura do Pré-sal]. Estão viajando na maionese, estão iludindo nossos jovens. Precisa parar com essa megalomania de fazer o Pré-sal e achar que Pré-sal vai resolver tudo. Em 2008, chovia população de rua, em Santos, ao se falar do Pré-sal. Ouviam na televisão sobre o Pré-sal e vinham para cá, para trabalhar. Mas não tinha o que fazerem. Indagadas sobre os possíveis impactos (positivos e negativos) que poderiam advir da exploração do Pré-sal, no geral os moradores e organizações entrevistados tendem a achar que o Pré-sal pode abrir novas oportunidades de emprego para a cidade, embora ainda não exista certeza de que a mão de obra local será aquela empregada nas novas frentes de trabalho. Entretanto, e apesar da geração de emprego e renda, os entrevistados também vislumbram uma série de impactos negativos quando tudo for implementado, para além dos efeitos indiretos de especulação já descritos acima. Entre os impactos mais assinalados, constam aqueles relacionados ao encarecimento do custo de vida na cidade (moradia e serviços sobretudo), à piora na qualidade de vida (devido ao aumento populacional e dos congestionamentos) e aos problemas de abastecimento e saneamento. Entre as organizações entrevistadas, além desses impactos, foi mencionado também o possível agravamento de problemas de ordem social, ligados ao crescimento econômico excludente, como a prostituição, a violência, o uso e o tráfico de drogas, entre outros: Isso vai fazer com que tudo vai encarecer muito. O que que aconteceu com Campos, com a entrada da Petrobras? O que aconteceu com Macaé, com a entrada da Petrobras?. Santos tem uma característica sazonal: chegando perto do verão, aumenta o preço dos alimentos. Mas venho percebendo que algumas coisas estão, sim, ficando mais caras. Serviços, principalmente. E acredito que o impacto vai ser maior quando tudo for implementado. Ela [a população local] pode ser convidada a se retirar da cidade... pode ficar excluída desse processo de crescimento para todos.... O impacto [dos investimentos em torno do Pré-sal] já é alarmante. Fico preocupada com o que isso vai ser daqui algum tempo. Porque teremos o impacto populacional, trânsito, abastecimento, saneamento, tudo. Será que estudaram de fato o impacto disso tudo pra Santos?. Podem causar desastres ecológicos sem precedentes, impactos sociais... a gente sabe que traz drogas, violência, prostituição, gravidez precoce... mas não vejo muita discussão sobre isso.... Por fim, a questão do lugar reservado ao desenvolvimento sustentável, em Santos, parece permear a preocupação de boa parte das organizações da sociedade civil entrevistadas, tendo em vista a dinâmica recente de exploração do Pré-sal. Vale destacar a opinião de uma delas sobre esse assunto: Quando a gente fala em desenvolvimento sustentável, a gente pensa no social, no ambiental e no econômico... a gente fala de conjunto... mas o Pré-sal ainda está sendo discutido naquela ótica antiga... das riquezas que vai trazer apenas....

69 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Eu não tou querendo ser catastrófica... eu vejo tudo sendo direcionado só para as vantagens... qualquer decisão que você vai tomar na sua vida, você tem que pensar os prós e contras, por menor que seja... por que isso, que é uma coisa tão importante, só se pensa em um lado?. A gente tem uma coisa aí de muito interesse imediato, não se pensa a médio ou longo prazo O Papel da Petrobras no Município Parece existir uma percepção compartilhada quanto à importância atribuída ao papel da Petrobras no atual cenário econômico da cidade. Como foi visto acima, na comparação com as atividades hoje mais dinamizadoras da economia local (como a portuária, a turística, a de serviços e a do setor da construção civil), as atividades da área de petróleo e gás continuam sendo vistas pelas lentes de oportunidades futuras. Se existem críticas em torno da especulação demasiada gerada pela descoberta do Pré-sal, não parece haver dúvidas de que a Petrobras chegou para ficar e de que já se impõe como um dos principais agentes econômicos de indução do desenvolvimento da cidade e da região: Tem a vinda da Petrobras com uma estrutura muito grande. Vai ter funcionários. Veja a estrutura que isso vai exigir.... É fundamental. Está entre as três maiores empresas petrolíferas do mundo. É um fator de indução do desenvolvimento e de atração de emprego. É um acontecimento espetacular, para o Brasil e para o mundo. O Brasil daqui a pouco vai integrar a OPEP. O papel da Petrobras é fundamental. Vai enriquecer a cidade, todo mundo vai ganhar com isso: setor do comércio, hotelaria, a área cultural.... As indústrias que existem são pequenas, mas o principal é a Petrobras. É o principal ator, hoje, em Santos. A Petrobras é o imã. Hoje, os grandes investimentos que aportam na região não são apenas da Petrobras, é claro, mas há uma grande parte que está chegando para serem fornecedoras da Petrobras. A Petrobras está dominando completo, estão fazendo um prédio novo. Daqui a pouco, a cidade vai chamar Santos Petrobras (segmento CD). No meio de tantas expectativas de desenvolvimento econômico, prevalece ainda a preocupação com as possibilidades reais de inserção da mão de obra local nas novas frentes de trabalho que se esperam surgir. Novamente, a questão da qualificação profissional aparece como a problemática mais pungente: A Petrobras, nessa perspectiva, vai contribuir para a evolução social da região. As pessoas vão ter que se qualificar... A renda per capita certamente aumentará. As oportunidades de trabalho aumentarão. Cabe a cada um se integrar e se inserir nesse processo. A população santista não qualificada vai ter que procurar se qualificar, senão, vai ficar de fora. Não acho que a mão de obra daqui vai ser adequadamente qualificada, para ser realmente integrada a toda a essa lógica, ao invés de escravizada como já acontece. Parece ser opinião amplamente compartilhada o fato de que boa parte da mão de obra necessária aos novos empreendimentos econômicos (incluindo aqueles ligados à Petrobras) viria de fora. Além disso, entre as organizações ouvidas, as opiniões parecem apontar curiosamente para a importação tanto de mão de obra não qualificada quanto de mão de obra especializada. Outra queixa apontada também diz respeito ao não cumprimento da lei de conteúdo local por parte da Petrobras, para realização de suas operações, prejudicando o desenvolvimento local da cidade: 69

70 Então, a preocupação de Santos é essa: as pessoas vêm para trabalhar nas obras e depois não voltam... porque a Petrobras quer soldador, mecânico... e o pessoal de escritório mesmo, de poder aquisitivo maior, vem do Rio de Janeiro, vem de fora.... Já estamos importando pessoas para virem para cá. É a Petrobras que tem que cuidar dessa demanda. Mas eu já ouvi algumas reclamações de que a Petrobras não usa os fornecedores locais.... Como é que ela vai querer o desenvolvimento local se ela não usa nem fornecedores locais para coisas mínimas... por isso, que eu digo que a responsabilidade social está na boca de muitas empresas, mas na prática... mesmo da Petrobras, mesmo da Petrobras.... Ao mesmo tempo, parece não haver consenso, entre as organizações, quanto às reais causas que justificariam a vinda de trabalhadores especializados de fora. Se, para alguns, parece não existir mão de obra especializada local para os serviços da Petrobras (ou qualificados à altura das exigências da Petrobras); para outros, o problema residiria antes no baixo investimento público local direcionado à qualificação profissional de formação especializada, com vistas à obtenção de empregos socialmente valorizados, por oposição a empregos precarizados. Outros, por sua vez, sinalizam positivamente as recentes mudanças curriculares verificadas nas universidades da cidade, voltadas à área de petróleo e gás muito embora, como foi visto anteriormente, essa perspectiva não seja compartilhada por todos. Há quem a considere ainda desproporcional frente à demanda real criada pelos empreendimentos em torno da Petrobras: Precisam olhar de que forma podem devolver para a cidade, compensar, todos os impactos que ela [a Petrobras] está gerando pra cidade. Não adianta dizer que tá gerando emprego para as pessoas, mesmo porque Santos nem tem a mão de obra especializada de que a estatal necessita. A Petrobras passa recurso para o município e o estado investirem em formação profissional. Mas eles [do Poder Público] acabam investindo em formação de mão de obra para emprego precarizado e deixam de lado o investimento em formação especializada, mão de obra que será usada no futuro pela estatal. Se eles não se interessarem em formar mão de obra especializada, vai vir de fora. Grande parte da mão de obra para os próximos investimentos virá de fora. Mas, ao mesmo tempo, parece que as universidades estão se preparando para providenciar formação especializada, o que é bom. Há necessidade de qualificar mão de obra... praticamente todas as nossas universidades aqui tem cursos de petróleo e gás... Isso é positivo, porque, de alguma forma, pode estar trabalhando aqui.... Ao contrário das temáticas de emprego e de qualificação profissional, é interessante notar que a questão ambiental atraiu poucos comentários para si, não tendo aparecido como um fator de peso no que tange a avaliação da Petrobras, como no caso do Litoral Norte - para o qual as problemáticas das áreas de preservação ambiental, das comunidades tradicionais e seus modos de vida, bem como da economia pautada no turismo, esbarram diretamente nas atividades em expansão da empresa estatal: Todo mundo quer trabalhar na Petrobras... não tem impacto nenhum, nem favorável, nem ruim... não tem impacto aqui... tem dutos que passam aqui, que a gente sabe que é da Petrobras, mas não tem nada.... Não é uma preocupação [a questão ambiental], pois eles estão respeitando as áreas críticas. Eu ainda não estou conseguindo ver com alguma clareza... certamente vai ter algum impacto aqui... até porque a Petrobras está instalando uma parte de suas atividades aqui, em Santos... está planejando construir três grandes torres... vai ter um impacto, mas eu ainda não consigo visualizar com muita clareza, não.... Santos já convive com o porto há mais de cem anos. Quer dizer, a cidade já convive com o porto, vai saber conviver com a Petrobras também. E a Petrobras vai usar basicamente o porto. Ele já tá todo aí, estruturado... só falta resolver os problemas de infraestrutura.... Perfuração de petróleo traz custos ao meio ambiente. Um acidente, não sei que região vai ficar essas plataformas, pode não ficar próximo da praia, mas nós sabemos que um acidente desses pode pegar a nossa maré aqui e acabar com a nossa praia, acabar com a nossa fauna (segmento AB). Hoje, a Petrobras polui menos (segmento CD).

71 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Apenas algumas organizações e alguns moradores ouvidos fizeram uma alusão direta à experiência vivida pelo município de Macaé (tanto em termos ambientais quanto sociais) e, no geral, apresentaram receios de que o mesmo processo ocorresse em Santos. Entretanto, houve referências pontuais ao contexto social diverso de Santos hoje comparado àquele de Macaé inicialmente: Se for bem planejado, pode ser muito bem-vinda [a instalação do novo polo da estatal]. Só temos receio de que aconteça como aconteceu em Macaé [a favelização]. Isso preocupa. Quando a Petrobras chegou, em Macaé, era só uma vila de pescadores. A relação entre Macaé e Santos vai ser muito diferente [com a Petrobras], porque são realidades muito diferentes... Santos já tem uma cultura.... Macaé foi inventado praticamente, entre aspas, ela cresceu por causa da Petrobras, nasceu para a Petrobras. Santos já não, Santos já é uma cidade que tem vida... (segmento AB). Uma preocupação recorrente entre as organizações entrevistadas diz respeito aos impactos diretos sobre a infraestrutura da cidade que seriam gerados a partir da grande abertura de vagas de empregos, para os empreendimentos ligados à Petrobras: Não temos estrutura para criar vinte mil empregos como se está especulando. Apesar de existirem algumas divergências dentre as organizações e a despeito de algumas delas reconhecerem os possíveis impactos negativos das ações da empresa estatal, de um modo geral, considerando todos os moradores e organizações ouvidos, parece haver um consenso em torno da imagem positiva da Petrobras. A empresa vem comumente associada à imagem de patrimônio nacional e sob a frequente qualificação de excelência, exigência, segurança e peso institucional : Tenho grande orgulho de ter meu projeto bancado pela Petrobras. A Petrobras é uma empresa de excelência. Mas eu acho que ela tem que tomar um cuidado muito grande porque as ações dela são altamente poluentes. A gente não pode se enganar quanto a isso. Agora, quando a gente fala de Petrobras, eu me sinto segura, eu sinto segurança. A gente sabe que a Petrobras é muito exigente e tem que ser mesmo. Pra isso, a gente tá se preparando também pra ser um grande parceiro da Petrobras. Tem o peso institucional de Petrobras, né... você fala em Petrobras, as pessoas arrumam a gravata.... [A estatal é um] patrimônio nacional. A atuação da Petrobras, na Baixada Santista, também parece ser vista com bons olhos pelo Terceiro Setor de Santos. Muitas ONGs locais enxergam a possibilidade de estabelecer laços de parceria frutíferos com a empresa, para o financiamento de seus projetos sociais e ambientais. Todavia, há quem sinalize para a atenção (ainda insuficiente) despendida pela Petrobras em relação à comunidade local e à cidade (de forma abrangente, em termos de compensações), ou para a sua responsabilidade social empresarial ainda superficial: Pro terceiro setor, é uma questão de muita esperança, né? Que a Petrobras venha respaldar essas ações [das ONGs locais]. E eu espero que a Petrobras seja um grande parceiro... O que a gente espera é que tenha esse contato aí com a Petrobras, esse respaldo da empresa. Acho que ela vai ser um grande parceiro da cidade, mas ela tem de saber investir na cidade, diferente do que está sendo feito. Eles têm alguma coisa legal, mas eu achava que deviam ser mais humildes e não só procurar o Poder Público, ir pras comunidades. Porque a gente está sendo expulso para eles ficarem à vontade. Tem uma coisa boa empresarial pra eles, mas estão expulsando as pessoas. Está do jeito que os capitalistas gostam. Faz um ou outro projeto, por via da Prefeitura, pra dar uma maquiada, mas é só isso. 71

72 O Turismo como Atividade Econômica ainda de Peso Em meio às atividades ligadas ao complexo industrial portuário, somadas aos empreendimentos da Petrobras, chama atenção o lugar de destaque ainda reservado ao turismo na dinâmica econômica da cidade de Santos. A atividade turística parece ser considerada ainda de peso hoje e, mais do que isso, parece ser vista de forma mais promissora do que as outras atividades econômicas quando o assunto é sustentabilidade: O turismo é forte pra caramba em Santos... apesar de Santos ser uma cidade de idosos.... Se observar, o turismo tem mais potencialidade de crescimento, em Santos, do que o próprio Pré-sal. O emprego que vem para o Pré-sal é o pessoal que vem de fora, um pouco da mão de obra da Baixada... que não se compara com as cidades turísticas daí... que absorvem a mão de obra [local]... então, Santos tem que olhar para o Pré-sal, para o porto, mas também para o turismo.... Vai continuar tendo seu papel. É uma das principais fontes de arrecadação e distribuição de renda na região. Interessante notar que participantes dos grupos de pesquisa, sobretudo do segmento AB, estabelecem nexos entre o turismo e o porto. Nesse caso, consideram o porto como uma via de entrada de turistas e mencionam que a construção de um terminal turístico contribuiu para dinamizar o turismo local. Sob essa ótica, o porto e o turismo aparecem como atividades que se retroalimentam, com destaque para o porto, que transcende a sazonalidade do setor turístico da cidade: Eles fizeram um terminal de passageiros que melhorou muito a cidade. Os navios, os transatlânticos param em Santos, então, melhorou muito a movimentação de turistas (segmento AB). De uns cinco anos para cá, o turismo deu uma crescida. Turismo de navio cresceu muito depois que fizeram o terminal de turismo. A importação e exportação nunca vai deixar de ser, porque a de turismo é aquela de novembro a março, é sazonal (segmento AB). Quer turismo maior que o do porto, do que o dos navios? (segmento CD). Contudo, para as organizações ouvidas, o turismo sustentável que se vislumbra e se deseja parece ser aquele capaz de absorver a mão de obra local, valorizando-a, ao mesmo tempo em que se pensa na inclusão da cidade como um todo, nos circuitos turísticos, sem reproduzir espaços de exclusão que, por sua vez, seriam apenas destinados às feiuras comumente associadas às imagens de poluição das atividades do complexo industrial portuário: A nossa mão de obra para turismo vem daqui de dentro... mas tem que ser preparada, valorizada... e não pode só pensar em turismo, em orla, e esquecer os outros bairros com caminhões.... Embora não haja um consenso em torno de qual segmento de turismo a cidade deva se debruçar mais detidamente, parece ser compartilhada a percepção de que Santos possui uma pluralidade de atrativos, serviços e equipamentos turísticos a oferecer aos turistas, situando-a em uma posição privilegiada em relação a outros municípios da Baixada Santista: A questão do turismo é o turismo de terceira idade. Vai surgir outro tipo de turismo também: o de negócios. Santos tem trabalhado mais isso, mas não sei em relação aos outros municípios. Deve ter turismo de negócios, turismo de lazer.... Turismo de negócio, turismo histórico... isso aí.... Tem vários pontos turísticos... várias feiras... tem a Porta do Sol.... Estão construindo muitos hotéis novos e luxuosos e isso atrai o turista. Tem o aquário, o museu de Pelé, tem praia, os cruzeiros de navios... temporada de cruzeiros é a partir de Santos. A segunda maior atração turística do estado está em Santos: é o aquário. Só perde para o Jardim Botânico. Estão pretendendo dar foco em outros atrativos... tem o orquidário que vai ser entregue agora... a gente tem o aquário em Santos, que foi reformulado... a gente tem o circuito do Centro....

73 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Não obstante as inúmeras vantagens já oferecidas por Santos, permaneceriam alguns entraves e desafios cruciais ao pleno desenvolvimento do setor turístico da cidade, segundo as organizações entrevistadas. O maior dos problemas parece ser ainda aquele ligado à qualificação da mão de obra responsável pelo receptivo turístico: Agora, a fragilidade do turismo santista está na recepção... a gente apanha de mil a zero para o nordeste... a gente tem que pegar um avião e ir para o nordeste para aprender a ser receptivo. Mas a dificuldade do atendimento do setor comercial é terrível. Fala-se muito no turismo da região, mas há muitos detalhes, como esse, que comprometem um melhor desempenho desse setor. Vem melhorando, mas ainda falta melhorar o receptivo turístico. Também surgiram, entre esse segmento, queixas quanto ao subaproveitamento de outros pontos potencialmente turísticos da cidade, como a Lagoa da Saudade, o mercado municipal, o centro e os patrimônios históricos de Santos hoje, em mau estado de conservação: Turismo podia ser melhor explorado. Turismo é uma coisa que a gente tem expectativa que se desenvolva. Eu acho que o turismo aqui, em Santos, tá muito tímido... Nós temos a Lagoa da Saudade, que não estão sabendo explorar... E isso é uma potência... O turismo bomba no mundo todo. Mercado municipal não tem nada, nada. Podia ser uma Veneza aquilo ali, com umas barquinhas, mas não... [referindo-se à região antiga do centro]. Santos está abandonada. Deixaram a cidade envelhecer. Há o projeto de revitalização, mas isso não sai do papel. E o que está sendo feito está apenas no centro velho. Um dos apontamentos mais recorrentes, entre as organizações da sociedade civil, também recaiu sobre a recente mudança no perfil do turista médio de Santos, antes caracterizado como farofeiro (ou turista de praia, de um dia só). Hoje, a imagem predominante parece ser aquela de um turista que vem primeiro a negócios ou, então, a de um turista de veraneio com segunda residência na cidade, mais pertencente à alta renda. As duas imagens, contudo, parecem manter diálogo estreito com a caracterização atual de Santos, enquanto uma cidade progressivamente de classe média alta. Uma das organizações, nesse sentido, colocou como desafio atual a adaptação às demandas desse novo perfil de turista que chega à cidade, exigindo maior inovação na área turística: Houve uma época do turismo de farofa. Hoje, funciona mais como balneário para quem tem propriedade na cidade. Ela [Santos] vem mudando o perfil daquele turista farofeiro, que está indo mais para Praia Grande agora... é turismo de negócio.... Não estão agregando outros valores, não estão inovando... e eu acho que o perfil do turista mudou muito, e tem que se adaptar a isso. De modo mais pontual, alguns representantes dessas organizações manifestaram críticas no que toca a pouca sinalização dos atrativos turísticos, como forma de orientação dos turistas pela cidade, assim como o aumento excessivo dos preços na época de temporada: Se eles querem atrair as pessoas para o centro, você tem que favorecer o acesso ao centro... se eu vier com o carro, eu não sei chegar, porque não tem placas... tem que oferecer, minimante, condições para ele se localizar na cidade.... Se eu sou um turista de fora, eu não sei que ônibus eu tenho que pegar para ir ao teatro do coliseu. E são questões que eu trouxe, que me causaram ansiedade quando eu cheguei.... No litoral... é temporada, as coisas dobram de preço... você, turista, se sente lesado... e não volta. 73

74 Por fim, também foram destacados pontualmente os problemas de saúde pública decorrentes da vinda de cruzeiros marítimos e da movimentação intensa de seus passageiros pela cidade, como o uso de drogas ilícitas e a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, sinalizando a falta de preparo de Santos para lidar com esses problemas: Mas Santos não está com aquele preparo para a questão dos cruzeiros marítimos. Você chega a receber oito cruzeiros de vez, com seis, sete ou oito mil pessoas por cruzeiro, que ficam circulando pela cidade. Você vê que tem uso de drogas dentro, tem doença, que tem morrido gente lá dentro.... A gente conversa com as profissionais do sexo, e elas dizem que embarcam nesses cruzeiros e ganham muito. E elas transam com a tripulação, transam com os passageiros. Está tendo preservativo?. O porto aberto também traz muita doença para dentro da nossa cidade; não tem controle (...) outro dia, entrou um navio ali, e o cara tinha malária, o comandante pegou malária, ficou todo mundo em quarentena, lá na Beneficência; porque tem uma política de saúde (segmento AB) Potencialidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável de Santos Perspectivas e Potencialidades de Desenvolvimento Sustentável Quando se trata de perspectivas e potencialidades de desenvolvimento sustentável em Santos, parece prevalecer certa posição de ceticismo, entre as organizações entrevistadas da sociedade civil e participantes da oficina pública, embasada por uma visão compartilhada de que a sustentabilidade não poderia ser possível dentro dos marcos de desenvolvimento em vigor - que acentuariam desigualdades sociais gritantes, por exemplo: Perspectiva difícil de ser vislumbrada. Não vejo a cidade seguindo um caminho de desenvolvimento sustentável. Esse caminho ainda não tá muito claro pra gente. Não vejo sustentabilidade em nada disso [esse tipo de ocupação industrial]. Eu acho que depende do que a gente chama de desenvolvimento... as pessoas podem achar que a cidade está num momento de efervescência, que muita coisa está acontecendo... mas pra mim, não posso aceitar um desenvolvimento que acentua desigualdades... e, para mim, essas desigualdades estão expressas no território. Se a gente for ver quantas famílias são consideradas pobres... Santos é o lugar que menos concentra pobres na região... Santos é menos de 10%... só que, quando você vai ver, a pobreza em Santos é muito maior... os pobres, em Santos, são muito mais pobres... a quantidade de miseráveis é muito maior... pelo menos alguns dados estão mostrando isso.... Consideram difícil vislumbrar, hoje, um futuro sustentável próximo para Santos, ao mesmo tempo em que não parecem faltar ideias e sugestões para alcançar a desejada sustentabilidade. Várias ideias e contribuições, em torno do ideal de sustentabilidade, foram mencionadas no decorrer da leitura comunitária, envolvendo as mais variadas esferas do cotidiano da população santista muitas vezes, em sintonia com os serviços públicos essenciais também -, como saneamento, tratamento do lixo e reciclagem de materiais, geração de emprego e renda, energias renováveis, educação, cultura, turismo e habitação. No que diz respeito ao planejamento urbano e à habitação, surgiram sugestões quanto ao uso das potencialidades contidas nos instrumentos de regulação urbanística do Estatuto da Cidade (como a outorga onerosa), enquanto mecanismos de reforma urbana e de políticas redistributivas: Eu acho que é ter uma política de desenvolvimento urbano que atenda a todos, principalmente àqueles mais pobres.... Como potencial, ela [a cidade] tem condições de atratividade, inclusive, para o capital imobiliário, muito grande. Santos apresenta ótimas condições de se fazer políticas redistributivas... os instrumentos para fazer isso estão lá no Estatuto da Cidade. Quem ganha com o solo urbano repassa uma parte desse ganho para a sociedade, para o Poder Público... para que o Poder Público, junto com fontes de financiamento, possa melhorar a situação justamente daqueles que vivem em péssimas condições urbanísticas.

75 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 (...) e não é só isso... eu acho que Santos não cumpre a função social da propriedade... eu tou falando agora em potenciais... eu acho que se a gente usasse parte daquilo que o Estatuto da Cidade oferece... eu acho que Santos passa por um momento fenomenal. Aqui, mesmo pagando outorga onerosa, aqui, é que está o lugar mais competitivo para ele empreender [referindo-se ao capital imobiliário]. Em dez anos de vigência do Plano Diretor... a outorga onerosa foi muito pouco solicitada... a transferência do direito de construir foi solicitada uma única vez... é pífio.... Indo nessa direção, há quem sinalize que um desenvolvimento sustentável logo, inclusivo deve levar em consideração, necessariamente, a garantia de moradia digna aos cidadãos. Particularmente, a política de revitalização do centro de Santos, em curso, deve estar atenta àqueles que já habitam a área há anos. Por fim, também surgiram ideias para modelos sustentáveis de construções, envolvendo aproveitamento de água das chuvas, teto solar e rampa de acesso para deficientes: Sobre a habitação, ainda não tem uma lei para as novas construções... que não têm reuso de água de chuvas... mas tem que ser a cidade toda... em construções populares, que tenha... rampa de acesso para pessoas deficientes... teto solar.... Algumas organizações e alguns participantes dos grupos de pesquisa sinalizaram, por sua vez, a oportunidade de aproveitar a energia solar da Baixada Santista, investindo na ampla geração de energia limpa, através de painéis de captação de energia solar espalhados pela cidade. O investimento e a utilização em larga escala poderiam driblar o alto custo associado à compra desses painéis, beneficiando a população com a redução do consumo de energia elétrica no longo prazo, também: Podia aproveitar mais a energia solar. Ter um investimento na indústria de painéis de captação de energia solar na Baixada. Santos, a partir de agora, já que vai ter esse boom imobiliário, toda casa deveria ter um painel de energia solar... se a gente construir em larga escala, o preço vai cair, e todo mundo vai poder ter acesso e diminuir a questão da energia. Eles poderiam fazer esses prédios ecologicamente corretos. Tem tanta coisa legal, aproveitar a água das chuvas, energia solar (segmento AB). Uma organização participante da oficina pública abordou a questão do uso de energia limpa, mas enfocando a utilização de teleféricos enquanto meio de transporte menos poluente, mais atrativo em termos de turismo e mais prático dada a topografia particular de Santos: Não se fala em teleféricos. Teleféricos são meios de transporte muito importantes para os morros... nós temos que estar preparados para esse milênio... tá aí o turismo... não vou nem notar o carro... energia limpa.... No que toca a questão do tratamento do lixo e da reciclagem de materiais, a coleta seletiva e o reaproveitamento de materiais (como os eletroeletrônicos descartados), por meio de uma indústria, aparecem como sugestões frequentemente listadas entre as organizações da sociedade civil. Além disso, parecem estar sempre vinculadas a uma perspectiva que procura englobar tanto o viés ambiental quanto o viés socioeconômico, na medida em que também são vistas como uma grande oportunidade de geração de emprego e renda para a população local. Entretanto, vale lembrar que nem todas as organizações entrevistadas são a favor da geração de energia através de uma usina de lixo, como foi mencionado acima, defendendo apenas a coleta seletiva e a reciclagem de materiais: Nós temos que trabalhar uma indústria de coleta seletiva... para gerar emprego... gente, que a gente pode fazer lixo virar ouro em nosso bolso... Santos podia ter uma usina na área continental e uma indústria de coleta seletiva. O lixo de Santos podia entrar nessa lógica também. Falta uma indústria do lixo aqui. Essa indústria iria reduzir significativamente nosso gasto com energia, por exemplo. 75

76 Acho que a gente tem muito que fazer nessa área e, inclusive, botar essa mulherada toda pra trabalhar! [trabalhar com o aproveitamento do lixo para geração de energia]. Quanto ao turismo sustentável, as organizações ouvidas fizeram menções quanto às possibilidades de geração de emprego e renda com a reforma do porto, na área do Valongo. Vale ressaltar que as falas foram direcionadas a um tipo de turismo inclusivo, que pudesse ser usufruído pela própria população santista, sem que fossem criadas barreiras sociais a partir do mecanismo de regulação dos preços dos serviços, que serão prestados após a reforma completa do porto: Pessoas que fazem esse artesanato sustentável que possam ter espaço, por exemplo, nessa reforma do porto. Um porto que é referência é o de Buenos Aires... só que só tem restaurante muito caro, escritórios... eu conheço... temos que construir um sistema local, onde tenham restaurantes, com comida regional, com prato a 12 reais... e não de 87 reais, que é o que vai ser... inserir dentro dos projetos essas demandas... senão, daqui a dez anos, é um bocado de pessoas com grana e quem não tem, tchau. No que se refere à infraestrutura urbana e à rede de serviços públicos, algumas organizações da sociedade civil se receiam dos impactos previstos a partir da crescente demanda gerada pela dinamização da economia local: Perspectiva para futuro sustentável seria o investimento da Petrobras na criação de estrutura que atenda a essa demanda trazida pelos atuais investimentos. Novamente, a questão da qualificação profissional, para inserção no mercado de trabalho, aparece como pedra de toque fundamental quando se pensa no desenvolvimento sustentável futuro, o que pode ser identificado pelo número de falas em torno dessa demanda específica. Uma das maiores preocupações parece residir na qualificação profissional de segmentos populacionais hoje em condição de vulnerabilidade social ou esquecidos pelas políticas dominantes de emprego e renda do Poder Público. A proposição de novas frentes de trabalho aparece, por vezes, conciliada com a questão da preservação ambiental, ao passo que a ideia de inserção no mercado de trabalho atual aparece mais associada à imagem dos empreendimentos ligados à Petrobras: (...) um investimento em capacitação profissional, que inserisse os moradores da região na construção dos megaprojetos, também seria importante. A gente tá pleiteando investimento em qualificação (...) vai gerar emprego desde que essa garotada se profissionalize. Aqui, o que a gente pensa do futuro, teria que ser um futuro não muito distante, que é qualificação para essa garotada.... SENAI, alguma coisa de curso mesmo, voltada para isso tudo: consertar navio, marcenaria naval.... Mercado naval tem muito potencial. [A Baixada toda] reúne condições não só para esse mercado, como também para mercado fornecedor. Há projetos de abertura de estaleiros de Mongaguá a Bertioga. A região comportaria esse tipo de investimento. Contudo, existe uma grande disputa para zelar pelas áreas de reprodução marinha, pela manutenção do meio ambiente. Só investir nessa área não basta, é preciso cuidar da parte ambiental também. Precisa ter uma preocupação voltada para gerar o menor risco de impacto ambiental. Também algo voltado para a capacitação das populações regionais. Nesse tocante, houve quem sugerisse, na oficina pública, o estreitamento dos laços de parceria entre as universidades locais e a sociedade, para o aproveitamento da extensão universitária no fomento à qualificação profissional e à formação de lideranças locais: As universidades têm uma potencialidade de cursos de extensão, aproveitando que ela tem a educação, a pesquisa e a extensão... Essa parte da extensão pode ser usada para dar os cursos de formação para as lideranças locais, bem como cursos para a mão de obra, né? Como o campus da USP, além das universidades particulares também, com várias outras potencialidades....

77 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Entretanto, uma parte das organizações da sociedade civil parece defender a mudança de rumo da ênfase atual endereçada ao setor de petróleo e gás, quando o assunto é emprego e qualificação profissional, na tentativa de pensar modelos econômicos mais sustentáveis e menos dependentes: Instituto não tem que formar só para petróleo, o mundo não é só petróleo. Essa grana não pode ser investida para a gente virar boneco desse projeto aí... isso é neocolonialismo... tem economia criativa... aproveitar novas riquezas para gerar novos empregos... sabe-se lá o que.... Deveria se voltar para a economia verde: linhas de produtos que se baseiam no aproveitamento de matérias nativas. Isso traz sustentabilidade e qualidade de vida. Além disso, ecoturismo, que aproveite o canal inclusive. Não obstante as diferenças de enfoque sobre qual tipo de qualificação profissional deva ser estimulado, parece ser consenso amplamente compartilhado, entre as organizações e os segmentos de moradores entrevistados, a necessidade de se investir em qualificação profissional (pública, gratuita e de formação especializada, como foi visto acima) voltada à população santista, como forma de reverter o fluxo de trabalhadores vindos de fora e de expulsão gradativa dos moradores da cidade. O município de Macaé também é tomado como exemplo indesejado desse processo excludente: Em Macaé, a própria população foi expulsa da cidade, porque não teve qualificação profissional. Aqui, em Santos, tem muita riqueza, mas tem muita desigualdade também. [O desenvolvimento sustentável] tá na formação qualificada para os moradores de Santos, pra que não haja evasão de moradores e invasão de trabalhadores de fora. (...) e também o receio de que isso vai acabar atraindo mão de obra não qualificada... eu acho que essas duas coisas estão na ordem da discussão... eu também não vejo, por parte do Poder Público, preocupações, enfim, pensar medidas preventivas... não no sentido de botar uma cerca... mas medidas preventivas de assegurar certas coisas... uma boa parte dessa mão de obra [das construções locais] não é de Santos, não. O Poder Público poderia ajudar... obrigar o pessoal a se qualificar... que seria uma forma de não atrair aquela mão de obra que vem de fora, e que os municípios depois têm que se esforçar para oferecer condições.... Para além da qualificação profissional, algumas organizações frisaram a importância de uma mudança mais global e de fundo no plano da cultura e da educação dos indivíduos, como base inicial para assegurar qualquer perspectiva futura de desenvolvimento sustentável. Para uma das organizações, a educação deve ser retratada através de um enfoque integral, que não se reduza ao ambiente escolar. Outra organização, por sua vez, destacou a necessidade de alteração dos currículos escolares, privilegiando temas como cidadania, e de valorização dos profissionais de ensino: O primeiro e principal desafio é uma mudança cultural. É um desafio... as duas cidades que eu convivo têm tudo para prosperar [Santos e Cubatão]... se tivessem uma cultura diferente... o santista é muito fechado... quando você vem de fora, você encontra muita dificuldade... eles são muito provincianos... eu acho que não existe mais lugar no mundo para cidades provincianas. A gente vive o local, mas a gente tem que pensar no global. O maior problema são as PESSOAS. As pessoas, hoje em dia, estão com os valores muito fragilizados... estão com os valores muito invertidos... então, eu acho que o fundamental é a educação. Não existe empresa sem pessoas. Não existe sociedade sem pessoas. Educação como um todo, como processo... educação você faz 24 horas por dia. Falta esse entendimento de educação, que escola é só uma estrutura e não é a responsável pela educação. Está na hora da gente pegar a responsabilidade para cada um de nós. Tem de começar pelas escolas, incluindo, por exemplo, disciplinas voltadas para cidadania, envolvendo as crianças com as noções de cidadania. Além disso, seria preciso melhorar a remuneração dos 77

78 professores. Os professores têm de ser mais valorizados e têm de ter incentivo para continuarem atualizando o conhecimento. É importante notar que quase não houve menções às perspectivas ou às potencialidades que poderiam vir a ser abertas a partir da utilização dos recursos dos royalties. Esse fato pode sinalizar, talvez, a pouca apropriação ainda dessa discussão por parte da sociedade civil de Santos. Por outro lado, pode também apontar, mais uma vez, para aquela posição de ceticismo em relação à possibilidade de construir um desenvolvimento sustentável alicerçado em bases econômicas antigas de exploração de petróleo: São dois pontos [educação e saúde] que merecem muito debate e investimento, não por município, mas por região. E os empreendimentos do Pré-sal devem pensar nisso [referindo-se à utilização dos royalties no longo prazo]. O Olhar e o Planejamento Regionais Embora haja o reconhecimento da existência de características que são locais e particulares a cada município da Baixada Santista e que os distinguiria, portanto -, parece haver uma percepção quase generalizada, entre as organizações da sociedade civil entrevistadas, de que o desafio de se pensar o desenvolvimento futuro de Santos perpassa, necessariamente, pela compreensão e pela resolução de problemas que são antes metropolitanos. A chamada consciência metropolitana, nesse sentido, parece estar bem arraigada entre tais organizações, que enxergam Santos enquanto a referência regional da Baixada Santista, ao mesmo tempo em que admitem (por essa mesma razão) compartilhar dos problemas vivenciados por municípios vizinhos, dada a sua proximidade geográfica: Eu acho assim que Santos... muito interessante essa questão regional... o olhar regional é um... mas Santos é Santos, e São Vicente é São Vicente... cada um tem sua cultura própria... eu achava que não, que São Vicente era apenas um bairro da minha cidade... e não é bem assim... acho que cada um tem as suas particularidades... e nem sempre quando você joga a coisa pro regional, resolve... essas peruas aí eram pra ser regional... mas vai colocar isso aí... o pau quebra... eu achava melhor a gente conversar sobre Santos, pra depois a gente ampliar.... Nós somos cidade polo de toda essa região... e nós respiramos os mesmos problemas de São Vicente... então, a gente tem que falar, sim, de São Vicente, Praia Grande... principalmente, para habitação, transportes, segurança.... O sistema de transporte coletivo, enquanto peça fundamental da mobilidade urbana e regional (sobretudo, pendular) dos cidadãos, foi destacado como uma das problemáticas metropolitanas de ponta: A questão do transporte é uma questão que tem que ser mesmo regionalizada. Não tem como colocar mais carro aqui. O governo e a população têm que pensar nisso... o que vem de gente pendurada aí, de São Vicente... tem que pensar de forma metropolizada. Os problemas não podem ser tratados isoladamente. Têm que ser pensados de forma metropolitana. Não adianta ter mobilidade em São Vicente, se não tem mobilidade para o polo de Cubatão. A solução tem que ser metropolitana. Tem que haver uma consciência metropolitana. Como foi mencionada acima, entre os representantes das organizações ouvidas, a questão da habitação também costuma ser relacionada a uma dinâmica metropolitana - principalmente, quando se trata de assinalar a expulsão progressiva de moradores da cidade para municípios próximos (como São Vicente e Praia Grande). Nesse caso, são os municípios vizinhos que passariam a vivenciar os efeitos colaterais da valorização imobiliária em Santos. Por fim, houve quem destacasse o problema de saneamento (como o tratamento de esgoto) de forma metropolitana, pensando na configuração territorial da Baixada Santista: A região tem muitos problemas também em relação ao saneamento básico, principalmente, tratamento de esgoto. Como os governantes enxergam isso, sabendo que estamos numa área de mananciais? Precisamos criar condições para que [as indústrias que se instalarão na região] pensem nisso e não agridam mais ainda a região. Em termos de consciência metropolitana, vale mencionar uma preocupação assinalada por uma das organizações entrevistadas, na medida em que se constituiria como um obstáculo real à sustentabilidade regional integrada:

79 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 As cidades estão mais numa dinâmica de guerra de marketing, para disputar essas empresas, do que se debruçando sobre o esforço de pensar as condições de instalação sustentáveis e que garanta a qualidade de vida da população. O Debate Público sobre o Futuro de Santos As temáticas abordadas nas entrevistas e na oficina pública, junto à sociedade civil organizada de Santos, parecem ser permeadas constantemente por falas que fazem referência à participação ativa e à mobilização da população em torno dos debates que cercam os novos empreendimentos econômicos do litoral paulista e as perspectivas de futuro da cidade. A participação democrática da sociedade aparece, portanto, como elemento-chave (e um desafio) da sustentabilidade: Perspectiva de desenvolvimento sustentável não vai acontecer enquanto não houver também uma cobrança por conta da sociedade da atenção dos gestores a essa questão. Durante a oficina, surgiram intervenções que trataram das tensões e dos interesses conflituosos entre parte da sociedade civil santista e grupos empresariais ligados a setores econômicos dominantes na região. Tais falas foram direcionadas, por exemplo, no sentido da formação e da mobilização de lideranças locais, para que se apropriassem dos novos debates, como forma de incidir sobre os processos globais em curso na cidade: Existe uma força do governo federal em cima dessa questão do Pré-sal... só que o poder econômico tá fazendo isso com agilidade e eficiência... e os empresários trabalham aí a todo vapor... eles querem prazo... porque nisso corre muito dinheiro... eu sou muito preocupado com isso... eu acho que nós (...) deveríamos fazer um curso com temas, como habitação... o poder econômico vem trazendo essas questões com toda velocidade... se nós não fizermos isso com tanta rapidez... nós vamos ficar desesperados... chupando dedo... no momento que vem em curso o Pré-sal... esse momento é um momento de extrema importância para nós aqui... tá se discutindo a questão da habitabilidade... na saúde, tem vindo gente do exterior... então, devíamos fazer o curso com temas, nós aqui, que somos formadores de opinião, e a população saber que nós somos formadores de opinião atualizados.... De modo semelhante, surgiram críticas quanto à pouca iniciativa do Poder Público local, no que se refere à criação de mais espaços públicos (qualificados e inclusivos) de discussão e deliberação sobre o futuro da cidade, suas oportunidades e alternativas de desenvolvimento: Acho que há muito que fazer. O povo quer participar [dos rumos da cidade], mas tem que haver mais vontade política pras coisas acontecerem. Porque o povo santista é lutador, bem antenado. O que falta é vontade, criação de mais espaços pra participação. É só criar esses espaços que as pessoas estão lá. É uma questão de fazer. E a população não participa dessa discussão [sobre a cidade]. Acho importante, como perspectiva, a manutenção desse processo de democracia participativa. A região vivencia um momento em que toda essa questão de se falar o que pensa está falha. Inclusão pressupõe ter metodologias apuradas que permitam que o outro também fale o que ele pensa. Fala-se muito pelo outro. Empoderamento da comunidade, devolvendo a dignidade. Tem plebiscito para tanta porcaria. Eles deveriam fazer um, de vez em quando, para o povo, perguntar a nossa opinião sobre tudo (segmento AB). A Participação nos Benefícios Vindouros e a Distribuição Justa das Riquezas Junto ao estímulo à democracia participativa e ao fomento do debate público sobre os rumos de Santos, permanece também como desafio, para o desenvolvimento sustentável futuro da cidade, a questão da 79

80 distribuição das riquezas que serão (ou já são) auferidas devido ao aquecimento da economia local (tendo como eixo as operações da Petrobras). A percepção e preocupação - amplamente compartilhada parece ser aquela de que, apesar da enorme riqueza produzida no território, pouco ou quase nenhum benefício se reverteria para a parcela majoritária da população santista. A riqueza, assim, continuaria sendo uma abstração no cotidiano de boa parte dos moradores locais: (...) Passa boi, passa boiada, e a gente não participa dessa riqueza. Porque é o porto crescendo, são os investimentos. Mas, até agora, a gente só ouve, mas não chega. O povo não consegue alcançar esse benefício todo. Ninguém está vendo materialização de todas essas propagandas, promessas que tão aparecendo. Distribuir parte desse enorme ganho que os empreendedores têm.... A sensação de forte contraste também parece ser uma constante entre todos os entrevistados e participantes da oficina, na medida em que identificam desigualdades impressas diariamente no território e nas relações sociais de Santos. A desigualdade alarmante de Santos continuaria sendo uma barreira à perspectiva de desenvolvimento sustentável: A gente diz que tudo é dado de graça para quem tem dinheiro aqui. Santos está se tornando uma cidade de classe média alta. Os pobres de Santos são cada vez mais pobres. A desigualdade de Santos é aberrante e nenhuma cidade pode ser sustentável enquanto houver desigualdade. É preciso cobrar dos gestores políticas públicas que combatam a desigualdade. Santos vai ficar dividida em duas partes, ela já está dividida: uma é a classe A e B, a elite que pode morar bem, que os filhos estudam em escola particular que paga R$ 1 500,00 por mês, e a classe C e D que vai sendo empurrada para a periferia e que não vai conseguir sobreviver, que vai ter dois empregos para sobreviver, que, cada vez mais, a molecada vai ter que começar a trabalhar mais cedo, porque o custo de vida está muito alto (segmento CD). Compensações ambientais e financeiras, visando à recuperação ambiental e ao investimento em saúde e em educação, estão entre as reivindicações endereçadas às empresas instaladas em Santos, como forma inicial de redistribuição das riquezas alcançadas por meio do uso dos recursos naturais, materiais e humanos da cidade: Se estudar os impactos ambientais da região, pra que a gente possa ter uma taxa, alguma coisa que venha melhorar essa demanda da educação, da saúde... para que essa taxa seja revertida pelo município... para que Santos, pela primeira vez, possa biscoitar dessa riqueza, e que a gente não participa. É preciso brigar também pra recuperar o que foi degradado. Essas empresas tem que deixar dinheiro na cidade, para investir na saúde.... (...) parte dos lucros dos impostos, agora, precisa ser direcionada para essas coisas... coleta seletiva... não dá para entrar nesse ritmo de desenvolvimento e não dividir os lucros. A Petrobras, já que ela vai ganhar muito dinheiro com esse Pré-sal e tanta gente aí, deveria fazer alguma coisa educativa que desse condições dos nossos estudantes poder se preparar (segmento AB) Considerações Finais e Aspectos Relevantes A história de Santos parece ser profundamente permeada pela história da participação, organização e mobilização de sua sociedade. As imagens de cidade portuária cosmopolita, culturalmente efervescente e berço de movimentos libertários e de inúmeras greves (dando-lhe o apelido de Cidade Vermelha ) ainda nas primeiras décadas do século XX, permanecem a se considerar a amostra da pesquisa como heranças entranhadas na cultura e na vivência políticas de ao menos parte dos moradores e das organizações civis locais. Apesar do arrefecimento da mobilização popular em Santos, sentido por muitas das organizações, parece ainda prevalecer um alto grau de politização no seio da sociedade civil, baseado na experiência histórica de que a mobilização popular constante é peça imprescindível para a garantia de conquistas sociais.

81 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Hoje, todavia, as queixas mais recorrentes parecem recair sobre 1) a falta de articulação entre as organizações, em torno de espaços ampliados de discussão (contribuindo para gerar lutas fragmentadas), e 2) sobre o cansaço e o desgaste de algumas lideranças locais atuantes há mais tempo. No conjunto, Santos parece estar mudando seu perfil socioeconômico, tornando-se progressivamente uma cidade de classe média alta. Tal transformação, por sua vez, parece ser importante para contextualizar as recentes mudanças sentidas no perfil político e organizativo de sua sociedade, tanto em termos de desmobilização popular quanto em termos de uma tendência ao posicionamento mais à direita no espectro político (comparada à imagem de Cidade Vermelha até a década de 1990). De um modo geral, entretanto, pode-se afirmar que as organizações civis da cidade são predominantemente de natureza urbana, institucionalizadas, concentradas na área insular (sobretudo, na parte central) e costumam manter relações próximas com o Poder Público - seja na forma de cobrança mais direta, seja na forma de parcerias, de convênios ou de cooperações técnicas. A particularidade das organizações santistas parece residir no fato de que boa parte de suas atuações e articulações foge ao escopo do território municipal apenas, abarcando uma dimensão metropolitana. O Fórum da Cidadania parece ser hoje, em Santos, o espaço mais importante de articulação da sociedade civil local (uma vez que consegue aglutinar diversos movimentos, sindicatos, ONGs, institutos e outras entidades, abarcando diversas temáticas dentro de si). A Agenda 21 local de Santos foi a pioneira no Brasil. Contudo, por uma série de dificuldades e descontinuidades, não se encontra mais ativa hoje. A política de gestão participativa, no município, aparenta se concentrar em torno dos Conselhos Municipais de Políticas Públicas (foram contabilizados vinte e cinco ao todo), que abarcam as mais diversas temáticas, além de contar com quatro comissões permanentes específicas. O conjunto das resoluções tiradas, por ocasião da Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social, permite lançar luz sobre alguns dos principais problemas relativos aos espaços de gestão participativa locais. De um modo geral, percebe-se que a transparência da gestão pública e a participação cidadã ativa são temas candentes no município, sendo a participação e a mobilização popular em torno desses espaços, bem como a formação da sociedade sobre o papel dos Conselhos, algumas das demandas centrais. Além desses vetores, também foi pontuada a necessidade de maior qualificação para a atuação dos conselheiros (garantindo dotação orçamentária própria aos Conselhos para realizarem atividades formativas regulares), assim como maior articulação entre os Conselhos municipais para o fortalecimento de suas respectivas atuações. Por fim, apesar do funcionamento regular dos Conselhos, permaneceriam certos entraves à atuação efetiva desses espaços, em virtude do caráter consultivo de alguns Conselhos estratégicos para o município e da mencionada influência exercida pelo Poder Público sobre parte dos representantes da sociedade civil. Parece ser comum, entre os interlocutores, a percepção de que Santos possui lugar de destaque, hoje, no cenário regional, enquanto cidade de referência da Baixada Santista por sua importância histórica, política e socioeconômica (fato que parece se consumar, sobremaneira, diante dos novos empreendimentos previstos e em andamento no litoral). Santos usufruiria de melhores condições em termos de infraestrutura e de serviços públicos, tendo conquistado o reconhecimento regional em diversas áreas das políticas públicas, ao longo das últimas duas décadas. Essa mesma posição regional privilegiada, por outro lado, estaria entre as causas de muitos dos problemas enfrentados pelos serviços públicos, devido ao peso significativo da demanda externa sobre os serviços e equipamentos públicos do município (como saúde e transporte). No que diz respeito à gestão municipal, os moradores e as organizações ouvidas sinalizaram para a distribuição desigual dos serviços públicos no espaço e, consequentemente, para a atenção diferenciada da gestão pública ao se debruçar sobre o território santista. Entre os segmentos organizados, parece existir certa percepção de que o foco das políticas públicas e dos investimentos gira mais em torno, hoje, das demandas levantadas pelas grandes empresas, que lideram os setores econômicos de peso na região, do que propriamente em torno das demandas da população local. Algumas organizações também indicaram a ausência de articulação e de planejamento conjunto entre as políticas públicas como um forte fator prejudicial à eficácia da gestão. De forma mais pontual, surgiram críticas em relação ao excesso de burocracia estatal e à ausência de monitoramento e avaliação das políticas públicas implementadas. 81

82 Em geral, avalia-se que o serviço de saúde do município é insuficiente para atender toda a demanda da população e insatisfatório no que se refere ao atendimento, justificado pelas condições de trabalho dos profissionais de saúde, que receberiam baixa remuneração e trabalhariam excessivamente. Quando o assunto é educação, entre as organizações ouvidas, a maior parte das críticas recai sobre o número insuficiente de escolas e creches na cidade e, mais ainda, de escolas que ofereçam educação integral de qualidade para as crianças matriculadas. Outra queixa apontada refere-se à quantidade insuficiente de professores na rede pública, que sobrecarregaria de trabalho o quadro de profissionais existente. Vale ressaltar que na discussão sobre educação, o foco das atenções recaiu mais no ensino público fundamental e menos no ensino superior. O ensino superior sempre aparece associado à discussão sobre emprego e renda, através da qualificação profissional, para inserção no mercado de trabalho e para obtenção de empregos socialmente valorizados, como os da Petrobras. Nesse sentido, aponta-se a necessidade urgente do Poder Público de centrar seus esforços na promoção da qualificação profissional voltada à população local, mas não apenas direcionada à área de petróleo e gás. Quase todas as organizações da sociedade civil entrevistadas e participantes da oficina pública destacaram a persistência de um padrão econômico que importa mão de obra de fora, sobretudo, para atividades de baixa remuneração, como no ramo da construção civil. O número insuficiente de vagas em cursos de ensino superior público aparece como um entrave à acessibilidade de larga parcela da população santista no que se refere à qualificação profissional de alto nível, visando empregos mais bem remunerados. A inserção do jovem no mercado de trabalho figura como uma preocupação recorrente nesse ponto. A falta de oportunidade e de perspectiva de futuro foram frequentemente listadas como vetores fundamentais para explicar o aumento do consumo de drogas entre os jovens. A qualificação profissional, portanto, aparece sempre como a porta de saída inicial do universo das drogas. As políticas culturais tenderiam a privilegiar as áreas centrais e nobres da cidade (que fazem parte do circuito turístico), incentivando atividades de lazer e recreação ao ar livre, na avenida da praia principalmente, revelando uma distribuição desigual dos equipamentos e dos investimentos culturais públicos no território. Quando se trata de mobilidade urbana e regional, a percepção predominante é de que Santos aumentou significativamente a sua frota diária de veículos e caminhões em circulação, nos últimos anos, o que vem contribuindo para gerar mais congestionamentos na cidade. Durante a oficina pública, os interlocutores presentes também fizeram menção a problemas com calçamentos e com a manutenção das ruas, dificultando a mobilidade de pedestres, mas, sobretudo, de deficientes. As críticas mais recorrentes ao sistema de transporte recaem sobre o alto preço das passagens e sobre o número insuficiente de ônibus em circulação, que resultaria em demora no tempo de espera e em problemas de superlotação. Em relação à mobilidade intermunicipal, foi pontuada a ausência de uma concepção metropolitana e integrada no que tange o funcionamento do sistema de transporte de Santos, apesar da mobilidade pendular ser uma realidade cotidiana para boa parte da população santista. Soluções metropolitanas, como o túnel Santos- Guarujá e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), permaneceriam ainda como promessas políticas de longa data do governo estadual. No tocante ao saneamento, surgiram críticas a problemas estruturais de base, como a falta de rede de esgoto em alguns bairros precários da cidade. As principais queixas, todavia, ficaram por conta do sistema de coleta de lixo domiciliar e, em particular, da coleta seletiva. Segundo os relatos, alguns bairros parecem não contar com um sistema de coleta de lixo regular ainda e, a despeito da existência do Cata-Treco, muitos pontos da cidade ainda sofreriam com o descarte desregulado de entulho nas ruas. Além disso, parece existir amplo consenso em torno da percepção de que a coleta seletiva é insuficiente hoje, para atender a quantidade total de resíduos produzidos diariamente. Cabe destacar que os participantes dos grupos de pesquisa fizeram uma avalição mais positiva das condições de vida e dos serviços públicos existentes na cidade quando comparados com os representantes das organizações da sociedade civil. A questão da moradia, sem dúvida, transparece como uma das preocupações centrais da cidade de Santos. São frequentemente enunciados os processos que caracterizariam o modelo de urbanização em vigor, tais como a verticalização, a especulação imobiliária e a expulsão gradativa de moradores da cidade. Entre as organizações entrevistadas, também foi apontada a relação entre o aumento do número de habitações em locais irregulares (como morros e mananciais) e os grandes projetos da construção civil,

83 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 responsáveis por importar mão de obra de fora com baixa qualificação profissional e com baixa remuneração, sem garantir-lhe condições dignas de habitação. Em suma, apesar de ser uma cidade reconhecidamente estruturada, parece existir - sobretudo, entre o segmento organizado - a percepção de que Santos encontra-se aquém das condições urbanas desejadas e de que falta ainda uma política habitacional e de desenvolvimento urbano que crie, de fato, condições dignas de habitação (em vez de exclusão ) e que garanta o direito à moradia para todos os seus cidadãos. É a própria vivência cotidiana dos moradores, nos seus espaços em rápida transformação, que lhes sinaliza as alterações mais amplas pelas quais passa a cidade. Percebem, desse modo, a redistribuição territorial de parte da população, ao longo dos anos, que vem se espraiando gradativamente da área insular rumo à área continental e aos demais municípios vizinhos. Com o processo de urbanização excludente em curso, Santos estaria ganhando novos contornos sociais, tornando-se progressivamente uma cidade de classe média alta, mais desigual e composta majoritariamente por idosos. Como consequência, organizações ouvidas vislumbram a possibilidade de que Santos venha a se constituir em uma cidade mais voltada ao trabalho e menos à moradia, uma vez que esta se tornaria acessível a poucos. É esperado também que o espraiamento da população santista pelos municípios vizinhos potencialize a lógica da mobilidade pendular, agravando os problemas de trânsito já correntes. Quanto à vocação econômica do município, foram citadas as atividades portuária, turística, de serviços e de construção civil como as principais atividades dinamizadoras da economia local hoje. Vale ressaltar que as atividades relacionadas a petróleo e gás são vistas pelas lentes de grande potencial futuro. Chama atenção o fato que o porto não tenha atraído tantos comentários para si. Talvez, as poucas menções sinalizem não para o desconhecimento da realidade portuária, mas, como sugerem as intervenções feitas em relação à sua importância, para a naturalização da presença do porto na dinâmica cotidiana da cidade (a despeito de seus impactos). Outra hipótese é de que o porto já não incide tão fortemente no cotidiano da população local, depois que ele entrou em nova fase de exploração, com o arrendamento de áreas e instalações à iniciativa privada, e o resultante enfraquecimento da categoria dos estivadores. Em termos de perspectiva de desenvolvimento sustentável, o porto parece ser visto com ressalvas quando o assunto é economia sustentável. Surgiram também questionamentos sobre o modo como esse crescimento econômico à vista, com a expansão já noticiada do porto, irá gerar desenvolvimento de fato para as comunidades locais. Quando se trata de Pré-sal, parece haver a percepção de que a recente descoberta de reservas, na Bacia de Santos, teria imprimido um novo ritmo à cidade. Existe um reconhecimento generalizado de que a descoberta do Pré-sal trouxe consigo um conjunto de expectativas que já carregariam alguns efeitos colaterais danosos desde agora como a valorização imobiliária e a consequente expulsão de parte da população santista para outros municípios vizinhos, assim como o aprofundamento do perfil urbano/metropolitano da cidade. Em termos de impactos futuros, espera-se que o Pré-sal possa abrir novas oportunidades de emprego para a cidade, embora ainda não exista certeza de que a mão de obra local será empregada nas novas frentes de trabalho. Quanto ao papel da Petrobras no município, não parece haver dúvidas de que a empresa estatal já se impõe como um dos principais agentes econômicos de indução do desenvolvimento da cidade e da região. De um modo geral, parece haver um consenso em torno da imagem positiva da Petrobras. A empresa vem comumente associada à imagem de patrimônio nacional e sob a frequente qualificação de excelência, exigência, segurança e peso institucional. Contudo, projetam-se expectativas de importação tanto de mão de obra não qualificada quanto de mão de obra especializada, para trabalharem nos empreendimentos da empresa estatal. É interessante notar que a questão ambiental atraiu poucos comentários para si, não tendo aparecido como um fator de peso no que tange a avaliação da Petrobras, como no caso do Litoral Norte. Apenas algumas organizações fizeram uma alusão direta à experiência vivida pelo município de Macaé (tanto em termos ambientais quanto sociais) e apresentaram receios de que o mesmo processo ocorra em Santos. 83

84 Em meio às atividades ligadas ao complexo industrial portuário, somadas aos empreendimentos da Petrobras, o turismo ainda ocupa um lugar de destaque na dinâmica econômica da cidade de Santos. A atividade turística parece ser considerada ainda de peso hoje (por sua capacidade de absorver mão de obra local) e, mais do que isso, parece ser vista, entre as organizações entrevistadas, de forma mais promissora do que as outras atividades econômicas quando o assunto é sustentabilidade. Embora não haja um consenso em torno de qual segmento de turismo a cidade deva se debruçar mais detidamente, parece ser compartilhada a percepção de que Santos possui uma pluralidade de atrativos, serviços e equipamentos turísticos a oferecer aos turistas, situando-a em uma posição privilegiada em relação a outros municípios da Baixada Santista. O maior dos problemas que atinge o setor parece ser ainda aquele ligado à qualificação da mão de obra responsável pelo receptivo turístico. Também surgiram queixas quanto ao subaproveitamento de outros pontos potencialmente turísticos da cidade. Vale notar que, em paralelo à mudança gradual do perfil socioeconômico da população santista, parece ter ocorrido uma recente mudança no perfil do turista médio de Santos, antes caracterizado como farofeiro (ou turista de praia, de um dia só). Hoje, a imagem predominante parece ser aquela de um turista que vem primeiro a negócios ou, então, a de um turista de veraneio com segunda residência na cidade, mais pertencente à alta renda. Quando se trata de perspectivas e potencialidades de desenvolvimento sustentável em Santos, parece prevalecer certa posição de ceticismo, entre as organizações entrevistadas da sociedade civil e participantes da oficina pública, embasada por uma visão compartilhada de que a sustentabilidade não poderia ser possível dentro dos marcos de desenvolvimento em vigor. Consideram difícil a capacidade de vislumbrar, hoje, um futuro sustentável próximo para Santos, ao mesmo tempo em que não parecem faltar ideias e sugestões para alcançar a desejada sustentabilidade, envolvendo as mais variadas esferas do cotidiano da população santista muitas vezes, em sintonia com os serviços públicos essenciais também -, como saneamento, tratamento do lixo e reciclagem de materiais, geração de emprego e renda, energias renováveis, educação, cultura, turismo e habitação. Novamente, a questão da qualificação profissional, para inserção no mercado de trabalho, aparece como pedra de toque fundamental quando se pensa no desenvolvimento sustentável futuro, o que pode ser identificado pelo número de falas em torno dessa demanda específica. A proposição de novas frentes de trabalho, por vezes, aparece conciliada com a questão da preservação ambiental, ao passo que a ideia de inserção no mercado de trabalho atual aparece mais associada à imagem dos empreendimentos ligados à Petrobras. É importante notar que quase não houve menções às perspectivas ou às potencialidades que poderiam vir a ser abertas a partir da utilização dos recursos dos royalties. Entre as organizações ouvidas, parece haver uma percepção quase generalizada de que o desafio de se pensar o desenvolvimento futuro de Santos perpassa, necessariamente, pela compreensão e pela resolução de problemas que são antes metropolitanos. A chamada consciência metropolitana, nesse sentido, parece estar bem arraigada entre as organizações da sociedade civil, que enxergam Santos enquanto a referência regional da Baixada Santista, ao mesmo tempo em que admitem (por essa mesma razão) compartilhar dos problemas vivenciados por municípios vizinhos, dada a sua proximidade geográfica. As temáticas abordadas nas entrevistas e na oficina pública parecem ser permeadas por falas que fazem referência à participação ativa e à mobilização da população em torno dos debates que cercam os novos empreendimentos econômicos do litoral paulista e as perspectivas de futuro da cidade. A participação democrática da sociedade aparece, portanto, como elemento-chave (e um desafio) da sustentabilidade. Surgiram críticas quanto à pouca iniciativa do Poder Público local, no que se refere à criação de mais espaços públicos (qualificados e inclusivos) de discussão e deliberação sobre o futuro da cidade, suas oportunidades e alternativas de desenvolvimento. Por fim, permaneceria também como desafio para o desenvolvimento sustentável futuro da cidade, a questão da distribuição das riquezas que serão auferidas devido ao aquecimento da economia local (tendo como eixo as operações da Petrobras). A percepção e preocupação - amplamente compartilhada pelos moradores e pelas organizações parece ser aquela de que, apesar da enorme riqueza produzida no território, pouco ou quase nenhum benefício se reverteria para a parcela majoritária da população santista. A desigualdade alarmante de Santos continuaria sendo uma barreira à perspectiva de desenvolvimento sustentável.

85 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 5.1. Introdução O projeto Diagnóstico Urbano Socioambiental e Planejamento de Políticas Públicas, no qual tem seu inicio, neste diagnóstico que ora vem sendo realizado nos municípios da Baixada Santista, Litoral Norte e Litoral Sul do estado de São Paulo. Tem por objetivo, dentre outros, contribuir com a sociedade civil nas mais variadas dimensões, e o setor público em seus diversos níveis governamentais de gestão, por meio de subsídio a programas de desenvolvimento, articulação de esforços de políticas públicas e pela proposição de instrumentos de ações estruturantes. Dentro desses objetivos, insere-se o diagnóstico econômico do Município de Santos, buscando identificar a suas características e condições socioambientais, de cidade portuária, turística, de negócios, cidade dos aposentados, dos empreendimentos econômicos, as interfaces da gestão de políticas públicas. De tal modo que possam a partir do seu estado atual e novos rearranjos, permitir a inclusão de toda a população, num processo de desenvolvimento sustentável no território, com trabalho decente e vida digna. Santos, foi instalada em 1545 e em 2010 (Censo-IBGE) possuía mil habitantes. Localiza se no litoral sul, fica cerca de 70 km da cidade de São Paulo. Na parte sul tem limite com o município de Guarujá, na porção leste com a cidade de Bertioga, na oeste com Cubatão e São Vicente, e com seu território do lado norte fica a quase 60 km delimitando com Santo André, enquanto em ralação a Mogi das Cruzes dista mais ou menos 102 km, e no limite com SalesóPólis cerca de 150 km. Esta localização contribui dicotomicamente com o desenvolvimento econômico da cidade, no qual tem papel central no eixo de circulação, e também de articulação entre os municípios da baixada santista e litoral sul, e também, embora com menor intensidade, com o Litoral Norte. Segundo dados do IBGE, a área do município é de km², sendo que deste total 39,4 km2 é parte insular e o restante, 231,6 km2 situa-se na parte continental, permeada pela Mata Atlântica e por alguns bairros. O clima é tropical com temperatura média de 24ºC atraindo turistas em busca do bom sol e do mar, dentre outras atrações. Diversos indicadores econômicos e de qualidade de vida inserem a cidade entre as melhores do Brasil para se viver ou investir, principalmente a partir das descobertas do Pré-sal. Segundo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - IPEA, Santos está classificada entre as melhores cidades do estado de São Paulo em nível sócio-econômico e qualidade de vida. O Índice de Desenvolvimento Humano IDH era de 0,871 (PNUD ). Além disso, Santos tem uma estreita relação com a região metropolitana da cidade de São Paulo sendo responsável pelo escoamento da produção industrial desta região através de seu porto, o maior da América Latina, passando no momento por aprofundamento de sua calha, ampliando assim o atracamento de navios com outro calado. Portanto, apesar de não se tratar de uma cidade global, não há como negar a importância de Santos, considerando sua articulação com a região metropolitana de São Paulo no papel de comando de inserção da economia brasileira no mercado mundial. (MALAVSKI: 2010) Santos comporta uma importante reserva de petróleo na camada Pré-sal. Estima-se que possam ser extraídos da reserva localizada na bacia de Santos, cerca de 550 milhões de barris de petróleo e gás do novo campo, chamado Piracucá. O local tem 63% de suas atividades controladas pela Petrobras, e 37% pela petrolífera espanhola Repsol. Segundo o presidente da incorporadora Upcon, Guilherme Benevides, só a Petrobras pretende abrigar na região quase oito mil pessoas. A Petrobras divulgou á época que pretendia investir cerca de R$ 12 bilhões na região até Desenvolvimento econômico Dentre os diversos caminhos no qual o município pode se inserir ou construir, o rumo do desenvolvimento socioeconômico é um dos grandes desafios que se coloca nessa região da Baixada Santista, seja pelas condições privilegiadas das estruturas do porto seja pela instalação da Petrobras, da menor distancia dos centros econômicos mais dinâmicos, pela dinâmica de especulação imobiliária, com o aspecto dos 85

86 investimentos da Petrobras Nestas perspectivas que atrai a iniciativa privada, principalmente no que concerne ao setor da Construção Civil, subsetor imobiliário e dos pequenos empreendimentos complementares que buscam nichos na capacidade de especialização da economia, possibilita o aumento da produtividade e da agregação local de valor. Esses fatores embora sejam fundamentais para a melhoria das condições de vida em geral da população, tendo em vista os moradores fixos e a preservação dos sistemas ambientais, o processo de ocupação do território, os ciclos econômicos e os ativos locais, medidos em valores monetários, culturais e ambientais, constituem traços marcantes da sociedade e da economia local, continuam em deslocamento. Frente a isso, verificam-se os possíveis potenciais de impactos urbanos e socioambientais decorrentes da exploração da camada do Pré-sal. Tais como mudanças na renda das famílias, local de moradia, tipos de emprego, nova estrutura de concentração e apropriação das riquezas locais e suas conexões com a expansão da infraestrutura do porto, vias de acesso, saneamento e da forma com que a especulação imobiliária é tratada, bem como, dos interesses sociais de sustentabilidade local que podem vir a ser construídos e mantidos, na cidade e nessa região, a depender da dinâmica escolhida para o desenvolvimento econômico. Hoje, com a especialização do território ao seu redor, em regiões dormitório, a exceção é Cubatão, (tratada especificamente no seu relatório), de concentração de produção ou serviços, gerais e especializados, constituiu uma aglomeração urbana, na qual a maioria da população não está inserida nos circuitos mais dinâmicos. Visando identificar a realidade por que passa a cidade de Santos, com instrumentos de pesquisa, analise sócio econômico, nos ancoramos num arcabouço teórico-conceitual, onde cabe mencionar, que os estudos sobre desenvolvimento econômico local, vêm progressivamente ganhando espaço, sobretudo nas duas últimas décadas, e aparecem assentados em uma nova realidade socioeconômica e institucional, onde a administração pública local ganha importância e relativa autonomia. Para Ramírez y Benito (2000:48)9, o desenvolvimento local pode ser definido como um proceso de crecimiento económico com cambio estructural que conduce a uma mejora del nivel de vida de la población local, creando empleo, renta y riqueza por y para la comunidad local. Face esta conceituação, é importante destacar que tal ideia não deve negligenciar a importância das políticas macroeconômicas e as especificas de desenvolvimento socioeconômico e político, tais como, os de desenvolvimento industrial, respeito ao meio ambiente integrados com aumento de escolaridade, saneamento básico, saúde, identificação e preservação das culturas locais, busca de equidade, tanto de gênero, como de raça, e demais ações adotadas em âmbito federal, estadual e municipal - local. Considerando os limites e entraves de iniciativas de políticas locais, onde se sabe que os pequenos negócios, as ações localizadas podem, sendo exitosas, serem replicadas para outros territórios, resguardadas suas especificidades, e ainda com alguns requerimentos próprios adquirirem caráter mais geral e integrador em outros territórios. Também é sabido que o lócus - nichos e canais do desenvolvimento local se conectam com os demais ramos da economia e podem ganhar dinâmica própria e ou diferente da que ensejou em local especifico. Daí não imputarmos exclusividade no desenvolvimento local como única forma de elevar as condições socioeconômicas políticas no desenvolvimento municipal e ou regional, considerando também, conforme Bacelar, Tânia (MEPUS TALLER III, 2001)10, o que se procura é contribuir para a criação de um entorno favorável promovendo o desenvolvimento local, ou seja, criando as condições favoráveis para que se desenvolvam as atividades econômicas que já existem, porem com a participação ativa das organizações. e no caso da agricultura local, ver Cano Wilson11 (1998) onde ele destaca que: Seja a agricultura de subsistência, seja comercial, é evidente as limitações impostas pelo financiamento local, a elevação dos custos de captação de excedente agrícola que a intermediação comercial e financeira pratica. Ou seja, na maioria das vezes os alimentos produzidos localmente, não conseguem alcançar os circuitos longos da economia, ficando restrito aos circuitos curtos, a depender de compras governamentais, e de festas tradicionais que podem atrair os turistas. 9 RAMIREZ, B.; BENITO, E. (orgs). Desarrollo local: manual de uso. Madrid: ESIC, Editorial, Os MEPUs e o Desenvolvimento Local III Taller Permanente Brasil Impressão Editorial: Provisual - Recife, pág Cano, Wilson - Desconcentração Industrial e Desequilíbrios Regionais 1995 Wilson Cano. 2 ed - Campinas, SP: Unicamp. IE, 1998.

87 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Assim sendo, utilizamos conceitos teóricos assentados nos estudos apresentados nas diversas bibliografias, visando apreender aspectos do desenvolvimento local e sustentável, pensadas e implementadas de modo a contribuírem para a exitosa consecução das políticas locais. Afinal, questões cruciais no debate acerca do desenvolvimento econômico, tais como taxa de juros, nível de investimento, taxa de câmbio, diminuição da taxa de fecundidade, (janela de oportunidade, para dentre outros, aumentar a relação de trabalho decente), aumento da longevidade (enseja reorganização territorial e da previdência de modo diferente do existente hoje) bem como, percentual de repasses aos municípios e de gastos em determinadas políticas locais, são decisões tomadas em âmbito federal (ou estadual) e que podem ajudar ou inviabilizar ações, programas e projetos de desenvolvimento local. Nesta perspectiva, de acordo com Ortega (2008:74)12: na base desse desenvolvimento territorial estaria, portanto, a identificação ou criação de uma cultura no território centrada na crença em uma perspectiva de desenvolvimento, alicerçada em capacidades e recursos existentes em nível territorial, no aproveitamento de recursos humanos, na mobilização de atitudes e valores, com o objetivo de criar uma trajetória de desenvolvimento. Assim, percebe-se que o conceito de local e de território, cada vez mais utilizados e mencionados, adquirem um caráter Pólissêmico (Ortega, 2008:51). Cassiolato & Szapiro (2003)13 concebem o local e a territorialidade a partir da ideia de interdependências específicas da vida econômica, não apenas definida como localização da atividade econômica. Na visão dos autores, uma atividade é totalmente territorializada quando sua viabilidade econômica está enraizada em ativos, que incluem práticas e relações sociais, não disponíveis em outros locais e que não podem, instantaneamente, serem criadas ou imitadas em lugares que não as tem. Trata-se, portanto, do desenvolvimento endógeno de economias de dinâmicas territorializadas, assentadas na cooperação, na aprendizagem, nos conhecimentos tácitos, nas culturas técnicas específicas e nas interrelações sinérgicas (Reis, 2002, apud Ortega, 2008: 53). A ideia do desenvolvimento endógeno baseia-se na visão que os sistemas produtivos consistem em um conjunto de fatores materiais e imateriais que permitem que as economias locais e regionais adotem caminhos para o crescimento econômico e o desenvolvimento social. As trajetórias a serem seguidas por essas economias dependem tanto dos recursos internos como sua adaptação e/ou aproveitamento dos estímulos das políticas macro, regional, industrial e demais políticas setoriais. Desta forma, ao se referir ao desenvolvimento local há que considerar a importância das seguintes dimensões: a) econômica: relacionada com a criação, acumulação e distribuição da riqueza; b) social e cultural: implica qualidade de vida, equidade e integração social; c) ambiental: se refere aos recursos naturais e a sustentabilidade dos modelos de médio e longo prazo e d) política: trata-se de aspectos relacionados à governança territorial, bem como ao projeto coletivo independente e sustentável. Tecidas estas considerações iniciais, acredita-se que é possível avançarmos rumo a uma concepção sistêmica de desenvolvimento local, ou, conforme se referiu Paula (2008)14, na sua visão de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável - DLIS. 12 ORTEGA, A. C. Territórios deprimidos: desafios para as políticas de desenvolvimento rural. Campinas: Editora Alínea, CASSIOLATO. J.E.; SZAPIRO, M. Uma caracterização dos arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H.M; CASSIOLATO, J.E.; MACIEL, M. Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará IE- UFRJ, DLIS significa: Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Pretende representar um novo conceito de desenvolvimento e uma nova estratégia para sua implantação. O conceito de DLIS parte do pressuposto de que o crescimento econômico é necessário, mas não é suficiente para promover o desenvolvimento. O desenvolvimento é um fenômeno que ultrapassa o econômico. O sentido do desenvolvimento deve ser o de melhorar a qualidade de vida das pessoas (desenvolvimento humano), todas as pessoas (desenvolvimento social), as pessoas que estão vivas hoje e as que viverão no futuro (desenvolvimento sustentável). Fazer o desenvolvimento humano, social e sustentável, nos desafia a pensar um novo conceito de desenvolvimento que articula a dinamização do crescimento econômico com outros fatores como o capital humano, o capital social, o capital empresarial e o capital natural (p.5). 87

88 Com base nesta concepção de desenvolvimento, resguardadas as proporções e limites, já elencadas acima, o passo seguinte é entendermos os impactos potenciais dos investimentos da camada do Pré-sal e de outros empreendimentos da Petrobras nessa região e nos seus respectivos municípios. Em um recente estudo da Organização Nacional da Indústria do Petróleo ONIP (2011)15, de fato, os dispêndios operacionais e de capital para o desenvolvimento de atividades do pré sal e da cadeia produtiva do óleo e gás, podem ter impacto significativo em termos econômicos e de materialização de avanços sociais. Aproveitar as oportunidades representadas pelas perspectivas de demanda sobre a cadeia produtiva exige condições de atendimento a contratantes acostumadas a padrões de referência internacionais. De fato, de acordo com informações do levantamento feito pela ONIP (2011), já existe um ponto de partida, uma vez que o Brasil dispõe de ampla base industrial, com atuação, ainda que não exclusiva, no setor de O&G Offshore. Porém, é sabido e consensual o fato de que um dos grandes desafios no momento diz respeito às lacunas de competitividade do fornecimento destes bens e serviços. Como exemplo desta lacuna de competividade, cita-se a baixa presença ou mesmo a ausência de empresas locais habilitadas, para o fornecimento de determinados grupos de bens e serviços, nas listas de fornecedores das empresas operadoras. Como resultado, a partir deste estudo, espera-se a adoção de políticas, em seus diferentes âmbitos, que impulsionem esta cadeia e, mais que isso, seja capaz de captar grande parte do valor gerado por esses investimentos, beneficiando a sociedade, em termos de: Geração de empregos técnicos e especializados, fortalecimento de grupos locais para a obtenção de condições adequadas à atuação global. Preservando-se no país as definições de caráter estratégico para as cadeias críticas, incremento e distribuição de renda mediante a demanda provocada pelas necessidades operacionais e de investimentos resultantes da movimentação econômica gerada pelo setor, fomento à atuação de pequenas e médias empresas no suporte aos diversos elos do setor e desenvolvimento de tecnologia e conhecimento. Frente a estas constatações, dentre outras, apresentamos algumas questões, (que também foram apresentadas para as outras cidades), para os atores locais e para nossa própria equipe de pesquisa visando identificar organizadamente os impactos para a cidade de Santos: Quais as condições efetivas para que Santos possa se beneficiar destes investimentos e de seus desdobramentos, em termos de geração de emprego e renda? Há projetos, ações e programas públicos, nos âmbitos municipal, estadual e quais as condições efetivas para que Santos possa se beneficiar destes investimentos e de seus desdobramentos, em termos de geração de emprego e renda? Há projetos, ações e programas públicos, nos âmbitos municipal, estadual e federal, voltados para a sensibilização, o fomento e a assessoria para o desenvolvimento destas atividades econômicas nos municípios? Quais os reais impactos destes investimentos em Santos frente ao contexto de que tais investimentos, em grande parte, se dão em atividades que exigem alto nível de tecnologia e de capital? Quais as reais condições para que as MPEs do município participem como fornecedoras desta cadeia de produção? Os cursos de qualificação técnica e profissional desenvolvidos em Santos incorporam estas atividades ocupacionais? Observa-se que, em uma das entrevistas com representante da prefeitura afirmou-se que embora a atividade imobiliária tenha crescido muito nos últimos anos as obras de infraestrutura também foram de grande monta, no que será tratado mais a frente neste relatório. Mediante este breve panorama histórico e constitutivo da cidade, conceituação de Desenvolvimento Local, de forma a apresentar os aspectos centrais que caracterizam seu desenvolvimento econômico, bem como potencialidades e debilidades. Considerando, como pano de fundo, os elementos históricos e estruturais do 15 Oportunidades e Desafios da Agenda de Competitividade para Construção de uma Política Industrial na Área de Petróleo: Propostas para um Novo Ciclo de Desenvolvimento Industrial. ONIP (2011). Disponível em:

89 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 capitalismo brasileiro, os tópicos a seguir têm como objetivo apresentar alguns dados socioeconômicos, que nos permitirão entender um pouco mais das especificidades de Santos. Para tal, o estudo se estrutura a partir da análise dos mercados produtivos e de trabalho, no intuito de apresentar um diagnóstico econômico, bem como de indicar alguns limites e potenciais caminhos para o desenvolvimento local e regional. Posteriormente, antes das considerações finais, se faz importante uma breve reflexão acerca das conexões entre as finanças públicas e o desenvolvimento socioeconômico do município Mercado Produtivo - Produção de Bens e Serviços A elaboração deste tópico se pauta, fundamentalmente, na utilização de dados secundários, embora em determinados momentos, informações primárias colhidas em viagens de campo pela Equipe Pólis são mencionadas para complementar a análise. A utilização dos dados secundários tem como intuito levantar e sistematizar alguns dados oficiais que nos permite realizar uma caracterização preliminar do contexto econômico do município. Optou-se pela utilização de dados e de informações sempre atualizadas, levando em conta as restrições de tempo inerentes às bases estatísticas nacionais Informações Gerais A cidade de Santos segundo dados do ultimo Censo 2010 (IBGE) possuía habitantes, dos quais encontravam-se em idade ativa, mais conhecida como PIA, ou seja, 89,49 % de sua população total. O Produto Interno Bruto (PIB) do município em 2009 (dado mais recente publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE) foi de R$ 22,546 Bilhão, quase cinco vezes superior ao registrado no início da década, quando seu PIB, em 2000, foi de R$ 4,605 Bilhões. Outro indicador interessante de se analisar é o PIB per capita, no entanto, com algumas ressalvas. O PIB per capita refere-se ao PIB (soma de todas as riquezas produzidas no país) dividido pelo número de habitantes do país. Vale notar que o PIB pode subir enquanto o PIB per capita diminui, quando, por exemplo, a população cresce mais do que a produção num determinado ano, mostrando que, na média, a população empobreceu. É necessário lembrar que o PIB per capita é apenas uma média indicativa: a distribuição desse ganho ou perda se dá de forma desigual, e esse efeito não pode ser registrado neste indicador. Como se pode notar, Santos apresenta um PIB per capita extremamente elevado, de R$ ,76 bastante superior à média estadual (R$ 26,2 mil) e, sobretudo, à média nacional (R$ 15,9 mil), para o ano de Figura 1. PIB per capita em reais no município de Santos - SP (2009) 16 Os dados e informações levantados buscam uma compreensão do município, que permitirão, posteriormente, ao cruzar com os diagnósticos de outras áreas, realizar uma análise integrada e multidimensional. Especificamente ao tema desenvolvimento econômico, para cada município, inicialmente, caberá conhecer alguns dados, visando iniciar o processo de elaboração de diagnóstico econômico dos municípios, cujo quadro geral para os 13 municípios nos permitirão traçar o diagnóstico regional. 89

90 Santos ,76 São Paulo ,22 PIB 2009 Brasil ,00 Fonte: IBGE, Cidades. Conforme já apontado, os dados de renda per capita devem ser relativizados, pois nem todas as pessoas do município possuem rendimentos ou possuem um nível de renda adequado para satisfazer suas condições básicas. Segundo dados do Portal ODM17, elaborado a partir do Censo 2010, neste município, de 1991 a 2010, em que pese a redução daqueles que vivem abaixo da linha de pobreza, ainda existem 5,3 % da população nesta situação e 4,0 % abaixo da linha de indigência18. No Estado de São Paulo, a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo, em 2010, era de 18,9% em Figura 2.Proporção de moradores abaixo da linha da pobreza e indigência Santos, Fonte: Portal ODM e Censo 2010 Outra forma de analisar este grupo de pessoas consideradas como vulneráveis social e economicamente, são os dados e Informações do Cadastro Único, a partir dos Relatórios de Informações Sociais do MDS. No Para estimar a proporção de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza foi somada a renda de todas as pessoas do domicílio, e o total dividido pelo número de moradores, sendo considerado abaixo da linha da pobreza os que possuem rendimento per capita menor que 1/2 salário mínimo. No caso da indigência, este valor será inferior a 1/4 de salário mínimo.

91 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 município de Santos havia estimadas famílias de baixa renda19 e atingiu famílias beneficiárias do PBF até Agosto de Considerando o número médio de pessoas por família estimada pelo IBGE, de 3,3 pessoas, pode-se depreender que, em Santos, há cerca de mil pessoas de baixa renda e cerca de 25 mil que dependem da renda disponibilizada pelo PBF, ou seja, respectivamente, 7,62 % e 5,95 % do total dos habitantes são de baixa renda e dependentes do maior programa brasileiro de transferência de renda. Observando que em junho de 2012 haviam pessoas cadastradas no PBF, sendo que não haviam cadastrados nenhuma família quilombola, e continha cinco famílias indígenas beneficiárias do programa. Estes dados do ministério do desenvolvimento social e combate a fome, confrontado com os dados agregados, seja do Censo, ou do OD, apontam que a situação é mais delicada quando existe oferta de possibilidades, fazendo emergir situações não percebidas no dia a dia dos números. Um dado complementar de caracterização socioeconômica do município, envolvendo também a renda, refere-se ao Índice Paulista de Responsabilidade Social IPRS. Partindo-se do pressuposto da insuficiência da renda per capita como indicador das condições de vida de uma população, o IPRS propõe a inclusão de outras dimensões, tais como a longevidade e a escolaridade (assim como o IDH). Desta forma, a Fundação SEADE procurou construir, para o Estado de São Paulo, um indicador que preservasse estas três dimensões, mas com certas especificidades21. Vale mencionar que em cada uma das três dimensões do IPRS, foram criados indicadores sintéticos que permitem hierarquizar os municípios paulistas conforme seus níveis de riqueza, longevidade e escolaridade. Esses indicadores são expressos em escala de 0 a 100 e constituem uma combinação linear das variáveis selecionadas para compor cada dimensão. A estrutura de ponderação foi obtida de acordo com um modelo de análise fatorial, em que se estuda a estrutura de interdependência entre diversas variáveis. Os indicadores do IPRS sintetizam a situação de cada município no que diz respeito à riqueza, escolaridade e longevidade. Como se percebe no quadro abaixo, a cidade de Santos se posiciona, em termos de escolaridade, em situação bem acima da sua Região Administrativa e também bem acima do Estado de São Paulo. Do ponto de vista da expectativa de vida, percebe-se que seu desempenho é superior à Região da Baixada Santista e de um ponto abaixo quando se compara com o Estado de São Paulo. Em termos de riqueza, situase em patamar superior à região administrativa e bem mais ainda em relação à média estadual. Quadro 2. Índice Paulista de Responsabilidade Social, 2008 Fonte: Fundação SEADE Localidade Riqueza Longevidade Escolaridade Estado de S.P Região Adm. de Santos Santos A estimativa de famílias pobres com perfil de atendimento para o Programa Bolsa Família foi feita a partir dos dados do Censo Demográfico 2010, levando em consideração a renda familiar de até R$ 140,00 por pessoa (MDS, 2012) A primeira consistiu na elaboração de uma tipologia de municípios que permitisse identificar, simultaneamente, o padrão de desenvolvimento de determinado município nas três dimensões consideradas: renda, escolaridade e longevidade. Esse tipo de indicador, apesar de não ser passível de ordenação, permite maior detalhamento das condições de vida existentes no município, fundamental para o desenho de políticas públicas específicas para áreas com diferentes níveis e padrões de desenvolvimento. Em segundo lugar, incluíram-se, na medida do possível, variáveis capazes de apreender mudanças nas condições de vida do município em períodos mais curtos que os dez anos que separam os censos demográficos, fonte específica de informações do IDH municipal. E, em terceiro, foram adotados como base de informações, prioritariamente, os registros administrativos que satisfizessem as condições de qualidade, periodicidade e cobertura, necessárias à produção de um indicador robusto, passível de atualização nos anos entre os censos demográficos e com a cobertura de todos os municípios do Estado. Assim, apesar de representarem as mesmas dimensões, as variáveis escolhidas para compor o IPRS são distintas daquelas empregadas no cálculo do IDH. 91

92 Dentre os 30 municípios mais bem posicionados do estado, nas três dimensões, nesta dimensão da riqueza o município de Santos foi considerado em 2008 o 7º município, nas demais dimensões sequer consta desta lista, o que denota grande disparidade entre os indicadores sociais e os econômicos. Valor Adicionado Do ponto de vista do Valor Adicionado dos setores da atividade econômica, podemos perceber que o setor industrial é bastante representativo, pois responde por quase 25% do total do VA em Em seguida, o setor de serviços representa 66,18%, embora tenha perdido peso em relação a 1999 ainda é o setor com maior densidade econômica, e a administração pública que participa com 9,8%. Como se nota no Gráfico abaixo, o setor agropecuário atualmente não tem representatividade econômica no município, em termos de valor adicionado. Os dois grandes destaques positivos são o setor da indústria e dos serviços, notadamente, quando separamos especificamente a administração pública que em valores absolutos tiveram um acréscimo na ordem de quase três vezes a sua base de E por decorrência desta separação para melhor análise do setor de serviços onde se encontra englobada o de comércio, percebe-se um ligeiro decréscimo deste setor caindo sua participação no VA de 71,98% para 68,18%. O que poderá ser melhor verificado no rebatimento das atividades, quando apresentamos mais abaixo no relatório os dados do QL. Vale lembrar que a alta representatividade do setor de serviços refere-se ao fato de que, neste setor, contemplam as atividades de turismo e comércio, atividades economicamente importantes neste município, incluindo neste a prefeitura. A participação da indústria revela um grau de media relativo de industrialização no município. Chama atenção a pífia participação da agropecuária, seja pelo perfil do município, seja pelo fato de que as atividades de pesca se enquadram neste setor. Tal constatação sugere uma considerável taxa de informalidade entre estas atividades. Figura 3. Participação dos setores no PIB do município (milhões e bilhões de reais) SP, ,00 60,00 71,98 66,18 40,00 20,00 0,00 0,02 0,03 9,06 9,79 18,94 23, Fonte: Fundação SEADE A especialização produtiva do trabalho no Município No que se referem à distribuição dos estabelecimentos pelos setores da atividade econômica, de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), verifica-se que, em 2010, do total de estabelecimentos registrados, estavam nos serviços, no comércio, 401 na construção civil, 544 na indústria e 73 na agropecuária. Estes dados reforçam a alta participação dos serviços e comércio, nível médio relativo de industrialização e no caso da agropecuária aponta um baixíssimo nível de participação, o que demonstra um grau elevado de dependência de alimentos

93 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 industrializados e vindo de fora da cidade no qual precisa sempre ter posto-entreposto e locais de armazenamento para manutenção de preços, e abastecimento da população local. No que se refere à indústria, a maioria são de estabelecimentos de pequeno porte o que revela baixo valor agregado da produção, baixa competitividade e inovação, baixo nível de formalização do emprego dentre outras características de empresas deste porte. Sobre a agropecuária, cabe lembrar que por se tratar de uma fonte de dados que abarca os empreendimentos formais da economia (RAIS), pode ser que parcela substancial destas atividades seja realizada de maneira informal, e não estão contabilizadas nestas estatísticas. Figura 4.Distribuição % dos estabelecimentos por setores da atividade econômica, ,48 3,6 2,65 Agropecuária 62,9 30,36 Indústria Construção Civil Comércio Serviços Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios e RAIS, MTE. Quadro1 - Distribuição dos estabelecimentos por setores da atividade econômica - Santos, SP, Em números absolutos Número de Estabelecimentos por setores (2010) - Santos Indústria Construção Civil Comércio Serviços Agropecuária Total Santos São Paulo Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios e RAIS, MTE 93

94 Ao desagregar estes estabelecimentos com base nos dados da Classificação Nacional da Atividade Econômica CNAE IBGE, nota-se que os setores que mais se destacam em relação ao número de estabelecimentos, são: comércio e reparação de veículos automotores (31,41% dos estabelecimentos no município, provavelmente ligado ao fluxo de caminhões e automóveis para o Porto de Santos e para o conjunto da atividade da cidade e cidades vizinhas); transporte, armazenagem e correio (6,84%); alojamento e alimentação (7,78%); atividades administrativas e serviços complementares (23,90%); construção civil (3,8%); atividades profissionais, técnicas e científicas (5,56%) e indústria de transformação (2,61%). Por tamanho dos estabelecimentos, em termos de número de empregados, percebe-se que o número de estabelecimentos neste município de grande porte é o maior que em todos os demais da região. Outro dado importante, para uma melhor caracterização da atividade econômica, é o Quociente Locacional (QL). Dados da RAIS e do MTE foram coletados para o cálculo do QL de cada setor econômico no município. Conforme Silva et al. (2008), para a elaboração de critérios de identificação de aglomerações produtivas locais, é desejável elaborar um indicador que seja capaz de captar pelo menos três características de uma aglomeração produtiva local: a) a especificidade de um setor dentro de uma região (município); b) o seu peso em relação à estrutura empresarial da região (município) e c) a importância do setor para a economia do Estado (p.6). Este exercício realizou-se com base no cálculo do QL. O QL refere-se a um indicador típico na literatura de economia regional, de comparação de duas estruturas setorial-espaciais, a partir da razão entre as duas estruturas econômicas, sendo considerada, no numerador, a economia em estudo (município) e, no denominador, a economia de referência (estado). Desta forma, o cálculo leva em conta, no numerador, a relação entre o emprego do setor ou atividade x no município j em estudo e, no denominador, a relação entre o emprego do setor x no Estado em que está este município j pelo emprego total no Estado deste município. Após os cálculos, considera-se como potenciais Arranjos Produtivos Locais (APLs) aqueles setores com QL superior a 1. Vale lembrar que há estudos que adotam como critério o QL maior ou igual a dois ou três. Em quaisquer das situações (QL superior a 1, 2 ou 3), o resultado indica que a especialização do município j na atividade ou setor x é superior à especialização do conjunto do Estado nessa atividade ou setor (Silva et al., 2008). Nossa opção por analisar os QLs superior a 1 deve-se ao fato dos municípios em análise serem pequenos, de baixa renda e/ou estagnados. Em relação aos dados da RAIS, cabe mencionar que sua utilização para este exercício justifica-se pela possibilidade de desagregação setorial e geográfica dos dados, o que permite desagregá-los até o nível municipal e, em termos setoriais, até o nível de subsetores da atividade econômica seguindo a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE). Por outro lado, é sabido que esta base de dados traz consigo a restrição de somente contemplar o emprego formal, não permitindo, portanto, medir a força da economia/empreendimentos informais, constituída de pequenas empresas familiares e outras atividades de pequena escala; empreendimentos estes de importância nesta pesquisa. Por estas limitações, este exercício nos serviu apenas como ponto de partida para aplicação dos questionários e mapeamento de setores estratégicos e potenciais do município, e outros perfis de estabelecimentos (inúmeros informais, por exemplo) foram sido visitados e analisados a partir dos questionários e entrevistas realizadas. Os dados para Santos (Quadro 1) apontam, para o ano de 2010, os seguintes setores potenciais: alojamento e comunicação um QL excepcionalmente no qual saiu em 2000 de 2,41 para 6,81 o que confirma que a cidade continua sendo uma das grandes receptoras de turistas; comércio varejista (QL de 1,17 para 3,88); serviços médicos, odontológicos e veterinários (QL de 1,76 para 5,71); agricultura (QL de 0,21, com crescimento pífio, vai para 0,30); administração pública (QL de 0,51 para 2,33), serviço de utilidade pública (QL de 0,65, sobe para 2,31) e construção civil (QL de 0,71, sobe para 2,40). Quando se comparam estes dados com o ano de 2000, a análise da década nos traz algumas questões interessantes. Por exemplo, no caso da construção civil, este setor apresentava baixo QL de 0,71, e passou para 2,40,, assim como Transporte e comunicação que passou de 2,34, para 10,09 o que revela dinamismo nos dois sub setores ao longo deste período, embora possa ter outro significado para a cidade como um todo. Dentre eles, a especulação imobiliária e o aumento das atividades portuárias.

95 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Quadro 1. Quociente Locacional (QL) para o município de Santos, SP 2000 e 2010, com arredondamentos para duas casas. Setores de Atividade Extrativa Mineral 0,99 8,65 02-Prod. Mineral não Metálico 0,04 0,61 03-Indústria Metalúrgica 0,11 0,57 04-Indústria Mecânica 0,14 0,54 05-Eletrico e Comunicações 0,08 0,03 06-Material de Transporte 0,05 0,45 07-Madeira e Mobiliário 0,14 0,49 08-Papel e Gráf 0,39 1,40 09-Borracha, Fumo, Couros 0,07 0,47 10-Indústria Química 0,06 0, Indústria Têxtil 0,14 0, Indústria de Calçados 0,00 0,00 13-Alimentos e Bebidas 0,58 1,44 14-Serviço Utilidade Pública 0,65 2,31 15-Construção Civil 0,71 2,40 16-Comércio Varejista 1,17 3,88 17-Comércio Atacadista 0,90 1,91 18-Instituição Financeira 0,89 3,08 19-Adm Técnica Profissional 1,43 4,19 20-Transporte e Comunicações 2,34 10,09 21-Aloj Comunic 2,41 6,81 22-Médicos Odontológicos Vet 1,76 5,71 23-Ensino 1,72 6,00 24-Administração Pública 0,51 2,33 25-Agricultura 0,21 0,30 Porto de Santos O Porto de Santos localiza-se no Estado de São Paulo, exatamente no centro sul do litoral, na chamada Baixada Santista. Seu estuário encontra-se entre as ilhas de São Vicente e de Santo Amaro, que abrigam as cidades de Santos e de Guarujá. Referido estuário, onde se iniciam as instalações do porto, dista 2 km do Oceano Atlântico e se estende até fora de sua área do Porto Organizado até a cidade de Cubatão, onde ao seu final estão localizados os Terminais Privativos da Usiminas e da TUF. (Ultrafértil S.A.) O canal de acesso ao Porto de Santos possui extensão de aproximadamente 25 km, com traçado que compreende, desde a Baía de Santos até o largo do Caneú, na Alamoa, conforme mostra a figura abaixo 95

96 Acessos ao Porto, via terrestre, sedá pelas vias Anchieta-Imigrantes, Cônego Domênico, Rangoni BR-101 Rio- Santos, e SP-55 Padre Manoel da Nóbrega. Via férrea, pela MRS, ALL e FCA, pela aquviário CANAL DA BARRA, e pela hidroviária TIETÊ-PARANÁ, BACIA hidrográfica DA RMBS (Região Metropolitana da Baixada Santista) Visão geral da malha rodoviária que serve o Porto de Santos Fonte: CODESP No sistema ANCHIETA IMIGRANTES Ocorre movimentação de cerca de 33 milhões de veículos ao ano. Rodovia Extensão (Km), sendo elas: SP Rodovia dos Imigrantes extensão: 58,5 SP Rodovia Anchieta - extensão: 55,9, SP 040/150 - Interligação Planalto - extensão: 8,0, SP 059/150 - Interligação Baixada - extensão: 1,8, SP 055/150 - Rod. Cônego Domênico Rangoni - extensão: 30,6. O Porto de Santos tem uma história de quase 500 anos. Embora, de fato, seus primeiros trapiches tenham sido construídos no século XVI, o porto só iniciaria efetivamente uma trajetória de expansão física ao _nal do

97 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 século XIX, marcando o ano de 1888 como o início da fase mais importante da sua história pregressa. De fato, a expansão da cultura do café na província de São Paulo, na segunda metade do século retrasado, atingindo a Baixada Santista, originou a necessidade de novas instalações portuárias adequadas às exportações do produto. Após duas concessões, em 1870 e 1882, sem que resultasse no início das implantações previstas, o Decreto Imperial nº 9.979, de 12 de julho de 1888, autorizou o grupo liderado por José Pinto de Oliveira, Cândido Gafrée e Eduardo Palassin Guinle, como resultado de concorrência pública, a construir e a explorar o porto de Santos pelo prazo de 39 anos prorrogado a partir do Decreto nº 966, de 7 de novembro de 1890, para 90 anos. Com base em projeto do engenheiro Domingos Saboya e Silva, as obras envolviam um cais, aterro, via férrea e edificações para armazenagem. A assinatura do contrato de concessão ocorreu em 20 de julho de 1888 e, para o seu cumprimento, foi constituída a empresa Gafrée, Guinle & Cia., com sede no Rio de Janeiro, mais tarde transformada em Empresa de Melhoramentos do Porto de Santos, e, por fim, em Companhia Docas de Santos. A CODESP sucedeu a então Companhia Docas de Santos CDS, a partir de 07 de novembro de 1980, tornando-se uma empresa vinculada ao Governo Federal. Nos dias atuais, encontra-se subordinada à SEP, sendo uma sociedade de economia mista, com capital autorizado, regendo-se pela legislação da sociedade por ações, no que lhe for aplicado, e pelo seu estatuto. A importância do Porto de Santos A área de influência primária do Porto de Santos inclui os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal, que em conjunto representam: 75 milhões de pessoas 67% do PIB do Brasil 56% da Balança Comercial Brasileira, em valores. Do total do comércio internacional do estado paulista (em valores), cerca de 60% são embarcados ou desembarcados através do Porto de Santos. Responsável por cerca de um quarto da participação na Balança Comercial Brasileira em valores, o Porto de Santos movimentou no ano de 2010 o total de US$ 96,2 bilhões do comércio internacional brasileiro. PARTICIPAÇÃO DO PORTO DE SANTOS NA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA COMPARATIVO ENTRE PORTOS 97

98 Ao verificarmos na figura acima a participação dos portos no cenário portuário nacional denotamos a grande importância do Complexo Portuário Santista, que responde por quase um terço do comércio exterior do país pelo modal marítimo. Este fato demonstra a supremacia e grande importância do Porto de Santos que dentre o total de 34 portos marítimos mantém a vanguarda no setor portuário brasileiro. Porto de Santos Projetos e Investimentos Comprometido com a modernidade, o porto está em permanente evolução e com a conclusão dos planos de expansão consolidará a posição de porto concentrador e distribuidor do Brasil e do cone sul. Considerando o aporte financeiro público e privado, as instalações do Porto Organizado de Santos estão sendo expandidas e modernizadas de forma acelerada. Para os próximos anos, estima-se cerca de R$ 7 bilhões em investimentos para atender a demanda de carga até o ano de 2024, quando o porto poderá atingir a movimentação de 230 milhões de toneladas. Dentre os vários investimentos destacam-se as seguintes iniciativas: INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS

99 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Esses números não incluem o projeto de expansão nas ilhas de Barnabé e Bagres que garantirá o aporte de cerca de R$ 4,8 bilhões em investimentos, conforme aponta parcialmente a figura abaixo. INVESTIMENTOS PROJETOS NAS ILHAS BARNABÉ E BAGRES PARTICIPAÇÃO DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO NO PORTO DE SANTOS EM

100 O trecho Paranapiacaba Raiz da Serra, da MRS, apresenta capacidade de 7 a 8 milhões de TU/ano, dos quais 5 milhões são dedicados ao transporte de minério para a COSIPA., enquanto que a capacidade da malha que alimenta a margem esquerda é de 1020 vagões por dia (ALL-Portofer, 2008). O transporte terrestre de carga para o Porto de Santos é realizado por três sistemas distintos: rodoviário, ferroviário e dutoviário. Atualmente o modal rodoviário é responsável por aproximadamente 73% da carga movimentada, o ferroviário por aproximadamente 20% e o dutoviário por aproximadamente 7%. As cargas movimentadas no modal dutoviário restringiram-se aos derivados de petróleo, transportados para as refinarias da região. Tanto o crescimento da movimentação no porto como o crescimento do transporte ferroviário, saíram de aproximadamente 15% da movimentação total em 2005 e chegaram a 19,5% em O porto de Santos se reveste de grande importância não só para Santos, mas é considerado estratégico para o Desenvolvimento do Estado de São Paulo, e para o país, sendo considerado internacionalmente como, o maior da América Latina. A movimentação total de carga nos portos brasileiros aumentaram cerca de 5,7% ao ano nesta década, alcançando 886 milhões de t em 2011, ante 485 milhões de t em No caso do Porto de Santos, o crescimento anual no mesmo período foi maior que a média nacional, de 8,2%, fazendo a movimentação total saltar de 43 milhões de t em 2000 para 97,2 milhões de t em 2011 representando 8,9% e 10,98% respectivamente do total do país. Área de Influência A localização geográfica e, principalmente, a malha de transportes da região, que avança em direção ao centro do país e tem como principal destino o Estado de São Paulo e a Baixada Santista, definem a vocação natural do porto: atender às necessidades de movimentação de cargas dos estados do Sudeste e de grande parte do Centro-Oeste do país. O Porto de Santos está compreendido no Vetor Logístico Centro-Sudeste, em termos numéricos abrange em termos de atuação uma região que compreende e representa: 70 milhões de habitantes, 67% do PIB Brasileiro, 70% da Balança Comercial Brasileira. Além da região compreendida no Vetor Centro- Sudeste, definida como a área de influência primária do Porto de Santos, sua área de influência secundária compreende todo o restante do Brasil e alcança também parte de outros países sul-americanos, como Paraguai e Uruguai e parte da Argentina, Bolívia e Chile. O Plano de Desenvolvimento e Expansão do Porto de Santos (2009), cuja projeção de demanda foi considerada, definiu a área de influência primária do porto em 17 zonas, baseando-se nas disposições do PNLT. Além das zonas contidas na área de influência primária, foram definidas outras seis zonas que compõem a área de influência secundária e 11 zonas Ultramar, geradoras de fluxos de importação ou exportação. Investimentos: Segundo o PDZ, o Governo Federal defende a mudança da matriz do transporte no país, com ênfase para o Transporte Ferroviário e a Cabotagem, e anuncia plano nacional de investimentos na ordem de

101 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 R$290,3 BILHÕES, em investimentos para interconectar portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e transporte fluvial no Brasil como um todo. Fonte: Plano Nacional de Logística e Transportes PNLT Centro de Excelência em Engenharia de Transportes (CENTRAN), Ministério dos Transportes e Ministério da Defesa). Até o momento estão previstos investimentos de US$ 6 bilhões no porto até 2024, entre recursos públicos e privados. O local conta com projetos de grandes empresas, como a construção do Terminal Embraport, uma associação entre a DP World, de Dubai, e as brasileiras Odebrecht e Coimex. O terminal está previsto para entrar em operação em 2013 e promete ser o maior da América Latina. O investimento é de R$ 2,3 bilhões. A primeira etapa, de R$ 1.6 bilhões, prevê obras civis e equipamento portuário. A DP World detém 26,9% de participação. Quem está nesta construção: é a DP World. O projeto prevê que vai gerar 1,1 mil empregos diretos. E são constituídos de um cais de 1,1 mil metros, dois píeres para transporte de carga líquida, uma grande retro área e um espaço de contêineres com cerca de 370 mil metros quadrados. A capacidade anual do terminal será de 2 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) e 2 milhões de metros cúbicos de etanol. A primeira fase do projeto está prevista para ser concluída em Projetos de revitalização de áreas portuárias não operacionais para novas culturais, sociais, recreativos e comerciais são previstos no decreto federal nº 6.620/08. Destaca-se o programa de Revitalização do Valongo. Os armazéns de 1 a 8, no Valongo, têm grande valor histórico para a cidade e para o Porto. O Valongo foi o nascedouro do Porto de Santos. Existem diversos projetos para a área incluindo projetos da Prefeitura de Santos. O município de Santos possui a Lei Complementar nº 470/03 que foi alterada pela Lei nº 526/05, que criou e formalizou o programa de revitalização e desenvolvimento da região central de Santos. Em fevereiro de 2008 foi assinado um Termo de Convênio entre a Prefeitura de Santos e a CODESP para a implantação do Plano de Revitalização de Áreas Portuárias e Integração com áreas urbanas, situadas no Valongo. As revitalizações das áreas de Conceiçãozinha e Prainha foram incluídas no PAC em um convênio entre o Governo Federal e o Município de Guarujá e prevê a retirada de famílias moradoras. O projeto Favela-Porto- Cidade do Governo Federal deverá realocar 4,1 mil famílias dessas duas comunidades para o novo bairro Parque Montanha. Serão ainda construídas 1,7 mil casas em Prainha, onde algumas famílias permanecerão, e será construído um muro delimitando a área urbana. Segundo o PDZ, no que se refere a revitalização há que se considerar a luz da A Lei Complementar N.º 730, DE 11 DE JULHO DE 2011, DISCIPLINA O ORDENAMENTO DO USO E DA OCUPAÇÃO DO SOLO NA ÁREA INSULAR DO MUNICÍPIO DE SANTOS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Confere orientações para uso e a ocupação do solo para fins urbanos, na área insular do Município de Santos, observadas, no que couber, as disposições da legislação federal e estadual pertinentes. Pelo seu Artigo 8º, que trata da ocupação, aproveitamento e uso do solo, na área insular do Município de Santos, dividindo-a em duas categorias, destacando-se, conforme Inciso XI, as ZPI e ZP II - Zona Portuária I e Zona Portuária II, caracterizando-as como área interna ao Porto e área retroportuária com intensa circulação de veículos pesados, e caracterizados pela instalação de pátios e atividades portuárias impactantes. Pelo Artigo 17, a categoria de uso das atividades portuárias e retroportuárias é identificada pela sigla - CSP, e caracteriza-se pelos estabelecimentos destinados à armazenagem, comércio e prestação de serviços, que impliquem em fixação de padrões específicos quanto ao tráfego de veículos pesados, à periculosidade e/ou riscos de acidentes, bem como instalações específicas para atividades náuticas de transporte urbano e interurbano de passageiros, lazer, turismo e pesca, admitindo instalações: O Plano de Revitalização de áreas portuárias e integração com áreas urbana, nos termos da Lei Municipal nº 2.678, de 28 de dezembro de 2009, descrito nos capítulos seguintes, mas que contempla e lei a NIDE 9, cujas categorias de usos previstas são: a) aquelas estabelecidas para os Corredores de Proteção Cultural na ZCI, conforme esta lei complementar. ;b) terminais e instalações de atracação para cruzeiros marítimos; c) 101

102 instalações para atracação e operação de embarcações de passageiros, de serviços e de pesquisa) marinas; e) estacionamentos) centro de pesquisa. Estabelece orientações para uso e a ocupação do solo para fins urbanos, na área continental do Município de Santos, observadas no que couber, as disposições da legislação federal e estadual pertinentes. Pelo Artigo 8º, onde ficam estabelecidas as seguintes zonas: Urbana I ZU I; Urbana II ZU II; Suporte Urbano I ZSU I; Suporte Urbano II ZSU II; Portuária e Retroportuária ZPR. A Zona Portuária e Retroportuária ZPR compreende parte das áreas gravadas como de expansão urbana pelo Plano Diretor de Desenvolvimento e Expansão Urbana do Município de Santos, cujas características demonstrem o potencial para instalações rodoviárias, ferroviárias, portuárias e retroportuárias, bem como aquelas ligadas às atividades náuticas, divididas da seguinte forma, conforme quadro abaixo. ZPR (1) Quilombo 223,84 ha ZPR (2) Piaçaguera 74,19 ha ZPR (3) Ilha dos Bagres 124,02 ha ZPR (4) Nossa Senhora das Neves / Norte 26,36 ha ZPR (5) Nossa Senhora das Neves / Sul 200,82 ha ZPR (6) Ilha do Barnabé / Nordeste 337,20 ha ZPR (7) Ilha do Barnabé /Sul 244,57 ha Quanto à movimentação de passageiro Segundo o PDZ, existe um crescimento na movimentação de passageiros no Porto de Santos. No último ano, passaram por esse complexo portuário, aproximadamente, 1,2 milhão de passageiros, entre embarcados, desembarcados e em trânsito. Para 2012, a expectativa é consolidar os projetos das etapas da Avenida Perimetral da Margem Direita que se estendem do Saboó à Reta da Alamoa, da Bacia do Macuco à Ponta da Praia e da Passagem Inferior na Região do Valongo Mergulhão. Será dado andamento, ainda, aos procedimentos para a construção de dois píeres de atracação e ponte de acesso no Terminal da Alamoa, bem como obras civis de recuperação do seu atual píer e dos berços da Ilha do Barnabé, além do reforço de cais para aprofundamento dos berços de atracação entre os armazéns 12A e 23, e o início da construção do alinhamento do cais do Terminal para Passageiros. Ainda segundo o PDZ, a movimentação atual de passageiros no Porto de Santos é realizada exclusivamente pela empresa Concais, que utiliza principalmente o berço do Armazém 25, de forma exclusiva, além dos berços adjacentes na margem direita, quando disponíveis. A empresa estima a expressiva capacidade de passageiros/dia, considerando que os navios de passageiros possuem prioridade de atracação sobre qualquer outro navio de carga em todos os berços públicos. O Terminal de Passageiros GIUSFREDO SANTINI CONCAIS S.A, localiza-se no Porto de Santos, Armazém 25, com Início de operação em novembro de 1998 com área operacional de m², possui capacidade de atendimento de 42 mil passageiros por dia; possui retroárea com 16,2 mil m² projetada. Preparado para atender o fluxo de veículos de passeio, ônibus e vans; e mais de 75 vagas para ônibus, com oito salões para desembarque, espera, check in e embarque de passageiros e tripulantes; um amplo salão

103 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 para embarque de bagagens com scanners; scanners de bagagem de mão e detector de metais; estacionamento para o passageiro deixar o veículo durante a viagem; lojas de conveniência, moda, farmácia, bijuterias,cafeterias e lanchonetes, posto de câmbio, caixas eletrônicos, salas VIP; sistema de comunicação audiovisual; acesso à Internet para passageiros e tripulantes; telefones públicos (DDD / DDI). Possui ainda, ambulatórios para primeiros socorros e UTI móvel com equipe médica; sistema de monitoramento por meio de circuito fechado de TV; certificado no ISPS Code Código Internacional Para a Proteção de Navios e Instalações Portuárias; certificado pela ISO 9001:2008; certificado pela ISO 14001:2004; acessos adaptados; instalações para a Alfândega, Polícia Federal, Policia Civil, Anvisa, Ministério do Trabalho, Agricultura, Agências Marítimas e Despachantes e Autoridade Portuária (Companhia Docas do Estado de São Paulo CODESP) e Armadores; e posto de Informações Turísticas da Secretaria de Turismo de Santos e do Santos e Convention Bureau. EVOLUÇÃO - MOVIMENTAÇÃO DE PASSAGEIROS X EVOLUÇÃO - NÚMERO DE NAVIOS E ESCALAS Temporada Embarque Evolução acumulada % Temporada Nº Escala Nº Navios 99/ / / / /fev / /mar / /abr / /mai / /jun / /jul / /ago / /set / /out / /nov / *11/ / TOTAL Fonte PDZ Valores atualizados até FEV/2012 Do ponto de vista do espaço arrendado as seis instalações arrendadas nessa região apenas o Terminal 37 destina-se à movimentação de contêineres, utilizando os berços 37.1 e Sendo o primeiro terminal arrendado após a Lei dos Portos, a instalação apresenta dimensões reduzidas, totalizando apenas m². Terminais Atuais - As instalações operacionais ocupam atualmente cerca de 50% da área total do Porto Organizado, totalizando 3,6 milhões de m_. Em 2010, as 96 milhões de t de carga foram movimentadas através de m de cais, sendo m de berços públicos e m de arrendados. 103

104 ARREND PORTO/SANTOS/PONTA DA PRAIA Área Total [m²] Berços Utilizados Carga ADM do Brasil ARM 39 Soja, Milho,Trigo e Açúcar Comercial Quintella e ACT ARM 38 Soja e Milho Citrosuco/Fischer ARM 38 Soja e Milho Exportadores cítricos ARM 38 Soja e Milho Caramuru (Ferronorte) ARM 38 Soja e Milho Libra S/A Terminal ARM37.1; ARM37.2 Carga conteinerizável ARREND.PORTO/SANTOS NO MACUCO Área Total [m²] Berços Utilizados Carga Libra Terminal 35 S/A ARM35.1;ARM35.2; ARM35; Carga conteinerizável Libra Terminais S/A ARM 34; Carga geral e contêiner Cia. Brasileira de Alumínio ARM 33/34; ARM 33 Carga geral solta e Mesquita ARM 32 Carga conteinerizável NST N/D Celulose e sucos cítricos Citrosuco/Fischer ARM 30; ARM 31 Sucos cítricos Fonte: PDZ PORTO DE SANTOS Atualmente, as instalações portuárias da região da Alamoa, compreendida entre o projeto anunciado do terminal Brasil Terminal Portuário (BTP) e os limites a montante do Porto Organizado na margem direita, são exclusivamente utilizadas para a movimentação de granéis líquidos, exceto sucos cítricos, atingindo cerca de 62% do total deste tipo de carga manuseado no Porto em As operações são realizadas através de quatro berços de atracação e as áreas operacionais arrendadas totalizam m_, sem considerar a área da BTP, Os quatro berços de atracação totalizam m,dos quais a Transpetro possui exclusividade de operação no berço denominado AL 01 e prioridade no AL 02, e os outros dois são compartilhados apenas entre as demais empresas. Arrendatários Venct. Arrendatários Venct. A - PETROBRAS - Transportes SA 2014 / R F - TEQUIMAR 2012 / R B - COPAG encerrado G - TEQUIMAR 2012 / R C - QUATTOR 2012 H - GRANEL 2016 / R D - NORFOLK 2021 / R I - STOLTHAVEN 2021 E - BTP 2027 J - VOPAK 2021 Ilha do Barnabé Da mesma forma como na Alamoa, as seis instalações portuárias localizadas na Ilha do Barnabé são utilizadas exclusivamente para a movimentação de granéis líquidos, exceto sucos cítricos. As operações são realizadas através de dois berços de atracação e em 2011 representaram cerca de 13,8% da movimentação deste tipo de carga no Porto. Conceiçãozinha A região denominada Conceiçãozinha localiza-se na margem esquerda do porto e compreende atualmente uma área operacional de m2, distribuída entre sete instalações portuárias destinadas à movimentação de contêineres, carga geral, granéis sólidos vegetais e minerais. Em 2011 a movimentação destes terminais representou cerca de 48% do total de contêineres movimentados no Porto de Santos, 38% dos granéis sólidos vegetais exportados, 48% do total de veículos e 23% de granéis sólidos minerais. Na extremidade de jusante da margem esquerda do Porto de Santos localizam-se os terminais privativos das empresas Sucocitrico CUTRALE e Dow Química (_gura abaixo), sendo o primeiro destinado ao manuseio de sucos cítricos e granéis sólidos para exportação, e o segundo, por sua vez, de granéis líquidos químicos. Em 2011 a movimentação destes terminais representou cerca de 35% da movimentação total de sucos cítricos movimentados no Porto de Santos, 4% de granéis líquidos e 4% dos granéis sólidos exportados.

105 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Canal de Piaçaguera Apesar dos terminais privativos de uso misto das empresas Fosfértil (Vale Fertilizantes S.A.) e Usiminas estarem localizados fora dos limites do Porto Organizado de Santos, a proximidade física torna necessária a consideração de suas respectivas instalações e capacidades ofertadas para o manuseio de cargas na elaboração deste Plano, uma vez que estes terminais deverão absorver parte da demanda projetada para a região portuária, além de gerar demandas para utilização dos diversos sistemas de acesso. Em 2011 a movimentação desta região representou cerca de 51% do total de granéis sólidos minerais movimentados no Porto de Santos, 19% de cargas gerais e 3,5% de granéis líquidos. O Terminal Marítimo Privativo de Cubatão TMPC foi inaugurado em 1969 e passou a ser operado pela Usiminas em É utilizado de forma estratégica pela empresa para importação de carvão mineral e exportação da produção de aços longos. O terminal dispõe de cinco berços de atracação que totalizam m e podem ser dragados até 12,0 m. Por sua vez, o Terminal Privativo da Fosfértil possui apenas um berço de atracação de 177 m de comprimento, utilizado para a movimentação de fertilizantes. Em 2008, foi responsável pela importação de 1,0 milhão de t de enxofre, 0,8 milhão de t de adubo e 0,2 milhão de t de amônia. A área de influência primária do Porto de Santos inclui os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal, que em conjunto representam: 75 milhões de pessoas 67% do PIB do Brasil 56% da Balança Comercial Brasileira, em valores. O Porto de Santos é fundamental para os estados integrantes de sua hinterlândia primária. Nesse sentido, também é muito importante para o comércio exterior dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Rondônia, Tocantins, Sergipe e Paraíba, integrantes de sua hinterlândia secundária e terciária. Do total do comércio internacional do estado paulista (em valores), cerca de 60% são embarcados ou desembarcados através do Porto de Santos. Responsável por cerca de um quarto da participação na Balança Comercial Brasileira em valores, o Porto de Santos movimentou no ano de 2010 o total de US$ 96,2 bilhões do comércio internacional brasileiro. PARTICIPAÇÃO DO PORTO DE SANTOS NA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA COMPARATIVO ENTRE PORTOS 105

106 Ao analisarmos a participação dos portos no cenário portuário nacional denotamos a grande importância do Complexo Portuário Santista, que responde por quase um terço do comércio exterior do país pelo modal marítimo. Porto de Santos Projetos e Investimentos Para os próximos anos, estima-se cerca de R$ 7 bilhões em investimentos para atender a demanda de carga até o ano de 2024, quando o porto poderá atingir a movimentação de 230 milhões de toneladas. Esses números não incluem o projeto de expansão nas ilhas de Barnabé e Bagres que garantirá o aporte de cerca de R$ 4,8 bilhões em investimentos. Dentre os vários investimentos destacam-se as seguintes iniciativas: INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS INVESTIMENTOS PROJETOS NAS ILHAS BARNABÉ E BAGRES

107 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 A movimentação do porto neste período: Foram movimentadas, no mês de dezembro de 1999, no Porto de Santos, t, que registra incremento de t em relação a dezembro de 1998, t. Passaram pelo Porto Organizado contêineres. EM M O V I M E N T O D O M Ê S CODESP - Fl. 04 TONELADAS ESTATÍSTICA - DEZ/99 ESPECIFI- I M P O R T A Ç Ã O E X P O R T A Ç Ã O T O T A L CAÇÃO Carga Sólidos Líquidos Soma Carga Sólidos Líquidos Soma Carga Sólidos Líquidos Soma Geral a Granel a Granel Geral a Granel a Granel Geral a Granel a Granel C A I S D O P O R T O LONGO CURSO CABO TAGEM TOTAL T E R M I N A I S D E U S O P R I V A T I V O LONGO CURSO CABO TAGEM TOTAL G E R A L LONGO CURSO CABO TAGEM TOTAL Com o movimento apurado neste mês, o Porto de Santos acumula t, constituindo-se em recorde anual e superando o anterior, t, pertencente a 1998, em t (6,8%). Do total 107

108 movimentado, as importações, com , t representaram 43,1% e as exportações, com t, (56,9%). Os sólidos a granel, com t, representaram 44,8%, a carga geral, com t, 32,7% e os líquidos a granel, com t, 22,5%. No Cais Público, o açúcar, com t, sendo t (44,2%) acondicionadas em sacas e t (55,8%) a granel, foi a mercadoria de maior movimento. Passaram pelo Porto Organizado, neste ano de 1999, contêineres, sendo unidades no TECON-1, no Terminal 37, no Terminal 35, no TECONDI e em outros pontos de atracação. Chegaram ao Porto de Santos, embarcações, das quais atracaram. Fonte: Porto de Santos - Uma década de transformações ( ) documentos/reps/, Petrobras, o porto, a cidade e a região. O Pré-Sal da Bacia de Santos A Unidade de Operações de Exploração e Produção da Bacia de Santos - UO-BS é responsável pelos projetos de exploração e produção da Petrobras nas porções central e norte da Bacia de Santos a maior bacia sedimentar marítima do Brasil, que se estende do estado do Rio de Janeiro ao de Santa Catarina, ocupando uma área superior a 350 mil quilômetros quadrados. Uma parte substancial do pré-sal está localizada na Bacia de Santos, em especial entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A primeira produção de óleo no pré-sal da Bacia de Santos ocorreu em 1º de maio de 2009, na área conhecida como Lula o primeiro campo supergigante do país, com volumes recuperáveis de 6, 5 bilhões de barris de óleo equivalente ( boe, medida que considera a produção total de óleo mais gás). Em outubro de 2010, o primeiro projeto definitivo do pré-sal da Bacia de Santos foi iniciado na mesma área, na Unidade Flutuante de Armazenamento e Transferência FPSO, Cidade de Angra dos Reis. Em dezembro do primeiro ano, a companhia declarou a comercialidade das duas primeiras áreas do pré-sal da bacia as antigas áreas de Tupi e Iracema. Genericamente, durante o período compreendido entre 2011 e 2015, a Petrobras planeja investir US$ 53,4 bilhões nos projetos de exploração e produção do pré-sal; desse total, mais de 90% serão destinados à Bacia de Santos. Os desafios, investimentos e logísticas em geral serão imensos, com amplos reflexos ao PORTO de SANTOS. Os desafios logísticos atualmente, as operações da Bacia de Santos são atendidas por bases de apoio aéreas localizadas nas cidades de Itanhaém (SP), Navegantes (SC) e Rio de Janeiro (RJ). O apoio portuário é realizado a partir do Rio de Janeiro e Itajaí (SC). Outras duas bases logísticas, que contemplam áreas de porto, aeroporto, armazenagem, laboratórios e Centro de Defesa Ambiental estão em fase de estudos, sendo uma em Itaguaí (RJ) e outra em Guarujá (SP). As Instalações para a Unidade de Operações de Exploração e Produção da Bacia de Santos - UO-BS, está instalada em sete endereços na cidade de Santos. A Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato - UTGCA, em Caraguatatuba (SP), completa o grupo de instalações terrestres da unidade. Uma sede definitiva para a Unidade da Bacia de Santos está em construção desde julho de 2011 no bairro histórico do Valongo, em Santos. O projeto prevê a construção de até três torres com capacidade para cerca de duas mil pessoas cada uma. A previsão é que a primeira torre esteja concluída no segundo semestre de Investimentos no Pré- Sal Dos US$ 224,7 bilhões que a Petrobras vai investir nos próximos cinco anos, US$ 53,4 bilhões serão destinados ao pré-sal da Bacia de Santos, segundo o Plano de Negócios , já aprovado pelo Conselho de Administração da estatal. O valor supera os US$ 33 bilhões previstos no plano anterior, do quinquênio , mas ainda é inferior aos US$ 64,3 bilhões que a estatal vai destinar à região do Pós-

109 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 sal, principalmente à Bacia de Campos, a maior bacia petrolífera do país e que responde por mais de 80% de toda a produção nacional. O novo plano de negócios da estatal, prevê que os investimentos na área de exploração e produção totalizarão, nos próximos cinco anos, US$ 117,7 bilhões, dos quais 65% serão destinados ao desenvolvimento da produção, 18% à área de exploração e 17% ao setor de infraestrutura Produção Prevista. As projeções consideram a produção da Petrobras e de parceiros que também operam na região. As operações no Pré-sal da Bacia de Santos, ao longo dos próximos anos, serão compostas pelas atividades de cinco FPSOs (navios-plataformas), oito navios replicantes e quatro unidades em operação na área cedida pela União no acordo de cessão onerosa. O planejamento atual também inclui dois navios, que já realizam testes de (TLD) na região e serão responsáveis por um total de 20 TLDs até As atividades da Petrobras no pré-sal da Bacia de Santos são compostas atualmente por três sistemas. Outros quatro sistemas, voltados principalmente para a exploração de gás natural, também operam no Póssal da região, totalizando sete sistemas em operação neste momento na Bacia de Santos. A Petrobras e seus parceiros comemoraram, no final de 2010, o início da produção em escala comercial nos campos do Pré-sal brasileiro. Só na Bacia de Santos, a produção diária deve alcançar, até 2017, cerca de 1 milhão de barris diários, com a entrada em operação das unidades planejadas para a região. Segundo PDZ, O Pré-Sal e a Cadeia de Fornecedores JÁ INTERFERIRAM NO conteúdo nacional das encomendas que começaram a ser feitas pela estatal para desenvolver as áreas do pré-sal já está superando os 70%. Quanto as demandas no Polo Pre-sal, da Bacia De Santos, citamos algumas possibilidades: Caracterização de Reservatórios; Arranjo Submarino; Integridade do Sistema de Produção; FPSOs com Topsides Flexíveis;Processamento e Tratamento de CO2; Garantia de Escoamento. No qual podem vir a gerar as oportunidades de serviços nas seguintes atividades: Projeto e construção de unidades de processamento de Gás Natural; Manejo de equipamento submarino; Serviço de inspeção submarina; Gerenciamento de projetos; Manutenção de grandes máquinas; Diferentes alternativas de transporte; Manejamento de carga; Tecnologias de suprimento e facilities;tecnologia e gerenciamento de estoque. Ainda existem o Projeto de Construção da Sede Própria em Santos/SP, no qual já adquiriu o Terreno de m² adquirido em 2008, onde será construído, Três prédios com capacidade para até pessoas cada um, com previsão de conclusão do primeiro prédio para o não de Os reflexos para as ações estratégicas são: Bases de Apoio Operacional da Bacia de Santos, com melhorias no Aeroporto de Itanhaém (parceria Petrobras-DAESP), estudo em conjunto com a Aeronáutica para viabilizar a operação da Base Logística definitiva (porto, aeroporto, armazenamento, CDA e laboratórios), em parte do terreno da Base Aérea de Santos e a antecipação da operação de uma base portuária no Porto de Santos em estudo Ações Estratégico articulado (Petrobras, Prefeitura de Santos, Governo do Estado de SP e CODESP) para o bairro do Valongo em Santos, podem trazer uma série de melhorias, tais como no transporte público, alteração no trânsito, extensão do VLT até o bairro do Valongo; terminal para deslocamento até a Base Aérea de Santos (futura base logística da Petrobras); transporte marítimo de qualidade (para moradores de Cubatão, Bertioga, Guarujá e São Vicente, delegacias da Polícia Militar e da Polícia Civil, procurando aumentar a segurança no entorno; serviços no entorno da Sede da Petrobras (hotéis, médicos, dentistas, centros empresariais e comerciais, lazer, cultura, academias, etc.) e a construção de ciclovias, dentre outras A cidade de santos 109

110 A cidade abriga o principal porto do país. Hoje Santos é um dos parques tecnológicos do estado de São Paulo, e muito se deve a chegada da Petrobras, possui, universidades e escolas técnicas públicas e privadas estão oferecendo cursos de qualificação profissional em petróleo e gás, que foram criados em função das necessidades atuais e futuras da Petrobras. Outras atividades fomentadas pela prefeitura é a chamada Rede- BS das Empresas de Petróleo e Gás e da Câmara Temática de Petróleo e Gás do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), formada para estimular a capacitação de empresas interessadas em atuar como prestadores de serviços da Petrobras. A plataforma terrestre do emissário submarino, na praia do José Menino, ganhou um parque de 43 mil metros quadrados, projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake. A Ponta da Praia, próxima à balsa que leva ao Guarujá, é onde há o maior volume de obras em andamento. O preço do metro quadrado fica em torno de R$ 4 mil. A Ponte Santos-Guarujá, uma reivindicação antiga dos moradores, tem previsão de receber R$ 700 milhões e desafogar o tráfego na balsa. Além destes existem diversos obras públicas, dentro do projeto Santos Novos Tempos, programa que prevê aportes pesados em infraestrutura e habitação e conta com recursos do Banco Mundial. É um programa de cerca de R$ 550 milhões. Com previsão de serem construídas 7,5 mil residências para moradores de uma favela na área de influência da maré. Além do Banco Mundial, estão participando do projeto o Governo Federal, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e o governo paulista por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Santos implementa o Programa Alegra Centro, criado para preservar o patrimônio histórico da região central da cidade. É um programa que é público e ao mesmo tempo privado, se articula com a legislação municipal que oferece incentivos fiscais, oferece isenções tributárias para os proprietários que fizerem a restauração dos seus imóveis e derem uma ocupação permanente. A estratégia do projeto, além dos incentivos fiscais, inclui fazer do centro um local atrativo turisticamente, com teatros que foram restaurados, espaços culturais e atrações como os cinco quilômetros de bonde que abrangem todo o centro, com bondes de várias partes do mundo como Escócia, Itália e Portugal. A prefeitura é responsável pelo Museu do Bonde. O espaço já está pronto. É um antigo museu portuário que foi restaurado e entregue. O local abrigará peças, informações e documentos com a história dos bondes elétricos na cidade. Turismo em ascensão. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Santos, no último verão, foram injetados R$ 401 milhões na economia local. De acordo com houve um aumento do gasto per capita por dia de R$ 75,00 para R$ 80,00 no mesmo período. O montante não contempla os resultados da temporada de cruzeiros marítimos , que movimentou R$ 230 milhões na cidade, criou 1,1 mil empregos diretos e 8 mil indiretos, de acordo com a Concais, empresa que administra o Terminal de Passageiros Giusfredo Santini. Um dos projetos que promete atrair mais turistas para a cidade é a construção do Museu Pelé, um dos ícones do projeto Alegra Centro. O museu vai receber R$ 20 milhões deve ficar pronto em Outro ponto alto da revitalização do centro histórico é um complexo portuário. O Projeto Santos Porto- Valongo vai transformar um espaço de 55 mil metros quadrados, sem uso há mais de 20 anos, em um complexo turístico, náutico, cultural e empresarial, com terminal de cruzeiros, marina pública, escritórios, restaurantes e terminal de transporte aquaviário. Santos é também a capital dos cruzeiros marítimos e, na temporada , 22 navios movimentarão mais de 1 milhão de passageiros. O novo cais para navios de cruzeiro, planejado para atender os turistas da Copa de 2014, vai custar R$ 160 milhões. De olho nessa oportunidade, Santos pretende ser sub-sede do Mundial e receber uma das seleções. O aquário do município também passou por ampliação e modificação. Existe previsão de abertura de hotéis de bandeira internacional, o Confort, Ibis e Mercure Com esses novos hotéis, aumentárá a disponibilidade de mais 2,2 mil leitos, a capacidade de acomodação será duplicada.

111 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE A estrutura produtiva da economia local A observação da atividade econômica, através das unidades do Cadastro Central de Empresas (CCE) do IBGE, possibilita aferir a escala e a especialização da estrutura produtiva existente em Santos em Para isso, as atividades econômicas foram agrupadas em alguns grandes grupos para a sua análise, a saber: atividades industriais e serviços da produção; atividades de serviços gerais e comércio; administração pública e serviços sociais. As atividades da construção, sediadas no município, apresentaram 683 empreendimentos, dos quais 25 com mais de 50 funcionários, e todas as demais com menos de 49 funcionários existentes. As grandes construtoras e incorporadoras que promoveram os grandes condomínios no município também vem de fora da cidade, se somando as existentes. Somente 9 imobiliárias tinham mais de 20 funcionários, dentre as 253 empresas do ramo. Do total de indústrias de transformação, apenas 6 empresas tinham mais de 100 empregados. Duas empresas de serviços ambientais (água, esgoto, resíduos e descontaminação), tinham mais de 250 empregados. Quadro 3. Distribuição das empresas por atividades econômicas produtivas e de serviços da produção, total e por faixa de pessoal ocupado em Santos 2010 Setores Total 0 a 4 5 a 9 10 a a a a a 249 Indústrias de transformação Indústrias extrativas Indústria de Construção Atividades imobiliárias a e mais Água, esgoto, ativ.de gestão de resíduos Total Fonte: IBGE-SIDRA-CCE A questão da moradia e o mercado imobiliário de Santos Com forte apelo econômico a cidade está propensa a atrair muitos investimentos no setor imobiliário. Segundo anúncios, até 2014 a Baixada Santista deverá receber lançamentos imobiliários no valor estimado de R$ 2 bilhões. No ano de 2006 a Prefeitura chegou a autorizar cerca de 20 empreendimentos que equivaliam a mais m2 de construção. Sendo que nos seis primeiros meses de 2007 foram aprovadas dezenove grandes obras o que significou um acréscimo de ,41 m2 de área construída. Segundo dados do Poder Público em 2007 o bairro Ponta da Praia somou entre os seus novos empreendimentos imobiliários, ,86 m2 de área construída com seis grandes empreendimentos. Já o bairro do Gonzaga ficou com 13 projetos aprovados. O bairro de José Menino teve dois projetos edificados, e o bairro Boqueirão conseguiu sete projetos. A origem deste processo de verticalização e de valorização imobiliária na cidade de Santos teve no seu período de uma grande expansão imobiliária, com a construção de mais de 100 edifícios ao longo da orla praiana. De acordo com Souza (1994), a verticalização representou uma das características marcantes dentro da urbanização brasileira. O acelerado processo de verticalização na cidade de Santos reproduziu fenômenos nem sempre aparentes em sua totalidade. Segundo Seabra (1979), as atividades do setor de construção civil, em Santos, no ramo de edificações, reproduziram lá, como não poderia deixar de ser, as características gerais do setor no que se refere ao processo capitalista de produção de habitações. Em 1955, praticamente não existiam altas edificações, mas 111

112 o surto imobiliário - que encontraria seu auge nos anos 60, rapidamente ergueu a muralha de prédios. O fenômeno da valorização do solo em Santos foi planejado e provocado, por assim dizer, fora do Município. Outros fatos interessantes: três tipos de empresas atuaram em Santos, começando por aquelas que possuíam alguma tradição no setor da construção civil; depois, as que operavam com o que se costuma chamar de construção pesada e, por fim, empresas sem tradição alguma. Eram, por exemplo, importadoras - como a Três Leões - de eletrodomésticos, mas que em Santos transformava-se em firma de construção civil. O processo da verticalização em Santos se acelera apoiado em mudanças nos parâmetros da construção civil da cidade graças à implementação da Lei nº. 312/98 elaborada por um grupo técnico multidisciplinar e intersecretarial, com a participação do Conselho Consultivo do Plano Diretor e de líderes comunitários. Segundo Miranda, (2000), a legislação também foi importante para esse mercado imobiliário em formação, pois incentiva a verticalização, que se valia do aprimoramento das técnicas construtivas e equipamento, para elevar os gabaritos [...], repercutindo na valorização do solo. A Lei 312/98 que tem como principal finalidade ordenar o uso do solo na área insular santista define os tipos de atividades permitidas em determinadas áreas, segundo o seu grau de periculosidade e interferência no entorno. A Lei nº. 312/98 reforçou a reestruturação sócio espacial na cidade ao longo da última década, produzindo um novo ordenamento territorial e acirrando as exigências competitivas do mercado imobiliário, que busca impor seus interesses nas transformações urbanísticas, arquitetônicas e de infraestrutura em Santos. (MOREIRA: 2010) Segundo registros da Prefeitura Municipal de Santos projetos arquitetônicos de grande porte foram autorizados. De acordo com o Departamento de Imprensa da Prefeitura Municipal de Santos no ano de 2005, foram aprovados 16 projetos, totalizando ,84 m2 de área construída. As áreas mais afetadas foram: Gonzaga, Ponta da Praia, Embaré e José Menino. O José Menino teve dois projetos com ,46 m2 edificados, e o bairro Boqueirão sete, medindo ,66 m2 edificados. Os números revelam que após a aprovação das novas regras de uso e ocupação do solo, o processo de verticalização ganhou destaque na cidade. A expansão imobiliária determinou os novos limites para a construção dos arranha-céus, que atingiu um ritmo voraz, facilitado pela arquitetura modernista, e pelo afã dos empreendedores imobiliários. Esse contexto permite dizer que a reprodução do capital se realiza pela apropriação do espaço e se reproduz pela lei (CARLOS, 2005). É importante salientar que, a partir do momento em que a Petrobras anunciou a construção de um centro de operações no município, os preços dos imóveis residenciais e comerciais valorizaram em torno de 60%. Na zona portuária, o preço do metro quadrado de um imóvel ou terreno comercial passou de R$ para R$ Já na área residencial, o preço do metro quadrado pulou de R$ para R$ Essa valorização justificada pelo pré-sal, poderá impor à região uma nova riqueza, e ela pode trazer novas representações urbanas, arquitetônicas e até estéticas. Segundo Moises (1997) parte daqueles que estão impossibilitados de pagar por estes custos são empurrados para mais longe para recomeçar a produção social da cidade em outro lugar e de novo propiciar a apropriação de renda por apenas uma parcela, na qual não está incluído. Segundo as imobiliárias, o mercado imobiliário na região litorânea do Estado de São Paulo continua em alta, apenas mais contido este ano por conta das expectativas econômicas, mas já retoma a mesma intensidade de antes. O maior motivo desse aumento, de acordo com informações do setor, foi o anúncio feito pela Petrobras em 2006 dos primeiros indícios de petróleo na camada pré-sal. Muitos imóveis já foram construídos e prevê-se para o ano de 2012 a entrega de mais 10 mil imóveis na região (Baixada Santista), rapidamente comercializados pelo crescente número de pessoas atraídas para as proximidades da Bacia de Santos. É uma operação com grandes transformações no mercado. Para atender à demanda da expansão, serão necessárias novas indústrias, galpões de armazenagem e logística e edifícios comerciais. Além dos investimentos na construção de imóveis residenciais, que abrigarão a população local e também os trabalhadores do setor petroquímico, o pré-sal tem motivado os investimentos em imóveis corporativos, em quase todas as cidades. Outro fator que reforça o boom imobiliário relaciona-se às melhoras nas estradas e um numero cada vez maior de turistas de navio que tem aportado próximo das praias das cidades da baixada Santista.

113 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Comercio e serviços As empresas que se destacaram, tanto pelo total de unidades como pela escala de ocupação de pessoal, estavam inseridas nas atividades de comércios e reparos, administrativas e complementares, alojamento e alimentação, além de uma empresa de transporte coletivo de grande escala de ocupação de pessoas. As atividades de transporte, armazenagem, e correio, em geral, profissionais, científicas e técnicas, informação e comunicação, são menos representativas em número de empreendimentos e na escala de ocupação de pessoas. Quadro 4. Distribuição das empresas por atividades econômicas de serviços e comércio, total e por faixa de pessoal ocupado em Santos 2010.Erro! Vínculo não válido.fonte: IBGE-SIDRA-CCE Adm. Pública A administração pública municipal e instituições de defesa, além de outras atividades de serviços de Saúde, educação, destacam-se como grandes empregadores de pessoal. As unidades de arte, cultura, esporte e recreação dispersam-se em pequenas unidades, sendo à exceção de apenas duas que possuem mais de 100 funcionários. Quadro 5. Distribuição das empresas por atividades econômicas de administração pública e serviços sociais, total e por faixa de pessoal ocupado em Santos 2010.Erro! Vínculo não válido.fonte: IBGE-SIDRA-CCE Entretanto, esta economia formal apresentada, formada por empresas, de diversas escalas de produção, com trabalho assalariado, forma a estrutura produtiva de bens e serviços, estabelecida até recentemente no município. Com esse quadro geral de informações, apresenta-se um componente importante da estrutura econômica local, para a reflexão a cerca das condições de desenvolvimento econômico. Como se verá, a partir das considerações do mercado de trabalho, existe outro circuito da economia, que por não aparecer nas estatísticas oficiais de emprego, é denominado de informal, tratada em um Proxy sem maiores detalhamentos. 113

114 Algumas decisões cruciais que podem atingir a economia local De acordo com o já mencionado Relatório da Cespeg (2011), os investimentos previstos no setor de petróleo de US$ 5 bilhões/ano (US$ 3,7 bilhões relacionados à exploração, produção e refino) devem produzir impactos altamente significativos na economia brasileira. Os impactos diretos, indiretos e de efeito-renda são potencialmente de US$ 12 bilhões por ano relação de 1:2,5 com o investimento. A realização total desse potencial depende da parcela de fornecimento local de insumos e serviços. Atualmente, cada R$ 1 investido gera benefícios diretos e indiretos de R$ 1,26, além de R$ 1,9 em termos de efeito-renda (Cespeg, 2011). O efeito potencial em termos de crescimento do PIB anual brasileiro é da ordem de 0,6%, com uma geração adicional de empregos. Os setores mais impactados pelos investimentos no setor de petróleo são o de prestação de serviços a empresas (que inclui consultorias, serviços jurídicos, informática, segurança, entre outros), siderurgia, metalurgia, máquinas e tratores, o próprio setor de petróleo e gás, construção civil, comércio e agropecuário. Os maiores beneficiados em termos de valor da produção são: serviços prestados a empresas (15,6%), siderurgia (11,3%), petróleo e gás (9,1%), máquinas e tratores (8,8%), peças e outros veículos (principalmente indústria naval, 7,4%) e construção civil (6,4%). Considerando do ponto de vista de geração de empregos, os setores mais impactados são: serviços prestados a empresas (35,7%), comércio (10,3%), construção civil (7,8%), metalurgia (6,2%), agropecuária (6,1%), máquinas e tratores (7,4%). É importante destacar que os recursos oriundos da cadeia de óleo e gás do Pré-Sal, além dos impactos diretos na geração de emprego e renda, podem significar mudanças profundas em problemas estruturais da economia e sociedade brasileira. De acordo com Almeida22, a possibilidade de estruturação de um Fundo Soberano composto pelas receitas da cadeia de óleo e gás poderia erradicar a histórica escassez de divisas, responsável por permanentes instabilidades econômicas internas principalmente em tempos de turbulência internacional. Ainda, nos moldes do Fundo Soberano Norueguês, possível modelo de referência à estruturação do brasileiro, esses recursos seriam investidos em três áreas estratégicas, visando beneficiar não só a geração presente quanto as futuras, visto o petróleo e seus derivados pertencerem a toda a nação: educação, saúde e meio-ambiente. Por último, a mudança no marco regulatório referente às divisões dos royalties entre estados e municípios produtores poderia contrabalancear a histórica desigualdade regional brasileira23. Segundo levantamentos realizados com base em leitura de documentos, relatórios e estudos específicos sobre os impactos dos investimentos do pré-sal e de seus desdobramentos (porto, rodovia etc), bem como com base em conversas e entrevistas com especialistas e gestores, aparecem alguns setores potenciais que serão impactados. Em termos gerais, os grandes setores que potencialmente sofrerão impactos em toda a região são: Indústria de Transformação; Construção Civil; Infraestrutura; Turismo; Resíduos Sólidos e Pesca. Estes grandes setores contemplam subsetores, tais como: Indústria de Transformação; Construção Civil; Infraestrutura e Turismo e Pesca: No entanto, percebe-se que nem todos os setores são encontrados e impactados nos 13 municípios, mas os levantamentos de dados primários e secundários realizados para cada um deles sugere a prevalência de uns e não de outros. O comércio perdeu em quantidade de empresas saindo de do ano de 2000 para 6960 empresas em 2010 e tornou-se mais dinâmico e especializado, dado que ocorreu aumento no numero de empresas a partir de 5 funcionários até 29 e especialmente nas faixas de 30 a 499 funcionários dobrou o numero para cada faixa de empregados. 22 Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. 23 O Alcance do Pré-Sal. Coletânea de três artigos publicados pelo Jornal Brasil Econômico, nos dias 26/3/10, 4/4/10 e 9/4/10.

115 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 O que sugere a saída de de alguns pequenos comércios para outras cidades vizinhas, não impactando em demasia o quantitativo de empregos uma vez que obteve aumento para outras faixas, o que permite afirmar que ainda é o que gera grande numero de empregos e serviços correlatos na cidade. Outra atividade que teve um crescimento vertiginoso é o de Transportes e Comunicações. Tal constatação pode ser respaldada a partir dos dados secundários apresentados anteriormente, uma vez que o QL passou de 2,34 para 10,09 na cidade de Santos, a participação deste setor no emprego do município é relativamente representativa, uma vez que se trata de empresas de ônibus, transporte com peruas e taxis, transportadoras, bem como empresas de serviços de comunicação com profissionais liberais e individuais por vezes. No que se refere aos Arranjos Produtivos Locais - APLS Trata-se de uma modalidade de Programas de Fomento aos Arranjos Produtivos Locais (APLs), que como instrumentos de desenvolvimento econômico integrado são importantes estratégias de política pública. Os APLs são concentrações de empresas que atuam em atividades similares ou relacionadas, que, sob uma estrutura de governança comum, cooperam entre si e com outras entidades públicas e privadas. As empresas localizadas em APLs produzem diversos tipos de produtos em municípios que já desenvolvem uma forte atividade comercial, como no ramo de calçados (Franca, Birigui e Jaú), aeroespacial (São José dos Campos), móveis (Mirassol, Votuporanga e RMSP) e plástico (ABC). Uma das vantagens do APL é facilitar o acesso de micro, pequenas e médias empresas a programas de gestão empresarial, mercado, processo, produtos e linhas de financiamento, visando ao seu fortalecimento no mercado interno e acesso ao externo. Outra vantagem é incentivar a troca de informações entre as próprias empresas, com as entidades de classe, governos e instituições de ensino e pesquisa. Essa interação entre as empresas aprimora suas vantagens competitivas, vislumbrando um cenário de estratégias de crescimento e desenvolvimento e não mais de concorrência predatória. O Programa de APLs do Estado de São Paulo reconhece 24 APLs e 22 aglomerados produtivos distribuídos em mais de 120 municípios, sendo que 15 fazem parte de um projeto executado com recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo o governo do estado de São Paulo esses programa é um marco nas políticas de desenvolvimento regional do Estado de São Paulo. Estão previstos investimentos que beneficiarão aproximadamente 14,5 mil micro, pequenas e médias empresas, abrangendo mais de 350 mil postos de trabalho gerados em APLs. Para aprimorar ainda mais a competitividade dos APLs, foi criada a Rede Paulista de Arranjos Produtivos Locais, coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, com participação do Sebrae-SP, Fiesp e Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional. A Rede Paulista define as táticas do programa, buscando a estruturação de projetos voltados ao aprimoramento de gestão, além de estimular outros fatores, como inovação, capacitação, suporte, sustentabilidade e acesso a mercados. No entanto é importante destacar que as únicas cidades com APLS na Baixada Santista são: Santos, S. Vicente, Guarujá e Bertioga com a moda praias/intima. Quanto a estrutura o governo do estado através de publicação no seu sitio afirma que identificou potenciais gargalos nas rodovias de acesso ao litoral, que hoje já estão sobrecarregadas com a demanda turística, e que não devem ter capacidade para receber a movimentação da indústria de petróleo e gás. Quanto ao programa Queluz no Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios (Patem); além da adesão de 15 municípios ao Sistema Integrado de Licenciamento (SIL), o que permite ao município disponibilizar a micro, pequenos e médios empreendedores um serviço unificado para obtenção de licenças para o funcionamento de suas atividades econômicas. Nota: Outro Programa do Governo do Estado de São Paulo é o Via Rápida Emprego. Segundo informações obtidas nos sítios das secretarias do gov. do estado de São Paulo foram disponibilizado R$ 6,6 milhões em recursos do programa para criação de vagas previstas para 2012 nos diversos municípios do Litoral e da 115

116 baixada Santista. Apresentamos na parte que se refere a Qualificação Profissional o quantitativo disposto para a cidade de Santos Rede Petros Baia de Santos Uma importante iniciativa é a Rede Petro, parceria entre o SEBRAE e a Pólis, cujo objetivo é promover a inserção competitiva e sustentável dos micro e pequenos negócios, fornecedores efetivos e potenciais, na cadeia. Segundo informações do SEBRAE, até 2014, deverão ser investidos R$ 41 bilhões em todo esse segmento24. Vale lembrar que a primeira Rede Petro foi criada no Rio Grande do Sul, em 1999, num cenário onde o setor agrícola enfrentava grave crise no Estado e em todo o país. Diante da situação, alguns empresários e empreendedores começaram a pesquisar onde poderiam encontrar novas oportunidades para negócios. De forma geral, os objetivos específicos deste Convênio entre a Petrobras e o Sebrae, também chamados de Temas Estratégicos, são25: 1) Desenvolvimento de diagnóstico e de mapeamento de oportunidades de negócios para as micro e pequenas empresas (MPEs); 2) Formação, consolidação das Redes PETRO e promoção da interação entre elas; 3) Sensibilização e mobilização de grandes empresas para apoiar o desenvolvimento de micro e pequenas empresas (MPEs); 4) Capacitação e qualificação de micro e pequenas empresas(mpes); 5) Promoção de Rodadas de Negócios entre grandes empresas e micro e pequenas empresas fornecedoras (MPEs). Quadro 6. Empresas Cadastradas, por Origem do Fornecedor, na Rede Petros da Bacia Santos em 2012 Origem da Empresa Unidades Exterior 5 Nacional 8 Interior de SP 13 Litoral de SP 115 RMSP 43 Total 184 Fonte: Rede Petros Baixada Santista. Em que pesem estas potencialidades, uma análise no banco de dados das empresas cadastradas pela Rede Petros, verifica-se que em Santos o interesse despertado pelas atividades da Petrobras, é enorme26. E por outro lado, chama atenção a concentração de grande parte dos interessados em empresas localizadas na região mais central da Baixada Santista, especificamente de Santos e também de São Paulo e de outros centros econômicos nacionais e estrangeiros. 24 Informação acessada em: 25 De acordo com informações do próprio site, a primeira fase do Convênio, finalizada em 2007, contou com investimentos de R$ 32 milhões R$ 12 milhões aportados pela Petrobras e Sebrae e R$ 20 milhões pelas empresas parceiras, envolvendo 12 estados do Brasil: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe. Em 2008, o Convênio Petrobras-Sebrae foi renovado por mais três anos, com aporte inicial de recursos de R$ 32 milhões (R$ 16 milhões de cada parte), a contrapartida mínima das empresas de R$ 8 milhões e a inclusão de mais dois estados: Pernambuco e Santa Catarina, totalizando 14 estados envolvidos. No período de 2004 a 2010, cerca de empresas foram capacitadas para se tornarem fornecedoras da cadeia produtiva de petróleo e gás. Além disso, foram realizadas 65 Rodadas de Negócios, que geraram expectativas para fornecimento de bens e serviços em torno de R$ 2,6 bilhões. 26 Informações em:

117 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Infraestrutura (Transporte, energia, capacidade produtiva) A infraestrutura se coloca como um tema de imensos desafios como decorrência dos potenciais impactos dos investimentos na cadeia do Pré-sal e de empreendimentos correlatos. O escopo é amplo e contempla infraestrutura urbana, para o turismo, para o tráfego de passageiros e de cargas e de potenciais atividades que poderão acontecer com estes investimentos. Em outros termos, é fundamental viabilizar investimentos em obras de infraestrutura e saneamento básico, aprimorando o fornecimento energético e o transporte de passageiros e de cargas. Desta forma, entende-se que o tema concernente à infraestrutura é de bastante relevância para averiguar as potencialidades de cada município. Em termos gerais, o litoral paulista possui especificidades e necessidades de ampliação e melhoria de sua infraestrutura, que ocorrem continuamente pelas atividades portuárias (Santos e São Sebastião, principalmente), lazer, turismo e imobiliárias. Atualmente, estas atividades já exigem novos investimentos em infraestrutura. Para o setor de petróleo e gás natural, foram pré-definidas áreas com vocações potenciais para a instalação dos investimentos, que orientarão as necessidades por melhorias em infraestrutura no litoral: Estima-se que a maior parte das exigências sobre as infraestruturas ocorrerão ao longo do litoral paulista, destacadamente entre os municípios de Itanhaém e Caraguatatuba, que recepcionarão investimentos como, por exemplo, bases de apoio marítimo (supply houses),estaleiros para construção naval, canteiros de módulos e instalações empresariais de armazenagem e manutenção; O escoamento da produção de petróleo e gás natural também exigirá novos investimentos em sua logística, principalmente dutoviária e em tancagens no litoral paulista para apoiar as operações de produção e comercialização de óleo; As infraestruturas que sofrerão maiores demandas podem ser ordenadas da seguinte forma: no litoral paulista, serão mais exigidas as vias de ligação entre os municípios litorâneos, os aeródromos e a oferta de água e energia elétrica. Entre o litoral paulista e o planalto, a maior exigência se dará sobre as vias de acesso e de ligação litoral planalto e, para o escoamento da produção, as dutovias serão a principal solução. Mais especificamente ligado aos investimentos da Petrobras. No entanto, é necessário atentar-se a outras questões que podem vir depois como confirmação deste boom de investimentos e de consequente especulação imobiliária. Segundo estudos publicados nas diversas mídias (2011), é evidente a tendência na formação de bolsões de pobreza causados pela especulação imobiliária e os déficits de moradia continuam altos para a população local em cidades tomadas pela indústria petrolífera. Ainda em se tratando do estudo supramencionado (Revista Pensamento & Realidade, 2011), o levantamento dos impactos estudados teve como base o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), emitidos para as atividades de perfuração, produção e escoamento de gás e condensado do Campo de Mexilhão e adjacências, na Bacia de Santos. De acordo com o EIA, o empreendimento possui 45 impactos divididos em meio físico, biótico, e socioeconômicos. Para facilitar a correlação e análise futura, decidiu-se separar os impactos de acordo com o bem afetado. Assim, os impactos foram separados em duas categorias principais: uma representada pelos meios naturais (físico e biótico) e outra pelos socioeconômicos. Os subgrupos, por sua vez, foram separados de acordo com a similaridade dos ambientes afetados, surgindo nove categorias de análise: ecossistemas terrestres e marinhos; qualidade da água e dos sedimentos; recursos hídricos; qualidade do ar; infra-estrutura urbana; turismo e paisagem; restrição e alteração dos usos; atividades econômicas; arrecadação. A partir da listagem dos 45 impactos reais, decidiu-se explorar três impactos socioeconômicos ligados ao território. Esta escolha se deu por três motivos: análise do caso Macaé, o fato de os impactos não terem sido explorados no EIA, e a ausência de medidas mitigatórias na proposta do RIMA do empreendimento. 117

118 Os impactos selecionados foram: o aumento do fluxo populacional e a geração de empregos devido à demanda de mão de obra, a pressão sobre a infraestrutura urbana e o déficit habitacional. Desta forma, a análise crítica do EIA/RIMA foi a falta de uma abordagem a cerca do impacto que empreendimentos deste porte geram na habitação. Sabendo-se que no Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, a organização do espaço se dá a partir da urbanização de baixos salários, é primordial que se preveja o impacto de grandes projetos de infraestrutura na habitação local. Ainda em se tratando da infraestrutura urbana, outro ponto levantado por fontes primárias é o déficit nos transportes públicos a. Turismo e Pesca A cadeia de produção turística pode ser definida como o conjunto das empresas e dos elementos materiais e imateriais que realizam atividades ligadas ao turismo, com procedimentos, ideias, doutrinas e princípios ordenados. Enumeradas, de acordo com estudos desenvolvidos pelo SEBRAE (2011)27, elas seriam divididas nas seguintes áreas: 1) Agência de viagens: a primeira porta de entrada ao turista, responsável pela emissão de passagens, pacotes, hotéis, e informações e assessoria sobre os destinos turísticos e a devida organização de itens de viagem; 2) Transporte: pode ser rodoviário, aéreo, ferroviário e aquaviário. As atividades envolvidas incluem assessoria a novas rotas, aluguel de veículos, fretamento e pacotes promocionais; 3) Alojamento: são os diversos meios de hospedagem, como hotéis, resorts, cama e café e pousadas. Serviços demandados neste setor são os mais variados, como a manutenção e segurança, serviços de reserva e telecomunicações, gerenciamento e suporte para negócios e convenções, além da construção e infraestrutura; 4) Alimentação: inclui desde estabelecimentos de bares e restaurantes, a empreendimentos de alimentação fora do lar, como quiosques e ambulantes. Os serviços relacionados vão do abastecimento aos meios de hospedagem às atividades de valor agregado como rede de distribuição, agricultura, logística e consultoria. 5) Atividades recreativas e desportivas: refere-se ao uso e benefício de equipamentos turísticos ou de uso da comunidade, como parques temáticos, unidades de conservação ambiental, eventos culturais e desportivos. 6) Outras atividades recreativas: em geral, relacionado ao comércio local com compras, artesanato, shopping e a inclusão da cadeia de produção regional. A devida identificação de cada ator, dentro da realidade local de um município ou Estado, é um desafio para gestores e empreendedores. Depois do devido diagnóstico da cadeia produtiva, os governos locais terão os meios para incentivar a criação e o fortalecimento de novas micros e pequenas empresas voltadas ao turismo, gerando mais emprego e sustentabilidade. Além das áreas citadas acima, o leque de beneficiados na cadeia produtiva inclui artesãos, agricultores, transportadores, pecuaristas, artistas, comerciantes, industriais e até empresários da saúde que conseguem ver no setor uma alternativa de desenvolvimento econômico. Do ponto de vista dos segmentos turísticos28, estes podem se dividir em: Ecoturismo: segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. Considerando os aspectos peculiares que o caracterizam e lhe conferem identidade os recursos naturais, o Ecoturismo exige referenciais teóricos e práticos e suporte legal que orientem processos e ações para seu desenvolvimento, sob os princípios da sustentabilidade; 27 Disponível em: 28 Disponível em:

119 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Turismo Cultural: o patrimônio cultural, mais do que atrativo turístico, é fator de identidade cultural e de memória das comunidades, fonte que as remete a uma cultura partilhada, a experiências vividas, a sua identidade cultural e, como tal, deve ter seu sentido respeitado. O uso turístico deve sempre atuar no sentido do fortalecimento das culturas. Assim, a atividade turística é incentivada como estratégia de preservação do patrimônio, em função da promoção de seu valor econômico. Assim, a definição dada pelo Ministério do Turismo para o Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura; Turismo de Aventura: o Turismo de Aventura compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo. Consideram-se atividades de aventura as experiências físicas e sensoriais recreativas que envolvem desafio, riscos avaliados, controláveis e assumidos que podem proporcionar sensações diversas como liberdade, prazer, superação, a depender da expectativa e experiência de cada pessoa e do nível de dificuldade de cada atividade. Devido à dimensão econômica, às especificidades desse segmento turístico e às inter-relações com outros tipos de turismo, principalmente, quanto à segurança, o Ministério do Turismo delimitou em Turismo Aventura: orientações básicas a abrangência conceitual dessa atividade e de definiu suas características, aspectos e atributos peculiares que lhe conferem identidade; Turismo de Sol e Praia: esta modalidade, mais conhecida e divulgada, praticada em cidades com praia, envolvendo uma gama de serviços de apoio, tais como serviços de hotelaria, alimentação, além de passeios diversos, comércio local etc; Turismo de Pesca: compreende as atividades turísticas decorrentes da prática da pesca amadora, ou seja, atividade praticada com a finalidade de lazer, turismo ou desporto, sem finalidade comercial. O Brasil dispõe de recursos com potencial para atrair pescadores do mundo todo, representados pela diversidade de seus peixes, suas vastas bacias hidrográficas e seus oito mil quilômetros de costa, aproximadamente. Outros segmentos de Turismo: o Ministério do Turismo publicou um documento, parte do Programa Regionalização do Turismo Roteiros do Brasil, onde se analisam 12 categorias do Turismo nacional, incluindo, além dos anteriormente supracitados, os de: Turismo Social, Turismo Cultural, Turismo de Estudos e Intercâmbio, Turismo de Esporte, Turismo Náutico, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo Rural e Turismo de Saúde. Tal ideia encontra espaço na visão da prefeitura, onde os espaços para áreas de alojamento acabam por ganhar vida própria. Na visão da prefeitura, o turismo é uma atividade relevante na geração de emprego e renda para o município de Santos, mas não é a mais importante. De acordo com informações do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA)29, existem 3 modalidades da atividade pesqueira: artesanal, industrial e amadora. Em relação à primeira modalidade (artesanal), segundo o MPA, grande parte do pescado de boa qualidade que chega à mesa do brasileiro é fruto do trabalho dos pescadores profissionais artesanais. São eles os responsáveis por 60% da pesca nacional, resultando em uma produção de mais 500 mil toneladas por ano. A pesca artesanal é muito importante para a economia nacional. Ela é responsável pela criação e manutenção de empregos nas comunidades do litoral e também naquelas localizadas à beira de rios e lagos. São milhares de brasileiros (mais de 600 mil), que sustentam suas famílias e geram renda para o país, trabalhando na captura dos peixes e frutos do mar, no beneficiamento e na comercialização do pescado. A pesca artesanal também tem grande valor cultural para o Brasil. Dela nasceram e são preservadas até hoje diversas tradições, festas típicas, rituais, técnicas e artes de pesca, além de lendas do folclore brasileiro. Também deu origem às comunidades que simbolizam toda a diversidade e riqueza cultural do nosso povo,

120 como os caiçaras (Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná), os açorianos (Santa Catarina), os jangadeiros (Região Nordeste) e os ribeirinhos (Região Amazônica). Os pescadores profissionais artesanais têm papel fundamental no desenvolvimento sustentável do país, até porque é do mar, dos rios e lagos que eles tiram o seu alimento e renda. O MPA vem investindo na reestruturação do setor, com a construção e reforma de entrepostos e terminais pesqueiros, dos Centros Integrados da Pesca Artesanal e no incentivo à criação de associações e cooperativas de produção. O pescador profissional artesanal voltou a contar com linhas de crédito para financiar a recuperação e construção de embarcações e a implantação de pequenos frigoríficos e unidades de beneficiamento, entre outras ações estruturantes. Todas elas, incluindo as políticas de inclusão social, geração de renda e agregação de valor ao pescado, priorizam a melhoria do trabalho e da vida desses trabalhadores. Em se tratando da pesca industrial, esta é realizada com fins comerciais por pessoas ou empresas. Envolve pescadores profissionais empregados ou que trabalham em regime de parceria por cotas-partes. A pesca industrial utiliza embarcações de pequeno, médio ou grande porte. Essas embarcações possuem alta tecnologia que permitem sair para áreas mais distintas da costa, buscando cardumes. O segmento da pesca industrial costeira no Brasil está concentrado na captura dos principais recursos em volume ou valor da produção, com destaque para: lagostas, piramutaba, sardinha, camarões, atuns e afins e espécies demersais ou de fundo, como a corvina, a pescada, a pescadinha, a castanha etc. A decisão do Governo Federal em promover a pesca oceânica responsável é mais uma iniciativa para a recuperação do setor pesqueiro nacional. Para tanto, o Programa Nacional de Financiamento e Modernização da Frota Pesqueira Nacional (Profrota Pesqueira) disponibiliza acesso ao crédito para financiar a aquisição, construção, compra de equipamentos e a adaptação de embarcações. Um dos pontos centrais do programa é a formação de uma frota pesqueira oceânica composta por embarcações aptas a atuar na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e em águas internacionais. A Zona Econômica Exclusiva brasileira, onde o país tem o direito de explorar, compreende a faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas. Em se tratando da pesca amadora, o Brasil tem as condições mais propícias para se tornar um dos principais destinos da pesca amadora em todo o mundo, já que conta com mais de 12% de toda a água doce do mundo e oito mil quilômetros de costa. Desde maio de 2010, o MPA tem um importante compromisso com todos os brasileiros: planejar e gerir a pesca amadora no País, de forma a beneficiar os seus milhares de aficionados e a toda a ampla cadeia produtiva que a atividade envolve. Em termos gerais, a aquicultura abrange, principalmente, as criações de peixes (psicultura), camarões (carcinicultura), rãs (ranicultura) e moluscos como ostras e mexilhões (malacocultura), além, em menor medida, de cultivo de algas. Uma característica importante da psicultura brasileira é o grande número de espécies criadas. Para se ter uma ideia, atualmente, utilizam-se mais de 30 espécies, com os mais variados hábitos alimentares e ambientes de vida. Vão desde espécies de clima tropical (em grande maioria) até espécies de clima temperado e frio. Os mais comuns e com maior fluxo de comercialização são as tilápias e os peixes redondos como pacu e tambaqui, além de carpas e os grandes bagres brasileiros, como pintado, surubim e pirara. Espécies como os bricons (piraputanga e piabanha, por exemplo) começam a despertar interesse não apenas pelo seu valor, mas também para a pesca esportiva e facilidade de comercialização (Scorvo Filho, 2005)30. O impacto desta atividade se reflete na produção de ração para os aquicultores, possibilitando o surgimento de novas fábricas em localidades que praticam as modalidades da pesca, que produzem, no território nacional, cerca de 250 mil toneladas de ração por ano. Investimentos para o aumento da capacidade produtiva destas fábricas implica no custo de produção da aquicultura, uma vez que a participação do item ração é de cerca de 40% a 60% do custo total de produção neste setor. Conforme propugna Scorvo Filho (2005:6), a aquicultura é hoje sinônimo de proteína de 30 SCORVO FILHO, J.D. Panorama da aquicultura brasileira. Disponível em: ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/panorama_aquicultura.pdf

121 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 qualidade para a mesa do brasileiro, de respeito ao meio ambiente e de geração de empregos, merecendo ser amplamente estimulada. No Estado de São Paulo, a psicultura teve expressivo desenvolvimento a partir do inicio da década de 1990 devido a emergência dos pesqueiros operando em sistema de pesca recreativa, que garantia um canal de comercialização remunerador que consumia volumes significativos de pescado, além da disponibilidade de ração comercial para peixes, bem como de informações geradas pela pesquisa científica, principalmente em relação à propagação de espécies de peixes nativos. A partir do final da década de 1990, a psicultura no Estado de São Paulo experimentou uma crise econômica, tendo como fatores principais a inadimplência de transportadores de peixes e de proprietários de pesqueiros, agravada por expressivas perdas devido à incidência de doenças. A ineficiência econômica da atividade era um reflexo da falta de profissionalismo de proprietários de pesqueiros e psicultores (Silva, et al, 2011)31. Mais recentemente, dados do Instituto da Pesca (2011)32 nos mostram que a produção marinha e estuarina no Estado de São Paulo (ano de 2010) foi de 22,1 mil toneladas, a menor já registrada pelo Instituto. Para se ter uma ideia, esta produção foi de 29 mil toneladas em 2000, 42,3 mil toneladas em 1990 e 60,7 mil toneladas em 1967, ano de introdução desta pesquisa e contabilização da produção. Conforme já mencionado, a necessidade de investimento em pontos de venda para o pescado, suprimindo a necessidade de atravessadores acarretando assim na melhora do nível de renda no comércio do produto do trabalho da pesca. No aspecto da mobilidade: Um relatório divulgado pelo Departamento de Trânsito de São Paulo (Detran) mostra que circular de carro pelas ruas da Baixada Santista está cada vez mais difícil. Só em Santos, o número apontado é de praticamente um veículo para cada duas pessoas. O estudo apontou que nas nove cidades da Baixada Santista, o número de veículos passou de 682 mil para mais de 728 mil em apenas um ano. Isso significa quase 50 mil carros a mais nas ruas e avenidas da região. O crescimento foi de 6,81%, mais do que o dobro do aumento de veículos na capital paulista que ficou em 3,02%. Ainda segundo o Detran, Santos é a cidade que teve o maior crescimento da frota. Em 2011 o número de carros no município era pouco mais de 277 mil e agora são Como Santos possui cerca de 420mil habitantes, os dados mostram que existe praticamete um veículo para cada duas pessoas. Mercado de trabalho formal e informal A PIA (População em Idade Ativa) de Santos contava em 2010 com pessoas e refere-se ao segmento da população total com idade entre 15 e 65 anos, ou seja, a parcela disponível na sociedade à realização de sua produção nacional. No entanto, no Brasil, onde as políticas públicas tiveram alcance limitado, consideram-se como integrante da PIA as pessoas com 10 anos ou mais, sem critérios de estabelecimento de idade limite33. Mas nem todas as pessoas com 10 anos ou mais estão disponíveis para a vida produtiva, pois parcela desta encontra-se estudando, doente, como donas de casa e aposentados. Assim, apenas uma parcela da PIA realiza alguma atividade produtiva. Esta parcela chama-se População Economicamente Ativa (PEA). Em Santos, a PEA é de cerca de 58,09 % da PIA. Do total da PEA, há um segmento que se encontra efetivamente trabalhando (ocupados) e outro que está fora do mercado de trabalho em busca de ocupação (desocupado). 31 SILVA, N.; LOPES, M.; FERNANDES, J.; HENRIQUES, M. Caracterização e sistemas de criação e da cadeia produtiva do lambari no Estado de São Paulo. Disponível em: ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/lambari_cadeia_produtiva2011.pdf 32 Disponível em: ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/1012informepmap.pdf 33 Conforme nos atenta Dedecca (1998:96): Os limites de idade da PIA variam de acordo com o nível de desenvolvimento de cada país. 121

122 Em Santos a taxa de ocupação (população ocupada dividida pela PEA) é de 92,15%, visto que haviam ocupados. Isto demonstra que a taxa de desocupação é de cerca de 7,84%, menor que as verificadas na Região Metropolitana da Baixada Santista, no Estado de São Paulo e maior que a média nacional. Outro indicador é a informalidade do mercado de trabalho no município. Sabe-se que não há consenso teórico-conceitual (o que redunda em dificuldades para quantificação) em torno da informalidade, sendo necessária a elaboração de proxys (aproximação) para a sua análise. Neste trabalho, com o intuito de analisar o peso das ocupações em situação de informalidade (sem carteira de trabalho assinada), optou-se por somar os empregados sem carteira e os por conta própria e dividi-los pelo total de empregados. Quadro 9. Indicadores de Mercado de Trabalho, 2010 Local PEA PIA Tx Desocupação* Tx Informalidade** (Em %) (Em %) Santos ,84 42,73 RMBS ,8 37 Est de SP ,1 33 Brasil ,6 41 Fonte: IBGE, SIDRA Censo 2010 (Elaboração Própria). * População Desocupada/PEA ** Proxy considerando os empregados sem carteira e os por conta própria/total de ocupados Entende-se que este exercício nos permite ter uma ideia de quanto pesa o mercado de trabalho informal no município. Com base nesta construção, nota-se que a taxa de informalidade em 2010 do mercado de trabalho é de 42,73% para Santos, superior às taxas registradas na Região Metropolitana da Baixada Santista, no Estado de São Paulo e muito próxima da taxa no Brasil. Atividades no âmbito da informalidade do mercado de trabalho: Os empregos e as atividades conhecidas pela sua informalidade, tendo como parâmetro os com carteira assinada e os que encontram sem esta cobertura, mesmo os que estão formalizados como autônomos cadastrados como artesãos, pescadores, e outros, em geral acabam fora das estatísticas oficiais, dado que seu impacto acaba sendo reduzido no valor adicionado, e figura entre atividades de subsistência. Na cidade de Santos este comportamento verificado não é diferente, das capitais (com quase quinhentos mil habitantes) se não fosse, pelo cadastro de trabalhadores nas ONG s, nas associações de pescadores, e mesmo nas frentes de trabalho organizadas pela prefeitura. Podemos inferir que da população econômica ativa a diferença entre os com carteira assinada, proprietários de negócios, profissionais liberais, estes misturados com anterior, e os funcionários públicos, os demais se encontram nesta situação de precariedade, e com baixa renda, quando não muito dependendo de programas de transferência de renda dos governos estadual e federal, tais como o bolsa família, e ou das frentes de trabalho. Costuma conciliar e ou em substituição com as atividades que possuem dinâmica sazonal. Dado a dificuldade de mensurar estas informações, ela pode ser capturada com uma pesquisa na cidade, e ou inferida b. Investimentos - Impactos na demanda e oferta de mão de obra Os impactos dos investimentos na cadeia de petróleo e gás natural, bem como seus desdobramentos em investimentos de infraestrutura (portos, rodovias etc) indubitavelmente trarão impactos na questão da mão de obra. Dados de gastos e investimentos no setor, a partir da projeção de demanda para a cadeia produtiva offshore indicam que há uma elevação tanto do volume de investimentos quanto de operação da cadeia produtiva offshore: os desembolsos até 2020 mais que dobrarão em relação ao verificado em 2008 e isto trará, certamente, impacto na geração de cerca de 2 milhões de postos de trabalho, adicionais aos cerca de 420 mil empregos atuais (ONIP, 2011: 7).

123 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Esses desembolsos representam oportunidades e pressão sobre a cadeia produtiva como um todo, mas também um desafio de desenvolvimento de competências profissionais, de desenvolvimento tecnológico e de articulação de recursos financeiros que permitam o desenvolvimento da indústria local. A magnitude e a abrangência da cadeia de petróleo e gás natural fazem com que o setor apresente necessidades diversificadas por mão-de-obra. Estudos realizados pelo SEBRAE Nacional34 identificam os perfis de recursos humanos, de nível médio e superior, que serão demandados como corolário destes investimentos. São eles: Engenheiros: Químico; Civil; de Inspeção de Equipamentos; de Instalações Marítimas; de Manutenção; de Materiais; de Perfuração; de Processamento de Petróleo; de Produção; de Reservatório; de Telecomunicações; Eletricista; Eletrônico; Metalurgista; Naval; Submarino, Geofísico; Geólogo; Paleontólogo; Químico de Lama e de Petróleo; Analistas; Eletricistas; Inspetor de Ensaios não Destrutivos; de Equipamentos; Instrumentistas; Mecânicos; Operadores de Processo; de transferência e Estocagem; de VCR Soldadores; Sondadores; Técnicos de Laboratório; de Produção; de Perfuração; de Suprimentos; de Instrumentação; de Manutenção; de Processamento, dentre outros. Estas ocupações atuarão para o fornecimento de produtos e serviços, tanto em terra, quanto no mar, sobretudo, nas seguintes atividades e setores: Serviços de Engenharia; Fabricação de Equipamentos; Construção Civil; Equipamentos e Maquinaria; Materiais para Reposição e Insumos Industriais; Tratamento anticorrosivo; Serviços de Inspeção Industrial; Nacionalização de Componentes; Serviços de Logística (on shore e off shore); Tancagem e Armazenagem; Telecomunicações; Informática; Operações portuárias; Transporte de Derivados, Material e Pessoal; Tubulações Industriais; Transporte por Helicóptero; Cursos e Treinamentos; Locação de Veículos Leves, Pesados e Industriais; Sistema de Controle de Poluentes; Hotelaria; Serviços de Alimentação; Serviços de Manutenção e Reparo; Serviços de Boca de Poço; Limpeza Industrial etc. Para melhor entendermos as especificidades do mercado de trabalho de Santos, cabe apresentar alguns indicadores destinados a apresentar algumas especificidades do mercado de trabalho no que tange à sua estrutura, distribuição e formalidade. Em relação aos empregos formais no município de Santos em 2010 (há contabilizado neste ano empregos formais), têm-se o seguinte cenário: 63,98 % estão no setor de serviços (com destaque aos serviços de alojamento e alimentação e serviços domésticos); 19,22 % no comércio; 8,28 % na administração pública; 3,33 % na construção civil, 4,12% na indústria de transformação. Nos demais setores, tais como agropecuária, e extrativismo mineral, a participação, em cada setor, não chegam a 1 % dos empregos em Santos. É válido mencionar que o emprego formal captado pelos dados do RAIS/MTE refere-se aos vínculos empregatícios regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e estatutários (regidos pelo Estatuto do Servidor Público), marcos institucionais formais do mercado de trabalho nacional. Cabe aqui destacar a importância da participação do setor público no emprego formal do município, sobretudo, levando em conta o fato de que a massa salarial auferida por este setor se constitui como importante elemento de dinamização das atividades econômicas municipais, sobretudo no comércio e na prestação de serviços. A partir destes dados, percebe-se que os empregadores neste município são o setor de serviços, de comércio e a administração pública, sendo marginal a geração de emprego em outros setores. A construção civil, apontada como empregadora potencial em Santos, apresenta apenas 3,3 % dos empregos, o que indica elevada informalidade inerente ao setor. 34 Disponível em: eo.pdf 123

124 Mercado de Trabalho A partir destes dados, percebe-se que os maiores empregadores neste município são o setor de Serviços e comercio porem não é desprezível a participação da Adm. Pública e a indústria de transformação, bem como o peso das atividades portuárias. Figura 4. Distribuição (%) dos empregos formais por setores da atividade econômica Santos, SP, Agropecuária; 0,22% Construção Civil; 3,33% Administração Pública; 8,28% Extrativa mineral ; 0,35% Indústria de transformação; 4,12% Comércio; 19,22% Serviços indústriais de utilidade pública; 0,51% Serviços; 63,98% Fonte: MTE, RAIS No que se refere à remuneração média identificada em Santos, para o ano de 2010, verifica-se (Figura 5) que o segundo melhor salários estão no setor de serviços industriais de utilidade pública (SIUP: água, esgoto etc), R$ 3.193,22 mil, em que pese o fato de que este setor tem baixíssima representatividade no que diz respeito à nova geração de emprego. Já o maior salario ficou com a extrativa mineral com R$ 8.430,83 também com pouca representatividade em termos quantitativo para a cidade. Por outro lado, o menor rendimento auferido está no setor do comércio. As atividades do setor da indústria, especialmente o da construção civil e o comércio, setores de significativa importância para a geração de empregos, mesmo que sazonal formal neste município registram remunerações de R$ 1.165,74 e R$ 1.166,00, respectivamente. Figura 5. Remuneração média em reais por setores da atividade econômica Santos, SP

125 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE , , , , , , , , ,00 0, , , , , , , ,74 Santos São Paulo Brasil Fonte: MTE, RAIS Tal constatação nos permite verificar que o perfil salarial registrado no município o caracteriza como um mercado formal de trabalho com media relativa remuneração de salários. Em que pese que os trabalhadores com médios baixos salários constituam uma característica estrutural da formação do mercado de trabalho no Brasil, percebe-se que em SANTOS esta característica se intensifica. Eis a manutenção do que Maricato (1996) identificou como urbanização com baixos salários 35. QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL O programa Via Rápida Emprego oferece cursos básicos de qualificação profissional com o intuito de capacitar gratuitamente a população que está em busca de oportunidade de emprego. Coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, o programa oferece mais de 130 modalidades de cursos gratuitos, nas áreas da construção civil, comércio, serviços e indústria, com duração de 30 a 90 dias, dependendo da ocupação. Em 2011, foram oferecidas 30 mil vagas em mais de 400 municípios. A informação é a de que será ofertado 400 mil vagas até As aulas são ministradas em Escolas Técnicas Estaduais(Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza, em salas descentralizadas de escolas estaduais, unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), da Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape) e da Associação de Deficientes Visuais (Adeva). O programa conta também com unidades fixas e novas carretas móveis equipadas com laboratórios. Na cidade de Santos para o ano de 2012, estão sendo ofertadas pelo Governo Estadual as seguintes vagas: Baixada Santista Santos Soldador MAG - Posição 3G 16 Baixada Santista Santos Soldador Eletrodo Revestido - Posição 3G 16 Baixada Santista Santos Assistente Administrativo 30 Fonte: VIA RÁPIDA EMPREGO - CURSOS DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL - SETOR PRETÓLEO E GÁS, PREV.EXECUÇÃO ATÉ NOVEMBRO 2012 (PRIMEIRAS TURMAS A PATIR DE 17/9) Qualificação Profissional no Porto 35 MARICATO, Ermínia; "Metrópole na periferia do capitalismo", São Paulo: Hucitec/Série Estudos Urbanos,

126 Segundo O PDZ, o Centro de Excelência Portuária do Porto de Santos CENEP O projeto de lei complementar que institui a Fundação Centro de Excelência Portuária - CENEP, de autoria da Prefeitura de Santos, foi aprovado pela Câmara Municipal de Santos no dia 30 de novembro de Nos termos do seu artigo 2o, a Fundação CENEP-SANTOS tem como objetivo o exercício das funções e responsabilidades definidas no art. 32 da lei 8.630/93, para o Centro de Treinamento Profissional voltado aos trabalhadores portuários e àqueles que desempenham funções correlatas das atividades portuárias. E em relação aos treinamentos para aperfeiçoamento e requalificação profissionais, bem como a excelência portuária, por meio de ensino em níveis técnico, superior e pós - graduação, com o desenvolvimento de pesquisas, inclusive científicas, e geração de tecnologia em temas portuários e ciências do mar, na região metropolitana de influência do Porto Organizado de Santos, no sentido de transformar e manter a região onde se insere o Porto de Santos, em referência nacional e internacional de tecnologia portuária e marítima. O CENEP tem como órgãos instituidores a Prefeitura de Santos, a CODESP e o CAP, sendo que os seus conselhos são integrados por sindicatos dos trabalhadores, empresários, OGMO, universidades privadas e públicas e SENAI. Prevista há 14 anos pela lei de modernização dos portos (8.630/93), a capacitação profissional dos portuários visa garantir melhores condições de trabalho, menos acidentes, maior eficiência e produtividade. A consolidação do CENEP de Santos teve impulso a partir da parceria firmada em março de 2007 com o Centro de Capacitação Profissional do Porto de Antuérpia (Apec). A entidade possibilitou a viagem para os portos da Bélgica e Holanda de um grupo de sindicalistas e integrantes do CENEP, que tiveram a oportunidade de conhecer entidade similar em funcionamento. Até setembro de 2011 foram capacitados trabalhadores portuários avulsos, e 195 empregados da Administração Portuária. Qualificação Promimp Em se tratando especificamente dos impactos do Pré-sal e dos empreendimentos da Petrobras, uma forma de superar a sazonalidade dos empregos gerados nos setores mais intensivos em mão de obra (turismo e construção civil) é a qualificação em setores mais dinâmicos, que abre perspectivas para inserção no mercado de trabalho em ocupações promissoras. Para isto é importante um olhar o que ocorre no programa do Promimp, no momento, se realiza o 6ª Ciclo de Qualificação Profissional36 e, de acordo com informações de seu site37, o município de Santos participa curso de qualificação técnica-profissional referente a este programa. Cursos ofertados Promimp 5º ciclo 36 Foram abertas de 07 de março a 12 de abril de 2012 as inscrições para o 6 ciclo de cursos gratuitos do Prominp para os níveis básico, médio, técnico e superior. Foram oferecidas mais de 11 mil vagas, para 85 ocupações voltadas para o setor de petróleo e gás natural, em 14 estados: Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. A escolha das cidades que receberão os cursos do Prominp está relacionada aos locais onde há projetos e empreendimentos do setor de petróleo e gás em execução ou previstos para os próximos anos, considerando seus respectivos cronogramas de implementação e necessidade de mão de obra. Do total de vagas oferecidas, 7335 são para cursos de nível básico, 3706 para cursos de nível médio e técnico e 630 para cursos de nível superior. Informações adicionais em: EE4D19825A8B.htm 37

127 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE Santos CM - CALDEIREIRO - INTEGRAL 21 e 28 e 31 CM - ELETRICISTA FORÇA E CONTROLE - INTEGRAL E NOITE 40,48 e 51 CM - ELETRICISTA MONTADOR - INTEGRAL e Noite 63 e 77 CM - ENCANADOR INDUSTRIAL - INTEGRAL e NOITE 96, 102,105, CM - INSTRUMENTISTA MONTADOR - INTEGRAL e NOITE 114 CM - INSTRUMENTISTA SISTEMAS - INTEGRAL 120 e 125 CM - ISOLADOR - INTEGRAL e Noite Outro ponto pertinente de ser exposto refere-se ao número de operações e volume de empréstimos concedidos pelo Banco do Povo Paulista 38, administrado pela Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho do Estado de São Paulo (SERT), em conjunto com a Prefeitura, cujo principal objetivo é o auxílio na geração de trabalho, emprego e renda, a partir do microcrédito que se direciona para a consecução de pequenos negócios formais ou informais 39. Conforme se percebe na tabela abaixo, o número de operações, o volume emprestado, bem como a média de valores teve um aumento significativo, entre os anos de 2003 e 2010, declinando, sobretudo nos dois últimos anos em que os dados estão disponíveis. Isto reflete o arrefecimento das potencialidades ainda existentes para os pequenos empreendedores que, em sua maioria de baixa renda e não inseridos no mercado formal de trabalho, lutam pela sobrevivência econômica a partir de empreendimentos enquadrados na órbita da economia solidária, e micro - empreendimentos Os objetivos específicos do programa são: democratizar o acesso ao crédito de pequenos empreendedores que objetivam produzir e crescer, apoiando suas habilidades e experiências de produção e serviços; aumentar a renda familiar; estimular o empreendedorismo e a criação de novos postos de trabalho e oferecer oportunidades reais de melhoria no trabalho e na renda. 127

128 Tabela 1. Número de operações e valores emprestados (em R$) pelo Banco do Povo Paulista em Santos a 2011 Empréstimos Média de Valor Ano No. de Operações Em R$ Em R$ Fonte: SERT - Banco do Povo Paulista SEADE Esta é, inclusive, uma frente que pode ser fomentada, como elemento de contribuição ao desenvolvimento econômico do município, em projetos, ações e práticas que devem estar articuladas aos governos estadual (como o próprio Banco do Povo Paulista) e também federal, no âmbito da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES). Vale lembrar que inúmeras práticas levadas a cabo pelas operações utilizando o microcrédito e a economia solidária representa uma forma específica de operar ações de geração de trabalho e renda, pois estão assentadas em uma concepção estratégica de desenvolvimento territorial.

129 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE Considerações preliminares No contexto atual, é necessário pensar o território a partir da inter-relação de, principalmente, três aspectos: a) setoriais: objetivando melhoras permanentes da eficiência e da produtividade dos setores produtivos, a partir de ações para a qualificação, formação, inovações tecnológicas etc; b) territoriais: formas de administrar e gerir os recursos endógenos (mão-de-obra, recursos naturais e infraestrutura), visando a criação de um entorno local favorável e c) meio ambientais: a partir de ações para conservação dos recursos naturais e do respeito ao ecológico, tido como valor estratégico em questões de desenvolvimento de localidades. No entanto, é importante destacar que tal ideia não deve negligenciar a importância das políticas econômicas adotadas em âmbito federal. Muito pelo contrário, estas devem ser pensadas e implementadas de modo a contribuírem para a exitosa consecução das políticas territoriais. Afinal, questões cruciais como taxa de juros, nível de investimento, taxa de câmbio, bem como percentual de repasses aos municípios e de gastos em determinadas políticas locais, são decisões tomadas em âmbito federal e que podem ajudar ou inviabilizar ações, programas e projetos de desenvolvimento territorial/local. O desenvolvimento local deve considerar a importância das dimensões econômica (relacionada com a criação, acumulação e distribuição da riqueza); social e cultural (implica qualidade de vida, equidade e integração social); ambiental (se refere aos recursos naturais e a sustentabilidade dos modelos de médio e longo prazo) e política (trata-se de aspectos relacionados à governança territorial, bem como ao projeto coletivo independente e sustentável). Do ponto de vista econômico, observa-se que grande parte da riqueza do município de Santos, continua concentrada. Os dados referentes à participação dos trabalhadores no mercado formal de trabalho refletem o baixo investimento em politicas de valorização salarial, e na formalização de postos de trabalho, principalmente nos setores que possam ser sustentável, tais como a indústria, e áreas de exportação. Em se tratando do setor secundário, nota-se que a participação da indústria na cidade é relativa e de pequeno porte, a maior contribuição vem do setor de transformação e da construção civil. Adicionalmente, este fato contribui de forma negativa para o atual quadro de baixo nível de qualificação da mão de obra no município de Santos incorrendo na manutenção do problema da sazonalidade da ocupação em setores geradores de emprego e renda. Especificamente sobre os potenciais impactos dos investimentos do pré-sal bem como dos empreendimentos a eles associados, o impacto na cidade de Santos por ora ocorre relativamente em diversos serviços com aumento das atividades portuárias, da prefeitura, e aumento no comercio e serviços, bem como, com a valorização dos bens imóveis. No entanto, é possível que o município verifique outros impactos indiretos com a construção civil e com as atividades turísticas e de comércio. 129

130 6 - ORDENAMENTO TERRITORIAL 6.1. Evolução da Mancha Urbana entre 1970 e 2010 No final do século XIX, devido ao crescimento populacional, toda a faixa norte do municipio de Santos, entre os morros e o estuário, já tinha sido ocupada. A expansão da cidade se deu, então, em direção ao sul. Com a abertura das avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa, servidas por linha de bonde a tração animal. Houve então, neste momento, a interligação da cidade com a praia, cruzando o espaço intermediário, alagadiço, inadequado para a população. Em 1905, foram implantados canais que visavam a ocupação da porção leste da ilha, por meio da drenagem de terrenos e erradicação de epidemias, assim como uma orientação e estruturação dos processos de crescimento da cidade. Originou-se então, já no século XIX, um dos principais problemas que Santos viria a enfrentar no futuro: a falta de espaços disponíveis para sua expansão urbana. Neste processo, fica aparente, a urbanização precoce do município, em virtude das funções portuárias e da não disponibilidade de terras próprias para a agricultura. O Porto de Santos possuiu uma relação importante com o comércio do café, que contribuiu para as grandes mostras de crescimento da cidade, no final do século XIX. Assim, surgiu, em 1864, a ligação ferroviária entre o porto e o planalto, a São Paulo Railway (inaugurada em 1867) e, em 1889, foram construídos os primeiros 260 metros de cais do porto. Nesta época, com apenas 139 quilômetros, a São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos a Jundiaí) foi a ferrovia paulista de mais intenso tráfego, por ser praticamente a única que serviu ao binômio São Paulo-Santos. Esta ferrovia deu novo impulso à economia de Santos, transpondo a Serra do Mar, permitindo-se carregar em seus vagões quantidades muito maiores de produtos importados ou para serem exportados em comparação com as quantidades carregadas nas estradas de péssima qualidade da época. Por mais de 300 anos, até o início do século XX, as funções portuária e comercial foram as que possuíram o papel principal na evolução urbana santista. Entretanto, com o saneamento das terras e com a construção do cais do porto, a industrialização começou a concorrer com estas funções, suplantando-as, na expansão de novas áreas ocupadas, na atração de imigrantes, no aumento das rendas municipais, etc. Santos se tornou definitivamente uma cidade turística a partir dos anos 1910, com a construção de importantes hotéis e com a construção dos jardins da orla a partir de Com a inauguração da Via Anchieta, em 1947, modificou-se também a atividade de vereaneio que se intensificou modificando as paisagens praianas santistas, que foram substituindo, pouco a pouco, os antigos palacetes e pensões pelos prédios de apartamentos. A expansão dos aglomerados urbanos santista se fez particularmente a partir da década de 1940 na ilha de São Vicente. Enquanto na parte oriental da ilha a expansão foi sendo realizada dentro de uma diretriz administrativa, onde a Prefeitura e a Comissão do Saneamento seguiam de perto as áreas em crescimento, na parte ocidental a fiscalização não foi tão intensa e os loteamentos e vilas surgidos nesta época não obedeceram às posturas municipais (Jakob, 2003). A especulação imobiliária, que teve sua forte atuação iniciada em fins do século XIX, com as enormes levas de imigrantes que chegavam em Santos, foi em grande parte responsável também por esta desordenação de ampliação da área urbana na parte oriental da ilha. A especulação vai se tornando cada vez mais atuante, com a escassez de terrenos crescente. Entre 1940 e 1950 a cidade portuária quase dobrou sua população, tornando-se uma das dez maiores cidades do país. Articulada com o desenvolvimento da cidade de São Paulo, Santos consolidou-se como a principal cidade paulista depois da capital, como maior importância econômica e política. Com o início da industrialização em Cubatão, na década de 1950, e o aumento do turismo, possibilitado pela Rodovia Anchieta, acentuou-se o crescimento populacional do município de Santos. Esse processo intensificou a ocupação do interior do município e dos morros pela população de baixa renda, enquanto a população de alta renda fixava-se cada vez mais próxima às praias. Ao mesmo tempo, inicia-se a expansão residencial em São Vicente e Vicente de Carvalho (atual distrito de Guarujá), aumentando, com isto, a ocupação clandestina em áreas de inundação ou com alta declividade.

131 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Em 1960, Santos já se apresentava como centro urbano nacional, sendo a décima cidade mais populosa do Brasil na época. As residências são então verticalizadas, em função do grande crescimento populacional, do saturamento das áreas disponíveis e do adensamento urbano e para atender a demanda turística da segunda residência, nas áreas mais valorizadas, próximas à orla. Assim, entre as décadas de 1950 e 1960, desenvolvese um rápido processo de verticalização da praia santista. As antigas edificações da orla, como chácaras, mansões e hotéis são demolidos para dar lugar a modernos prédios de apartamentos. Até o começo da década de 1970 a taxa de crescimento populacional do município de Santos era 2,60% ao ano, em média. No começo desta década a densidade de Santos já era superior a hab/km 2 (Jakob, 2003). A expansão da mancha urbana foi acelerada até meados da década de Com a saturação do espaço urbano surgiram novas formas de ocupação, como a verticalização das moradias e a periferização, ou descentralização espacial da população, em um processo de expansão da mancha urbana municipal. Este processo foi também potencializado pelo aumento progressivo da frota de automóveis e pela ampliação do transporte coletivo. Em 1970, com o esgotamento do mercado turístico, as residências para atender a população local passaram a ter características diferentes, sendo representadas por edificios maiores com taxas de ocupação menores. Na década de 1970 o crescimento da populaçào e da mancha urbana começa a se desacelerar, decrescendo para uma taxa de 1,89 % ao ano, chegando o município, no começo da década de 1980, a uma densidade de hab/km 2. Como pode-se observar na figura a seguir, que mostra a ocupação da mancha urbana do município de Santos nos anos de 1979 e 1980, nesta época a porção insular do municipio já estava muito ocupada, apesar de ainda existirem alguns poucas áreas vazias. Nesta época os morros centrais da ilha ainda apresentavam poucas ocupações. Nesse momento, a porção Noroeste de Santos apresentava vazios urbanos significativos. 131

132 Figura. SANTOS Mancha Urbana 1979/1980 Fonte: Imagens Landsat 1979, Ao longo da década de 1980 a taxa de crescimento populacional de Santos cai drasticamente para 0,11%. No território, por sua vez, este crescimento se expresa com o adensamento da áreas já ocupadas e com a ocupação dos poucos vazios existentes até a década anterior. Neste período observa-se maior ocupação dos morros com a mancha urbana de 1991/1992 expandindo-sem em direção a eles. Nessa mancha urbana notase também o preenchimento dos vazios urbanos que existiam na porção Noroeste de Santos.

133 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. SANTOS Mancha Urbana 1991/1992 Fonte: Imagens Landsat 1991, Durante esta década, como resultado de um processo iniciado na década de 1980, Santos enfrentou uma crise no turismo devido à piora na balneabilidade das suas praias. A cidade passou a recuperar-se apenas a partir do início da década de 1990, em um trabalho da gestão municipal em direção à reversão da imagem negativa adquirida ao longo da década de A partir da metade da década de 1990, o governo municipal passou a investir no turismo, com revitalizações paisagísticas e construções de ciclovias na cidade. A partir de 1999, ocorreram projetos de revitalização da área central da cidade, reconhecida como Centro Histórico. Foram oferecidos incentivos fiscais às empresas em troca de restaurações de prédios depredados, o que melhorou consideravelmente seu aspecto e trouxe empresas para a região. Programações culturais e artísticas atraíram restaurantes e clubes, como a reativação do Teatro Coliseu Santista e a implantação do Bonde Turístico. Estas intervenções reverteram o quadro de decréscimo da atividade turística, sendo que no fim desta década 1990 e começo da década seguinte, Santos considerada a cidade mais visitada por turistas estrangeiros no litoral paulista. Apesar de todas estas iniciativas, no período entre 1991 e 2000 a taxa de crescimento populacional estabilizou-se, apresentando um crescimento anual de apenas 0,01% (Jakob, 2003). Confirmando estes dados, na imagem a seguir, observa-se que neste período a expansão da mancha urbana foi muito pequena, concentrando-se apenas nas bordas das áreas já ocupadas no período anterior e na maior ocupação dos morros, principalmente na área central. 133

134 Figura. SANTOS Mancha Urbana 2000 Fonte: Imagens Landsat 2000 No período entre 2000 e 2011, como pode-se observar na figura abaixo, não houve nenhuma expansão significativa da mancha urbana, pois as áreas urbanizáveis da parte insular de Santos já se encontrava praticamente toda urbanizada.

135 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. SANTOS Mancha Urbana 2011 Fonte: Imagens Landsat 2011 Atualmente, a cidade não encontra espaços disponíveis para sua expansão horizontal. Nesse sentido, a solução é o crescimento vertical ou a reurbanização de certas áreas Regulação dos princípios e diretrizes de política urbana e ordenamento territorial A Lei Orgânica de Santos (1990) estabelece uma série de princípios e diretrizes da política urbana. Já no art. 1º estabelece que a ação municipal desenvolve-se em todo seu território, sem privilégios de distritos e bairros, eliminando as desigualdades regionais e sociais, promovendo o bem-estar de seus habitantes, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Determina como competências do Município de Santos, dentre outras, elaborar e executar a política de desenvolvimento urbano, com objetivo de ordenar as funções sociais das áreas habitadas no Município, e garantir o bem-estar de seus habitantes ; elaborar e executar o plano diretor como instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, planejar e promover a defesa permanente contra calamidades públicas (art. 6º, incisos X, XI e XIII, LOM). Cabe à Câmara de Vereadores de Santos, com a sanção do Prefeito, legislar sobre plano diretor, normas jurídicas relativas ao zoneamento e parcelamento do solo, perímetro urbano, Código de Edificações e Posturas e autorizar planos e programas municipais de desenvolvimento (art. 20, inciso III e IX, LOM). Algumas leis municipais relacionadas à política urbana Código Tributário Municipal, Código de Edificações, Plano Diretor Físico, Código de Posturas devem ser objeto de lei complementar (Art. 40, LOM), que em geral são aprovadas por maioria absoluta (art. 46, LOM). Formatado: Fonte: Negrito 135

136 Em alguns casos, porém, essas leis municipais dependem ainda de voto favorável de dois terços da Câmara. É o caso do plano diretor e do zoneamento urbano (art. 12, parágrafo único, inciso I, alíneas a e b, LOM). As leis de parcelamento e zoneamento especificamente só poderão ser alteradas uma vez a cada ano (art. 139, 3º, LOM). O plano diretor, por sua vez, deve ser elaborado e/ou revisto no primeiro ano de mandato do prefeito mediante processo participativo para concretização de seus objetivos e funções sociais (art. 139, 1º, LOM; art. 28, plano diretor). A Lei Orgânica de Santos estabelece uma série de princípios e diretrizes para o desenvolvimento urbano (Título VI, Capítulo I, Seção I; arts. 136 e seguintes). Dentre eles, vale destacar o dever do Município em assegurar a consulta e aprovação prévia da população local nos casos de desafetação de bem público, bem como os espaços físicos adequados à execução de uma política ordenada de expansão das atividades portuárias, retroportuárias e industriais não poluentes (arts. 136, incisos III e IV). Os meios de produção, trabalho, saúde e bem-estar dos trabalhadores portadores de deficiência física, comunidades rurais, artesanais e indígenas serão objeto de lei específica. Tais comunidades e organizações serão isentas de impostos e taxas (art. 134, LOM) De acordo com a Lei Orgânica, o plano diretor compreende entre outros itens: -as atividades econômicas municipais - a situação e perspectiva das atividades portuárias, retroportuárias, turísticas e correlatas - adequação entre funções urbanas e atividades portuárias - revitalização de áreas degradadas, em especial atenção às áreas encortiçadas - especial atenção às áreas de risco geológico, mangues, restingas, comunidades indígenas, praias, região do estuário, Mata Atlântica e mata ciliar - fixação do perímetro e de expansão urbana Com efeito, dispõe o plano diretor de Santos (Lei complementar municipal nº 731/2011) que os princípios básicos do desenvolvimento e expansão urbana são a melhoria de qualidade de vida da população e pleno desenvolvimento das funções social e econômica do Município (art. 1º). A garantia do direito à cidade sustentável é considerado como um objetivo de sustentabilidade do plano de desenvolvimento urbano (art. 16, III, alínea a, plano diretor). O pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia da função social da propriedade também são considerados como objetivos do uso adequado ao interesse social dos imóveis urbanos (art. 16, inciso IV, plano diretor). Com efeito, o proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado, não utilizado deve promover seu adequado aproveitamento para efetivo uso social da terra, utilizando, se for o caso, a desapropriação do imóvel para destiná-lo à habitação de baixa renda (art. 16, inciso IV, alínea c). É previsto pela Lei Orgânica do Município de Santos a progressividade do IPTU de forma a assegurar o cumprimento da função social da propriedade (art. 104, I, 1º, LOM). Há previsão também da aplicação dos instrumentos do parcelamento ou edificação compulsórios, IPTU progressivo e desapropriação para fins de reforma urbana regulados pela Constituição Federal de 1988 (art. 141, LOM; arts. 8º e seguintes, Consolidação Lei Complementar nº 551/05). Interessante notar que o prédio ou terreno destinado à moradia dos proprietários de pequenos recursos que não possua outro imóvel será isento de IPTU (art. 142,LOM) seguindo a diferenciação tributária por interesse social prevista no Estatuto da Cidade à luz do art. 47. A Lei Orgânica de Santos (1990) regula também diversas políticas setoriais tais como a de transportes, meio ambiente, metropolização, recursos hídricos e minerais, saneamento, saúde, previdência e assistência social, promoção social, educação, cultura, turismo, esportes e lazer, ciência e tecnologia entre outros. Especialmente no que se refere às questões metropolitanas, a Lei Orgânica de Santos prevê a compatibilização do desenvolvimento municipal com os princípios da metropolização, incluindo a articulação com os planos e programas estaduais, regionais e setoriais de desenvolvimento. Prevê inclusive a atuação do

137 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Município no Conselho Estadual, a celebração de convênios, formação de consórcios e associações (art. 167 e seguintes, LOM). A articulação entre o plano diretor e os planos intermunicipais e metropolitanos é consagrado expressamente pela legislação municipal de Santos em diversos dispositivos. Com efeito, o processo de articulação é integrante do eixo gestão e sustentabilidade do plano diretor e é entendido como mecanismo de promoção de aporte de investimentos, de produção de indicadores, de qualificação da sociedade, para implementação do plano diretor, considerando o conjunto de políticas públicas nos níveis federal, estadual e regional (art. 29 a 38, plano diretor). As leis de uso e ocupação do solo do Município estabelecem objetivos específicos para área continental e insular de Santos (Art. 2º, LC nº 729/2011; art. 2º LC nº 730/2011). Vale destacar como objetivo do uso e ocupação do solo da área continental a melhoria de vida das populações tradicionalmente estabelecidas garantindo a preservação de seus traços culturais (art. 2º, inciso III, LC 729/2011) Regulação do ordenamento territorial O ordenamento territorial em Santos é regulado principalmente por três leis municipais: o plano diretor de desenvolvimento e expansão urbana (Lei complementar municipal º 731/2011), a lei de uso e da ocupação do solo na área continental (Lei complementar municipal nº 729/2011) e a lei de uso e ocupação do solo na área insular (Lei complementar nº 730/2011). O plano diretor articula-se basicamente em torno de planos de ação integrada e vetores de desenvolvimento, visando ao desenvolvimento sustentável (art. 2º). Por desenvolvimento sustentável entende-se a compatibilização do desenvolvimento econômico e social, de natureza inclusiva, com a preservação ambiental, garantindo a qualidade de vida e o uso racional e equânime dos recursos ambientais naturais ou construídos, inclusive quanto à acessibilidade, mobilidade e comunicação para toda a comunidade (art. 2º, 3º). Os vetores de desenvolvimento são as atividades promotoras de desenvolvimento econômico sustentável relacionadas aos seguintes temas: - meio ambiente - desenvolvimento urbano - turismo - pesquisa e desenvolvimento - energia - porto retroporto e logística - pesca e aquicultura Para cada um dos vetores de desenvolvimento, há um plano de ação integrado (art. 2º, 2º) com objetivos e diretrizes próprias (arts. 13 e seguintes). No caso do plano de desenvolvimento urbano, por exemplo, há objetivos específicos relacionados à metropolização, ordenamento territorial, sustentabilidade, interesse social dos imóveis urbanos, impactos urbanos, habitação, mobilidade, gestão e inclusão social. Na verdade, o plano diretor de Santos concentra-se na regulação ampla desses objetivos e diretrizes, destinando apenas regras pontuais ao ordenamento territorial propriamente dito, cujo detalhamento é desenvolvido pelas leis de uso e ocupação do solo insular e continental. Com efeito, o plano diretor divide o território da cidade em área insular e área continental (art. 5º; Mapa Anexo I). Institui ainda áreas integradas classificadas em: - área urbana, 137 Formatado: Fonte: Negrito

138 - área de expansão urbana, - área de proteção ambiental. O ordenamento territorial de Santos, portanto, é regulado de fato pelas leis de uso e ocupação do solo que acabam por definir o zoneamento e respectivos parâmetros de uso e ocupação do solo para a área continental e para área insular da cidade. Primeiramente, tem-se a lei de uso e ocupação do solo da área continental, que divide o território em área integrada de expansão urbana e área integrada de proteção ambiental (art. 3º, Lei complementar municipal nº 729/2011). A área de expansão urbana é subdividida nas seguintes Zonas (art. 8º): Zona Urbana I ZU I; Zona Urbana II ZU II; Zona de Suporte Urbano I ZSU I; Zona de Suporte Urbano II ZSU II; Zona Portuária e Retroportuária ZPR. A área de proteção ambiental, por sua vez, é subdividida nas seguintes Zonas (art. 13): I Zona de Uso Especial ZUE; II Zona de Preservação ZP; III Zona de Conservação ZC; IV Zona de Uso Agropecuário ZUA. O ordenamento territorial na área continental de Santos é também estabelecido de acordo com um sistema de abairramento (art. 37, anexo II). Os usos e atividades na área continental do Município de Santos variam conforme a zona na qual se insere (arts. 18 e seguintes). Já os parâmetros de uso e ocupação do solo lote mínimo, taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, recuos, gabarito variam conforme a área integrada, a zona, o tipo de empreendimento e as atividades permitidas (arts. 19 e seguintes). Passemos, pois, à análise do ordenamento territorial da área insular do Município de Santos, que é também regulado por lei específica: a Lei complementar municipal nº 730/2011. O território do Município de Santos na área insular é dividido por duas categorias. Vale notar que não fica claro na lei municipal a relação entre essas categorias e a subdivisão entre área urbana, área de expansão urbana e área de proteção ambiental definida pelo plano diretor e pela lei de uso e ocupação do solo da área continental 40. Não obstante, na categoria 1 o território é dividido em: - Zona da Orla - ZO - Zona Intermediária - ZI - Zona Central I ZCI - Zona Central II ZCII - Zona Noroeste I ZNI - Zona Noroeste II - ZNII - Zona Noroeste III ZNIII - Zona dos Morros I ZM I - Zona dos Morros II ZM II - Zona dos Morros III ZMIII - Zona Portuária I e Zona Portuária II ZP I e ZPII 40 A Prefeitura de Santos considera que a área insular é composta pela área urbana e a área continental pela de expansão urbana e proteção ambiental.

139 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Na categoria 2 o território é dividido em: - Zona de Preservação Paisagística ZPP - Áreas de Proteção Cultural APC - Corredores de Desenvolvimento e Renovação Urbana CDRU - Núcleos de Intervenção e Diretrizes Estratégicas NIDES - Faixa de Amortecimento FA - Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS Há também um sistema de abairramento para área insular de Santos. Tais bairros são definidos em mapa anexo (art. 7º, Anexo VIII da LC 730/2011). Os parâmetros de uso e ocupação da área insular lote mínimo, taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, recuos, nível máximo permitido no piso térreo, taxa de permeabilidade - são estabelecidos de maneira bem mais complexa do que a da área continental e variam conforme os seguintes critérios (art. 4º; art. 24 da LC nº 730/2011): - a zona em que o imóvel se situa - categoria de uso do imóvel - índices urbanísticos que definem a ocupação e o aproveitamento do lote - classificação da via onde se localiza o imóvel Tais parâmetros são determinados por diversas tabelas anexas à lei complementar de uso e ocupação do solo da área insular (art. 6º). Por fim, note-se que no que se refere aos instrumentos previstos pelo Estatuto da Cidade, o plano diretor de Santos não define as áreas para sua aplicação aspecto considerado como conteúdo mínimo do plano diretor nos termos do art. 42 do Estatuto da Cidade deixando a tarefa à lei municipal específica (art. 3º, parágrafo único c/c art. 55, inciso XI e XII, plano diretor). A Lei complementar municipal nº 730/2011, que estabelece o uso e ocupação do solo na área insular de Santos, por sua vez, define áreas de aplicação da outorga onerosa do direito de construir e de transferência do direito de construir (arts. 10, incisos II e III). A regulamentação dos instrumentos de política urbana, porém, será objeto de lei municipal específica (art. 65). Há também uma lei municipal que disciplina a utilização de instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade (Consolidação da Leis complementares municipais nº 551/2005; nº 590/2006 e atualizações até 2007), mas foi aprovada antes do plano diretor do Município. Prevê, inclusive, áreas de aplicação dos instrumentos (art. 4º). A aprovação do plano diretor e das leis de uso e ocupação do solo posteriormente à lei dos instrumentos pode gerar dúvidas acerca das regras vigentes para sua implementação Santos e o Zoneamento Econômico Ecológico da Baixada Santista No que se refere ainda ao ordenamento territorial no Município de Santos, é fundamental também a análise das regras de uso e ocupação do solo estabelecidas pela política nacional e estadual de gerenciamento costeiro tendo em vista que a cidade localiza-se na Zona Costeira e compõe a região metropolitana da Baixada Santista (Lei complementar estadual nº 815/1996). A Baixada Santista divisão territorial na qual se inclui o Município de Santos é considerada como um setor da Zona Costeira de São Paulo (art. 3º, inciso III, Lei estadual /98). Formatado: Fonte: Negrito 139

140 Com efeito, no dia 13 de dezembro de 2011, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) aprovou a minuta de decreto que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) da Baixada Santista 41. Embora ainda não tenha sido promulgado o Decreto do Governador o que de fato lhe daria validade jurídica - há que se considerar que o Zoneamento Econômico Ecológico é instrumento da política nacional e estadual de gerenciamento costeiro, regulado pela Lei federal nº 7.661/88, Decreto federal nº 5.300/04 e na Lei estadual /98. Como tal, poderá estabelecer importantes diretrizes de uso e ocupação do solo aos Municípios integrantes da Zona Costeira. A minuta de Decreto 42 disponível no site da Secretaria Estadual de Meio Ambiente reconhece as peculiaridades, diversidade e complexidade dos processo econômicos e sociais da Baixada Santista e não foi feito necessariamente conforme suas características atuais, mas respeitando a dinâmica de ocupação do território e metas de desenvolvimento econômico e ambiental (art. 8º da Minuta de Decreto). Destaque-se também a necessidade de compatibilização das metas previstas e as previsões dos planos diretores regionais, municipais e demais instrumentos da política urbana (art. 8º, parágrafo único, minuta de Decreto). Como efeito, é importante que a eventual instituição do ZEE Baixada Santista leve em consideração as regras de uso e ocupação do solo estabelecidas pela legislação municipal de Santos. Dentre elas, vale destacar os diversos objetivos e diretrizes dos planos de desenvolvimento portuário, retroportuário e de logístico assim como do plano de desenvolvimento da pesca e aquicultura ambos regulados pelo plano diretor municipal. Além disso, convém ressaltar que a Lei complementar municipal nº 730/2011, que disciplina o uso e ocupação do solo na área insular de Santos, cria uma Zona da Orla, uma Zona Portuária I e uma Zona Portuária II. Por fim, vale notar que não foi elaborado o Projeto Orla (SPU/MMA) em Santos Regulação das Áreas de Expansão Urbana De acordo com a Lei Orgânica de Santos (1990), cabe ao plano diretor fixar o perímetro urbano e a área de expansão urbana (art. 139, inciso V). O plano diretor municipal (Lei complementar nº 731/2011) divide o território da cidade em área urbana, área de expansão urbana e área de proteção ambiental (art. 6º). Com efeito, a área urbana compreende os terrenos ou áreas contíguas com melhoramentos e serviços públicos especialmente unidades de educação, de saúde e de assistência social, pavimentação, drenagem, transporte coletivo, rede de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, rede de iluminação pública e coleta de lixo (art. 7º). A área de expansão urbana, por sua vez, compreende as áreas passíveis de urbanização, observados os critérios de mitigação dos impactos ambientais e a implantação de infraestrutura urbana e de equipamentos públicos adequados [...] (art. 8º). Por fim, o plano diretor define a área de proteção ambiental que compreende as áreas com características originais dos ecossistemas e as áreas consideradas estratégicas para a garantia de preservação dos recursos e reservas naturais (art. 9º). Tais áreas, porém, não são espacializadas pelo plano diretor. O mapa anexo ao plano diretor somente distingue a área continental da área insular. De fato, a delimitação das áreas urbanas, de expansão urbana e proteção ambiental caberia, em tese, às leis municipais de uso e ocupação do solo das áreas insular e continental (art. 10). Formatado: Fonte: Negrito 41 Deliberação CONSEMA 34/ ª Reunião ordinária do Plenário do CONSEMA. 13/12/2012 conforme endereço eletrônico: consulta em 02/04/2012, 18h30m. 42 Disponível no seguinte endereço eletrônico Santista_Encaminhado-SMA.pdf. Consulta em 16/07/2012.

141 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Ocorre, porém, que a lei complementar municipal nº 729/2011, que disciplina o ordenamento territorial da área continental, define somente duas áreas: uma de expansão urbana e outra de proteção ambiental (art. 3º). A área de expansão urbana é subdividida em Zona Urbana 1 e 2, Zona de Suporte Urbano I e II, e Zona Portuária e Retroportuária. As Zonas Urbanas I e II acabam por se constituir como subzona da área de expansão urbana e têm como finalidade as atividades de desenvolvimento urbano, ocupação ordenada e regularização das áreas já consolidadas (art. 9º). A Zona Portuária e Retroportuária é considerada expressamente como zona de expansão urbana e tem como características o potencial para instalações rodoviárias, ferroviárias, portuárias e retroportuárias bem como aquelas ligadas às atividades náuticas (art. 12). Na área continental de Santos, portanto, não fica claro se há uma distinção entre perímetro urbano e zona de expansão urbana tal como estabelecido, a princípio, pelo plano diretor. Na área insular de Santos, por sua vez, as regras de uso e ocupação do solo são definidas pela lei complementar nº 730/11. Ao invés de estabelecer a distinção entre perímetro urbano e área de expansão urbana a lei divide o território em categoria 1 e categoria 2 (art. 8º). Na verdade, as zonas definidas na área insular trazem outros conceitos mais relacionados à verticalização, áreas de baixa densidade em processo de renovação urbana, ocupação de vazios urbanos. Com efeito, na área insular não há previsão expressa de nenhuma zona urbana ou de expansão urbana. A exata definição de áreas urbanas e expansão urbana de Santos relaciona-se diretamente com as modificações trazidas pela Lei Federal /12, que alterou o art. 42 do Estatuto da Cidade. Com efeito, a partir da publicação da nova lei, os Municípios que pretendam ampliar seu perímetro urbano deverão elaborar projeto específico que contenha no mínimo (art. 42 B, Estatuto da Cidade): I - demarcação do novo perímetro urbano; II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial em função de ameaça de desastres naturais; III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura, sistema viário, equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais; IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e contribuir para a geração de emprego e renda; V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso habitacional for permitido; VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio histórico e cultural; e VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público. Com efeito, esse projeto específico deverá ser instituído por lei municipal e atender à diretrizes do plano diretor (art. 42-A, 1º, Estatuto da Cidade). Além disso, é considerado como condição para a aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro (art. 42-B, 2º, Estatuto da Cidade). Vale ainda notar que algumas unidades territoriais em Santos são reguladas não como expansão urbana propriamente, mas como possíveis de adensamento e verticalização. A Lei complementar municipal nº 730/2011 define Núcleos de Intervenção e Diretrizes Estratégicas, por exemplo, que têm por objetivo a requalificação urbana e funcional de parte do território localizado na área insular de Santos visando o redirecionamento do desenvolvimento da cidade de forma a (art. 66): 141

142 - induzir a ocupação de vazios urbanos através de parâmetros especiais de uso e ocupação do solo de modo a ampliar a oferta de equipamentos de cultura, lazer e turismo; - criar condições de viabilização para implantação de empreendimentos que desenvolvam economicamente a cidade na área do turismo - estimular a iniciativa privada a investir em empreendimento ligados a área de lazer e cultura - promover a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida Os empreendimentos localizados nos NIDES receberão estímulos fiscais e deverão atender a exigências próprias (art. 66, parágrafo único e art. 68). Além dos NIDES, há previsão, na área insular, da Zona Noroeste I ZNI : área residencial de baixa densidade e vias comerciais definidas, onde se pretende incentivar a verticalização e a ocupação dos vazios urbanos com empreendimentos habitacionais de interesse social, bem como incrementar os Corredores de Desenvolvimento e Renovação Urbana CDRU; (art. 9º, inciso V, Lei complementar municipal nº 730/11). Os Corredores de Desenvolvimento e Renovação Urbana CDRU, por sua vez, definem-se como áreas públicas ou privadas onde se pretende incentivar maior adensamento mediante operações que envolvam Transferência do Direito de Construir e adicional de coeficiente de aproveitamento de Outorga Onerosa do Direito de Construir. (art. 10, inciso III, Lei complementar municipal nº 730/11) Regulação das Áreas de Expansão Urbana De acordo com a Lei Orgânica de Santos (1990), cabe ao plano diretor fixar o perímetro urbano e a área de expansão urbana (art. 139, inciso V). O plano diretor municipal (Lei complementar nº 731/2011) divide o território da cidade em área urbana, área de expansão urbana e área de proteção ambiental (art. 6º). Com efeito, a área urbana compreende os terrenos ou áreas contíguas com melhoramentos e serviços públicos especialmente unidades de educação, de saúde e de assistência social, pavimentação, drenagem, transporte coletivo, rede de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, rede de iluminação pública e coleta de lixo (art. 7º). A área de expansão urbana, por sua vez, compreende as áreas passíveis de urbanização, observados os critérios de mitigação dos impactos ambientais e a implantação de infraestrutura urbana e de equipamentos públicos adequados [...] (art. 8º). Por fim, o plano diretor define a área de proteção ambiental que compreende as áreas com características originais dos ecossistemas e as áreas consideradas estratégicas para a garantia de preservação dos recursos e reservas naturais (art. 9º). Tais áreas, porém, não são espacializadas pelo plano diretor. O mapa anexo ao plano diretor somente distingue a área continental da área insular. De fato, a delimitação das áreas urbanas, de expansão urbana e proteção ambiental caberia, em tese, às leis municipais de uso e ocupação do solo das áreas insular e continental (art. 10). Ocorre, porém, que a lei complementar municipal nº 729/2011, que disciplina o ordenamento territorial da área continental, define somente duas áreas: uma de expansão urbana e outra de proteção ambiental (art. 3º). A área de expansão urbana é subdividida em Zona Urbana 1 e 2, Zona de Suporte Urbano I e II, e Zona Portuária e Retroportuária. As Zonas Urbanas I e II acabam por se constituir como subzona da área de expansão urbana e têm como finalidade as atividades de desenvolvimento urbano, ocupação ordenada e regularização das áreas já consolidadas (art. 9º). A Zona Portuária e Retroportuária é considerada expressamente como zona de expansão urbana e tem como características o potencial para instalações rodoviárias, ferroviárias, portuárias e retroportuárias bem como aquelas ligadas às atividades náuticas (art. 12).

143 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Na área continental de Santos, portanto, não fica claro se há uma distinção entre perímetro urbano e zona de expansão urbana tal como estabelecido, a princípio, pelo plano diretor. Na área insular de Santos, por sua vez, as regras de uso e ocupação do solo são definidas pela lei complementar nº 730/11. Ao invés de estabelecer a distinção entre perímetro urbano e área de expansão urbana a lei divide o território em categoria 1 e categoria 2 (art. 8º). Na verdade, as zonas definidas na área insular trazem outros conceitos mais relacionados à verticalização, áreas de baixa densidade em processo de renovação urbana, ocupação de vazios urbanos. Com efeito, na área insular não há previsão expressa de nenhuma zona urbana ou de expansão urbana. A exata definição de áreas urbanas e expansão urbana de Santos relaciona-se diretamente com as modificações trazidas pela Lei Federal /12, que alterou o art. 42 do Estatuto da Cidade. Com efeito, a partir da publicação da nova lei, os Municípios que pretendam ampliar seu perímetro urbano deverão elaborar projeto específico que contenha no mínimo (art. 42 B, Estatuto da Cidade): I - demarcação do novo perímetro urbano; II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial em função de ameaça de desastres naturais; III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura, sistema viário, equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais; IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e contribuir para a geração de emprego e renda; V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso habitacional for permitido; VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio histórico e cultural; e VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público. Com efeito, esse projeto específico deverá ser instituído por lei municipal e atender à diretrizes do plano diretor (art. 42-A, 1º, Estatuto da Cidade). Além disso, é considerado como condição para a aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro (art. 42-B, 2º, Estatuto da Cidade). Vale ainda notar que algumas unidades territoriais em Santos são reguladas não como expansão urbana propriamente, mas como possíveis de adensamento e verticalização. A Lei complementar municipal nº 730/2011 define Núcleos de Intervenção e Diretrizes Estratégicas, por exemplo, que têm por objetivo a requalificação urbana e funcional de parte do território localizado na área insular de Santos visando o redirecionamento do desenvolvimento da cidade de forma a (art. 66): - induzir a ocupação de vazios urbanos através de parâmetros especiais de uso e ocupação do solo de modo a ampliar a oferta de equipamentos de cultura, lazer e turismo; - criar condições de viabilização para implantação de empreendimentos que desenvolvam economicamente a cidade na área do turismo - estimular a iniciativa privada a investir em empreendimento ligados a área de lazer e cultura - promover a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida Os empreendimentos localizados nos NIDES receberão estímulos fiscais e deverão atender a exigências próprias (art. 66, parágrafo único e art. 68). 143

144 Além dos NIDES, há previsão na área continental da Zona Noroeste I ZNI destinada a incentivar a verticalização e a ocupação dos vazios urbanos com empreendimentos habitacionais de interesse social (art. 9º, inciso V, Lei complementar municipal nº 730/11) e dos Corredores de Desenvolvimento e Renovação Urbana CDRU nos quais se pretende incentivar maior adensamento (art. 10, inciso III) Áreas de Monitoramento Territorial No Município de Santos, como já apresentado anteriormente, o ritmo de crescimento populacional se estabilizado desde a década de 1990, com uma Taxa de Crescimento Anual (TGCA) de 0,04 %, na última década. Essa tendência não necessariamente leva a um processo de expansão urbana que aumenta as demandas por serviços, equipamentos e infraestruturas, como verifica-se em outros municípios do litoral paulista. Entretanto, com as novas dinâmicas metropolitanas da Baixada Santista impulsionadas pelos grandes projetos inseridos na região em decorrência do Pré-sal e outras dinâmicas econômicas, como a ampliação do Porto de Santos, é necessário verificar os potencias de crescimento da mancha urbana do município de Santos, prevendo novos cenários de acréscimo da demanda demográfica no município. Se esse crescimento urbano não for ordenado e ocorrer de modo inadequado junto aos cursos d água, nos locais com topografia acidentada e em áreas com cobertura vegetal significativa, haverá problemas na ordem urbanística local. No contexto do litoral paulista como um todo, processos desordenados de urbanização também poderão pressionar o meio ambiente de modo negativo. Santos apresenta em seu território importantes remanescentes de mata atlântica que são protegidos pelo Parque Estadual da Serra do Mar e ecossistemas associados, incluindo vegetação de restinga e manguezais em sua área continental. Entretanto, muitas destas áreas ambientalmente representativas são também consideradas áreas preferenciais para a urbanização e implantação de infraestrutura portuária, logística e industrial, configurando uma disputa pela apropriação do espaço que tem de por um lado a imperativa obrigatoriedade de se preservar o ambiente natural para as presentes e futuras gerações e por outro lado a necessidade de se garantir estoques de terra para o desenvolvimento econômico e social do município. Como visto anteriormente, a urbanização de Santos concentrou-se, basicamente na área insular, sobre a Ilha de São Vicente, cujo território é dividido com o município vizinho de São Vicente. Com uma área de 39,4 km², densamente urbanizada, que abriga quase a totalidade dos habitantes do município. Na região plana da ilha de São Vicente já não há quase vegetação, devido ao alto processo de impermeabilização do solo com a densa ocupação urbana do município. Na região norte da ilha, nos bairros da Alemoa, do Chico de Paula e do Saboó ainda verificam-se resquícios de manguezais. A maioria dos rios da parte insular foi canalizada quando o engenheiro Saturnino de Brito projetou o sistema de canais da cidade. No entanto, alguns grandes cursos d'água ainda cortam a ilha no norte. Nos morros, ainda verifica-se vastos exemplares de Mata Atlântica nativa, apesar das chácaras e dos bananais existentes, na única área ainda não ocupada da porção insular de Santos. Para verificar as áreas que apresentam potencial para ocupação urbana, e que desta forma necessitam de um monitoramento mais atento, primeiramente foram identificadas as áreas que são resguardadas por espaços territoriais especialmente protegidos 43 e que não permitem a ocupação urbana. Para tanto, realizou-se uma justaposição dos seguintes elementos: Unidades de Conservação de proteção integral ou de uso sustentável que vedam expressamente a possibilidade de urbanização; Terras Indígenas; e algumas tipologias de áreas de preservação permanente previstas no Novo Código Florestal, incluindo áreas com declividade superior a 45 graus, localizadas junto aos cursos d água e manguezais. Ver Mapa. (ver metodologia anexo ) Mapa. Santos Áreas Protegidas e de ocupação urbana Os espaços territoriais especialmente protegidos expressos no Art. 225, 1º, inc. III da Constituição Federal são gênero de áreas protegidas que engloba como espécies uma série de tipologias legais, incluídas aí as Unidades de Conservação (Parques Estaduais, Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental, etc.), Áreas de Preservação Permanente, Terras Indígenas, entre outras. Estas tipologias legais fornecem tratamento especial a porções do território nacional no sentido de sujeitar estes locais a um regime de interesse público com o intuito de proteger os seus atributos ambientais e as suas potencialidades socioculturais.

145 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Trata-se de uma primeira tentativa para a identificação de áreas que não são abrangidas por áreas protegidas e que devem, portanto, ser monitoradas para que tenham uma destinação adequada, sejam elas para expansão urbana futura ou para preservação ambiental. No Mapa as áreas em branco, não protegidas de acordo com os critérios descritos acima, correspondem a cerca de 19% do território de Santos, que chamamos de áreas de monitoramento territorial. Não se trata de uma identificação definitiva uma vez que há leis municipais que regulam e protegem essas áreas, bem como legislação específica voltada para a proteção da vegetação natural em âmbito estadual e federal que limitam ou vedam supressão da vegetação natural, como é o caso da Lei da Mata Atlântica. Além disso, análises complementares na escala local deverão ser realizadas a fim de que se tenha uma leitura mais precisa da situação do território, uma vez que não foram incorporados a este estudo mapeamentos referentes aos estágios sucessionais da vegetação devido à ausência de material cartográfico de âmbito regional em escalada adequada e disponível. Ademais, cumpre mencionar que algumas bases de dados utilizadas apresentam uma leitura bastante simplificada da realidade, incluindo aí a hidrografia utilizada para a delimitação das APPs que foi digitalizada a partir da base cartográfica do IBGE na escala 1:50.000, as imagens TOPODATA existentes no banco de dados geomorfométricos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) utilizadas para delimitar as áreas com declividade superior a 45 e a delimitação dos manguezais extraídas do banco de dados da S.O.S Mata Atlântica. No município de Santos a maior parte da área de monitoramento encontra-se na porção territorial, que representa a maior parte do território do município. Entretanto, quase 70% dessa área continental do município é classificada como Área de Proteção Ambiental por estar situada dentro dos limites do Parque Estadual da Serra do Mar e por abrigar uma grande área de Mata Atlântica nativa sobre as escarpas da Serra do Mar, como pode-se observar no mapa acima, Mapa. 145

146 Nas partes planas da área continental encontram-se vastas extensões de manguezais ao longo do Canal de Bertioga, cortadas por rios que formam meandros na planície: rios Diana, Sandi, Iriri e Quilombo. Os vales desses rios em geral são ocupados por sítios e bananais, a atividade rural apresentando-se em geral bem rudimentar. Os sítios ocupam uma área chamada de mata de jundu, composta de palmitais e palmeiras locais. Essa mata, no entanto, já está seriamente danificada pela ocupação. Essas áreas hoje são consideradas área de expansão urbana pelo Plano Diretor de Santos. Atualmente, a ocupação urbana no local é bem rudimentar e rarefeita, sendo mais representativa nos povoados (bairros) de Iriri e Caruara. Buscando contribuir para o monitoramento deste território e sua adequada destinação, realizou-se um mapeamento das características geotécnicas do solo, o qual se cruzou com as áreas de monitoramento detectadas no mapa Mapa. Santos Áreas de Monitoramento Territorial e Características Geotécnicas 44 Apesar de Santos apresentar áreas com potencial para ocupação na área continental, em relação aos fatores geotécnicos, como se pode observar no mapa acima, todas estas áreas de monitoramento apresentam algum grau de fragilidade geotécnica, apresentando alta suscetibilidade a escorregamentos, naturais ou induzidos; e alta suscetibilidade a erosão nos solos superficiais, induzidas por movimento de terra e alta suscetibilidade a inundações, recalques, assoriamento e solapamento das margens nos rios. Nas áreas insulares, também encontram-se fragilidades. Estes fatores trazem a necessidade de um rígido controle sobre a ocupação urbana deste município, com o estabelecimento de regras de ordenamento urbano e de construção que garantam uma ocupação adequada às restrições geológicas. A suscetibilidade apontada no mapa geotécnico é entendida como decorrente de um fenômeno natural relacionada a características intrínsecas ao meio físico, sendo assim determinante em sua capacidade de sofrer alterações e de resistência (resiliência). Trata-se de uma medida probabilística, e não impeditiva de 44 A carta geotécnica utilizada foi incorporada ao presente estudo a partir da digitalização da cartografia geológica geotécnica do litoral paulista produzida originariamente na escala 1: pelo IPT e disponibilizada pela base dados da AAE PINO (Avaliação Ambiental Estratégica do Litoral Paulista das atividades Portuárias, Industriais, Navais e Offshore). Ver metodologia no anexo.

147 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 ocupação, que devem estar associadas também a outros conceitos como o risco e a vulnerabilidade, incorporando dimensões humanas mais explícitas. Além disso, é importante mencionar que esta base cartográfica, apesar de trazer informações importantes para se pensar o planejamento do uso e ocupação do solo deste Município, não permite uma leitura com grande precisão dos riscos geotécnicos ali presentes e, portanto, não elimina a necessidade de estudos com melhor nível de detalhamento Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial Litoral Paulista INTRODUÇÃO Este texto traz os procedimentos utilizados para a identificação de áreas de monitoramento territorial em municípios do litoral paulista, através do uso de procedimentos de análises espaciais realizado em ambiente Arcgis. O procedimento foi realizado visando uma leitura regional integrada para os treze municípios que configuram a área de estudo, sendo: Bertioga, Caraguatatuba, Cubatão, Guarujá, Santos, São Sebastião, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Ilhabela e Ubatuba.. O principal instrumento de análise foi um sistema de Informações Geográficas, o qual pode ser definido como da seguinte forma: Um SIG é sem dúvida nenhuma o método para desenhar, editar, e modificar um mapa urbano e para inserir, de um modo interativo, qualquer tipo de dados associados a objetos específicos representados nele. SIG é um sistema que combina computador, software, informação geográfica e operadores que podem receber, manusear, analisar e visualizar de um modo eficiente qualquer tipo de dado espacial que possui uma referência geográfica. O dado é representado em um mapa e qualquer objeto representado deve conter informação que pode ser analisada, a partir das quais modelos podem ser construídos, visualizados e, ao final, se necessário reproduzidos numa cópia impressa (SARTORI, NEMBRINI e STAUFFER, 2001). Tais características presentes em um SIG direcionam o fluxo de trabalho do exercício apresentado neste texto. Objetivos e METODOLOGIA O objetivo do estudo é identificar áreas para monitoramento de possíveis ocupações futuras em função de restrições físicas e legais através de uma leitura regional integrada do território, visando auxiliar na construção de políticas públicas tecnicamente apoiadas que possam subsidiar as políticas de zoneamento e de uso e ocupação do solo. Vale ressaltar que sobre as áreas identificadas ainda cabem uma série de análises e sobreposições, especialmente em nível local, sobre áreas contaminadas, áreas com importância ou interesse histórico cultural ou arqueológico, legislação municipal de uso e ocupação do solo, e verificação das áreas de risco e características geotécnicas do terreno, dentre outras variáveis locais. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS Para a identificação das áreas de monitoramento territorial, foram primeiramente levantadas as áreas que não podem ser ocupadas em função de restrições de ocupação do solo, principalmente de natureza ambiental, e relacionados a riscos de deslizamentos, quais sejam: 45 Ver anexo - Procedimentos técnicos adotados para definição de áreas de monitoramento territorial Litoral Paulista. 147

148 o o o o o o os limites de ocupação da faixa de 300 m ao longo da costa (preamar), considerada a partir da linha da maré, excluindo-se os costões rochosos; as áreas de mangues, bem como de rios e córregos e respeitados os limites das APPs hídricas, Áreas de Preservação Permanente ao longo de nascentes e cursos d água previstas na legislação vigente; os limites das Unidades de Conservação UCs existentes, incluindo as RPPN Reserva Particular do Patrimônio natural; os limites das terras de ocupação indígenas; as áreas de encostas de morros com declividade superior a 45º devido ao risco de deslizamentos. as áreas já ocupadas que configuram a mancha urbana. A partir das restrições legais e ambientais apontadas acima, foram levantados dados em diversas fontes para montagem de banco de dados geográfico georreferenciado, representando as principais restrições à ocupação urbana. COLETA DE DADOS A base de dados utilizada é composta por um basemap formado por um mosaico de imagens de satélite armazenadas em nuvem (cloud GIS), e que pode ser acessado via ArcGIS online (sistema de compartilhamento de dados geográficos) ou via outras bibliotecas como o open layers. Esse mosaico é popularmente conhecido como BING MAPS, e é hoje muito popular assim como outras bases utilizadas como o Google Earth e outros derivados como os street maps de forma geral. Estes dados funcionam através do armazenamento de tiles na máquina local de acesso, e por trabalhar em diversas escalas esse mosaico é composto por imagens com resolução espacial diversas, datas de aquisição diversas, as quais se alteram em função da escala associada ao nível de zoom empregado pelo operador e uma relativa heterogeneidade, em função de cobrir a maior parte da superfície terrestre, o que a torna uma espécie de colcha de retalhos. Essa é uma das principais restrições que se deve atentar no uso desses dados, ressaltando também sua baixa qualidade geométrica em escalas cadastrais, a qual deve ser levada em consideração em determinados usos. Não obstante, ainda que a aquisição de imagens de satélite tenha passado por um grande processo de barateamento, em alguns casos, o uso deste tipo de basemap é uma boa opção em função do custo benefício, além de abrir possibilidades de compartilhamento de dados espaciais sobre base única. Este basemap foi utilizado no ajuste dos dados restritivos a ocupação supramencionados, o qual proporcionou a validação visual das áreas apontadas além de enquadrar o layout de apresentação dos resultados. Em resumo, os dados utilizados são os que se apresentam na tabela 1: Tabela 1: dados utilizados Dado Descrição Fonte Mapa base Unidades de conservação Áreas de mangue Terras indígenas do litoral paulista Bing maps e Bing street maps linkados diretamento ao ArcGIS 10 APA, ARIE, ESEC, Parques Estaduais e Parque Nacionais (SP) em formato shapefile Delimitação das áreas de mangue no litoral paulista em formato shapefile Delimitação dos polígonos de terras indígenas no litoral oads.html oads.html oads.html

149 Reservas particulares do patrimônio natural - RPPN Declividades superiores a 45º Faixa de APP de Preamar Faixas de APP hídrica Limites municipais Mancha Urbana existente Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 paulista Delimitação dos polígonos de RPPN no litoral paulista Polígono delimitando o cálculo efetuado para todo o litoral paulista Buffer de 300 metros ao longo das faixas de preamar Buffers de 10, 30, 50 e 200 metros a partir da linha de margem dos cursos hídricos, de acordo com a largura do curso definida em legislação específica Poligono delimitando o município de Bertioga Poligono delimitando a mancha urbana existente em oads.html e complementação de Instituto Polis, TOPODATA BD Geomorfométricos SRTM, INPE, 2008 Linha delimitada visualmente sobre o mapa base (satélite), sobre a qual foi gerado o buffer correspondente Prefeitura Municipal de Bertioga; Dados complementados por Instituto Polis, 2012; Medição e inserção dos valores de largura de rio coletados em imagem de satélite e inseridos no banco de dados das linhas dos cursos hídricos. IBGE, Imagem Landsat 2011 Elaborado por Instituto Polis, 2012 Software (sig) UTILIZADO Para preparação, cruzamento e análise dos dados foi utilizado o software ArcGIS 10. Tal software possui atualmente uma grande inserção no mercado de geotecnologias e é um SIG no estado da arte, possuindo todas as funções a algoritmos necessários para o exercício proposto. Sua escolha se deu em função do atendimento aos requisitos do trabalho e do domínio já estabelecido sobre seu uso. OPERAÇÕES COM MAPAS VETORIAIS A lógica para indicação das áreas de monitoramento é relativamente simples, e seus resultados dependem dos dados de origem utilizados. O principio básico do procedimento metodológico proposto é o de que excluindo-se as áreas restritivas e a mancha urbana, dentro do nível de informações coletadas e adotadas, identificamos, nos espaços do território não preenchidos ou inseridos nestas restrições, áreas de monitoramento territorial. Isto significa que é preciso um olhar atento sobre estas áreas, identificando suas características e potencialidades, seja para ocupação urbana futura, seja para preservação e proteção do meio ambiente.. Para tal, o geoprocessamento é ferramenta eficiente. Inicialmente o que procedeu foi a coleta, ajuste e inserção dos dados em ambiente SIG, conforme ilustra a figura 1: 149

150 Figura 1: dados inseridos no SIG Como primeiro procedimento, foram gerados os buffers sobre os cursos hídricos e a faixa de Preamar. O buffer ou banda, cria polígonos ao redor de feições, sejam elas pontos, linhas ou polígonos, numa ou várias distâncias especificadas pelo usuário, gerados conforme a figura 2:

151 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura 2: Faixas de APP ao longo dos cursos hídricos com tamanho variável e faixa de preamar de 300 m (restinga), conforme resolução Conama 303 de Com estes buffers gerados, todos os polígonos restritivos considerados neste exercício já estão consolidados e prontos para os próximos procedimentos. Na sequência efetuamos o recorte dos polígonos em função dos limites municipais, visando obter resultados apenas na área específica de estudo e minimizando o tempo de processamento necessário. Tal processo se deu através do comando CLIP no ArcGIS, o qual recorta as feições de entrada em função da feição de CLIP, conforme ilustra a figura 3: 151

152 Figura 3: Exemplo do comando CLIP aplicado sobre as declividades superiores a 45º, onde se ver o resultado em vermelho comparado com o anterior em rosa. Como Imput feature foi utilizado o limite municipal. Para todos os outros polígonos de restrição foi utilizado o mesmo procedimento, utilizando como dado de CLIP o limite municipal. Com todos os polígonos restritivos já ajustados ao limite municipal procedemos a união de todos estes polígonos numa única feição, visando a construção de uma máscara única de restrição para todo o município e região. No ArcGIS este processo se dá através do comando UNION, cujo resultado pode ser visto na figura 4: Figura 4: União de todas as áreas com restrição a ocupação consideradas, recortadas por seu polígono de origem e sobreposição O comando UNION possibilita que os dados originais do banco de dados do polígono sejam preservados, e nas áreas onde houve sobreposição de polígonos os dados de ambos os polígonos em situação de overlay são carregados. Contudo, para o interesse deste exercício, optamos por criar um único polígono se divisões internas e dados associados advindos dos polígonos de origem, visando a criação de uma máscara uniforme para análise visual das áreas não restritas e continuidade das análises. O comando que possibilitou tal processo no ArcGIS foi o chamado MERGE. Este comando faz com que os polígonos selecionados para tal tornem-se uma única linha no banco de dados associado, ou seja, ainda que descontínuos, eles serão uma única feição para o SIG, além disso, polígonos adjacentes unem-se espacialmente, cirando uma única feição com

153 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 a eliminação dos lados adjacentes. O Resultado é um polígono continuo em suas áreas adjacentes, conforme podemos ver na figura 5: Figura 5: máscara formada por todas as áreas restritivas em Bertioga, através do comando MERGE Tendo a máscara de restrições pronta e o limite municipal, o próximo passo foi o cálculo do inverso da máscara gerada, através da diferença simétrica entre as áreas restritivas e o limite municipal. No ArcGIS este procedimento é possível através do comando Symmetrical Difference (semelhante ao comando diferença no gvsig). Este procedimento computa em um novo polígono a diferença entre os polígonos de entrada, gerando uma máscara oposta. Feito isso com a mascara de restrições e o limite municipal, o resultado é mostrado a seguir na figura 6: 153

154 Figura 6: Resultado do Symmetrical Difference entre as áreas restritivas e o limite municipal O polígono resultante, no exemplo acima, corresponde ás áreas dentro do município de Bertioga que, replicado para todos os municípios da área de estudo, possibilita uma leitura regional. Com os dados de restrição à ocupação espacializados, chegou-se ao mapa Áreas Protegidas e de ocupação urbana, conforme exemplo abaixo. Mapa. Áreas Protegidas e de ocupação urbana As áreas deixadas em branco, ou seja, onde não incidem as restrições identificadas, são as chamadas áreas de monitoramento territorial. Buscando contribuir para uma destinação adequada destas áreas de monitoramento, agregamos informações do perfil geológico do terreno. A carta de risco geotécnico utilizada no projeto Litoral Sustentável é uma carta do tipo carta de suscetibilidade, indicada para uso regional (escalas menores que 1: ) e foi produzida pelo IPT seguindo sua própria metodologia.

155 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 De acordo com Zuquette & Nakazawa (1998), a metodologia do IPT tenta buscar uma otimização entre processos de investigação e utilidade da informação obtida, e para tanto é baseada em alguns fundamentos básicos: Identificar no território os problemas mais significativos do ambiente físico inicialmente e buscar as condicionantes passíveis de mapeamento, as quais são: Geologia do terreno; Declividade do terreno e Tipos de solo presentes, em função da associação aos processos físicos relacionados. (escorregamento de encostas e matacões, deslocamentos de massa, processos erosivos, declividades acentuadas, enchentes, assoreamentos, etc); Fazer a integração dos problemas do ambiente físico levantados aos processos de uso e ocupação; Coleta direcionada de dados para estabelecer para estabelecimento das unidades geológicogeotécnicas de igual comportamento; Buscar a superação de conceitos de "aptidão", visando maximizar as opções plausíveis de uso do solo; Confeccionar cartas geotécnicas dinâmicas, as quais permitam a incorporação de novas análises e conhecimentos sobre uso e ocupação do solo. Nesse sentido, podem ser definidos 4 tipos distintos de Cartas Geológico-Geotécnicas (Proin/Capes & Unesp/IGCE, 1999): - CARTAS GEOTÉCNICAS (PROPRIAMENTE DITAS): expõem as limitações e potencialidades dos terrenos, estabelecendo as diretrizes de ocupação, frente às formas de uso do solo. - CARTAS DE ATRIBUTOS ou PARÂMETROS: apresentam a distribuição geográfica de características de interesse (atributos, parâmetros geotécnicos) a uma ou mais formas de uso e ocupação do solo. - CARTAS DE RISCOS GEOLÓGICOS: prepondera a avaliação de dano potencial à ocupação, frente a uma ou mais características ou fenômenos naturais ou induzidos pelo uso do solo. - CARTAS DE SUSCETIBILIDADE46: informam sobre a possibilidade de ocorrência de um ou mais fenômenos geológicos e de comportamentos indesejáveis, pressupondo uma dada forma de uso do solo. Em função da disponibilidade de dados e da possibilidade de análise regional, a carta utilizada no projeto foi a carta de suscetibilidade. A suscetibilidade é entendida como decorrente de um fenômeno natural relacionada a características intrínsecas ao meio físico, sendo assim determinante em sua capacidade de sofrer alterações e de resistência (resiliência). Geralmente, em cartas de suscetibilidade é graduada em baixa, média e alta, sendo associada ao potencial probabilístico de ocorrência de fenômenos naturais em função da composição estrutural e funcional do meio, portanto, uma medida probabilística, e não impeditiva de ocupação, que devem estar associadas também a outros conceitos como o risco e a vulnerabilidade, incorporando dimensões humanas mais explícitas. 155

156 Mapa. Áreas de Monitoramento Territorial e risco geológico 6.5. Bens da União do Município de Santos O conhecimento da estrutura fundiária urbana identificando os imóveis de propriedade pública, especialmente imóveis vazios e ociosos, são uma importante variável de análise e proposição de ocupação do território. O reconhecimento e disponibilização dos imóveis sem uso no cumprimento da função social, sejam eles públicos ou privados, contribuem para a execução de projetos propostos nos municípios, de forma a constituir um banco de terras para a implantação de equipamentos, infraestrutura ou outros usos de seu interesse, como moradia de interesse social ou uso institucional. No caso dos imóveis públicos, ocupados por entidades ou empresas através de concessão ou outro instrumento (municipal, estadual ou federal) é fundamental identificar aqueles que muitas vezes não atendem ao interesse público. Nestes casos, a revisão das concessões pode contribuir para que o poder público destine estes imóveis para finalidades articuladas aos objetivos de planos e projetos existentes. No caso do litoral paulista, as praias e seus acrescidos estão entre os bens públicos de uso comum do povo sob o domínio da União (art. 20, IV e VII, da CF/88). Além da questão da titularidade, estas áreas são recursos naturais integrantes da Zona Costeira. Nesse sentido, qualquer intervenção em área de praia deve ser precedida de autorização da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão da União responsável pela gestão dos bens públicos nacionais. A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) estabeleceu procedimentos específicos de acordo com o tipo de imóvel e destinação. O município de Santos possui 379 imóveis da União de Uso Especial, ou seja, destinados a uso de interesse público, sendo a maior parte (87%) sob responsabilidade da GERENCIA REGIONAL DE PATRIMONIO DA UNIAO/SP, ver tabela. Tabela. Imóveis da União de Uso Especial Santos

157 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 RESPONSÁVEL PELO IMÓVEL No de imóveis Área do Terreno Utilizado (m²) FUNAI-COORDENACAO REGIONAL DO LITORAL SUDOESTE/SP ,00 ALFANDEGA DO PORTO DE SANTOS/SP ,71 CAPITANIA DOS PORTOS DE SAO PAULO ,21 COMANDO DA 2 REGIAO MILITAR ,72 DELEGACIA DA REC.FEDERAL EM SANTOS/SP ,04 DELEGACIA DE POLICIA FEDERAL EM SANTOS-SP ,40 DELEGACIA FEDERAL DE AGRICULTURA - SP 1 956,75 FUNDACENTRO / U.R. SANTOS 1 87,75 FUNDO DA MARINHA MERCANTE 4 55,22 GERENCIA REGIONAL DE PATRIMONIO DA UNIAO/SP ,37 IBAMA - GERENCIA EXECUTIVA DO IBAMA/SP 1 312,00 IPHAN 9A. COORDENACAO REGIONAL - SAO PAULO 1 975,00 JUSTICA FEDERAL DE 1A. INSTANCIA - SP 1 977,69 PROCURADORIA DA REPUBLICA - SP 1 91,28 PROCURADORIA REG.DO TRABALHO 2A. REGIAO - SP 1 427,90 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2A.REGIAO ,19 UNID. REG. ATENDIMENTO NO ESTADO DE SAO PAULO 1 977,69 TOTAL ,92 Fonte: SPU/SP ofício GP-SPU/SP 462/12. Elaboração Instituto Pólis Além disso, a SPU vem realizando procedimento de atualização de seu cadastro e regularização das concessões das áreas de marinha. As áreas de marinha consistem na faixa de terra existente entre a preamarmédia de e uma extensão de 33 metros medidos a partir desse alinhamento inicial, nas áreas sujeitas a maré. O cadastro e controle destas áreas é um importante instrumento de gestão do território. O Governo Federal vem incentivando um processo de construção de gestão articuladas das áreas costeiras através da construção de um plano para a orla marítima, o Projeto Orla. O projeto visa também estabelecer critérios para destinação de usos de bens da União, visando o uso adequado de áreas públicas e de recursos naturais protegidos compatibilizando as políticas ambiental e patrimonial. Embora a competência legal para o gerenciamento destas áreas encontre-se majoritariamente na órbita do Governo Federal, o Projeto Orla concebe o nível municipal, apoiado pelo estado, como agente executivo da gestão compartilhada da orla. Embora seja uma iniciativa interessante de gestão articulada destas áreas, o projeto orla não é lei e nem 157

158 condiciona o recebimento de recursos. Desta forma o projeto ainda foi pouco desenvolvido no litoral de São Paulo. No caso do município de Santos, o plano para a orla marítima ainda não foi desenvolvido. Além disso, o processo de cadastro e regularização das áreas de marinha ainda está em andamento. De acordo com cadastro da SPU/SP, já foram identificados imóveis em Santos, somando m². Tabela. Imóveis de domínio da união terrenos de marinha MUNICÍPIOS Imóveis da União Soma de Área do Terreno da União (m²) BERTIOGA CARAGUATATUBA CUBATAO GUARUJA ILHABELA ITANHAEM MONGAGUA PERUIBE PRAIA GRANDE SANTOS SAO SEBASTIAO SAO VICENTE UBATUBA Total Geral Fonte: SPU/SP ofício GP-SPU/SP 462/12. Elaboração Instituto Pólis 6.6. Dinâmica Imobiliária Empreendimentos Imobiliários Verticais A crescente presença de empreendimentos verticais nos municípios da Baixada Santista e do Litoral Norte é reflexo do crescimento dos setores imobiliários e da indústria da construção civil. Esse crescimento é percebido em todo o Brasil, e está relacionado ao aumento da economia brasileira, ampliação do crédito e das linhas de financiamento do Governo Federal. Segundo uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) realizada em 2011, toda a indústria brasileira cresceu 10,1% entre o ano de 2009 e 2010, sendo o setor da construção civil o que apresentou o segundo maior crescimento, com 11,6%. A presença desses setores estimula o fenômeno da valorização do solo urbano e trazem aos municípios uma nova paisagem urbana, e principalmente, alteram drasticamente a dinâmica das cidades, interferindo diretamente nas condições de infraestrutura, mobilidade, oferta habitacional, meio ambiente urbano, entre outros, resultando muitas vezes, em problemas urbanos que passam a ser estruturais e na descaracterização urbanística de grandes áreas da cidade. A cidade de Santos vem sendo objeto crescente da atuação do mercado imobiliário e da construção civil, atraindo investimentos em empreendimentos de média, mas principalmente de alta renda, tendo em vista as previsões de crescimento econômico e de renda provenientes do mercado do pré-sal. Santos possui histórico antigo de verticalização que acompanha, durante praticamente todo o século XX, a evolução das legislações de zoneamento, de uso e ocupação do solo e de parâmetros urbanísticos que se sucederam durante esse período. O início da verticalização, mesmo que ainda de maneira tímida, é contemporânea à Lei n 675 de Código de Construções primeiro código de Santos a tratar separadamente, a produção do espaço construído. Na realidade, esse código reuniu o conjunto de

159 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 disposições edilícias existentes até então, com algumas pequenas alterações, mas aprofundou principalmente os critérios para manutenção da higiene nas edificações e quanto ao aspecto de segurança (CARRIÇO, 2002). A lei determinava um novo perímetro urbano, suburbano, de transição e rural, estabelecendo a estes, alguns usos e padrões construtivos distintos, sendo os perímetros urbano e suburbano os de grande valorização imobiliária no período. Os dispositivos aplicados nas construções incidiam principalmente, nos perímetros urbanos e suburbanos, deixando as áreas correspondentes aos perímetros de transição, apenas com algumas precauções nas construções dos chalés de madeira, deixando bem claro, as diferenças nas exigências que eram aplicadas nas áreas que se pretendiam valorizar, contrastando-as do resto da cidade. Definia ainda altura máxima dos prédios, incentivando a verticalização da Zona Comercial. Figura. Santos - Perímetros das zonas urbana, suburbana, de transição e rural, na área insular de Santos, definidos pelo Código de Construções de Fonte: CARRIÇO, 2002 Dissertação de Mestrado: Legislação Urbanística e Segregação espacial nos municípios centrais da Região Metropolitana da Baixada Santista. FAUUSP, 2002 As legislações seguintes que deram parâmetros para a construção de empreendimentos verticais foram: Decreto-Lei n 403 de 1945 Novo Código de Obras do município; Lei n 1831 de 1956 que alterou o Decreto- Lei de 1945 e Código de Edificações do Município, Lei n de O Decreto-Lei n 403 de 1945 aperfeiçoou os zoneamentos de uso e ocupação do solo e dispunha sobre as dimensões mínimas dos lotes e das alturas dos edifícios, autorizando-se a verticalização do Gonzaga, bem como, incentivando a formação de um novo centro terciário para a burguesia que ali habitava. Vale ressaltar que o código dispunha também sobre o chalé de madeira, que só seria permitido nos morros e na zona rural, na intenção de não proliferar esse tipo de moradia nas áreas nobres. 159

160 Verifica-se, portanto, alguns dispositivos que foram importantes para estruturação do município e que além de incentivar a verticalização em áreas estratégicas da cidade, implicaram na ocupação do território de forma excludente, segregando parte da população que não possuía condições de habitar áreas valorizadas da cidade. Figura. Santos - Zoneamento aprovado pelo Decreto-Lei nº 403, de Fonte: CARRIÇO, 2002 Dissertação de Mestrado: Legislação Urbanística e Segregação espacial nos municípios centrais da Região Metropolitana da Baixada Santista. FAUUSP, 2002 Posteriormente, com a Lei n 1831 de 1956, índices urbanísticos do zoneamento do Código de Obras, implementado em 1945, sofreram alterações que possibilitaram o adensamento na orla da praia, visando atender, já naquela época, a demanda do mercado imobiliário e da construção civil, bem como, a crescente demanda de imóveis de segunda residência decorrente do aumento do turismo balneário, que ganhou forte impulso a partir da década de A partir de então, a configuração do território no município de Santos começa a modificar-se com a fixação definitiva das classes mais abastadas em direção à orla marítima, que passa a receber um grande número de edifícios habitacionais, no lugar das grandes mansões dos barões de café, com o começo da formação de um verdadeiro paredão, que foi denominado por SEABRA 47 (1979) de muralha que cerca o mar, trazendo consequências negativas para a cidade no que tange sua qualidade e conforto ambiental. Figura. Santos Vista da praia do Boqueirão na metade do século XX e Vista da orla no final dos anos SEABRA, Odette C. de Lima. A Muralha que Cerca o Mar: uma modalidade de Uso do Solo Urbano. Dissertação de Mestrado, Departamento de Geografia da FFLCH-USP, São Paulo, 1979.

161 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Fonte: Acervo de Laire José Giraud, / CARRIÇO, Já a partir da década de 1960, separou-se a regulamentação urbanística, das normas de parcelamento do solo, códigos de construções e códigos de posturas, através de diferentes leis. O Plano Diretor Físico do Município, promulgado no ano de 1968 foi um dos mais importantes que marcou a consolidação da verticalização no município de Santos. O Plano de 68 trazia um novo detalhamento do zoneamento de uso, instituindo normas apenas na área insular da cidade, com a criação de 11 zonas. O Plano ainda criou uma Zona Turística (ZT) que englobava as faixas de terra próximas à orla, incentivando a verticalização voltada para as residências de veraneio. Quanto aos índices urbanísticos, o Plano permitiu construir na Zona Residencial e Zona Turística até 6 vezes a área do lote, induzindo assim, um forte adensamento nos bairros próximos a orla. Além disso, admitia nessas mesmas zonas a ocupação de 60% da área do lote, o que acabou contribuindo ao agravamento das questões de conforto ambiental em áreas próximas. 48 Disponível em: 161

162 Figura. Santos - Plano Diretor Físico do Município de Santos, de Fonte: CARRIÇO, 2002 Dissertação de Mestrado: Legislação Urbanística e Segregação espacial nos municípios centrais da Região Metropolitana da Baixada Santista. FAUUSP, 2002 As construções aprovadas mediante as legislações de 1945 e posteriormente ao PD de 1968 já possuíam um número bem maior de pavimentos e se destacam na paisagem santista, com empreendimentos residenciais que variavam de 14 a 17 pavimentos. Ao longo dos anos, portanto, intensificou-se na cidade o processo de verticalização da orla, bem como, a valorização da terra em certas áreas da cidade, com as legislações urbanísticas beneficiando os interesses imobiliários, gerando uma especulação imobiliária sem maior controle, muito presente até os dias de hoje, configurando um espaço urbano de contrastes e delimitações sociais diferenciadas.

163 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. Santos Construções aprovadas com as legislações de 1945 e Fonte: Google Earth, O Código de Edificações do Município, Lei n de 1968 serviu de parâmetro durante mais de 30 anos, até a aprovação da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo na Área Insular de 1998, que liberou a altura máxima dos edifícios verticais, limitando suas alturas ao cálculo de potencial construtivo em relação à área do lote, taxas de ocupação e coeficientes de aproveitamento. Essa legislação possibilitou o aumento da altura máxima dos edifícios construídos a partir de então, alterando a paisagem urbana, intensificada pelos incentivos federais à construção civil principalmente a partir de

164 Figura. Santos - Verticalização na orla incentivada pelas diversas legislações municipais. Fonte: CARRIÇO, J. M.: Baixada Santista: transformações produtivas e socioespaciais na crise do capitalismo após a década de 1980, tese de doutorado, São Paulo, A liberação e permissividade construtiva pós 1998 e o aquecimento econômico da construção civil, acentuada a partir de 2005 gerou uma grande alteração na paisagem urbana da cidade, e principalmente, orientou o perfil dos investimentos da construção civil voltados para construção de empreendimento de média e alta renda. Conforme vemos na figura a seguir, o mercado imobiliário voltou-se à construção de grandes empreendimentos verticais próximos às quadras dos bairros da orla:

165 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. Santos - Empreendimentos Habitacionais aprovados e em aprovação entre 1998 e Entre 1998 e 2008, 78% dos empreendimentos habitacionais aprovados e em aprovação se localizavam na Zona da Orla, 11% na Zona Intermediária, 5% na Zona Central e 6% na Zona Noroeste / Morros. Sendo que na Zona Central e na Zona Noroeste/Morros, os empreendimentos habitacionais foram viabilizados pelo poder público, voltados para famílias de baixa renda. Os dados acima nos mostram que há em Santos, a partir de 1998, um mercado muito atrativo ao setor imobiliário e da construção civil para a produção de empreendimentos de alta renda, visto a localização dos empreendimentos já viabilizados estarem próximos à orla da praia, onde se encontram também os terrenos mais valorizados da cidade. 165

166 Mapa. Santos Distribuição dos Empreendimentos Imobiliários Verticais, Elaboração: Instituto Pólis, Maior incidência de empreendimentos verticais estão nos bairros José Menino, Pompéia, Gonzaga, Boqueirão, Embaré, Aparecida, Ponta da praia, Campo Grande e Gonzaga. Além dos índices urbanísticos elevados, que permitiam, por exemplo, a possibilidade de ocupação do terreno entre 60% e 85% do total para os 10 primeiros pavimentos e a possibilidade de se construir até seis vezes a área do lote, outras disposições da lei de uso do solo de 1998 favoreciam a valorização do preço de venda dos imóveis, tais como a construção de pavimentos de garagens com recuos mínimos laterais de 1,5m, e com altura de até 9,40m, além de não se computar algumas áreas construídas como varandas, áreas comuns e de circulação. Esta regulação resulta em edifícios com coeficientes de aproveitamento reais maiores do que o permitido por lei, conforme tabela abaixo: Edificio Ano de Construção N. Pavs Área do terreno (m²) Área construída total (m²) Coef. De Aprov. Real Michelângelo , ,52 5, /68 Rembrant , , /68 Palazzo Del Mare , ,63 7,8 312/98 Vila Condessa , ,21 9,7 312/98 Chateau de Ville , ,24 7,5 312/98 Fonte: CARRIÇO. J. M: Produção do espaço urbano voltada à elites: doze anos de aplicação da Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo na área insular de Santos. In: VAZQUEZ, D. A. (org): A questão urbana na baixada santista. Políticas, vulnerabilidades e desafios para o desenvolvimento, Santos, Ed. Leopoldianum, Lei n Figura. Santos Empreendimentos que utilizam 03 a 04 pavimentos de garagem.

167 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Fonte: Google Earth, Figura. Santos Alturas dos novos empreendimentos que se destacam na Ponta da Praia, Fonte: Google Earth, A Lei de Uso do Solo foi alterada em , mas a nova legislação continou mantendo o modelo de produção de empreendimentos verticais voltados à alta renda, não trouxendo inovações ou mudanças significativas. 49 Lei Complementar n 730 de

168 Figura. Santos Diferença das alturas dos novos empreendimentos, Fonte: ATRIBUNA, Segundo um estudo elaborado pelo Secovi-SP e a Robert Zarif Assessoria Econômico Ltda, entre março de 2009 e março de 2012, foram lançadas em quatro municípios da Baixada Santista (Santos, São Vicente, Guarujá e Praia Grande) unidades verticais, sendo que o maior número de lançamentos foi no município de Santos, com unidades, representando 54% do total de unidades lançadas. Observa-se na tabela abaixo que logo atrás de Santos, aparece o município de Praia Grande com unidades verticais lançadas, representando 37,6% do total. O estudo aponta ainda que somente entre o ano de 2011 e 2012 foram lançadas unidades verticais nos quatro municípios. Tabela. Unidades verticais lançadas de 2009 a Fonte: Estudo do Mercado Imobiliário da Baixada Santista, Ainda segundo o Secovi, as unidades de 2 e 3 dormitórios lideram os lançamentos em Santos, representando 36 e 32%, respectivamente. Segundo o estudo, as características das unidades lançadas se diferenciam de acordo com o número de dormitórios, a saber: 1 Dormitório: Os empreendimentos com imóveis de um dormitório têm, em média, um bloco, 19 pavimentos, uma garagem e sete unidades por andar. Na área de lazer, o item mais frequente é o salão de festas, que está em 98% dos empreendimentos. A piscina está na área de lazer de 93% dos empreendimentos, e a churrasqueira, em 91%. A área privativa dos imóveis de um dormitório é de aproximadamente 48 m², e a área total é de 80 m². 2 Dormitórios: Estes empreendimentos se caracterizaram por possuir, em média, dois blocos, 17 pavimentos, uma vaga de garagem e seis unidades por andar. Na área de lazer, 98% dos empreendimentos desta categoria possuem salão de festa. Na sequência estão a piscina (89% dos empreendimentos), a churrasqueira (88% dos empreendimentos), o salão de jogos (78% dos

169 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 empreendimentos) e a sala de fitness (76% dos empreendimentos). A área privativa média dos imóveis de 2 dormitórios é de 78 m² e a área total, de 127m². 3 Dormitórios: Os imóveis de 3 dormitórios apresentam, na média, dois blocos, 19 pavimentos, duas vagas de garagem e cinco unidades por andar. Na área de lazer, todos os empreendimentos foram lançados com salão de festas. Aproximadamente 97% dos empreendimentos têm piscina, 88% contam com espaço para fitness, 86% possuem churrasqueira e 82% dos empreendimentos dispõem de salão de jogos. A área privativa média dos imóveis é de 118 m² e a área total média é de 197 m². 4 Dormitórios: Os imóveis de 4 dormitórios estão em empreendimentos que têm, na média, dois blocos, 24 pavimentos, três vagas de garagem e três unidades por andar. A área de lazer de todos os empreendimentos conta com piscina, salão de festas e espaço para fitness. A churrasqueira está presente em 80% dos empreendimentos, o salão de jogos aparece em 70% dos prédios e 60% possuem sauna e playground. A área privativa média é de 194 m² e a área total média é de 335 m². Tabela. Unidades verticais lançadas de 2009 a Fonte: Estudo do Mercado Imobiliário da Baixada Santista, Percebe-se, portanto, a característica dos novos empreendimentos lançados, que contam com extensas áreas de varandas (as chamadas varandas gourmet), áreas para piscina, salão de festas e fitness e alguns empreendimentos de luxo apresentam até salas de cinemas, como é o caso das torres Jardins da Grécia, localizadas na Ponta da Praia erguidas pelo Grupo Mendes. Alguns empreendimentos chegam a ter até 5 vagas por unidade, como é o caso do Mansão da Praia, na praia do Gonzaga. Os valores desses empreendimentos chegam a variam de R$ ,00 em bairros como Marapé a R$ ,00 em bairros como Gonzaga e Embaré. A maioria dos empreendimentos lançados encontra-se na faixa que varia de R$ ,00 a R$ ,00 em bairros como Ponta da Praia, José Menino e Boqueirão. 169

170 Figura. Santos Empreendimentos de Alto Padrão em frente à orla. Fonte: Google Earth, 2012 / Imobiliária Real (Acesso em Junho/2012) Observa-se, portanto, que os novos lançamentos estão direcionados, claramente para as classes de média e alta renda, contribuindo com o movimento de expulsão das classes de menor poder aquisitivo para bairros mais afastados ou até mesmo para municípios vizinhos, como São Vicente, Guarujá e principalmente Praia Grande, tornando o município de Santos uma cidade cada vez mais elitizada. Esse fenômeno de expulsão acaba por acarretar inúmeros gargalos do ponto de vista regional, sendo a mobilidade urbana um dos pontos a serem considerados, uma vez que a população se desloca para outros municípios, mas mantém suas atividades diárias em Santos, gerando pontos de tráfego intenso e congestionamentos nos acessos à cidade. Vale destacar que esses altos valores não se restringem apenas aos novos lançamentos que estão sendo erguidos no município, mas também aos prédios mais antigos e até mesmo aos famosos prédios tortos da orla com problemas estruturais, que também estão apresentando valorização em seus imóveis. Com o aquecimento do mercado e a forte demanda por imóveis da cidade, os apartamentos mais antigos têm apresentado uma alta de 64% em seus valores, segundo dados de corretores imobiliários 50. Aproveitando essa onda de valorização, alguns edifícios da orla estão sendo reformados ganhando áreas de varandas, para que os proprietários tenham seus imóveis valorizados. 50 Corretor imobiliário Edmar Ribeiro Soares em (Acesso em Junho/2012)

171 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. Santos Edifício torto e Prédios em reforma na orla, Fonte: Google Earth, Outro aspecto que pode ser citado como decorrência do boom imobiliário, aliado a escassez de áreas livres, é a demolição de clubes antigos e tradicionais da cidade para a construção de novos empreendimentos. Clubes que marcavam a memória santista estão dando lugar a grandes torres, como é o caso do Clube XV e do Clube Saldanha da Gama no bairro do José Menino, que foram demolidos para que seus terrenos fossem ocupados por novos empreendimentos. O mesmo ocorre com os prédios mais antigos de 03 pavimentos, que acabam sendo comprados por construtoras para serem demolidos e darem lugar aos novos lançamentos. Figura. Santos Clube XV e o que atualmente ocupa seu lugar. Fonte: (Acesso em Junho/2012) / Google Earth, Outros aspectos importantes para a análise das transformações socioespaciais e demográficas que estão ocorrendo em Santos devem ser considerados. Um estudo realizado e recém divulgado em Santos, que utilizou dados dos censos do IBGE de 2000 e 2010, mostra que o processo de verticalização, intensificado mais notadamente nos últimos 04 anos, com oferta de imóveis predominantemente voltados à população de média e alta renda vem gerando transformações importantes na cidade, As áreas onde os empreendimentos verticais foram lançados em maior número, ou seja, próximas à orla, estão sendo ocupados cada vez mais por pessoas com mais idade. Entre 2000 e 2010 aumentou consideravelmente o número dos setores censitários onde o percentual de pessoas com mais de 60 é maior que 25 do total de pessoas residentes, conforme as figuras abaixo: 171

172 Figura - Porcentagem de pessoas acima de 60 anos 2000 Fonte: Livro: A Questão Urbana na Baixada Santista Políticas, Vulnerabilidades e Desafios para o Desenvolvimento, Organizador Daniel Vazquez capitulo 13 Figura - Porcentagem de pessoas acima de 60 anos 2010 Fonte: Livro: A Questão Urbana na Baixada Santista Políticas, Vulnerabilidades e Desafios para o Desenvolvimento, Organizador Daniel Vazquez capitulo 13 O número de pessoas residentes com idade igual ou inferior a 17 anos também caiu consideravelmente nos últimos 10 anos nos setores censitários da maioria dos bairros da orla. Em 2010, o bairro do Gonzaga possuía, na maioria dos seus setores censitários, um número inferior a 15%, a quantidade de pessoas com menos de 17 anos em relação ao total de pessoas residentes, enquanto que em bairros como José Menino, Pompéia, Boqueirão, Embaré, Aparecida e Ponta da Praia esse percentual de pessoas com menos de 17 anos é predominantemente de até 20% do total de residentes.

173 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura - Porcentagem de pessoas abaixo de 17 anos 2000 Fonte: Livro: A Questão Urbana na Baixada Santista Políticas, Vulnerabilidades e Desafios para o Desenvolvimento, Organizador Daniel Vazquez capitulo 13 Figura - Porcentagem de pessoas abaixo de 17 anos 2010 Fonte: Livro: A Questão Urbana na Baixada Santista Políticas, Vulnerabilidades e Desafios para o Desenvolvimento, Organizador Daniel Vazquez capitulo 13 O processo de verticalização não está sendo instrumento de adensamento populacional dos setores onde o lançamento de empreendimentos verticais predomina. Podemos observar na figura X abaixo, que nas áreas onde a verticalização é mais presente, o número de pessoas por família é menor, em relação às áreas onde o perfil construtivo é horizontal, justamente onde há presença de famílias de baixa renda e em assentamentos precários. Ou seja, o modelo de verticalização voltado para famílias de média e alta 173

174 renda, cujas famílias são menores segundo o IBGE, tem pressionado famílias maiores e com menos renda a ocuparem áreas não verticalizadas. O resultado é que áreas da cidade com predominância de edifícios verticais não apresentam adensamento maior que áreas onde o padrão construtivo é horizontal. Isso fica mais evidente, conforme figura Y. Nas áreas dos bairros do Embaré e Aparecida, nos setores censitários opostos à orla, no bairro do Campo Grande, onde há predominância de edificações horizontais, e que apresentam níveis de adensamento iguais a setores censitários onde predominam as construções verticalizadas, e também nos bairros do Saboó, Chico de Paula São Manoel e Rádio Clube, que apresentam setores censitários muito adensados como resultado da existência de assentamentos precários. Figura - Média de Moradores por domicílio 2010 Fonte: Livro: A Questão Urbana na Baixada Santista Políticas, Vulnerabilidades e Desafios para o Desenvolvimento, Organizador Daniel Vazquez capitulo 13 Figura Y. - Média de Moradores por domicílio 2010

175 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Finalizando, podemos afirmar que esse boom imobiliário, que ocorre principalmente em Santos, como observado, foi incentivado pelo crescimento da economia brasileira, e especialmente, ao aumento de crédito e os menores juros nos financiamentos, e acabou encontrando, na permissividade da legislação santista, um lucrativo mercado voltado para construção de prédios altíssimos, apropriando-se dos benefícios de parâmetros urbanísticos que incentivam a verticalização. Esse fenômeno mercadológico está configurando uma nova paisagem na cidade, com prédios com preços de venda altíssimos, gerando áreas da cidade extremamente elitizadas, resultando em uma cidade cada vez mais desigual do ponto de vista socioespacial e tendo sua qualidade de vida comprometida, uma vez que o verticalização excessiva gera uma série de impactos sociais, econômicos e ambientais não só para Santos, mas para toda a região. Figura - Santos Verticalização da orla, Fonte: ATRIBUNA, Regulação dos Empreendimentos Imobiliários Verticais A LOM do Município de Santos trabalha com a ideia de combinar a justa distribuição dos benefícios, minimizando os naturais ônus decorrentes do processo de urbanização, nos termos de seu art. 137, inciso I. A mesma orientação é reiterada pelo Plano Diretor do Município, entre os objetivos do ordenamento territorial, nos termos prescritos pelo art. 16, inciso II, alínea a. Ora, tal direcionamento na politica de ordenamento territorial é consubstanciada em parâmetros urbanísticos e edilícios bastante particulares verificados no Município. A primeira característica a ser destacada é o fato da legislação de uso, ocupação e parcelamento do solo urbano tratar de maneiras Formatado: Fonte: Negrito 175

176 absolutamente distintas as áreas continental e insular do Município de Santos. A primeira é resguardada da intensiva urbanização áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental, enquanto a segunda é fortemente adensada, com a observância de índices urbanísticos extremamente permissivos. Inicia-se a presente análise pela porção continental do Município. Trata-se da disciplina mais restritiva do território santista, manifestada pela Lei municipal nº 729/2011. Como visto anteriormente, a porção continental divide-se em duas áreas integradas: uma de expansão urbana e outra de proteção ambiental. Estas, por sua vez, dividem-se. A primeira contempla, as zonas urbanas (ZU), de Suporte Urbano (ZSU) e Portuária e Retroportuária (ZPR), cujos parâmetros são trazidos pelos artigos 30 e 31 da lei municipal. Já os arts. 32, 33 e 34 prescrevem pouca disciplina municipal acerca da ocupação das zonas correspondentes à área de proteção ambiental. Aprofundando-se a análise daquilo disposto em lei sobre as zonas urbanas da área continental, o art. 30 é claro ao estabelecer limites à ocupação máxima de 40% da área total do lote e área construída equivalente (coeficiente máximo de aproveitamento) a uma vez o tamanho desse mesmo lote (incisos III e IV), além de gabarito máximo de 3 pavimentos (inciso V). Registra-se, ainda, que a construção de edifícios multifamiliares (pluri-habitacionais) é condicionada à adoção de pilotis no pavimento térreo, com maior verticalização (art. 30, parágrafo 5º). O art. 31 não define para as zonas de suporte urbano (ZSU) e portuária e retroportuária (ZPR) parâmetros específicos. Remete ao estudo ambiental específico de cada empreendimento as regras próprias de ocupação do terreno. Os índices urbanísticos e edilícios previstos para a ZPR alcançam as ilhas dos Bagres e dos Barnabés, que legalmente integram o macrozoneamento continental (art. 7º, parágrafo único). Na sequência, referida Lei nº 729/2011 estabelece para as zonas de uso especial (ZUE) a mera obediência a seus Planos de Manejo (art. 32); taxa de ocupação máxima dos terrenos de 5% nas zonas de preservação (ZP) e de conservação (ZC); e permite a ocupação de 50% dos imóveis situados nas zonas de usos agrícolas (ZUA). Tais dispositivos disciplinadores da ocupação nas zonas da área de proteção ambiental não estabelecem outras exigências, sem prejuízo de atendimento às diretrizes de contenção da urbanização. A ilha Duas Barras integra a ZP, também por constituir parte do macrozoneamento continental de Santos. Passando-se à análise da Lei municipal nº 730/2011, encontra-se a disciplina de uso, ocupação e parcelamento do solo da porção insular do território santista. As zonas dessa parcela do território não apresentam significativas limitações de gabarito. Na realidade, a única limitação expressa de gabarito das edificações é encontrada no Loteamento Parque da Montanha, situado em ZM (art. 51, inciso III) e em Corredores de Proteção Cultural (art. 57, incisos III e IV). Nas demais zonas, a verticalização do território é feita pela combinação de permissivas taxas ocupação e coeficientes de aproveitamento, nos termos dos arts. 46 a 52. Com efeito, nas ZO, ZI, ZC, ZN, ZM (excetuado o Parque da Montanha) e ZP apresentam taxas de ocupação que variam entre 40% a 85% (com a possibilidade de atingirem 100% quando os dois primeiros pavimentos apresentarem usos não residenciais). Por outro lado, tal possibilidade de ocupação ampliada do lote não implicou menor altura das edificações e impacto paisagístico. Isso porque o coeficiente de aproveitamento permitido pela lei conduz à verticalização das construções, Para as zonas descritas acima, os coeficientes oscilam entre 4 e 6, com maior restrição a 2, na ZM. Na Zona da Orla correspondem a 5, podendo chegar a ser concedido direito de construir adicional (chegando-se ao coeficiente de 6), caso o edifício apresente risco após o fracasso de medidas de desaprumo (art. 46, parágrafo 1º). Tais coeficientes são extremamente elevados, demandando infraestrutura urbana apta ao atendimento da população a morar ou utilizar-se desses espaços. A mesma Lei municipal nº 730/2011 em seu Anexo X identificou as vias com menos capacidade de suporte, a elas cominando coeficientes de aproveitamento um pouco menores. Em regra, é reduzida a possibilidade de área construída do empreendimento no valor de uma vez a área total do lote, o que ainda implica geração de significativa demanda de infraestrutura urbana pelos empreendimentos implantados.

177 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 A discussão sobre a particular permissividade dos coeficientes de aproveitamento em Santos deve ser sopesada de um lado pela diminuta extensão territorial de área urbana disponível da porção insular, mas de outro pela inadequada utilização de instrumentos urbanísticos propiciada pelo Estatuto da Cidade. Deveras, o emprego da transferência de direito de construir (art. 59), por exemplo, com a aplicação irrestrita de coeficientes tão altos para as distintas zonas da ilha parece obstar o interesse ou mesmo a necessidade de empreendedores fazerem uso desse instrumento. Os coeficientes permitidos são suficientes para larga utilização do direito de construir sem carecer da transferência de potencial construtivo adicional oriundo de imóveis de destinados à preservação. Ou ainda, a adoção da outorga onerosa do direito de construir, chegando-se a coeficiente 6, nos termos do art. 61, para o Corredores de Desenvolvimento e Renovação Urbana (CDRU) 51 localizados em áreas já permissivas como a ZO. A tudo isso, soma-se o fato do art. 29, caput, excluir expressamente do cálculo desse coeficiente, todas as áreas de uso comum e as áreas privativas de varanda, quando não maiores que 1/3 das áreas totais dos apartamentos; em todos os casos considerados empreendimentos com mais de uma unidade autônoma (comercial ou residencial). Além de não representar adequada recuperação de ônus urbanísticos causados por empreendimentos que agravam a saturação da infraestrutura urbana instalada, a adoção de coeficientes de aproveitamento altos também não é suficientemente diferenciada para configurar a subutilização de imóveis no Município. Resultado disso é a limitada possibilidade de aplicação fora das ZEIS do parcelamento, edificação e utilização compulsórios e demais instrumentos urbanísticos que lhe são sucedâneos, quais sejam, o IPTU progressivo no tempo e a desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública, nos termos facultados pelo Estatuto da Cidade. Com efeito, a Lei nº 551/2005, que cuida da previsão de distintos instrumentos urbanísticos do Estatuto da Cidade na ordem urbanística de Santos, faz alusão à subutilização de imóveis para incidência de tais instrumentos, conforme prescrito em seu art. 5º. No entanto, tal previsão legal adota como parâmetro a compartimentação das edificações (áreas construídas mínimas de acordo com o uso de cada compartimento interno de cada construção) definida pelo Código Sanitário do Estado de São Paulo (Decreto estadual nº /1978). Tal critério parece de difícil aferição e objetividade pelos órgãos municipais, excepcionando-se a essa regra as restrições administrativas alheias à vontade do proprietário estabelecidas no parágrafo 2º (onde o imóvel pode observar coeficiente de aproveitamento igual a 0,3 sem implicar subutilização). Situação distinta é a previsão da não-utilização, observada mediante coeficiente de aproveitamento igual a zero ou nos casos de desocupação, abandono ou clandestinidade da construção, descrito nos arts. 7º e 8º. Nesses casos o adensamento decorrente da aplicação de instrumentos urbanísticos parece adequadamente regulamentada e plenamente aplicável. Destaque-se que a disciplina legal dos conjuntos contida nos arts. 62 a 64 contempla tipologias construtivas verticalizadas, orientando-se a lei, eminentemente, por exigências relativas a áreas comuns e recuos. A distinção do conjunto (seja qual for seu uso, residencial ou não) distingue-se do condomínio vertical pelo fato do primeiro prever a existência de mais de uma edificação, nos termos do art. 3º, incisos IX e X. Ressalte-se, também, as definições legais de edifícios inteligentes e verdes (art. 3º, incisos XI e XII), no primeiro caso com otimização de seus componentes estruturais e controle de seu funcionamento, enquanto o último privilegiaria a eficiência energética e uso racional da água, entre outros elementos diferenciados. Sua disciplina legal, no entanto, foi remetida a ulterior edição de norma própria, nos termos do art. 29, parágrafo 4º. Além das definições legais instituídas no zoneamento municipal, destaca-se o regulamento do Executivo Municipal, consubstanciado no Decreto 5998/2011, para estímulos a edifícios com tecnologias e materiais classificado como verdes. O estímulo se faz pela redução da área construída considerada. 51 Os CDRU tratados nessa situação correspondem a vias públicas relevantes do território santista, quais sejam as Avenidas Affonso Penna; General Francisco Glicério; Conselheiro Nébias; entre outras. 177

178 A sobrecarga de redes de drenagem também é mitigada por outro regulamento, o Decreto 6044/2012, que incentiva a implantação de caixas de retenção e de áreas permeáveis em cada empreendimento Loteamentos e Condomínios Horizontais Em Santos, a ocupação e a urbanização originaram-se a partir da região central, primeiramente nos atuais bairros do Centro, Valongo e Paquetá, e mais tarde na Vila Nova e Vila Mathias. Essa região concentrou a fixação de famílias desde o inicio de ocupação da cidade, até praticamente o inicio do século XX, quando obras de saneamento possibilitaram o início da ocupação da orla da praia, atualmente os mais valorizados da cidade. Nesse período, a ocupação das áreas junto à orla, deu-se a partir de casarões construídos por famílias importantes e abastadas da cidade. Esse modelo de ocupação predominou até a década de 40 quando os primeiros edifícios verticais foram construídos na orla. Com o passar do tempo, muitos desses imóveis foram sendo gradativamente utilizados como segunda moradia. Ou seja, em Santos o uso de imóveis de veraneio já foi caracterizado pela utilização de apartamentos, em edifícios verticais e não a partir de loteamentos ou condomínios horizontais. No restante da cidade, principalmente nas áreas de Zona Noroeste e nos morros, a ocupação se deu a partir da formação de chácaras, grande extensões de terras que foram loteadas e desmembradas ao longo do tempo. Em uma dessas chácaras formou-se o bairro de Santa Terezinha, ocupado por famílias de altíssima renda a partir da década de 60 e único condomínio horizontal de alta renda do município. Originalmente, a área fazia parte do sítio do Combuca. Morro mais alto da cidade com 200 metros de altura, ficou conhecido a partir da década de 1940, como morro do Loureiro, em alusão ao seu proprietário Francisco Loureiro. Loureiro iniciou a venda de lotes e abriu a primeira estrada de acesso, juntamente com a construção da capela em homenagem à Santa Terezinha, que daria nome ao morro posteriormente. Após seu falecimento, o genro de Loureiro, José Ferreira da Silva assumiu a área e o negocio, brecando a venda de lotes até a década de 1960, quando a área foi adquirida pelo empresário Cláudio Doneux, que iniciou a construção do condomínio, abrindo ruas e vendendo lotes. Foi a partir dessa época que a ocupação tomou a forma como está atualmente, formando o condomínio Santa Terezinha. Figura. Santos Condomínio Fechado Santa Terezinha, Fonte: Google Earth, 2012 / Jornal da Orla. Data: 04 de maio de 2012

179 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Figura. Santos Condomínio Fechado Santa Terezinha, Fonte: Google Earth, O condomínio localizado no Morro Santa Terezinha, caracteriza-se por ser parte do território da cidade que se encontra isolado da malha urbana, controlado por guaritas e vigilâncias, configurando um espaço elitizado composto por imóveis de luxo. Suas residências caracterizam-se por serem de alto padrão voltado para as classes mais abastadas. São residências assobradas que chegam a possuir até três pavimentos (Triplex), com 03 a 07 suítes, até 6 vagas na garagem e valores que variam de R$ ,00 a R$ ,00 para venda e R$8.000,00 (por mês) para locação. As taxas mensais de condomínios pagas pelos moradores também apresentam altos valores, variando de R$1.100,00 a R$4.500,00 dependo do imóvel. O tamanho das residências comercializadas varia de 700,00m² a 1.800,00m² de área construída e terrenos que chegam até 3.880,00m². Tabela. Santos Imóveis à Venda no Condomínio Santa Terezinha, Nº Dormitórios Banheiros Vagas de Garagem Área Construída (m²) Terreno (m²) Valor Venda Sobrado 3 suítes , R$ ,00 - Valor Condomínio Complementos Sobrado 4 suítes , ,48 R$ ,00 R$ 3.300,00 4 salas Triplex 5 suítes , ,00 R$ ,00 R$ 1.100,00 3 salas, elevador. Sobrado 7 suítes , ,00 R$ ,00 R$ 1.800,00 179

180 Sobrado 6 suítes , ,00 R$ ,00 R$ 4.000,00 4 salas Triplex 5 suítes , ,00 R$ ,00 - elevador Fonte: Bellar Imóveis, Observa-se que alguns imóveis chegam a apresentam 12 banheiros, 04 salas, elevador e a grande maioria possui salão de jogos, salão de festas, churrasqueira, piscina, e a almejada vista para o mar. Figura. Santos Residências no Condomínio Fechado Santa Terezinha, Fonte: Bellar Imóveis, Tem-se, portanto, um espaço destinado e habitado exclusivamente por famílias de altíssima renda, cujas construções se diferenciam do padrão de residências do restante da cidade. Esse modelo de ocupação elitizado e segregado, juntamente com a crescente atuação do mercado imobiliário em Santos, que direciona os empreendimentos verticais às camadas sociais mais elevadas, faz com que o processo de segregação socioespacial das camadas de baixa renda se intensifique, configurando espaços desiguais, e aumentando as áreas precárias ocupadas nas franjas e nos morros da cidade. É possível visualizar o fenômeno de segregação presente no território se observarmos alguns índices de inclusão e exclusão social, baseados no Censo 2000, elaborados pelo NESE (Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos da Universidade Santa Cecília). Percebe-se que as áreas valorizadas da cidade, que são os bairros na Zona Leste mais próximos à praia, juntamente com o condomínio Santa Terezinha, são áreas que apresentam melhores índices de qualidade de vida, enquanto que as áreas mais afastadas, que englobam grande parte dos assentamentos precários possuem os índices mais baixos. Figura. Santos. Índice de Qualidade de Vida, Censo Pesquisa realizada em / Acesso em Maio de 2012.

181 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Fonte: NESE, Regulação dos Loteamentos e Condomínios horizontais Ao tratar do parcelamento do solo urbano, observa-se não haver sido identificada norma jurídica específica editada pelo Município de Santos naquilo que concerne à implantação de novos loteamentos e desmembramentos. Encontram-se disposições relativas a parcelamentos do solo, tanto na área continental como na área insular do território, bem como disciplina sobre a tipologia de conjuntos horizontais, mas exigências legais como a doação de áreas públicas decorrentes da implantação de loteamentos não são identificadas na legislação acessada. Com efeito, uma lei de parcelamento do solo urbano seria matéria de lei complementar, conforme previsto no art. 55, inciso III, do Plano Diretor do Município (Lei Complementar nº 731/2011). E ainda que a porção insular do território já tenha sido objeto de intensivo parcelamento do solo urbano, é na porção continental que pode ser entendida como carente de maior tutela legal para a expansão urbana. Quando da análise da Lei Complementar nº 729/2011, vislumbra-se a exigência de aprovação de loteamentos, arruamentos, desdobros ou desmembramentos ao crivo do Poder Público municipal no art. 30, inciso I. Nesse mesmo dispositivo remete-se, além da aplicação daquele diploma legal, à legislação aplicável à matéria. Também são definidos lotes mínimos de 500m2 para as zonas urbanas da área continental, conforme especificado em seu art. 30, inciso II. Mas a exigência de áreas para doação ao Poder Público não são quantificadas. As demais zonas constitutivas da área de expansão urbana do Município sequer possuem tais parâmetros para serem parceladas. O art. 38, prescreve as seguintes exigências para os projetos de parcelamento do solo: projeto de drenagem que apresente solução do encaminhamento das águas pluviais à drenagem mais próxima; projeto de tratamento e disposição final de esgoto provido, pelo menos, de fossas sépticas, construídas segundo as normas técnicas em vigor, assegurando-se a proteção do lençol freático, quando não existir rede coletora implantada; projeto de sistema de abastecimento de água aprovado pelo órgão público competente; projeto de sistema viário; 181 Formatado: Fonte: Negrito Formatado: Fonte: Negrito

182 programação do plantio de áreas verdes com uso de espécies nativas ou manutenção das existentes; procedimentos para conservação do solo, estabilização das encostas e controle de erosão e assoreamento. plano de acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Na porção insular do território, verifica-se disciplina legal análoga, que, no entanto, não se restringe a uma zona, mas aplica-se, de maneira genérica a todas aquelas identificadas para a área urbana de Santos na Ilha de São Vicente. A Lei Complementar nº 730/2011 estabelece lotes mínimos de 200m2 em seu art. 25, os quais podem ser reduzidos no caso de implantação de empreendimentos de interesse social. O artigo seguinte condiciona a edificação dos lotes produzidos à execução das obras previstas em projeto. E é o art. 26 da LC nº 730/2011 que melhor faria o paralelo em relação à exigência apresentada para a porção continental, na LC nº 729/2011. A mesma Lei fornece a figura jurídica do conjunto horizontal, o qual, nos termos do art. 3º, inciso X, corresponderia ao agrupamento constituído por mais de duas edificações em um só lote, ou em lotes devidamente incorporados, e que constituirão espaços de uso comum geridos como condomínio ou não. Trata-se, portanto, de figura jurídica onde são criadas unidades autônomas, não lotes. E, consequentemente, no lugar de áreas públicas, são geradas áreas de uso comum, de propriedade particular. Acerca dos conjuntos horizontais, segue-se orientação geral do art. 63, como a destinação de áreas livres de uso coletivo de 50% da área total do terreno entre outras (incisos I a IV), e disposições específicas atinentes a recuos (parágrafo 3º). Note-se que apesar da lei fazer referência a áreas livres de uso coletivo, a definição contida no art. 3º, inciso X, não permite concluir que possam ser consideradas áreas públicas. Tais áreas livres seriam na realidade de uso comum dos condôminos. Mas a própria definição parece gerar insegurança jurídica ao afirmar que tais espaços de uso comum seriam geridos como condomínio ou não Patrimônio Histórico Cultural Diversos municípios do litoral paulista possuem em seu território parte da memória da história de formação do país, guardada nos seus espaços públicos e nos seus imóveis edificados. As especificidades dessas áreas, a historicidade de suas construções, seu caráter didático e sua vocação para cultura, lazer e turismo, são importantes fatores que devem ser considerados para a promoção de um desenvolvimento sustentável. A previsão de novos usos e a realização de novos projetos de reabilitação ou requalificação em áreas de interesse de preservação deve passar, necessariamente, pela valorização do patrimônio cultural, tendo como objetivo principal o aproveitamento de seu potencial para alavancar processos de desenvolvimento social e econômico. No caso de imóveis de interesse cultural, o cumprimento da função social se dá na medida em que o imóvel consiga preservar os valores culturais que foram associados a ele e à área onde ele se insere. Para preservar estes bens é preciso identificá-los como, por exemplo, através da elaboração de inventários. O inventário é um instrumento de proteção dos imóveis de interesse cultural, assim como o tombamento. Juntos eles permitem a preservação dos bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. O tombamento é um instrumento de proteção que pode ser realizado pelo município, estados ou governo federal. (BRASIL. CIDADES/IPHAN, ) O município de Santos possui diversos imóveis de interesse histórico e cultural tombados tanto pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) quanto pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) e pelo próprio município, consequência de seu processo histórico de formação e ocupação. O patrimônio histórico edificado de Santos é bastante relevante e reflete os diversos períodos de sua formação. O município teve períodos característicos de ocupação, dentre estes são destacados (PMS, : 53 BRASIL. Ministério das Cidades; Iphan. IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES EM ÁREAS URBANAS CENTRAIS E CIDADES HISTÓRICAS - MANUAL DE ORIENTAÇÃO. Brasília, 2011.

183 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Período Colonial: foram construídas as primeiras casas, igrejas e conventos, na área situada entre o Monte Serrat e o estuário; Período Barroco: caracteriza os séculos XVII e XVIII,deste período, destacam-se em Santos principalmente as igrejas, dentre elas a de Nossa Senhora do Monte Serrat, o convento franciscano de Santo Antonio, hoje chamado de Santuário de Santo Antonio do Valongo, o mosteiro de São Bento e a Igreja conventual da Ordem Primeira de Nossa Senhora do Carmo; Período neoclássico - imperial, período em que começaram as obras da ferrovia São Paulo Railway, ligando Santos à Jundiaí, inaugurada integralmente em 1867, trazendo significativas modificações para a cidade portuária. Isso se refletiu num número cada vez maior de edifícios em estilo neoclássico. O neoclássico arquitetônico caracteriza-se pela apropriação sóbria de elementos considerados típicos da arquitetura clássica greco-romana, como o frontão triangular, os arcos plenos e as colunatas, inseridos em posições rigorosamente simétricas. (PMS, 20XX, p. 16). Dentro os mais significativos exemplares do neoclássico santista são os casarões do Largo Marquês de Monte Alegre e a Casa de Frontaria Azulejada. Ecletismo Primeira República, período que vai de 1889 a 1930 é, considerada uma das fases mais ricas e importantes, quando a cidade se transformou na capital nacional do café. O teatro Guarany, Teatro Coliseu e Atlântico Hotel localizado na praia do Gonzaga são importantes edificações representantes do eclético. Além destes, o eclético chamado Belas Artes - caracterizado pela mistura indiscriminada de estilos históricos e a busca da monumentalidade foi adotado pelas instituições mais importantes e ricas. São exemplos desse estilo o edifício dos Correios e Telégrafos, a sede da Gota de Leite, o Colégio Cesário Bastos,e a sede do Controle de Tráfego da Cia. Docas de Santos e a Bolsa Oficial do Café, de Além destes, há edificações importantes representantes dos estilo neorrenascentista, toscano, neogótico, neomanuelino, art nouveau, neo colonial e art decó. Modernismo período pós Guerra apesar da decadência da cafeicultura, Santos permanecia importante e rica. A cidade vivia um boom social, com sindicatos cada vez mais fortes, clubes sócio-esportivos que construíam sedes maiores e mais elegantes, uma cultura de praia que se consolidava com as barracas, uma imprensa pujante. (PMS, 20XX, p. 44) O modernismo coincide com dois fenômenos paralelos : a vulgarização do arranha-céu residencial e a consolidação do turismo de veraneio. Neste período foram construídas diversas edificações por arquitetos como José Maria da Silva Neves, Vilanova Artigas, Hélio Duarte, Ícaro de Castro Mello e Osvaldo Correa Gonçalves e Artacho Jurado. Figuras. Fotos patrimônio histórico de Santos 183

184 Fonte:

185 Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 Diagnóstico Urbano Socioambiental Município de Santos BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Estes períodos tiveram consequências diretas no território urbano, que se refletem na morfologia urbana e nos imóveis remanescentes. De acordo com dados da prefeitura, o município possui aproximadamente 50 imóveis identificados como de interesse de preservação e tombados pelo órgão estadual de proteção CONDEPHAAT e pelo município. 185

186 Figura. Mapa de imóveis tombados Santos Fonte: Secretaria de Cultura. Prefeitura de Santos. Elaboração Instituto Polis

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE

BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE Convênio Petrobras Instituto Pólis Relatório nº6 BASE DAS INFORMAÇÕES: ATÉ 2012 REVISÃO DE MARÇO DE 2013 Sumário 1 INTRODUÇÃO... 5 2 - OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO... 6 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO...

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