Restauração e Revitalização das Fortalezas de Santa Catarina no Brasil 1 Arquiteto Roberto Tonera
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- Felipe do Amaral Damásio
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1 1. Sumário Restauração e Revitalização das Fortalezas de Santa Catarina no Brasil 1 Arquiteto Roberto Tonera Neste artigo serão abordados os principais aspectos relacionados ao Sistema Defensivo da Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis/Brasil, iniciado em 1739 pelo brigadeiro português José da Silva Paes, e a sua restauração e revitalização capitaneada pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC - a partir de O Sistema Defensivo de Santa Catarina chegou a possuir doze fortificações significativas, sendo que as quatro primeiras e principais foram: Anhatomirim (1739), Ponta Grossa (1740), Ratones (1740) e Araçatuba (1742). Este Sistema Defensivo entrou em declínio já a partir do final do século XVIII, sendo progressivamente abandonado. Apesar de elevados à categoria de Monumentos Nacionais a partir de 1938, chegaram aos anos setenta muito arruinados, demolidos ou transformados em favelas. A redescoberta e recuperação destas fortificações tomou impulso em 1979, quando a UFSC assumiu formalmente a guarda e tutela de Anhatomirim. A restauração da maior parte de suas edificações permitiu a reabertura da fortaleza à visitação pública em O resgate deste valioso patrimônio recebeu um novo e decisivo impulso com o Projeto Fortalezas, coordenado pela UFSC, contando com a participação da Marinha e Exército Brasileiro, do IPHAN e financiamento da Fundação Banco do Brasil. As obras de restauração ocorreram entre 1989 e 1992, recuperando agora as fortalezas de Ratones e Ponta Grossa, que passaram também à guarda e manutenção da UFSC. Além das obras de restauração, o Projeto Fortalezas" possibilitou a elaboração de vídeos, panfletos, álbuns fotográficos, maquetes, exposições diversas, apresentações musicais e folclóricas, produção de suvenires e a publicação de vários livros sobre o tema. Sob a gerência da UFSC, as fortalezas restauradas tornaram-se sinônimo de preservação cultural e ambiental, um dos maiores e mais bem conservados conjuntos de arquitetura militar do Brasil, campo de estudo para projetos de pesquisa e extensão, e uma das mais notáveis atrações turísticas de Santa Catarina, visitadas anualmente por mais de 270 mil pessoas de todo o mundo. Atualmente, a Universidade vem coroando este trabalho com a restauração da Fortaleza de Araçatuba e com a valorização e resgate da história das fortificações catarinenses, brasileiras e mundiais, através da publicação do CD-ROM Fortalezas Multimídia, obra impar de referência na área de patrimônio, história e preservação, abordando todo o processo de criação, arruinamento, restauração e revitalização das fortificações catarinenses. Através da documentação, valorização e divulgação destes monumentos históricos, o CD-ROM busca intensificar a sua revitalização e ampliar o conhecimento sobre os mesmos, contribuindo para seu estudo e preservação, incrementando a visitação turística e promovendo a divulgação destas fortificações no Brasil e internacionalmente. Podemos concluir que a sistematização e difusão dessas informações em meio digital - CD-ROM e Internet de forma integrada - vem possibilitando a democratização do acesso ao conhecimento, bem como a otimização do potencial educacional, cultural e turístico das fortificações históricas, e demais bens culturais de natureza material e imaterial associados a elas, apresentando-se como instrumento 1 Conferência apresentada na XIV Semana de Estudos Fortificações Militares do Conhecimento Histórico a sua Função Atual, Açores, Portugal, de 04 a 07 de Outubro de
2 fundamental no desenvolvimento de ações de preservação e de gestão do patrimônio cultural brasileiro. 2. Introdução Neste trabalho serão apresentados os principais aspectos relacionados ao Sistema Defensivo da Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil, bem como o processo de restauração e revitalização das fortificações remanescentes deste sistema, levado a cabo pela Universidade Federal de Santa Catarina ao longo dos últimos 23 anos. Para esta apresentação utilizar-se-á como suporte áudio-visual o CD-ROM Fortalezas Multimídia, idealizado pelo autor, obra que além de abordar a história da criação, uso e abandono deste sistema militar, enfoca ainda diversos outros aspectos correlatos a estas fortificações, como a sua arquitetura, restauração, técnicas construtivas, arqueologia, armamentos, embarcações, tropas, manifestações culturais de base açoriana, patrimônio ambiental, visitação turística dos monumentos, entre outros tantos temas importantes, onde se pode aferir com mais precisão a relevância deste patrimônio cultural, tanto para o Brasil, quanto também para a história de Portugal e dos Açores. 3. Histórico O Sistema Defensivo de Santa Catarina chegou a possuir cerca de duas dezenas de fortificações, sendo que as doze construções principais localizavam-se na Ilha de Santa Catarina, propriamente dita, e em pequenas ilhotas existentes em seu entorno imediato. Inicialmente, entre 1739 e 1742, foram construídas quatro fortalezas: Santa Cruz de Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Santo Antônio de Ratones, estas três primeiras guardando a entrada da baía norte da Ilha de Santa Catarina; e a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba, protegendo o acesso à baía sul da mesma Ilha. Outros seis fortes menores (Santana, São Francisco Xavier, São Luiz, São João, Santa Bárbara e Nossa Senhora da Conceição da Lagoa) e uma pequena bateria junto à Ponta Grossa (São Caetano) ainda foram construídos antes do final do Século XVIII. Por volta de 1909, o Forte de Naufragados, última fortificação significativa deste sistema, foi erguido para proteger, em conjunto com a Fortaleza de Araçatuba, a entrada da barra sul da Ilha. Dentre as quatro primeiras e principais fortalezas erguidas pelo brigadeiro português e engenheiro militar José da Silva Paes, Anhatomirim, Ponta Grossa e Ratones foram restauradas pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. Por sua vez, Araçatuba encontra-se neste momento também em processo de restauração pela UFSC, instituição que, de forma pioneira e singular no Brasil, administra e mantém estes monumentos nacionais, desenvolvendo em torno deles atividades de pesquisa, extensão e turismo cultural. O Sistema Defensivo projetado por Silva Paes procurava assegurar a presença da Coroa Portuguesa no sul do Brasil, garantindo a posse da terra pela ocupação efetiva do território, mantendo a ordem interna e controlando o acesso ao último porto seguro existente entre o Rio de Janeiro e a região do Rio da Prata, que assim servia como base de apoio à navegação e às operações militares de longa distância. O sistema foi planejado levando em conta não só um conjunto edificado de fortalezas, mas também uma composição de tropas, armamentos e embarcações, sendo que o sucesso da empresa 2
3 defensiva dependeria da somatória destas forças, aliada à ocupação efetiva do território. Para cumprir esta última finalidade, Silva Paes solicitou ao Rei de Portugal o envio de imigrantes dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, que além de colonizarem a terra, dariam suporte às guarnições militares, tanto através da produção de alimentos para as tropas, quanto na composição das próprias milícias em épocas de intensificação dos conflitos. Com o Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, a Ilha de Santa Catarina, tomada pelos espanhóis neste mesmo ano, foi devolvida à Coroa Portuguesa, consolidando-se a posse espanhola sobre a Colônia de Sacramento e arrefecendo as disputas entre os dois reinos ibéricos. Além disso, este mesmo tratado impunha a condição de não utilização da ilha catarinense como base militar em novos conflitos armados. Estes fatos, somados à crença sobre a ineficiência do Sistema Defensivo, levaram à gradativa redução da importância estratégica das fortalezas. A partir de então, o Sistema Defensivo foi gradativamente relegado a segundo plano e posteriormente abandonado. Algumas fortificações foram parcialmente reativadas durante os vários conflitos ocorridos ao longo do século XIX, e quase todas foram também utilizadas como lazaretos, desempenhando um papel relevante no controle das epidemias que assolaram a região durante a segunda metade do Século XIX, sendo progressivamente abandonadas até a completa desativação de Anhatomirim, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Com o abandono, as fortificações foram invadidas pela vegetação e depredadas pelos vândalos. Em geral, os fortes e fortalezas que não foram demolidos ou soterrados, chegaram aos anos setenta muito arruinados ou transformados em favelas. Alguns desapareceram ainda no século XIX. Os tombamentos das fortalezas de Anhatomirim, Ponta Grossa e Ratones e do Forte de Santana, em 1938, não impediram que elas também fossem abandonadas. Penso que a situação devastadora a que chegaram estas construções no início dos anos 70 se deve a um somatório de causas interligadas, entre outras, ao descrédito sobre a eficiência do Sistema Defensivo, suscitado pelo episódio da invasão espanhola de 1777; a triste memória da utilização de Anhatomirim como presídio e local de execuções sumárias no final da Revolução Federalista, em 1894; à associação destas fortificações a locais para isolamento de doenças contagiosas, função que desempenharam em vários momentos de sua história; a sua implantação em locais isolados, de acesso muito restrito; a sua desativação oficial como unidades militares, em função do surgimento de novas tecnologias bélicas; a desativação do porto de Florianópolis, a partir do início dos anos 60; o não reconhecimento de seu valor histórico e cultural pela sociedade e a falta de priorização de recursos dos organismos governamentais para a restauração e posterior manutenção destes monumentos. 4. A Restauração A reabilitação das fortificações catarinenses tem sido um processo lento e crescente, iniciado em 1969 com a recuperação do Forte de Santana. Em 1979, por intermédio de um convênio celebrado em conjunto com o Ministério da Marinha e o Patrimônio Histórico Nacional, a Universidade Federal de Santa Catarina assumiu formalmente a guarda e tutela da Fortaleza de Anhatomirim. A recuperação da maior parte de suas edificações, numa ação conjunta que reuniu esforços de entidades públicas e privadas, permitiu a reabertura da fortaleza à visitação pública em A recuperação deste valioso patrimônio recebeu decisivo impulso, entre 1989 e 1992, com o Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina - 3
4 250 Anos na História Brasileira, trabalho de cunho interdisciplinar, que possibilitou a restauração das fortalezas de Ratones e Ponta Grossa (passadas em seguida também à guarda da UFSC) e permitiu a conclusão da restauração de Anhatomirim e a consolidação emergencial das ruínas de Araçatuba. Este projeto foi coordenado pela UFSC, contando com a participação da Marinha e Exército Brasileiros, do IPHAN e financiamento a fundo perdido da Fundação Banco do Brasil. Do ponto de vista técnico, as metodologias de restauração utilizadas na primeira fase das obras em Anhatomirim diferem daquelas empregadas no final dos anos 80. A principal diferença entre os dois procedimentos, no caso das obras mais recentes, reside na manutenção aparente das intervenções de restauro; na adoção de soluções construtivas e materiais contemporâneos empregados nas reconstituições, embora respeitando as técnicas construtivas tradicionais; na maior preocupação com a reversibilidade das intervenções executadas, e num registro documental mais detalhado da situação do edifício antes, durante e depois da restauração. Neste ponto, deve-se destacar a necessidade imprescindível da pesquisa histórica e arqueológica anterior às obras, bem como a necessidade do desenvolvimento preliminar de levantamentos arquitetônicos e fotográficos, entre outros inventários preliminares, gerando ainda farta documentação das etapas de restauração, dos critérios adotados e da memória das intervenções realizadas. A utilização de materiais contemporâneos em obras de restauração não representa em si prejuízo ao edifício restaurado, desde de que estes materiais não acarretem, do ponto de vista técnico, danos à construção, não prevaleçam sobre a mesma, nem interfiram com a compreensão do monumento como um todo, isto é, não conflitem com a preservação das características essenciais da construção histórica e ao mesmo tempo garantam à reversibilidade das soluções de restauração adotadas. Assim, procurou-se tratar o monumento histórico como um documento de onde podem ser extraídas informações sobre história, arquitetura, técnicas construtivas, modos de habitar, agir, pensar, viver, de uma determinada época ou lugar. Um documento que permite aos edifícios falarem por si mesmos, que possibilita ao visitante perceber, na justaposição dos elementos novos e antigos, originais e restaurados, as marcas das intervenções de restauro, e conseqüentemente do arruinamento anterior, percebendo, em suma, a trajetória histórica do monumento. Este tipo de abordagem tornase mais didática e essencial na apreensão de um bem cultural, visto que hoje, em última instância, não estamos mais visitando uma fortaleza militar do Século XVIII, mas sim um patrimônio cultural que deve atender a outras funções, sejam elas de natureza cultural, histórica, educacional, administrativa, de pesquisa ou mesmo simplesmente de lazer e contemplação paisagística. 5. A Revitalização A primeira regra de conduta ligada à preservação de um edifício, garantindo assim a sua sobrevivência após a restauração, é mantê-lo em uso constante e adequado, satisfazendo a programas originais, sempre que possível, e sob um regime de manutenção e conservação periódicas. No entanto, a utilização não pode, em hipótese alguma, prejudicar a preservação de um bem cultural, tanto no que diz respeito à manutenção de suas características formais, quanto em termos de estabilidade estrutural ou integridade dos materiais constitutivos das edificações. O novo uso deve sempre se adaptar ao monumento histórico, valorizando-o e, 4
5 por sua vez, se valorizando com ele, e não o contrário. Após as restaurações, os ambientes das fortalezas catarinenses foram quase todos ocupados, buscando atender três demandas distintas: funções administrativas e gerenciais das próprias fortificações, funções ligadas às áreas e de pesquisa e extensão da UFSC e funções relacionadas à visitação turística, que são aquelas que predominam: pousada, restaurante, lanchonete, salas de exposições, loja de suvenir, aquário marinho, salas para apresentações audio-visuais, entre outros. Em Ratones foi criada ainda uma trilha ecológica em meio à mata atlântica da Ilha, num importante trabalho de educação ambiental associada à preservação cultural. Na Fortaleza de Ponta Grossa, foi implantada uma Oficina de Rendas de Bilro para as rendeiras da região, revitalizando uma atividade artesanal então em extinção. Após as obras, a capela desta fortaleza voltou a ser utilizada como templo religioso, sendo o único edifício no conjunto das fortificações catarinenses a manter, até hoje, a sua função original. Além das obras de restauração, o Projeto Fortalezas, como ficou conhecido, possibilitou a elaboração de vídeos, diversos folhetos informativos, cartões postais, álbuns fotográficos, maquetes, exposições artístico-culturais, apresentações musicais e folclóricas, produção de suvenires e a publicação de vários livros sobre o tema. Decorrente deste trabalho de restauração e revitalização, as fortalezas passaram a receber um fluxo crescente de visitantes locais e turistas provenientes de diversas regiões do Brasil e do exterior, saltando de 3,5 mil pessoas em 1986 para a marca recorde de 270 mil visitantes, em Importante dizer que as fortalezas hoje são mantidas pela UFSC exclusivamente com os recursos provenientes da taxa de manutenção, cobrada dos visitantes dos monumentos. Sob a gerência da UFSC, as fortalezas passaram a ser sinônimo de preservação cultural e ambiental, transformando-se em campo de estudo para projetos de pesquisa e extensão, fonte de renda para a população local, com a geração de centenas de empregos diretos e indiretos, tornando-se uma das mais notáveis atrações turístico-culturais de Santa Catarina. Do conjunto das demais fortificações catarinenses, quatro delas encontram-se desaparecidas: Nossa senhora da Conceição da Lagoa, São Francisco Xavier, São Luiz e São João. A Bateria de São Caetano e o Forte de Naufragados estão em ruínas. O Forte de Santa Bárbara tornou-se recentemente sede da fundação cultural do município de Florianópolis e o Forte de Santana permanece aberto à visitação, assim como o seu Museu de Armas que funciona em um edifício anexo ao forte. Atualmente, a Universidade Federal de Santa Catarina vem coroando a sua atuação decisiva no resgate e revitalização das fortalezas catarinenses com duas ações fundamentais: a primeira é o início das obras de restauração da Fortaleza de Araçatuba, elo faltante na conclusão da recuperação do Sistema Defensivo original idealizado por Silva Paes no século XVIII; e a segunda diz respeito à valorização e resgate da história das fortificações catarinenses, brasileiras e mundiais, através do CD-ROM Fortalezas Multimídia, obra que vem, de forma inédita, implementar um processo contínuo de sistematização e difusão de informações sobre as fortificações históricas e sobre o patrimônio cultural material e imaterial a elas associado, por intermédio dos recursos multimídia, banco de dados e Internet, utilizados de forma integrada. Neste contexto, o CD- ROM Fortalezas Multimídia vem se tornando referência nas áreas de arquitetura, patrimônio e história, abordando, em especial, mas não exclusivamente, todo o processo de criação, arruinamento, restauração e revitalização das fortificações da Ilha de Santa Catarina. 5
6 6 O CD-ROM Fortalezas Multimídia Após a conclusão das obras de restauração das fortalezas, tornou-se necessário sistematizar as informações sobre aqueles monumentos, disponibilizando estes conteúdos ao maior número possível de pessoas, e contribuindo, simultaneamente, para o estudo, a documentação, a valorização e a divulgação das fortificações. Objetivava-se com isso a otimização do potencial cultural, educacional e turístico destes monumentos históricos, buscando-se garantir, portanto, a sua preservação. Existe em torno das fortificações um conjunto potencial de informações tão abrangente, e de áreas tão diversificadas, que somente por intermédio dos recursos computacionais multimídia estas informações poderiam ser reunidas e acessadas de forma seletiva e ao mesmo tempo integrada, com enormes vantagens sobre outros suportes de informação mais convencionais. Um outro desafio que nos era imposto estava em disponibilizar simultaneamente este conteúdo enciclopédico a públicos também tão diversos quanto: leigos, turistas, estudantes de primeiro e segundo graus, estudantes universitários, professores de escolas e universidades, jornalistas, guias de turismo, arquitetos e engenheiros, pesquisadores, restauradores, historiadores, e profissionais em geral da área de patrimônio cultural e ambiental, entre outras especialidades, sem subestimar nenhuma destas categorias. Por intermédio do CD-ROM Fortalezas Multimídia, as fortificações da Ilha de Santa Catarina, e ainda outras 450 fortificações no Brasil e no Mundo, são disponibilizadas através de mais de três mil páginas de textos, duas mil fotografias e ilustrações antigas, dezenas de mapas, plantas e animações, vinte e três vídeos, trilha sonora original, glossário técnico, bibliografia comentada, linha do tempo contextualizada, biografias, vistas panorâmicas em 360 graus, passeios interativos em 3D com o uso de realidade virtual, podendo-se acessar ainda reproduções digitais de documentos originais, textuais e iconográficos, entre outros conteúdos. São 630 Mb de informação, distribuídos por 146 seções temáticas, conteúdo que pode ser impresso, editado e ainda permanentemente atualizado via Internet. A pesquisa para compor os conteúdos do CD-ROM se deu em fontes primárias - relatórios de pesquisa arqueológica, documentos textuais e iconográficos de arquivos militares, institutos e bibliotecas bem como em fontes secundárias, através de livros e publicações diversas, sites de Internet e pela nossa própria experiência adquirida em função da atuação na área de preservação e no acompanhamento das obras de restauração das fortificações catarinenses. Entre os muitos resultados já perceptíveis deste trabalho, podemos citar: os avanços realizados nas pesquisas sobre os aspectos históricos, arqueológicos e arquitetônicos das fortificações militares no Brasil e no mundo, com a criação de um dos maiores bancos de dados jamais construído sobre estes monumentos; o resgate da memória de anos de intervenções de restauro, buscando recuperar não só o registro das técnicas, metodologias e filosofias de 6
7 restauração empregadas nas obras ao longo dos anos, mas documentando também as técnicas construtivas originais utilizadas nos monumentos; a criação de um suporte único e seletivo de dados, permitindo que públicos bastante diferenciados, independente de idade, escolaridade, interesse ou profissão, tenham acesso a vários níveis de informação, com diferentes graus de complexidade. O uso da hipermídia permite que se avance nos conteúdos do CD-ROM de acordo com o interesse do usuário, possibilitando o aprofundamento dos temas abordados de forma seletiva, gradual e não linear; a possibilidade de integração entre os conteúdos do Multimídia com a Internet, complementando e/ou expandindo as informações contidas na obra, e permitindo ainda agrupar conteúdos sobre patrimônio cultural que se encontram dispersos em vários sites na Internet; a possibilidade de atualização permanente dos conteúdos do CD-ROM de forma automática, podendo ser realizada em tempo real ou através de download pela Internet; a interatividade conseguida com a criação de uma janela de Internet inserida no interior da Interface do CD-ROM, solução que acreditamos inédita mesmo em multimídias produzidos fora do Brasil. Através deste recurso, uma página personalizada da Internet, acessada exclusivamente pelo CD- ROM, é trazida para dentro do Multimídia, permitindo um contato mais direto entre a Universidade e o usuário do CD-ROM, que pode assim receber, de forma on-line, informações sobre atualidades, agenda de eventos, assistir videoconferências, visualizar imagens ao vivo das fortificações, entre outros recursos, sem abandonar o contexto de navegação do Multimídia. Esta solução peculiar, aliada à atualização por download via Internet, fazem do CD-ROM uma obra viva e permanentemente atualizada; as fantásticas possibilidades da utilização da realidade virtual e das vistas panorâmicas empregadas no CD-ROM para a recriação de cenários não mais existentes nas fortificações, bem como no estudo de ambientes ainda não construídos, com um grau de interatividade surpreendente. Além de se constituírem em recursos de grande apelo lúdico, como alternativa complementar de visitação virtual de monumentos e acervos museológicos, constituem-se em uma ferramenta de projeto de grande importância na avaliação do impacto de futuras intervenções sobre o patrimônio edificado; a democratização do acesso público aos acervos iconográficos e de documentos textuais, antes restrito à especialistas e pesquisadores. Mesmo estes profissionais foram favorecidos pela sistematização digital dos documentos contidos no CD-ROM, contribuindo também para a preservação daqueles acervos em função da redução do contato físico com os documentos originais; a sistematização das informações sobre os bens culturais, antes dispersas ou mesmo indisponíveis, favorecendo ainda as ações de gestão e de preservação 7
8 do patrimônio, instrumentalizando as instituições preservacionistas, bem como aquelas diretamente mantenedoras do bem cultural; a conscientização social da relevância cultural dos bens culturais, difundindo o turismo educativo, destacando a importância da preservação do patrimônio cultural e ambiental, ampliando o número de visitantes e contribuindo para a preservação das fortificações históricas. Fundamental também tem sido a utilização do CD-ROM como instrumento de educação patrimonial e de ensino da história catarinense e do Brasil, visto que a obra já foi adotada pelo órgão estadual de educação do Estado, estando disponível em todas as escolas da rede pública de ensino. Diga-se de passagem, a UFSC distribuiu gratuitamente mais de 5 mil exemplares desta obra para as instituições culturais, de educação e preservação em todo o Brasil. 7- Conclusão Podemos concluir que as fortificações catarinenses vêm passando por um processo de recuperação e valorização gradual e crescente, fruto tanto de intervenções físicas de restauração, quanto de ações continuadas de revitalização, notadamente na área da difusão cultural, que são os instrumentos de preservação que podem garantir a perpetuação dos bons resultados obtidos até o presente momento. Podemos afirmar, com toda a segurança, que tão importante quanto a restauração e a re-funcionalização dos monumentos, está a difusão das informações sobre estas construções e sobre os demais bens culturais a elas associados, bem como a aplicabilidade dos resultados de seu estudo em ações de cunho educacional, cultural e turístico. Afinal, como diz o velho bordão preservacionista no Brasil: só se preserva o que se ama, mas só se ama o que se conhece. Neste contexto, a sistematização e difusão das informações em meio digital - CD-ROM, banco de dados e Internet, de forma integrada - vêm já possibilitando a democratização do acesso ao conhecimento, permitindo a otimização do potencial educacional, cultural e turístico das fortificações históricas, e dos demais bens culturais materiais e imateriais a elas associados, e necessitam agora, em última instância, se consolidar como instrumentos indispensáveis de gestão deste patrimônio cultural. 8- Bibliografia MACHADO, Rosângela Maria de Melo. Fortalezas da Ilha de Santa Catarina: um Panorama. Florianópolis: Imprensa Universitária da UFSC, TONERA, Roberto. Fortalezas Multimídia. Florianópolis: Editora da UFSC, Projeto Fortalezas Multimídia, 2001 (CD-ROM). * O autor é arquiteto da Universidade Federal de Santa Catarina, responsável técnico pelas obras de restauração das fortalezas de Santa Catarina e autor do CD-ROM Fortalezas Multimídia. 8
9 Contatos: Arquiteto Roberto Tonera Coordenador do Projeto Fortalezas Multimídia Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário S/N - ETUSC/UFSC Florianópolis SC Brasil Telefones: (55 48) ou (55 48) Fax: (55 48) projeto@fortalezasmultimidia.com.br Internet: 9
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