Supremo Tribunal Federal

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1 RECLAMAÇÃO GOIÁS RELATOR : MIN. EDSON FACHIN RECLTE.(S) :SINDICATO DOS POLICIAIS CIVIS DE GOIÁS - SINDPOL ADV.(A/S) RECLDO.(A/S) ADV.(A/S) INTDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) :BRUNO AURÉLIO RODRIGUES DA SILVA PENA :TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS :ESTADO DE GOIÁS :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE GOIÁS DECISÃO: O Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás opõe reclamação constitucional em que alega ofensa à decisão desta Corte no julgamento da ação direta de inconstitucionalidade A ação direta referida foi julgada em e o acórdão restou assim emendado: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS DA LEIS TOCANTINENSES NS /2007 E 1.861/2007 REVOGADOS PELAS LEIS TOCANTINENSES NS /2007 E 1.868/2007. REAJUSTE DE SUBSÍDIOS DE SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. DIREITO ADQUIRIDO. ARTS 5º, INC. XXXVI E 37, INC. XV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. Ação conhecida quanto ao art. 2º da Lei n /2007 e o art. 2º da Lei n /2007. Ausência de impugnação específica dos outros dispositivos das leis. Arts. 3º e 4º da Lei n / Diferença entre vigência de lei e efeitos financeiros decorrentes de sua disposição. Vigentes as normas concessivas de aumentos de vencimentos dos servidores públicos de Tocantins, os novos valores passaram a compor o patrimônio de bens jurídicos tutelados, na forma legal diferida a ser observada. 3. O aumento de vencimento legalmente concedido e incorporado ao patrimônio dos servidores teve no mês de janeiro de 2008 o prazo inicial para início de sua eficácia financeira. O termo fixado, a que se refere o 2 do art. 6 da Lei de Introdução ao Código Civil,

2 caracteriza a aquisição do direito e a proteção jurídica que lhe concede a Constituição da República. 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei tocantinense n /2007 e do art. 2º da Lei tocantinense n /2007. (ADI 4013, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 31/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-078 DIVULG PUBLIC ). O Reclamante narra que ajuizou a ação civil pública n.º , em face do Estado de Goiás, com objetivo de impor àquela unidade federativa a obrigação de arcar com o reajuste, a título de recomposição salarial, para as categorias dos policiais civis, no percentual de 12,33%, tal como previsto no art. 1º, II, das Leis Estaduais n.º /14, /14 e /14. Argumenta que os referidos diplomas, aprovados em abril de 2014, estipulavam recomposição salarial a ser implementada sucessivamente no mês de novembro nos anos de 2014, 2015, 2016 e Após adimplemento da primeira parcela, em novembro de 2014, sobreveio a publicação, em , da Lei Estadual n.º , que adiou a implementação da segunda etapa do reajuste para dezembro de O juízo de primeiro grau da 3ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Goiânia negou o pedido de liminar formulado pelo Reclamante no âmbito da ação civil pública. Tal decisão foi objeto de agravo de instrumento, ao qual a Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça daquele Estado negou provimento, em acórdão assim ementado: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL PÚBLICA. REVISÃO ANUAL DOS SERVIDORES. ADIAMENTO. TUTELA ANTECIPADA. LEI N /97 C/C LEI N /2009. IMPOSSIBILIDADE. Tratando-se de pagamento de qualquer natureza a servidor público, vedada é a concessão do benefício em sede de tutela antecipada contra a Fazenda Pública, por força das restrições impostas no artigo 2º-B 2

3 da Lei n /97 e no artigo 7º, 2º, da Lei n /09. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento n , Relator Desembargador Walter Carlos Lemes, 3ª Câmara Cível do TJGO, julgado em 12/04/2016). O Reclamante sustenta que houve descumprimento da orientação firmada por esta Corte no julgamento da ADI 4013, no sentido da inconstitucionalidade das leis editadas supervenientemente à aquisição de direito à recomposição salarial de servidores. Aduz que houve desrespeito aos princípios da segurança jurídica, do direito adquirido e da irredutibilidade de subsídios. Com base nesses argumentos, requer a procedência da presente Reclamação, para cassar o Acórdão proferido pela 3ª Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, nos autos do Agravo de Instrumento n.º ( ), que decidiu pelo não provimento do mesmo, mantendo, então, a decisão a quo, que indeferiu a tutela provisória que pedia o pagamento do reajuste geral anual de 12,33% conforme estabelecido nas Leis Estaduais n.º /2014, /2014 e /2014, por se tratar de direito adquirido dos servidores representados pelo Reclamante, desafiando o que foi decidido por esta Corte Suprema na ADI (edoc 1, p. 14). É, em síntese, o relatório. Decido. A reclamação destina-se a preservar a competência e a autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal quando ocorrer a usurpação de sua competência ou, nos termos do art. 102, 2º, da CR, quando decisões judiciais ou atos administrativos contrariarem decisão proferida por esta Corte em sede de controle concentrado de constitucionalidade ou que, nos termos do art. 102, 3º, também da CR, contrariem o enunciado de súmula vinculante. Não restam dúvidas que medidas tendentes a desobedecer ao comando expresso desta Corte devem ser censuradas, não apenas em razão do que restou decidido quando do julgamento da ADI 4.013, mas, 3

4 também, pelo fato de que tal entendimento confirma consagrada jurisprudência desta Corte que salvaguarda o princípio da irredutibilidade de vencimentos dos servidores públicos como garantia constitucional. Consabido que o direito adquirido, assim compreendido enquanto pressuposto que assegura a segurança jurídica, é oponível também à lei. Neste sentido: EMENTA: I. Recurso extraordinário: letra a: possibilidade de confirmação da decisão recorrida por fundamento constitucional diverso daquele em que se alicerçou o acórdão recorrido e em cuja inaplicabilidade ao caso se baseia o recurso extraordinário: manutenção, lastreada na garantia da irredutibilidade de vencimentos, da conclusão do acórdão recorrido, não obstante fundamentado este na violação do direito adquirido. II. Recurso extraordinário: letra a: alteração da tradicional orientação jurisprudencial do STF, segundo a qual só se conhece do RE, a, se for para dar-lhe provimento: distinção necessária entre o juízo de admissibilidade do RE, a - para o qual é suficiente que o recorrente alegue adequadamente a contrariedade pelo acórdão recorrido de dispositivos da Constituição nele prequestionados - e o juízo de mérito, que envolve a verificação da compatibilidade ou não entre a decisão recorrida e a Constituição, ainda que sob prisma diverso daquele em que se hajam baseado o Tribunal a quo e o recurso extraordinário. III. Irredutibilidade de vencimentos: garantia constitucional que é modalidade qualificada da proteção ao direito adquirido, na medida em que a sua incidência pressupõe a licitude da aquisição do direito a determinada remuneração. IV. Irredutibilidade de vencimentos: violação por lei cuja aplicação implicaria reduzir vencimentos já reajustados conforme a legislação anterior incidente na data a partir 4

5 da qual se prescreveu a aplicabilidade retroativa da lei nova. (RE , Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/2003, DJ PP EMENT VOL PP RTJ VOL PP-00292). Grifos nossos. Conclui-se, portanto, que constituem direito adquirido das categorias contempladas pelas Leis Estaduais n.º /14, /14 e /14 os sucessivos reajustes a elas concedidos pelas normais mencionadas. Contudo, pelo que se tem da inicial da presente reclamação, ao menos por ora, não houve ofensa, pela Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás, quando do julgamento do agravo de instrumento n , ao quanto decidido no julgamento da ADI De fato, não há decisão judicial que consubstancie a afronta ao entendimento desta Corte. Embora, em tese, possa-se vislumbrar potencial ofensa, é preciso ter-se em conta que a reclamação não ostenta natureza preventiva, porquanto, sendo a ordem desta Corte de cumprimento vinculante (art. 102, 2º, da CRFB), não é lícito supor que a autoridade pública aja em violação à lei, sob pena de inversão da presunção iuris tantum de legitimidade de que gozam seus atos. Nesse sentido, confira-se: E M E N T A: RECLAMAÇÃO ALEGADO DESRESPEITO AO ENUNCIADO CONSTANTE DA SÚMULA VINCULANTE Nº 14/STF INOCORRÊNCIA ELEMENTOS INFORMATIVOS PRODUZIDOS PELA AUTORIDADE JUDICIÁRIA RECLAMADA QUE ATESTAM O PLENO ACESSO DOS ADVOGADOS CONSTITUÍDOS AOS AUTOS DA PERSECUÇÃO PENAL PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE VERACIDADE DESSAS INFORMAÇÕES OFICIAIS PRECEDENTES SUPOSTA TRANSGRESSÃO À AUTORIDADE DA SÚMULA VINCULANTE Nº 11/STF 5

6 EFETIVA DEMONSTRAÇÃO, PELO MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU, DA NECESSIDADE, NO CASO, DO USO DE ALGEMAS PRECEDENTES PARECER DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA IMPROCEDÊNCIA DA RECLAMAÇÃO RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. (Rcl AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 04/11/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG PUBLIC ). No caso em tela, tanto na decisão monocrática, quanto no julgamento do agravo de instrumento, a medida buscada pelo Reclamante foi negada diante do óbice imposto pelo art. 2º-B, da Lei n /97, e pelo art. 7º, 2º, da Lei n /09, que não autorizam concessão de aumento ou extensão de vantagem a servidor público mediante decisão judicial liminar. Não houve, portanto, desrespeito ao entendimento esposado na ADI Verifica-se, portanto, que a hipótese em que o Reclamante objetiva aplicar o entendimento referido não guarda exata similitude com o que restou decidido pelo Tribunal. A reclamação, neste caso, revela-se inviável, porque a jurisprudência desta Corte exige a aderência estrita entre as duas situações: EMENTA Agravo regimental na reclamação. Súmula Vinculante nº 44. Ausência de aderência estrita entre o ato reclamado e o paradigma da Corte. Agravo regimental não provido. Agravo regimental não provido. 1. A aderência estrita do objeto do ato reclamado ao conteúdo das decisões paradigmas é requisito de admissibilidade da reclamação constitucional. 2. A reclamação não é meio processual adequado para o reexame do mérito da demanda originária. 3. Agravo regimental não provido. (Rcl AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 13/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe- 034 DIVULG PUBLIC ). 6

7 Ementa: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ALEGADO DESCUMPRIMENTO DO DECIDIDO NA ADI 4638 (REL. MIN. MARCO AURÉLIO) NO QUE SE REFERE À IMPOSSIBILIDADE DE AFASTAMENTO CAUTELAR DE MAGISTRADO ANTES DA INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. AUSÊNCIA DE ESTRITA ADERÊNCIA ENTRE O DECIDIDO NO ATO RECLAMADO E NO PARADIGMA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (Rcl AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 22/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-259 DIVULG PUBLIC ). Ante o exposto, com fundamento no art. 21, 1º, do RISTF, nego seguimento à reclamação. Registre-se que o reclamante não cumpriu integralmente os requisitos da petição inicial, deixando de recolher as custas (art. 290 do CPC). Nada obstante, ante o indeferimento da inicial, deixo de determinar sua emenda, nos termos do art. 321 do CPC. Advirta-se o reclamante, porém, que, caso haja interposição de recurso desta decisão, seu conhecimento fica condicionado ao saneamento do defeito juntamente com a peça recursal (CPC/2015, art. 292, 3º). Publique-se. Intime-se. Brasília, 05 de setembro de Ministro EDSON FACHIN Relator Documento assinado digitalmente 7