DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL Época Especial 9 Novembro 2013

Transcrição

1 DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL Época Especial 9 Novembro 2013 Imagine a seguinte situação: I A sociedade Tijolos e Telhas, SA, com sede em Aveiro, forneceu equipamentos a António, residente em Ovar no montante de ,00. Sucede que foi emitida a respectiva factura e àquele enviada que não procedeu ao pagamento da mesma. A sobredita sociedade contacta-o no sentido de recuperar a quantia supra referida. 1. Indique qual o mecanismo de que lançaria mão e qual o tribunal competente. Partindo do pressuposto que António é comerciante: Injunção artº 7º D.L. 269/98 de 1 de Setembro Balcão Nacional de Injunções artº 1º e 3º da Portaria nº 220-A/2008, de 4 de Março. Caso entenda que António não é comerciante Ação declarativa de condenação artº 4º, nº2, al. b) CPC Tribunal Comarca do Baixo Vouga Juízo de Grande Instância Cível de Aveiro D.L. 25/2009, de 26 de Janeiro 2. António foi notificado, dia 5 de Junho para proceder ao pagamento da quantia em dívida, acrescida de taxa de justiça e juros. Até quando poderá deduzir oposição? - Injunção Prazo de 15 dias artº 12º, nº 1 do D.L. 269/98 de 1 de Setembro Até ao dia 20/06/ Ação declarativa: Prazo de 30 dias artº 486º CPC Até ao dia 5/07/2013 II

2 Imagine a seguinte situação: António tinha a sua viatura estacionada na rua dos Milagres, em Coimbra, quando de repente vem à janela e se apercebe que João, de 16 anos que estava a jogar basquetebol na rua, lhe partiu o pára-brisas do carro e lhe causou uma grande moça no mesmo. A bola atinge ainda Bernardo que circulava na sua mota, tendo originado o seu despiste. Em virtude do acidente o mesmo esteve internado durante 15 dias e foi submetido a duas intervenções cirúrgicas, tendo ficado portador de uma incapacidade permanente. Desta feita, António decide intentar uma ação contra João peticionado o ressarcimento de danos, no montante de , Indique qual o tipo de acção. 1 Valor Ação declarativa de condenação, nos termos do artigo 4.º, n.º 2, alínea b) do CPC. 2. Aprecie os pressupostos processuais da acção. 5 Valores Personalidade judiciária: António e João sendo uma pessoa física, tem personalidade jurídica, logo tem também personalidade judiciária (5.º, n.º2, CPC). Capacidade judiciária: António, sendo uma pessoa singular, e não havendo qualquer indicação de que seja menor de idade ou sofra de qualquer incapacidade de exercício, tem capacidade judiciária cfr. artº 9.º, n.º 2, CPC. Pode pois estar por si em juízo. Não sucede o mesmo com João, que é menor, pelo que teria de estar representado em juízo cfr. artº 9º, nº2 e 10º CPC. Legitimidade: António é o titular do direito de crédito que pretende fazer valer em juízo, tal como alega na ação, pelo que tem interesse direto numa decisão favorável. É parte legítima nos termos do artigo 26.º, n.ºs 1 e 3. João é titular de legitimidade passiva tem interesse direto em contradizer cfr. artº 26º, nº1 CPC. Interesse em agir: João é titular do direito de crédito, direito esse que, não sendo voluntariamente satisfeito pelo devedor, carece de uma decisão judicial para ser efectivado.

3 Patrocínio judiciário: A ação, dado o valor da causa, admite recurso ordinário, pelo que o patrocínio judiciário é obrigatório, nos termos do artigo 32.º, n.º 1, alínea a). Tribunal Competente: A ação deveria ser intentada no Tribunal Judicial de Coimbra, nos termos do artigo 74º, nº2. 3. Imagine que o mandatário do António foi notificado, electronicamente, para apresentar os meios de prova no passado dia 20 de Março. Quando terminou o seu prazo? 2 valores Caso entenda que foi elaborada a 19/3 Prazo: 15 dias artº 512º Até ao dia 15/4/2013. A notificação presume-se realizada no dia 22 de Março artº 254, nº 5 CPC e artº 21-A, nº 5 da Portaria 114/2008, de 6 de Fev. A contagem do prazo suspende-se durante as férias judiciais no caso férias judiciais da Páscoa artº 12º da Lei 3/99. Em virtude de o termo do prazo ocorrer num Domingo, transfere-se para o dia útil seguinte artº 279º, e) CPC. Caso entenda que foi expedida a 19/3 Prazo: 15 dias artº 512º Até ao dia 12/4/ Imagine que António lhe conferiu procuração com poderes gerais para o representar e que este está ausente na audiência de discussão e julgamento. Nesta, o mandatário de João pretende chegar a um entendimento e ressarcir grande parte dos danos. Uma vez que não dispõe de qualquer prova, entende que aquela proposta é a melhor. Como procede? Sendo a transação possível (art.º 293, n.º 3 do CPC) e devendo constar de documento autêntico ou particular ou ser feita por termo no processo (art.º 300º n.º 1 do CPC), podia: - Outorgar a transação como mandatário do A., ficando a sua validade dependente da posterior ratificação por parte desta (art.º 301º, n.º 3 do CPC), em virtude de apenas lhe terem sido conferidos poderes gerais (art.º 37º, n.º 2 do CPC); - Em conjunto com o mandatário do R., pedir ao juiz a suspensão da instância (art.º 276º, n.º 1, al. c) do CPC), indicando logo o prazo necessário dentro dos limites da lei (art.º 279º, n.º 4 do CPC).

4 5. Imagine agora que António teve uma reunião consigo e o injuriou, tendo abandonado o seu escritório e não responde aos seus contactos há mais de 1 mês. A audiência de discussão e julgamento foi agendada para o próximo dia 15 de Novembro. O que faria? Minute (sem nunca indicar o seu nome) o que achar por conveniente. Renúncia ao mandato cfr. artº 39º CPC 1 valor 2 valores para o requerimento: Exmo. Senhor Juiz de Direito 1º juízo, 2ª secção - proc. XXXXX PORTO XPTO, mandatário constituído por António, nos autos em referência, vem renunciar ao mandato que aquele lhe conferiu, nos temos do art. 39º CPC. TERMOS EM QUE, junto este aos autos, requer a V. Exa. se digne ordenar a notificação pessoal do mandante desta renúncia, com a cominação de que, no prazo de 20 dias, deverá constituir novo mandatário nos autos, sob pena de se suspender a instância. Junta: cópia O Mandatário Renunciante Assinatura com carimbo

5 Considere a seguinte hipótese: III Em Aníbal, maior, solteiro e residente no Porto, por contrato escrito, deu de arrendamento a Bento, casado, uma fracção autónoma sita em Loulé destinada à sua habitação permanente, tendo sido convencionado, no contrato, que a renda mensal de 150 a pagar até ao dia 8 do mês a que diga respeito. O prazo convencionado para a duração do contrato foi de 3 anos. Acontece, porém, que: a) Desde Janeiro de 2013 até à presente data que Bento paga as rendas mensais no dia 16 de cada mês; b) Acresce que Bento não pagou as rendas correspondentes aos meses de Fevereiro, Abril e Maio de Pergunta-se: 1. Quais os direitos de Aníbal perante os incumprimentos acima identificados? a) A mora no pagamento das rendas, quando superior a 8 dias, por mais de 4 vezes seguidas ou interpoladas no período de 12 meses, confere ao senhorio a possibilidade de resolver o contrato (artigo 1083.º, nº 4 CC). Considerando que as partes convencionaram que o pagamento das rendas seria efetuado até ao dia 8 de cada mês, pode presumir-se que as partes quiseram convencionar o dia 8, como o dia de vencimento das rendas. Partindo desta presunção (pois o contrato não contempla isso expressamente), sendo a renda paga ao dia 16 de cada mês, a mesma não confere o direito à resolução do contrato de arrendamento (1084.º, nº 4 CC a contrario ) nem o direito a exigir a indemnização prevista no artigo 1041.º, nº 1 e 2 CC. Por outro lado, pode ainda considerar-se como resposta a seguinte: considerando que a renda se vence no 1º dia útil de cada mês e que as partes convencionaram que a mesma pode ser paga até ao dia 8 de cada mês (no enunciado é isto que refere), qualquer pagamento posterior ao dia 8, é considerado como mora no pagamento das rendas, mora essa que já não se encontrará protegida pela norma do artigo 1041º, nº 1 e 2, mas contemplada na prática superior a 4 vezes (no caso seguidas) no pagamento da renda e por isso conferindo ao senhorio o direito a resolver o contrato de arrendamento nos termos do artigo 1083.º, nº 4 CC. b) No que respeita à alínea b), verificando-se a falta de pagamento das rendas correspondentes aos meses de fevereiro, abril e maio de 2013, verifica-se a existência de mora no pagamento das rendas superior a 2 meses, mesmo que as rendas relativas aos meses subsequentes tivessem sido pagas, como parece ser o caso. Este incumprimento confere ao senhorio Aníbal a possibilidade de exigir o valor em divida acrescido dos legais juros de mora até efetivo e integral pagamento. Para o efeito, deverá comunicar o valor em divida ao arrendatário, sendo que essa comunicação se efetuada através de carta registada com aviso de receção e

6 acompanhada pelo respetivo contrato de arrendamento, confere ao senhorio a possibilidade de apresentar a correspondente ação executiva para pagamento de quantia certa (artigos 14.º-A, 9.º, nº 1 do NRAU e 46.º, alínea d) CPC). No caso em análise verifica-se que ao senhorio já não assiste a possibilidade de resolver o contrato, tendo tal direito caducado nos termos do artigo 1085.º, nº 1 e 2 do CC. 2. Admitindo que a falta de pagamento das rendas acima indicadas é fundamento de resolução extrajudicial do contrato por parte de Aníbal, explicite a forma de concretizar tal resolução, enumerando os procedimentos para esse efeito. Explicar o artº 1084º, nº 2 a 4 e o regime da comunicação previsto no artº 9º, nº 7 do NRAU.