EVOLUÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO TIETÊ ENTRE PIRAPORA DO BOM JESUS E SALTO, ESTADO DE SÃO PAULO
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1 EVOLUÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO TIETÊ ENTRE PIRAPORA DO BOM JESUS E SALTO, ESTADO DE SÃO PAULO João Rafael Bergamaschi Tercini 1 * & Arisvaldo Vieira Méllo Júnior 2 & Monica Ferreira Porto 3 Resumo O trecho a jusante da barragem de Pirapora até Salto, com pouco mais de 80 km de extensão, é conhecido por apresentar o fenômeno de formação de espumas, águas mal cheirosas e mortandade de peixes, isso devido a receber o aporte de carga de toda região metropolitana de São Paulo. Foi avaliado nesse artigo a evolução dos parâmetros de OD e DBO5,20 ao longo da série histórica de monitoramento da CETESB, no período de 1978 a Foi verificado que a qualidade da água no trecho, em todos os postos, apresentou piora gradativa do início da série (1978) até o ano de 1993 e em seguida manteve-se estável até Deste ano até 2015 a análise indicou uma singela melhora. Palavras-Chave oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, monitoramento. EVOLUTION OF WATER QUALITY IN THE TIETÊ RIVER BETWEEN PIRAPORA DO BOM JESUS AND SALTO, SÃO PAULO STATE Abstract The downstream portion of the Pirapora s dam to Salto, with just over 80 km long, is known to present the phenomenon of foaming, smelly water and fish kills, that due to receive the load input of the entire metropolitan area from Sao Paulo. It was evaluated in this paper the evolution of DO and BOD5,20 parameters along the historical series of monitoring CETESB from 1978 to In circumstances where the water quality in the stretch, on all stations, has a gradual worsening of the start of the series (1978) by the year 1993 and then remained stable until From this year until 2015 there was a little improvement. Keywords dissolved oxygen, biological oxygen demand, monitoring. INTRODUÇÃO O reservatório de Pirapora, localizado na cidade de Pirapora do Bom Jesus, no estado de São Paulo, é conhecido por apresentar o fenômeno de formação de espumas nas estruturas de descarga devido ao aporte de carga de toda a Região Metropolitana de São Paulo. O reservatório também exerce a função de controle de inundações a jusante da barragem, especialmente da própria cidade de Pirapora do Bom Jesus e da Estrada dos Romeiros. Em dezembro de 2006 foi realizado um teste de rebaixamento controlado do reservatório, com monitoramento do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE) e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Previase rebaixar o nível de água gradativamente, até a cota do nível mínimo operacional 688 m (RN EPUSP). Devido às obras do rebaixamento da calha do Rio Tietê as vazões afluentes ao reservatório aumentariam e seria necessário estabelecer uma nova regra operativa a fim de amortecer as cheias e reduzir os impactos da mesma a jusante do reservatório. No entanto, no dia 25/12/2006, ao atingir a * 1 Mestre em Recursos Hídricos pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, joao.tercini@usp.br. 2 Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, arisvaldo@usp.br. 3 Professora do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, mporto@usp.br. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1
2 cota 690 m o teste foi interrompido devido à ocorrência de mortandade de peixes no Médio Tietê atribuída, pela Agência CETESB de Sorocaba, à contaminação das águas causada pelo rebaixamento efetuado. Segundo a EMAE, o centro de Operação do Sistema foi informado pelo operador da Usina de Porto Góes que havia uma grande quantidade de lodo afluindo à usina, o que vinha prejudicando a operação das unidades geradoras. A vazão máxima descarregada pela Barragem de Pirapora foi igual a 411 m³/s. A CETESB monitorou o evento e concluiu que as operações correspondentes às duas etapas do rebaixamento dos níveis do Reservatório de Pirapora não implicaram em nenhum impacto à qualidade do Rio Tietê a jusante do barramento (CETESB, 2007). Em visita de campo e em contato com técnicos da CETESB (Agência ITU) e da Empresa Águas de ITU foi determinado que a mortandade de peixes ocorreu no Rio Tietê, no dia 27/12/2006, a jusante da Usina de Porto Góes, nas proximidades da confluência com o Rio Itaim. Desde então, a EMAE não opera mais o reservatório de Pirapora nos níveis previstos pela regra de mitigação. Diante do evento ocorrido o reservatório de Pirapora foi considerado o causador da mortandade de peixes e da péssima qualidade da água descarregada que segue para jusante. Porém não houve indícios que comprovem que a operação do reservatório é a causadora da mortandade. Segundo Tercini (2014) o fato das águas que afluem o reservatório estarem tão poluídas que este (assim como os outros reservatórios do trecho estudado) agem como lagoas de estabilização e aeram as águas nos dissipadores de energia, dessa forma, melhorando a qualidade da água. Outro evento parecido ocorreu em 27/11/2014 onde o secretário de Meio Ambiente de Salto, João De Conti Neto, diz que ao menos 40 toneladas de peixes foram mortas pela manta de poluição que escureceu as águas do rio Tietê, sendo a maior mortandade de peixes já registrada no município de Salto (SIQUEIRA, 2014). O trecho a jusante da barragem de Pirapora até Salto, com pouco mais de 80 km de extensão, é um trecho muito poluído, no qual o IQA (índice de qualidade da água) passou de 22 no início do trecho para 36 no final do trecho, segundo CETESB (2013), ou seja, ambos estão classificados como ruins. Não obstante os eventos críticos de descarga do reservatório de Pirapora, este artigo tem o objetivo de avaliar a evolução dos parâmetros de OD e DBO5,20 nesse trecho ou longo da série histórica de monitoramento da CETESB, no período de 1978 a METODOLOGIA O estudo compreende o trecho do rio Tietê entre os municípios de Pirapora do Bom Jesus e Salto. A região está localizada no Estado de São Paulo, na porção de montante da bacia do Médio Tietê e Sorocaba (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos - UGRHI 10), destacando-se a área da sub-bacia correspondente ao trecho do rio Tietê estudado no presente trabalho, conforme a Figura 1. As condições de contorno inicial deste trabalho são o reservatório de Pirapora no rio Tietê e um ponto próximo à foz representando o rio Jundiaí. As variáveis da qualidade da água avaliadas foram oxigênio dissolvido (OD) e demanda bioquímica de oxigênio de 5 dias a temperatura de 20 ºC (DBO5,20). XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2
3 Figura 1 Localização da área de estudo no contexto brasileiro A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, CETESB, monitora o trecho desde 1978, possuindo cinco postos na região (Figura 2 e Tabela 1), dos quais três postos ainda estão ativos. Figura 2 - Pontos de monitoramento da CETESB. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3
4 Tabela 1 - Posto de monitoramento da qualidade da água da CETESB no trecho do rio Tietê. Posto Nome Descrição Município Início Fim TIPI Reservatório Próximo às comportas da barragem do Pirapora do de Pirapora Reservatório de Pirapora Bom Jesus TIET Ponte na Av. Maria de Oliveira Bueno, Pirapora do Rio Tietê em Pirapora do Bom Jesus Bom Jesus TIRG Reservatório Próximo das comportas do Reservatório Pirapora do de Rasgão de Rasgão. Bom Jesus TIET Jusante da Barragem da Usina Rio Tietê Hidrelétrica São Pedro, em Itu Itu A cerca de 300 m da ponte da Rodovia do TIET Rio Tietê Açúcar (SP-308), na Fazenda Santa Isabel. Salto A análise dos dados históricos de qualidade da água no trecho do rio Tiete teve foco nas variáveis de OD e DBO5,20. Analisando-se os dados da CETESB, ficou evidente que todos os postos têm frequência bimestral de coleta de dados. Outra característica é que para quaisquer quatro anos da série têm-se uma disponibilidade de, no mínimo, 20 dados para compor as estatísticas móveis, com exceção do OD no reservatório Pirapora, que apresentou ausência de dados entre 1986 e Isso devido ao fato que as análises são geralmente feitas no mesmo dia da coleta. Portanto considerou-se quatro anos um período adequado de dados para se gerar estatísticas moveis na série histórica. Para mostrar a variação da qualidade da água no tempo, os dados foram organizados de maneira cronológica e extraído o primeiro e o terceiro quartil de um conjunto móvel dos dados de quarto anos de intervalo de tempo. Dessa maneira fica nítida a região que engloba 50% dos dados nesse período de quatro anos, sendo essa região inserida no meio do intervalo de tempo. Esse gráfico foi denominado de diagrama de caixa temporal, que visa evidenciar mudanças na qualidade da água que não estão correlacionadas com regime de vazões (período seco ou úmido) ou outra forma de sazonalidade, e sim evidenciar mudanças de outros fatores como aumento ou diminuição do aporte de carga orgânica. Os dados de qualidade da água foram extraídos do sistema InfoÁguas da CETESB ( que possibilita o acesso a essas informações, colocando à disposição dos usuários dados de monitoramento de qualidade dos rios e reservatórios, num total de 356 pontos de amostragem. RESULTADOS Na Figura 3 apresentam-se os diagramas de caixa temporal para cada posto de monitoramento da CETESB no trecho do rio Tietê. Cada ponto do gráfico representa uma amostragem realizada, ou seja, a data em que foi realizada e o valor conferido. A região cinza do gráfico representa a área mais provável, englobando 50% dos dados num período de 4 anos. Em outras palavras, para cada mês foi utilizado dois anos à frente e dois anos anteriores para se encontrar o primeiro quartil dos 4 anos de dados representado pela parte inferior da região cinza. A parte superior da mesma região representa o terceiro quartil dos dados. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4
5 Figura 3 - Diagramas de caixa temporal para os postos de monitoramento do trecho. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5
6 As séries históricas dos postos do trecho em questão mostram que nos últimos 20 anos os parâmetros apresentaram valores dentro de uma faixa estreita de variação, onde basicamente os valores de DBO5,20 partem de uma faixa entre 20 a 40 mg/l, no Reservatório de Pirapora, e alcançam no final do trecho (município de Salto) valores numa faixa entre 10 e 20 mg/l. Este fato revela a importância da autodepuração proporcionada pelo ecossistema aquático neste trecho do rio. Ressaltase também que neste trecho não ocorre grandes aportes de carga orgânica exceto na confluência do rio Jundiaí com o rio Tietê, no município de Salto No que diz respeito ao OD, observam-se que o reservatório Pirapora passou praticamente 15 anos (de 1990 a 2005) em condições de anaerobiose e vem melhorando desde O processo de redução de OD pode estar relacionado à suspensão da reversão das águas dos rios Tietê e Pinheiros para o rio Cubatão na vertente marítima, a partir de novembro de 1992, em cumprimento ao Artigo 46 da Resolução Conjunta SMA/SES nº3 de 04/09/92. Essa resolução impediu o bombeamento das águas na Estação Elevatório de Pedreira do rio Pinheiros para o reservatório Billings, que, por sua vez, eram encaminhadas para Usina Hidrelétrica Henry Borden para geração de eletricidade, em regime de fluxo normal. Em regime de cheia o bombeamento é permitido a fim de minimizar risco de inundações. Outro aspecto que pode ter influenciado positivamente a qualidade da água, quanto às variáveis OD e DBO, foi o Projeto Tietê, que visa expandir a coleta e o tratamento de esgoto da RMSP. O posto a jusante do reservatório vem comprovar a aeração devido os dissipadores de energia, em que se pode ver que passam de zero para concentrações da ordem de 4,5 mg/l. Os trechos próximos a Itu e Salto apresentaram concentrações de OD compatíveis com sua classe (Classe 2, OD 5, Resolução CONAMA n. 357/2005), porém esse fator pode ter influência da aeração da descarga do reservatório de São Pedro e Porto Góes. O mesmo efeito pode ser atribuído à elevadas concentrações de OD a jusante da barragem de Pirapora. CONCLUSÕES A análise da evolução da qualidade da água, no período de 1978 a 2015, baseada no intervalo interquartil móvel com intervalo de quatro anos, para os parâmetros DBO5,20 e OD indicou uma piora gradativa do início da série até o ano de 1993, em todo trecho, mas com maior intensidade no início do trecho (nas proximidades do reservatório de Pirapora e da RMSP). De 1993 a 2005 os reservatórios de Pirapora e Rasgão permaneceram em condições de anaerobiose. Neste período houve estabilidade na concentração dos parâmetros ao longo do trecho analisado e a partir de 2005 houve uma ligeira melhora. Apesar da recente melhora da qualidade da água entre Pirapora do Bom Jesus e Salto, as concentrações de DBO5,20 ainda estão muito abaixo do requerido para a classe 3 (menor que 10 mg/l), podendo-se enquadrar o trecho na classe 4. Nos pontos de monitoramento localizados a jusante dos reservatórios de Pirapora, São Pedro e Porto Góes o OD apresentou concentrações elevadas, o que permite enquadrá-los como classe 2 ou 3. Esses valores são influenciados pelas estruturas de descarga dos barramentos que causam a aeração da água. Os valores medidos nos reservatórios apresentam foram menores do que 2 mg/l que sequer pode ser atribuído como classe 4. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6
7 REFERÊNCIAS CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. (2013). Qualidade das águas superficiais no estado de São Paulo CETESB, São Paulo.. (2007). Informação Técnica Nº 001/07/EEQH. CETESB, São Paulo. CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente. (2005). Resolução nº 357, de 17 de março de CONAMA, Brasil. TERCINI, J. R. B. (2014). Modelagem da qualidade da água integrando rio e reservatório. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado em , de < SIQUEIRA, Chico. (2014). Salto retira 40 t de peixes mortos por poluição no Tietê. Jornal o Estado de São Paulo, Estadão Conteúdo. Recuperado em 01/12/2014, de < noticias/geral,salto -retira-40-t-de-peixes-mortos-por-poluicao-no- tiete, > XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7
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