II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO.
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1 II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO. Anaxsandra da Costa Lima (1) Graduanda em Engenheira Civil pela Escola Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC de Iniciação Científica UFRN. Maria del Pilar Durante Ingunza Professora do Programa de Pós-graduação em Engenharia Sanitária/UFRN Endereço (1) : Rua Aderbal de Figueiredo, 06 Petrópolis Natal - RN - CEP: Brasil - Tel: (84) anaxsandra_lima@yahoo.com.br RESUMO A praia de Areia Preta está situada no litoral urbano da região leste de Natal e abriga uma população residente de cerca de 2650 habitantes além da população flutuante constituída por turistas. A qualidade da água desta praia sofre variações de acordo com o lançamento ou não de um efluente de drenagem fluvial; tal efluente apresenta cor e odor que reforçam a suspeita de utilização da rede de esgotamento unitário. Para avaliar se a praia de Areia Preta, como corpo receptor, está sendo negativamente influenciada pelo lançamento, foram determinados três pontos de coleta ao longo do trecho de praia acessível ao banhista: um ponto localizado na linha de escoamento do lançamento final de uma rede de drenagem pluvial (Ponto 2), outro ponto a sua montante (Ponto 1) e o terceiro a sua jusante (Ponto 3); além desses, o efluente da manilha foi analisado, visando caracterização da possível fonte poluidora. A lei vigente que servirá de comparação para caracterizar a qualidade da água da praia de Areia Preta e do efluente é estabelecida pela Resolução nº 274 de 2000 do CONAMA. Os resultados confirmam que o sistema de esgotamento existente é unitário e que o ponto 2 é muito afetado pela descarga. PALAVRAS-CHAVE: Saneamento básico, Poluição de praias urbanas, Coliformes Termotolerantes e Totais, INTRODUÇÃO O Brasil apresenta uma área costeira com km de extensão, concentrando quase um quarto da população do País, cerca de 36,5 milhões de pessoas, que estão dispostas em mais de 400 municípios. Entre os municípios litorâneos, a cidade do Natal vem se tornando um dos maiores destinos turísticos do país, principalmente por causa do seu extenso litoral urbano. Inserida no rol de suas famosas praias urbanas, a praia de Areia Preta, se destaca, principalmente pó despertar um grande interesse imobiliário. A praia de Areia Preta está situada no litoral urbano da região leste de Natal (Figura 1) e abriga uma população residente de 2650 habitantes além da população flutuante constituída por turistas. O bairro de Areia Preta é parte integrante da área de Adensamento I da cidade, o que prevê uma densidade máxima de 300 hab/ha e coeficiente de aproveitamento máximo de 3,0; por tudo isso, essa região é um dos metros quadrados mais caros de Natal. Contudo, os serviços básicos de saneamento, como a coleta e tratamento dos esgotos domésticos, não têm se desenvolvido com a mesma aceleração, mesmo nos setores com atrativo turístico; segundo o IBGE (2000), aproximadamente 81,83% da população residente no bairro de Areia Preta dispõem de um tipo de esgotamento sanitário: rede geral de esgoto ou de águas pluviais. Este dado se torna mais preocupante tendo em vista estar a praia de Areia Preta localizada próxima ao centro da cidade, oferecer fácil acesso e ainda ser o destino final de uma rede de drenagem pluvial, constituindo, assim, um ponto de grande susceptibilidade à poluição causada pelo lançamento clandestino de esgotos domésticos, ainda que a,segundo o IDEMA (Instituto Desenvolvimento e Meio Ambiente) a praia de Areia Preta, quanto a balneabilidade, esteja classificada como própria. Dentro desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar as implicações da falta de saneamento na qualidade da água da praia de Areia Preta, analisando três pontos distintos do mar e o efluente da manilha ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
2 de drenagem pluvial, a fim de diagnosticar a ligação da poluição do mar com o que é lançado pela referida manilha. Figura 1. Vista aérea dos bairros de Areia Preta e Mãe Luiza na cidade do Natal. (FONTE: SEMURB, 2003) MATERIAIS E MÉTODOS Foram determinados três pontos de coleta ao longo do trecho de praia acessível ao banhista, a fim de caracterizar o grau de degradação da água: um ponto localizado na linha de escoamento do lançamento final de uma rede de drenagem pluvial (Ponto 2), outro ponto a sua montante (Ponto 1) e o terceiro a sua jusante (Ponto 3); a distância entre os pontos foi de cerca de 100 metros.além desses, o efluente da manilha de drenagem foi analisado, visando caracterização da possível fonte poluidora. O período de coletas foi de um ano - março de 2004 a fevereiro de compreendendo assim estações chuvosas e de estiagem. As amostras foram coletadas, quinzenalmente, em frascos esterilizados, aproximadamente a 30 cm da superfície, sendo a profundidade do local de cerca de 90 cm, o que representa, costumeiramente, a região mais utilizada pelos banhistas. Para o efluente da manilha, a freqüência das coletas é condicionada pela presença de vazão, não obedecendo, portanto, a freqüência estabelecida para os demais pontos. Os parâmetros analisados foram físico-químicos e microbiológicos. Na água do mar avaliou-se nitrito, fósforo e amônia; já no efluente da manilha avaliou-se nitrogênio total, orgânico e amônia. Em comum aos dois, foram analisados ph, temperatura e oxigênio dissolvido com uso de aparelho de campo; sólidos totais, fixos e voláteis, coliformes fecais (termotolerantes) e totais. A metodologia empregada em todos os parâmetros está de acordo com APHA et al, A lei vigente que servirá de comparação para caracterizar a qualidade da água da praia de Areia Preta está estabelecida pela Resolução nº 274 de 2000 do CONAMA, a qual avalia as águas doces, salobras e salinas destinadas à balneabilidade (recreação de contato primário) nas categorias própria e imprópria. Segundo o IDEMA, a praia de Areia Preta está enquadrada como própria. RESULTADOS As figuras 2 e 3 mostram o detalhe de acesso à praia e a manilha de drenagem pluvial, respectivamente. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
3 Figura 2: Detalhe do acesso ao trecho de praia de Areia Preta e da localização do primeiro ponto de coleta (próximo às formações rochosas à direita). Figura 3: Detalhe da manilha de água pluvial cuja linha de lançamento constitui ponto de coleta 2. A tabela 1 apresenta os resultados das análises do efluente da manilha de drenagem pluvial. Os parâmetros apresentam grande variação no decorrer do tempo. Tabela 1: Características do efluente da manilha de drenagem pluvial em Areia Preta. Parâmetro Unidade Média * Mínimo Máximo Oxigênio mg/l 0,35 0,22 0,41 Temperatura ºC 30,3 29,6 32,1 ph - 7,0 7,4 8,0 Sólidos Totais mg/l 846,0 689,0 1003,0 Sólidos Fixos mg/l 573,0 373,0 772,0 Sólidos Voláteis mg/l 274,0 231,0 316,0 Coliformes Termotolerantes UFC/ 100 ml 6,9x10 6 8x10 5 4,5x10 7 Coliformes Totais UFC/ 100 ml 1,0 x10 6 8x10 4 1,5x10 7 Nitrogênio Orgânico mg/l 16,0 14,0 20,0 NTK mg/l 25,0 22,4 28,0 Amônia mg/l 9,0 2,8 14,0 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
4 * Para coliformes termotolerantes e totais a média se refere à geométrica. Nas amostras da água do mar (pontos 1, 2 e 3) não foram encontradas concentrações de nitrito, fósforo e amônia. As concentrações de OD nos três pontos são semelhantes, contudo o ponto 3 apresenta concentrações sempre inferiores aos demais. A temperatura e o ph dos pontos 2 e 3 são semelhantes e sempre superiores ao ponto 1 As tabelas 2, 3 e 4 apresentam os resultados das análises realizadas nos três pontos da água do mar. Tabela 2: Características do Ponto 1 em Areia Preta. Parâmetro Unidade Média Mínimo Máximo Oxigênio mg/l 5,30 5,10 5,70 Temperatura ºC 27,34 26,50 28,50 ph - 8,12 7,43 8,63 Sólidos Totais g/l 57,25 20,35 98,31 Sólidos Fixos g/l 40,09 16,82 91,03 Sólidos Voláteis g/l 27,16 3,53 64,82 Tabela 3: Características do Ponto 2 em Areia Preta. Parâmetro Unidade Média Mínimo Máximo Oxigênio mg/l 5,21 4,50 6,00 Temperatura ºC 27,43 26,70 28,60 ph - 8,21 7,66 8,62 Sólidos Totais g/l 53,34 19,69 79,72 Sólidos Fixos g/l 28,11 15,49 34,13 Sólidos Voláteis g/l 24,13 3,08 46,22 Tabela 4: Características do Ponto 3 em Areia Preta. Parâmetro Unidade Média Mínimo Máximo Oxigênio mg/l 5,41 4,80 6,10 Temperatura ºC 27,36 26,80 27,90 ph - 8,21 7,65 8,62 Sólidos Totais g/l 52,61 22,23 75,86 Sólidos Fixos g/l 32,83 15,97 45,26 Sólidos Voláteis g/l 19,77 6,27 39,86 Quanto aos sólidos voláteis, que indicam presença de matéria orgânica, os pontos 2 e 3 apresentam concentração maior que o ponto 1. A quantidade de coliformes termotolerantes e totais do ponto 1 e 3 são semelhantes e pouco variam no tempo, já o ponto 2 apresentam resultados sempre superiores aos demais e uma variação grande no tempo. As figuras de 4 e 5 apresentam uma comparação entre os resultados obtidos em laboratório do três pontos da água do mar e o que está estabelecido na Resolução nº 274 do CONAMA, 2000, no tocante às águas próprias ao contato primário. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
5 Coliformes Termotolerantes (UFC/100 ml) Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 PRÓPRIA Figura 4: Comparação entre os resultados de Coliformes Termotolerantes com os valores máximos permitidos pela Resolução nº 274, CONAMA Coliformes Totais (UFC/100 ml) Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 PRÓPRIA Figura 5: Comparação entre os resultados de Coliformes Totais com os valores máximos permitidos pela Resolução nº 274, CONAMA. CONCLUSÕES Os resultados de coliformes termotolerantes e totais no ponto 1 e 3 apresentam pequena variação referente à coleta coincidente ou não com o lançamento de efluente da manilha. Isto se deve pelo fato de a vazão da manilha ser pequena, e sua carga poluidora ser diluída na corrente do mar. Nestes pontos a quantidade de coliformes está dentro do permitido pela legislação. Os resultados de coliformes termotolerantes e totais no ponto 2 variam drasticamente conforme o lançamento ou não do efluente, variando desde valores médios permitidos pela legislação (unidades formadoras de colônia de coliformes termotolerantes e totais iguais a 387 e 610, respectivamente) até valores superiores aos limites ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
6 para classificação da água salina como recomendável ao contanto primário, chegando a médias geométricas de coliformes termotolerantes e totais iguais a 1719 e 4403 UFC/100 ml, respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CONSELHO NACIONAL APHA-AWWA-WPCF (1998) Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 18th edition. Public Health Association Inc., New York, CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - CONAMA, Resolução nº HORA, Carlos Eduardo Pereira da, et al Conheça melhor seu Bairro: Areia Preta. Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo-SEMURB. Natal, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE, INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MEIO AMBIENTE IDEMA, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
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