OS PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS GERALMENTE ACEITES (POC vs. SNC) ALGUMAS DIVERGÊNCIAS DE OPINIÃO
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- Thalita Minho Lombardi
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1 OS PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS GERALMENTE ACEITES (POC vs. SNC) ALGUMAS DIVERGÊNCIAS DE OPINIÃO 28
2 Joaquim Fernando da Cunha Guimarães REVISOR OFICIAL DE CONTAS Introdução Os Princípios Contabilísticos Ponto de partida de uma Normalização Contabilística. A frase em destaque, extraída da tese de doutoramento do saudoso Professor Doutor Rogério Fernandes Ferreira 1, é bem elucidativa sobre a importância do tema na normalização contabilística. A expressão Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites (PCGA), traduzida de Generally Accepted Accounting Principles (GAAP) 2, tem sido uma das mais utilizadas no vocabulário contabilístico nacional e internacional. No presente artigo pretendemos abordar alguns aspetos concetuais no âmbito do regime contabilístico anterior (Planos Oficiais de Contabilidade de 1977 e de 1989 POC/77 e POC/89, respetivamente) e do atual (em vigor desde 1 de Janeiro de 2010) modelo contabilístico do Sistema de Normalização Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho. Assim, esta abordagem será efetuada com base essencialmente nas respetivas estruturas concetuais, destacando-se o seu enquadramento no macro-princípio da Imagem Verdadeira e Apropriada (IVA). Aproveitamos o ensejo para efetuar uma breve referência histórica ao impulso contabilístico dado pelo Código da Contribuição Industrial (CCI), aprovado pelo Decreto n.º 45103, de 1 de Julho de 1963, ao apelar, já nessa altura, ao que designava de sãos princípios da contabilidade. 1. Código da Contribuição Industrial Como já referimos em artigos anteriores 3, o CCI foi o verdadeiro motor (impulsionador) da normalização contabilística em Portugal, ao prever diversas disposições sobre a organização contabilística para efeitos de apuramento desse imposto. No contexto do presente artigo, assume particular relevância a expressão sãos princípios de contabilidade, prevista no art.º 22.º do CCI, que transcrevemos: O lucro tributável reportar-se-á ao saldo revelado pela conta de resultados do exercício ou de ganhos e perdas, elaborada em obediência a sãos princípios de contabilidade.... Na verdade, em 1963, não se encontrava ainda publicado qualquer diploma legal sobre a normalização contabilística em Portugal, o que só viria a ocorrer catorze anos mais tarde, através do Decreto- Lei n.º 47/77, de 7 de Fevereiro, que aprovou o primeiro POC (POC/77). O que pretendemos sublinhar é que, embora não existisse nessa altura qualquer regulamentação contabilística, já o CCI apelava à importância dos sãos princípios de contabilidade para efeitos de apuramento do lucro tributável nessa cédula. Sendo assim, durante aquele período de catorze anos e perante a ausência da enunciação e concetualização dos designados são princípios de contabilidade, a prática contabilística seguiu, expressamente ou não, os princípios contabilísticos internacionais existentes. Desde logo esta divisão nos permite aferir que a designação princípios contabilísticos não se refere exclusivamente aos próprios princípios contabilísticos mas também a outros aspetos concetuais, das quais relevam os critérios (de valorimetria) e métodos (de custeio), agora, com o SNC designados de mensuração. Logo no início do capítulo em análise, Rogério Fernandes Ferreira clarifica 4 : As expressões princípios contabilísticos, são princípios, princípios geralmente aceites, são, de modo geral, utilizadas em sentidos que englobam não só propriamente princípios, isto é, conceitos básicos (fundamentos teóricos ou pressupostos) em que devem assentar as relevações contabilísticas, mas também convenções ou regras que tradicionalmente se consideram de adoptar.. 2. POC/77 O primeiro POC (POC/77) foi aprovado, como já referimos, pelo Decreto-Lei n.º 47/77, de 7 de Fevereiro, enunciando os ditos princípios contabilísticos no capítulo XII Valorimetria e no item 1 Princípios contabilísticos adotados 5, como desenvolvemos no QUADRO N.º1 apresentado no item 3 seguinte. Acrescente-se que o item 10 do capítulo I Introdução previa: No que respeita ao aprofundamento dos critérios valorimétricos e outros princípios e conceitos, espera-se que venham a integrarse na 3.ª fase de trabalho. Na falta, de momento, de definição clara daqueles pelas associações profissionais (e estas não o puderam fazer por circunstância de todos conhecidas trabalho em início), são, por agora, adoptados, tanto quanto possível, os divulgados nos Institutos Superiores e Faculdades onde primordialmente se ministra o ensino extensivo da contabilidade.. Note-se, ainda, que o POC/77 (Capítulo II Considerações Técnicas ) não apresentava qualquer definição da IVA 6. 29
3 CONTABILIDADE 3. POC/89 O Decreto-Lei n.º 410/89, de 21 de Novembro, aprovou o POC/89, revogando o POC/77. O Capítulo 4 - Princípios contabilísticos designava-os de princípios contabilísticos fundamentais, o que na maioria das situações se considerava como uma expressão equivalente à de PCGA. No QUADRO N.º 1 seguinte apresentamos os princípios contabilísticos do POC/77 e do POC/89: QUADRO N.º 1 PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS (POC/77 E POC/89) POC/77 (Capítulo XII Valorimetria item 11 Princípios Contabilísticos Adotados) POC/89 (Capítulo 4 Princípios Contabilísticos ) Da continuidade da empresa O qual significa que a empresa opera continuadamente, com duração ilimitada; Da consistência dos exercícios Segundo o qual a empresa não altera os seus princípios de valorimetria ao longo dos exercícios; Da efectivação das operações Pelo qual as operações realizadas num exercício afectam os respectivos resultados, independentemente do seu recebimento ou pagamento; Do custo histórico O qual determina que os registos se efectuem com base numa realidade objectiva (como, por exemplo, o preço de factura), em contraste com valores aleatórios ou subjectivos; Do conservantismo O qual implica que a Contabilidade deve registar todas as perdas de valor e não atender aos ganhos potenciais. Da continuidade Considera-se que a empresa opera continuadamente, com duração ilimitada. Desta forma, entende-se que a empresa não tem intenção nem necessidade de entrar em liquidação ou de reduzir significativamente o volume das suas operações. Da consistência Considera-se que a empresa não altera as suas políticas contabilísticas de um exercício para o outro. Se o fizer e a alteração tiver efeitos materialmente relevantes, esta deve ser referida de acordo com o anexo (nota 1). Da especialização (ou do acréscimo) Os proveitos e os custos são reconhecidos quando obtidos ou incorridos, independentemente do seu recebimento ou pagamento, devendo incluir-se nas demonstrações financeiras dos períodos a que respeitam. Do custo histórico Os registos contabilísticos devem basear-se em custos de aquisição ou de produção, expressos quer em unidades monetárias nominais, quer em unidades monetárias constantes. Da prudência Significa que é possível integrar nas contas um grau de precaução ao fazer as estimativas exigidas em condições de incerteza sem, contudo, permitir a criação de reservas ocultas ou provisões excessivas ou a deliberada quantificação de activos e proveitos por defeito ou de passivos e custos por excesso. Devem também ser reconhecidas todas as responsabilidades incorridas no período em causa ou num período anterior, mesmo que tais responsabilidades apenas se tornem patentes entre a data a que se reporta o balanço e a data em que este é elaborado. Da recuperação do custo das existências Pelo qual a empresa não deve inventariar as existências finais a um valor que não possa ser recuperado através da venda ou do Consumo; Da substância sobre a forma As operações devem ser contabilizadas atendendo à sua substância e à realidade financeira e não apenas à sua forma legal. Da materialidade As demonstrações financeiras devem evidenciar todos os elementos que sejam relevantes e que possam afectar avaliações ou decisões pelos utentes interessados. 30
4 Joaquim Fernando da Cunha Guimarães / REVISOR OFICIAL DE CONTAS CONTABILIDADE Da análise comparativa do quadro realçamos o seguinte: a) A manutenção dos princípios Do Custo Histórico, Da Continuidade, Da Consistência, Da Especialização (ou do Acréscimo), este último no POC/77 designado Da efetivação das operações ; b) O princípio Do custo histórico no POC/77 era mais objetivo, ao exemplificar o preço da fatura, expressão entretanto eliminada no POC/89. A referência no POC/89 a quer a unidades monetárias nominais quer a unidades monetárias constantes 7... deve ser interpretada como contemplando, nomeadamente, as designadas reavaliações legais de âmbito fiscal, como, aliás, foi posteriormente clarificado pela Diretriz Contabilística n.º 16 Reavaliação de ativos imobilizados tangíveis (DC 16), cujos itens 1.1 e 1.2 estabelecem: Relativamente à IVA, o POC/89 (item 3.2) apresentava a seguinte definição: Estas características, juntamente com conceitos, princípios e normas contabilísticas adequados, fazem que surjam demonstrações financeiras geralmente descritas como apresentando uma imagem verdadeira e apropriada da posição financeira e do resultado das operações da empresa.. Ou seja, o macro-princípio da IVA será conseguido se se verificar uma aplicação correta de todos aqueles aspetos concetuais, tal como resumimos no ESQUEMA N.º 1 seguinte: ESQUEMA N.º 1 A IVA no POC/ Com o objetivo de obter uma imagem verdadeira e apropriada do ativo, do passivo e dos resultados das operações da empresa, os registos devem basear-se em princípios contabilísticos geralmente aceites, designadamente o do custo histórico, quer a escudos nominais, quer a escudos constantes. O fenómeno inflacionista e o crescimento económico provocam e evidenciam, entre outros efeitos, a subquantificação dos ativos não monetários, levando muitas empresas a ajustar ocasionalmente algumas rubricas do balanço. Tais ajustamentos têm expressão no capital próprio das empresas através das denominadas reservas de reavaliação, que representam, em rigor, resultados potenciais, isto é resultados não realizados. CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS CONCEITOS, PRINCÍPIOS E NORMAS CONTABILISTICAS ADEQUADAS IVA - DA POSIÇÃO FINANCEIRA - DO RESULTADO DAS OPERAÇÕES 1.2. Ao nível fiscal, os efeitos da inflação nas demonstrações financeiras têm sido parcialmente tratados, como regra, através de ajustamentos monetários ocasionais do imobilizado corpóreo efetuados nos termos autorizados pela lei.. c) A eliminação do princípio previsto no POC/77 Da recuperação do custo das existências ; d)a inclusão de dois novos princípios contabilísticos: O Da substância sobre a forma, destinado nomeadamente a enquadrar as operações de locação financeira (vulgo leasing financeiro) 8 e o Da materialidade, este último intimamente ligado à caraterística qualitativa da relevância (item do POC/89) 9. Acresce ainda que o Capítulo 4 Princípios contabilísticos enunciava: Com o objectivo de obter uma imagem verdadeira e apropriada da situação financeira e dos resultados das operações da empresa, indica-se seguidamente os princípios contabilísticos fundamentais.. Desta forma, os princípios contabilísticos são uma componente muito importante da IVA. Refira-se, finalmente, que a expressão PCGA não foi utilizada em qualquer normativo do POC/89, com exceção da Diretriz Contabilística n.º 18 a seguir comentada. 31
5 CONTABILIDADE 4. Nas Diretrizes Contabilísticas Ao contrário do POC/89, algumas Diretrizes Contabilísticas, como normas contabilísticas complementares, contemplavam referências aos PCGA. A Diretriz Contabilística n.º 18 (DC 18), publicada no D.R. n.º 179, II Série de 5 de Agosto de 1997, intitulada Objetivos das Demonstrações Financeiras e Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites, visou essencialmente complementar alguns conceitos do POC/89. No seu item 4, sob o título Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites, previa o texto referido no QUADRO N.º 2 a seguir apresentado. Em 2005 a DC 18 foi revista passando a contemplar algumas alterações de acordo com o mencionado QUADRO N.º 2 PCGA NA DC 18 INICIAL (1997) E REVISTA (2005) DC 18 (Versão inicial 1997) DC 18 (Versão revista 2005) 4 Princípios contabilísticos geralmente aceites Os profissionais da contabilidade e os membros da comunidade económica têm vindo a reconhecer a necessidade da existência de princípios, normas e procedimentos, que sejam de aplicação generalizada, apesar dos debates e críticas que suscitarem. Se bem que a CNC atenda ao vasto espectro dos organismos nela representados, baseia a normalização em pesquisa fundamentada e numa perspectiva conceptual sustentada na realidade económica. Os esforços para estabelecer essa estrutura conceptual, que actue como orientação geral, conduzem à adopção de um corpo comum de princípios, normas e procedimentos designados por Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites. A expressão "geralmente aceites" significa que um organismo contabilístico normalizador, com autoridade e de larga representatividade, estabeleceu um princípio contabilístico numa dada área ou aceitou como apropriado determinado procedimento ou prática, atendendo à sua aplicação universalmente generalizada e ao seu enquadramento na estrutura conceptual. Os princípios contabilísticos têm vindo a ser reconhecidos em Portugal pela CNC e encontram-se vertidos no POC, nas Directrizes Contabilísticas, no caso de questões ainda não abrangidas, nas normas estabelecidas a nível internacional, como sejam as emitidas pelo Internacional Accouting Standards Committee (IASC). Por conseguinte, a adopção dos princípios contabilísticos não carece, necessariamente, que estes estejam definidos de forma expressa em diploma legal. A CNC, ao privilegiar uma perspectiva conceptual de substância económica para o relato financeiro, considera que o uso de Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites se deve subordinar à seguinte hierarquia: 1 - Os constantes do Plano Oficial de Contabilidade; 2 - Os constantes das Directrizes Contabilísticas; 3 - Os divulgados nas normas internacionais de contabilidade emitidas pelo IASC. Embora não possam ser consideradas de aplicação generalizada, as respostas interpretativas dadas pela CNC são válidas para a entidade e para a situação concreta. IV - Princípios contabilísticos geralmente aceites no normativo contabilístico nacional 10 - Os profissionais da contabilidade e os membros da comunidade económica têm vindo a reconhecer a necessidade da existência de princípios, normas e procedimentos que sejam de aplicação generalizada, apesar dos debates e críticas que suscitarem Se bem que a CNC atenda ao vasto espectro dos organismos nela representados, baseia a normalização em pesquisa fundamentada e numa perspectiva conceptual sustentada na realidade económica. Os esforços para estabelecer essa estrutura conceptual, que actue como orientação geral, conduzem à adopção de um corpo comum de princípios, normas e procedimentos entendidos como os princípios contabilísticos geralmente aceites no normativo contabilístico nacional A expressão "geralmente aceites" significa que um organismo contabilístico normalizador, com autoridade e de larga representatividade, estabeleceu um princípio contabilístico numa dada área ou aceitou como apropriado determinado procedimento ou prática, atendendo à sua aplicação generalizada e ao seu enquadramento na estrutura conceptual e num dado ambiente normativo Assim, a CNC, ao privilegiar uma perspectiva conceptual de substância económica para o relato financeiro, considera que a adopção dos princípios contabilísticos geralmente aceites no normativo contabilístico nacional se deve subordinar, em primeiro lugar, ao POC e às directrizes contabilísticas e respectivas interpretações técnicas, e, supletivamente, pela ordem indicada, às: 1.º Normas Internacionais de Contabilidade, adoptadas ao abrigo do Regulamento n.º 1606/2002, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Julho; 2.º Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) e Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS), emitidas pelo IASB, e respectivas interpretações SIC- IFRIC Embora não possam ser consideradas de aplicação generalizada, as respostas interpretativas dadas pela CNC são válidas para a entidade e para a situação concreta. 32
6 Joaquim Fernando da Cunha Guimarães / REVISOR OFICIAL DE CONTAS CONTABILIDADE De notar que a alteração refere-se apenas ao item 13 (DC 18 revisão de 2005), no que tange à hierarquia da aplicação dos PCGA de acordo com as mencionadas normas contabilísticas nacionais e internacionais. Realce-se que, já antes da DC 18, a DC 16 estabelecia uma relação entre a IVA e os PCGA nos seguintes termos (item 1.1): 1.1. Com o objectivo de obter uma imagem verdadeira e apropriada do activo, do passivo e dos resultados das operações da empresa, os registos devem basear-se em princípios contabilísticos geralmente aceites, designadamente o do custo histórico, quer a escudos nominais, quer a escudos constantes.. Esta disposição poderá induzir que a expressão PCGA abrange exclusivamente os PCGA, exemplificando o Do custo histórico, o que, como de seguida, veremos poderá considerar-se uma análise limitada do conceito. 5. SNC É normalmente assumido que com o SNC se registou uma melhoria significativa dos aspetos concetuais da contabilidade, traduzida, essencialmente, pela inclusão de uma Estrutura Concetual, passese o pleonasmo, devidamente estruturada/sistematizada. Não restam quaisquer dúvidas que uma boa prática deve basearse numa boa teoria, e vice-versa, razão pelo qual é fundamental que todo o edifício normativo do SNC esteja assente numa sólida estrutura concetual. Aliás, já o poeta, e auxiliar de empregado de escritório guarda-livros, Fernando Pessoa, sublinhou em : Toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a prática deve obedecer a uma teoria. Só os espíritos superficiais desligam a teoria da prática, não olhando a que a teoria não é senão uma teoria da prática, e a prática não é senão a prática de uma teoria
7 CONTABILIDADE Também é nosso hábito sublinhar, que cada vez mais resolvemos questões práticas com recurso à teoria e aos conceitos. No que concerne aos princípios contabilísticos, a principal alteração concetual do SNC relativamente ao POC/89 refere-se à eliminação da expressão princípios contabilísticos, que foram convertidos em pressupostos subjacentes ( 22 e 23 da Estrutura Concetual), em caraterísticas qualitativas ( 22 a 46 da Estrutura Concetual) ou em bases de mensuração (custo histórico) como resumimos no ESQUEMA N.º 2 seguinte: ESQUEMA N.º 2 Princípios Contabilísticos (POC vs. SNC) Relativamente à IVA, O SNC prevê ( 46 da Estrutura Concetual): 46 - As demonstrações financeiras são frequentemente descritas como mostrando uma imagem verdadeira e apropriada de, ou como apresentando apropriadamente, a posição financeira, o desempenho e as alterações na posição financeira de uma entidade. Se bem que esta Estrutura Conceptual não trate directamente tais conceitos, a aplicação das principais características qualitativas e das normas contabilísticas apropriadas resulta normalmente em demonstrações financeiras que transmitem o que é geralmente entendido como uma imagem verdadeira e apropriada de, ou como apresentando razoavelmente, tal informação.. Podemos inferir que, de uma forma geral, a IVA do SNC é mais elucidativa e concetual que a do POC/89, o que é compreensível pela mencionada melhoria verificada com a estrutura concetual no SNC. No ESQUEMA N.º 3 seguinte resumimos aquele parágrafo: ESQUEMA N.º 3 A IVA no SNC CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS NORMAS CONTABILÍSTICAS ADEQUADAS IVA - DA POSIÇÃO FINANCEIRA - DO RESULTADO DAS OPERAÇÕES Se compararmos este esquema com o ESQUEMA N.º 1 constatamos que se deixou de fazer referência a conceitos e a princípios. Ainda no que diz respeito aos PCGA, registamos os seguintes factos: - A demonstração financeira do Anexo prevê na nota 2.4, a expressão PCGA anteriores (referência ao POC/89), não fazendo nenhuma referência expressa a PCGA atuais, i.e., no âmbito do SNC; - O item 5.4. da NCRF-PE prevê: 5.4 As divulgações no final do primeiro exercício após transição, devem incluir: a) Uma explicação acerca da forma como a transição dos anteriores princípios contabilísticos geralmente aceites para a NCRF-PE, afectou a sua posição financeira e o seu desempenho financeiro relatados. * Incluído na caraterística da Comparabilidade. **A Estrutura Conceptual do SNC prevê também outras caraterísticas: compreensibilidade, relevância, fiabilidade, representação fidedigna, neutralidade e plenitude. Como podemos verificar, o princípio Do custo histórico não é enunciado nem como pressuposto subjacente nem como característica qualitativa, sendo uma base de mensuração 97 a 99 da Estrutura Concetual, nomeadamente quando se utiliza o método do custo. - Nas NCRF define-se políticas contabilísticas: são os princípios, bases, convenções, regras e práticas específicas aplicados por uma entidade na preparação e apresentação de demonstrações financeiras.. 6. Uma Análise Mais Ampla dos Pcga Embora, como vimos nos itens anteriores, os PCGA estejam íntima e essencialmente ligados aos denominados princípios contabilísticos (POC/77 e POC/89), e, com o SNC, aos pressupostos subjacentes e 34
8 Joaquim Fernando da Cunha Guimarães / REVISOR OFICIAL DE CONTAS CONTABILIDADE às caraterísticas qualitativas, os mesmos podem (ou devem) ser interpretados com uma maior amplitude quando, nomeadamente, se alude aos referenciais contabilísticos, como nos casos dos US- GAAP e dos UK-GAAP. Neste contexto, parece-nos que a referência aos PCGA poderá ser interpretada como um referencial genérico subjacente ao modelo contabilístico utilizado, embora no caso português não nos pareça muito curial referir a expressão PT-PCGA ou UE-PCGA 11. Leonor Fernandes Ferreira 12 referiu: Os GAAP são um conjunto de conceitos relacionados entre si que definem o âmbito, a natureza, o objecto, e a finalidade do relato financeiro. A existência de GAAP justifica-se como forma de reduzir práticas inconsistentes, delimitar interferência política, possibilita melhor compreensão das exigências de relato financeiro, torna-se mais simples a comunicação entre os utilizadores da informação financeira. Os princípios contabilísticos podem entender-se como um guia para operacionalizar a escolha entre as alternativas que conduzem à melhor situação possível perante um objectivo. Podem ver-se como uma defesa contra a interferência política na neutralidade dos relatórios financeiros (Solomom). Mas podemos também admitir que os GAAP se baseiam em interesses profissionais de certos grupos, reflectindo talvez a política do grupo dominante. São bases comummente seguidas ou em que acreditam e com aceitação generalizada um grupo profissional. Podem basearse em uso, costumes, experiência, razão. Podemos encará-los como convenções, regras e procedimentos necessários para definir práticas em determinado contexto e tempo. São um guia para a preparação do relato financeiro e para a escolha contabilística.. No mesmo contexto, e como já referimos, Rogério Fernandes Ferreira, dedicou na sua tese de doutoramento atrás mencionada um capítulo (IV) os princípios contabilísticos tendo o dividido da seguinte forma: 1. Introdução 1.1. Conceitos básicos Expressão monetária A empresa como entidade própria Continuidade da empresa Relevação ao custo histórico (ou a partir do valor de aquisição) 1.2. Convenções contabilísticas Uniformidade Prudência Relevância 2. Princípios, convenções, critérios (de valorimetria) e métodos (de custeio) prescritos no POC 2.1. Princípios contabilísticos adoptados Critérios e métodos específicos 14 (de valorimetria) no POC 3. Reflexões e observações finais - Princípio da especialização dos exercícios - Princípio da atribuição funcional do lucro - Princípio da realização do lucro - Princípio (convenção) do ajustamento monetário - Princípio contabilísticos da 4.ª Directiva da CEE. De notar que nesta divisão o Professor também incluiu os métodos de custeio das saídas no capítulo dos princípios contabilísticos. 7. Conclusões No presente artigo apenas pretendemos desenvolver alguns aspetos concetuais dos dois modelos contabilísticos em confronto (POC e SNC). O CCI foi o impulsionador dos princípios contabilísticos, ao prever (art.º 22.º) os denominados sãos princípios de contabilidade. A expressão PCGA abrange, de uma forma geral, os princípios contabilísticos previstos nos dois POC (POC/77 e POC/89), que, com o SNC, passaram a ser identificados como pressupostos subjacentes ou como caraterísticas qualitativas. Os princípios contabilísticos (POC/77 e POC/89) e os pressupostos subjacentes/caraterísticas qualitativas (SNC) constituem uma componente muito importante da estrutura concetual e, em particular, da IVA, i.e., a sua correta aplicação conduz à IVA da entidade. No entanto, os PCGA podem ser analisados numa perspetiva mais ampla do que a dos próprios princípios contabilísticos, nomeadamente quando se pretende fazer alusão a um referencial contabilístico internacional como nos casos dos US-GAAP e dos UK-GAAP. (redigido conforme o novo acordo ortográfico) 1 Sob o título Normalização Contabilística, apresentada em 1983 e publicada em livro no ano seguinte, pela editora Livraria Arnado, Lda. A frase corresponde ao título do capítulo IV da tese. 2 Os GAAP mais vulgarmente referidos na literatura contabilística são os dos Estados Unidos da América (USA-GAAP) e os do Reino Unido (UK-GAAP). 3 Em especial o intitulado História da Normalização Contabilística em Portugal, publicado no nosso livro Estudos sobre a Normalização Contabilística em Portugal, ed. Vida Económica, Maio de 2011, pp e disponível para download no nosso Portal INFOCONTAB nos menus Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 294 e Normalização Contabilística/Sistema de Normalização Contabilística. 4 Ob. cit. p O capítulo da Valorimetria incluía também o item 2 Critérios e métodos específicos, definidos para as contas/rubricas do ativo. 6 Sobre a IVA elaborámos os seguintes artigos: O TOC perante a Imagem Verdadeira e Apropriada, publicado na revista Eurocontas n.º 51, de Julho de 1999, pp e no Semanário Económico n.º 658, de Agosto de 1999, p. 12 e disponível para download no Portal INFOCONTAB no menu Atividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 36. A "IVA" na Contabilidade, publicado na Revista de Contabilidade e Finanças n.º 80, de Janeiro/Março de 2005, pp. 5-6 e disponível para download no Portal INFOCONTAB no menu Atividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 138. A IVA não é a mulher do IVA, disponível para download no Portal INFOCONTAB no menu Atividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º Na redação inicial referia-se escudos nominais, sendo que a alteração para unidades monetárias ocorreu nos termos do Decreto-Lei n.º 35/2005, de 17 de Fevereiro. 8 No nosso artigo sob o título A Substância Sobre a Forma Do POC ao SNC, publicado na revista Fiscal n.º 5, de Julho/Agosto de 2010, pp e disponível para download no Portal INFOCONTAB no menu Atividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 301, apresentámos alguns dos principais aspetos conceituais deste princípio. Na vigência do POC/89 foram publicadas duas Diretrizes Contabilísticas (n.os 10 e 25) sobre a locação financeira. 9 O POC/89 previa no capítulo 3 Características Qualitativas três caraterísticas: relevância, fiabilidade e comparabilidade. 10 Em artigo sob o título Palavras Iniciais, publicado na Revista de Comércio e Contabilidade n.º 1, 1926, p A abreviatura PT refere-se a Portugal e a abreviatura UE refere-se a União Europeia. 12 Em de 29 de Junho de 2011, em resposta a um nosso pedido de comentário sobre o tema. 13 O Professor elenca e comenta os princípios contabilísticos do POC/ Desenvolve os critérios de valorimetria das disponibilidades, créditos e débitos, existências, imobilizações financeiras, imobilizações corpóreas e imobilizações incorpóreas. 35
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