ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SILVA RUSSO (Presidente sem voto), REZENDE SILVEIRA E ERBETTA FILHO.

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1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que são apelantes/apelados EDUARDO DIAMANTINO BONFIM E SILVA e DIAMANTINO SILVA FILHO, é apelado/apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso dos autores e deram parcial provimento ao recurso da Municipalidade. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SILVA RUSSO (Presidente sem voto), REZENDE SILVEIRA E ERBETTA FILHO. São Paulo, 24 de abril de EUTÁLIO PORTO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº APELAÇÃO Nº COMARCA: SÃO PAULO APTES/APDOS: EDUARDO DIAMANTINO BONFIM E SILVA E DIAMANTINO SILVA FILHO APELADO/APELANTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO EMENTA APELAÇÃO CÍVEL Ação declaratória c.c. repetição de indébito - 1) ITBI sobre imóvel arrematado judicialmente A base de cálculo do recolhimento do ITBI é o valor da arrematação e não o valor venal do imóvel - Precedentes do STJ. 2) IPTU e Taxas dos exercícios de 2003 a 2007 Imóvel alienado após a arrematação Adquirente que espontaneamente aderiu ao PPI e efetuou o pagamento dos tributos e taxas incidentes sobre o imóvel anteriores à arrematação Tributos devidos Ausência de provas de que a Municipalidade tenha levantado o valor dos débitos junto ao preço pago na arrematação Pagamento em nome de terceiro, que não legitima a restituição. 3) Sucumbência mínima da Municipalidade Condenação dos autores ao pagamento dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação Inteligência do único, do art. 21 do CPC - Sentença parcialmente reformada - Recurso dos autores improvido e recurso da Municipalidade parcialmente provido. RELATÓRIO Trata-se de ação declaratória c.c. repetição de indébito, proposta em 28 de junho de 2012 por DIAMANTINO SILVA FILHO E OUTRO em face da PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, insurgindose contra a base de cálculo do ITBI, sob o fundamento de que o tributo deve ser calculado sobre o valor da arrematação e não sobre o valor atribuído pela Municipalidade e requereram a repetição da diferença recolhida a maior. Sustentaram ainda que após a arrematação, o imóvel foi alienado e que houve pagamento de IPTU dos exercícios de 2005 e 2006, da Taxa de lixo relativa aos exercícios de 2003 a 2005, Apelação nº

3 através de PPI e quanto ao exercício de 2007, pagamento integral dos valores sem adesão ao parcelamento. Assim, foram indevidos os pagamentos uma vez que o valor de eventuais débitos incidentes sobre o imóvel antes da arrematação devem sub-rogar-se sobre o preço do mesmo, nos termos do art. 130 do CTN. Por fim pleitearam também a repetição de todos os valores pagos a título de IPTU e taxa de lixo dos exercícios de 2003 a 2007, devidamente corrigidos. Contestação às fls. 118/130. Réplica às fls. 133/140. Instadas a se manifestarem acerca da produção de provas, as partes requereram julgamento antecipado da lide (fls. 145/146 e 149). A sentença de fls. 158/184, proferida pela MM. Juíza Silvia Maria Meirelles Novaes de Andrade, cujo relatório se adota, julgou a ação parcialmente procedente, condenando a Municipalidade a restituir ao Sr. Diamantino a importância de R$ 8.317,97 a título de diferença do ITBI e ao co-autor Sr. Eduardo a importância de R$ ,76, devidamente corrigidos. Em razão da sucumbência recíproca, as partes foram condenadas ao pagamento das custas e honorários advocatícios na proporção de 30% para a Municipalidade e 70% para os autores. Foram opostos embargos de declaração pelo Município (fls. 192/194) que, após a manifestação da parte contrária (fls. 220/225), foram acolhidos para o fim de alterar o dispositivo da sentença fazendo constar que o valor a ser restituído ao Sr. Diamantino Apelação nº

4 é de R$ 4.752,45 (a título de ITBI) e ao co-autor Sr. Eduardo R$ 6.012,75 correspondente ao IPTU relativo ao exercício de 2007, corrigidos a partir da data do recolhimento indevido, com juros moratórios a partir da data do trânsito em julgado. No tocante à sucumbência, os autores foram condenados a 90% (noventa por cento) das custas e dos honorários advocatícios e a Municipalidade em 10% (dez por cento) das mesmas verbas, permanecendo a sentença, no mais, tal como lançada. Inconformados, apelaram os autores às fls. 232/250, requerendo a reforma da sentença. Recorreram da parte da sentença relativa à restituição dos valores a título de IPTU dos exercícios de 1997 a 2004 e dos exercícios de 2005 a 2006, além da devolução dos valores referentes aos exercícios de 2003 a 2005 referentes à Taxa de lixo. Sustentaram que não obstante terem confessado os débitos espontaneamente e aderido ao Programa de Parcelamento Incentivado PPI, os valores incluídos no parcelamento referem-se a período anterior à arrematação do imóvel, sendo, portanto, indevidos. Aduziram que os valores dos débitos anteriores à data da arrematação devem ser sub-rogados no preço da arrematação, nos termos do art. 130 do CTN. Quanto à atualização do débito e das verbas sucumbenciais, alegaram que a decisão contrariou o pedido formulado na petição inicial, devendo ser aplicado o IPCA-IBGE como índice de atualização monetária, acrescidos de juros de 1% ao mês a partir do recolhimento indevido e que a verba sucumbencial arbitrada em 90% a eles e em 10% para Municipalidade não está em consonância com a previsão contida no art. 20 do CPC. Por fim, alegaram que os débitos são inexigíveis uma vez que, em face da arrematação ocorrida em 11 de junho de 2007, o imóvel deve ser entregue livre e desembaraçado de quaisquer ônus, inclusive os tributos, cujos fatos geradores se deram Apelação nº

5 em período anterior à arrematação, uma vez que não eram, à época, contribuintes dos mesmos e requereram a devolução da totalidade dos valores pagos referentes ao IPTU dos exercícios de 1997 a 2007 e à Taxa de lixo referente ao período de 2003 a 2005, além da inversão dos ônus de sucumbência. Apelou também a Municipalidade de São Paulo às fls. 254/265, pleiteando pela total improcedência da demanda. Sustentou que a base de cálculo do ITBI é o valor venal do imóvel nos termos do art. 38 do CTN e que não pode ser considerado o valor da arrematação ocorrida em segunda praça, pois inferior ao valor inicialmente apurado em avaliação feita em outubro de 2005 (R$ ,37) que, atualizado até junho de 2007, chegou ao valor de R$ ,43, ficando próxima à base de cálculo aplicada pela Municipalidade, não havendo que se falar, pois, em recolhimento a maior do ITBI. No tocante à devolução dos valores referentes ao exercício de 2007, mesmo que parcial, também não assiste razão aos autores, porquanto o Sr. Eduardo assumiu e quitou, espontaneamente e por iniciativa própria, a dívida que recaía sobre o imóvel, assim não há que se cogitar na ocorrência de pagamento indevido de tributo em face do pagamento espontâneo por parte do co-autor. Por fim, alegou que não houve sub-rogação dos créditos tributários sobre o preço da arrematação ficando afastada, por isso, a aplicação do disposto no art. 130 do CTN e requereu o provimento do presente recurso com a condenação dos autores nas verbas de sucumbência. Municipalidade às fls. 281/290. Contrarrazões dos autores às fls. 271/279 e da Recurso tempestivo e preparado (fls. 251/252). Apelação nº

6 Este é, em síntese, o relatório. VOTO A sentença deve ser parcialmente reformada. 1) Do ITBI A primeira questão a ser analisada nestes autos diz respeito ao valor a ser utilizado como base de cálculo para incidência do ITBI sobre imóvel arrematado judicialmente. O ITBI incide sobre o valor de venda, refletida nas várias modalidades de transmissão de bens, ou pode o Município optar pelo valor venal por ela definido, por intermédio de sua Planta Genérica de Valores. Assim, a base de cálculo do ITBI se define pelo valor venal já previamente conhecido pelo contribuinte, pelo valor declarado quando da lavratura do instrumento de compra e venda, ou, se o imóvel foi adquirido em hasta pública. No caso em tela, há uma realidade irrefutável, pois o imóvel foi arrematado em hasta pública pelo valor de R$ ,00 (duzentos e setenta mil Reais), conforme a Carta de Arrematação de fls. 46/47, com o devido pagamento do preço originado em arrematação, devendo ser esta a base de cálculo para efeito de apuração do valor devido a título de ITBI. Apelação nº

7 Nesse sentido também é remansosa a jurisprudência do STJ: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUTÁRIO. ITBI. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL. BASE DE CÁLCULO. VALOR ALCANÇADO NA HASTA PÚBLICA. PRECEDENTES. 1. A orientação das Turmas que integram a Primeira Seção/STJ firmou-se no sentido de que a arrematação corresponde à aquisição do bem alienado judicialmente, razão pela qual se deve considerar, como base de cálculo do ITBI, o valor alcançado na hasta pública. Nesse sentido: AgRg no AREsp /MG, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de ; AgRg nos EDcl no Ag /MG, 1ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 1º ; REsp /RS, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de ; REsp /PR, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de Recurso ordinário não provido. (RMS / RS RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2011/ , Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, Julgamento 04/10/2012, DJe 11/10/2012). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. IMPOSTO DE Apelação nº

8 TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS. BASE DE CÁLCULO. VALOR DA ARREMATAÇÃO. 1. O valor da arrematação é que deve servir de base de cálculo do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis. Precedentes do STJ. 2. Agravo Regimental não provido. (AgRg no REsp / MG, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, Julg. 16/08/2012, DJe 24/08/2012). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ITBI. ARREMATAÇÃO JUDICIAL. BASE DE CÁLCULO. VALOR DA ARREMATAÇÃO, E NÃO DO VALOR VENAL. PRECEDENTES. 1. Pugna o então agravante pela incidência do art. 38 do CTN, sob a tese de que, em alienação judicial, a base de cálculo do ITBI é o valor venal dos imóvel, e não o valor da arrematação judicial. 2. Não há falar em violação dos arts. 168, 458, II e III, 535, II, do Código de Processo Civil - CPC, pois constata-se que a Corte local julgou a matéria, de forma clara, coerente e fundamentada, pronunciando-se, suficientemente, sobre os pontos que entendeu relevantes para a solução da controvérsia. 3. No mais, a tese recursal é contrária à jurisprudência do STJ no sentido de que "a arrematação corresponde à aquisição do bem vendido judicialmente, é de se considerar como valor venal do imóvel aquele atingido em hasta Apelação nº

9 pública. Este, portanto, é o que deve servir de base de cálculo do ITBI." (REsp /PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 07/11/2006). No mesmo sentido: AgRg nos EDcl no Ag /MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 01/07/ Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp / MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves Primeira Turma, Julg. 27/03/2012, DJe 03/04/2012). mantida tal como proferida. Nesse aspecto, portanto, a sentença deve ser 2) Da repetição de indébito No tocante ao IPTU e Taxa de lixo dos exercícios de 2003 a 2007, consta dos autos que em 11 de junho de 2007 o imóvel foi arrematado em hasta pública pelo valor de R$ ,00 (fls. 48) pelo Sr. Diamantino Silva Filho e, em 13 de agosto de 2008, foi registrada a carta de arrematação (fls. 53). Posteriormente, em agosto de 2009, aludido imóvel foi alienado ao Sr. Eduardo Diamantino Bonfim e Silva, conforme consta da certidão de matrícula do imóvel (fls. 53, verso), que, espontaneamente dirigiu-se até a Fazenda Pública, assumiu o débito mediante acordo e efetuou o pagamento, pretendendo agora repetir o valor pago, valendo-se dos termos do único do art. 130 do CTN, tendo ocorrido a sub-rogação dos créditos. No entanto, referido dispositivo aplica-se apenas à Apelação nº

10 pessoa do arrematante e não a um terceiro que adquire o imóvel e espontaneamente quita o débito, mesmo porque pelo que constou dos autos, o Município não se valeu da sub-rogação e nem o adquirente comprovou tal fato, situação esta que, se demonstrada, poder-se-ia, de fato, caracterizar a repetição, na medida em que o adquirente do imóvel pagou um tributo que já teria sido quitado anteriormente. Com efeito, os documentos encartados aos autos demonstram que os débitos eram relativos aos exercícios de 2003 a 2007, anteriores à data da arrematação, que não foram pagos nem pelo antigo proprietário e nem houve a sub-rogação. A propósito, a 18ª Câmara de Direito Público deste Egrégio Tribunal de Justiça, na apelação , decidiu caso análogo da seguinte forma: IPTU ARREMATAÇÃO JUDICIAL DÍVIDA TRIBUTARIA ANTERIOR SUB-ROGAÇÂO NO PREÇO NECESSIDADE PAGAMENTO ESPONTÂNEO PELO ARREMATANTE REPETIÇÃO IMPOSSIBILIDADE. Diante da arrematação judicial, há a sub-rogação dos créditos tributários relativos ao IPTU sobre o respectivo preço art. 130, parágrafo único, do CTN. O pagamento espontâneo da dívida tributária, pelo arrematante do imóvel (art. 304 do CC), entretanto, não autoriza a repetição do indébito em relação ao IPTU anteriormente devido, por exigir a lei que o pagamento corresponda a tributo indevido art. 165, I, do CTN. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. AÇÃO IMPROCEDENTE. Apelação nº

11 Assim, a sentença deve ser reformada para julgar improcedente o pedido de repetição dos valores pagos pelo adquirente do imóvel, Sr. Eduardo Diamantino Bonfim e Silva, a título de IPTU e Taxa de lixo, por se tratar de tributo devido e por não haver comprovação nos autos da sub-rogação. 3) Da verba de sucumbência Por fim, e em virtude da sucumbência mínima da Municipalidade, ficam invertidos os ônus sucumbenciais para condenar os autores ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor do débito atualizado. Face ao exposto, dá-se parcial provimento ao recurso da Municipalidade no tocante à repetição do indébito referente ao IPTU, nega-se provimento ao mesmo recurso quando a base de cálculo do ITBI e nega-se provimento ao recurso do co-autor Eduardo Diamantino Bonfim e Silva. EUTÁLIO PORTO Relator (assinado digitalmente) Apelação nº