A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO FERRAMENTA PARA FORMAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS

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1 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO FERRAMENTA PARA FORMAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS Alexandra da Silva Santos 1 Beatriz Vieira Guimarães 2 Silvia Helena Ferreira da Silva 3 A educação é um serviço ou bem público não só porque recebe recursos públicos, mas principalmente porque seus benefícios (profissionais qualificados, cidadãos conscientes, conhecimento produzido e disseminado) atingem toda a sociedade. (Belloni, 1989) Resumo As evoluções tecnológicas iniciadas nas últimas décadas do século XX ocasionaram transformações significativas em diversas áreas. Na educação, o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC s) promoveu mudanças nas formas de ensinar e aprender, inclusive a distância, modalidade que tem tido cada vez mais adeptos devido a benefícios como flexibilidade de tempo e locomoção. Estes benefícios são especialmente percebidos quando aplicados à formação continuada de profissionais, que têm na educação a distância a possibilidade de estudar fora do ambiente de trabalho, em horários mais flexíveis e trocando experiências com pessoas dos mais diversos locais do país. Este pensamento deu origem ao Programa de Formação Continuada de Servidores Públicos oferecido pela UFRJ, que possibilita uma formação diferenciada a servidores públicos das esferas federal, estadual e municipal por meio da oferta de cursos de extensão realizados na modalidade a distância. Palavras-chave: formação continuada; servidores públicos; educação a distância 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). alexa.santos@hotmail.com 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). beatrizvg@gmail.com 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). silviahelenasf@gmail.com

2 Educação a distância O advento das tecnologias de informação e comunicação proporcionou uma mudança de paradigmas em diversas áreas da sociedade, inclusive na educação. Mas as tecnologias digitais de informação e comunicação têm afetado não só o ensino presencial, como feito crescer exponencialmente a adoção de outra modalidade de ensino: a Educação a Distância (EaD), que vem se firmando como meio legítimo de propagação e socialização do conhecimento. Embora diversificadas, praticamente todas as definições de EaD apresentam alguns pontos em comum. A definição na qual este trabalho se baseia é a seguinte: A EaD é uma modalidade de educação em que professores e alunos estão separados, planejada por instituições e que utiliza diversas tecnologias de comunicação. (MAIA e MATTAR, 2007, p. 6) Esta modalidade é caracterizada principalmente pela distância física e, muitas vezes, temporal dos sujeitos envolvidos no processo, o que a distingue do ensino presencial. Isso significa que o aprendizado pode se dar sem que os indivíduos estejam participando das atividades no mesmo momento, e muda a configuração que se tinha de aprendente ao dotá-lo de mais autonomia no processo de aprendizagem e de gestão do próprio tempo. Engana-se quem pensa que a EaD é contemporânea das TDIC s. De acordo com Maia e Mattar (2007), seu surgimento é tão antigo quanto a própria escrita. Enquanto nas sociedades orais a comunicação entre os indivíduos requer que estejam presentes no mesmo instante e local, a invenção da escrita permitiu que a comunicação se desse de forma livre, sem a necessidade de as pessoas se encontrarem no mesmo momento e espaço. Esse fato evidencia que a EaD necessita da intervenção de alguma tecnologia para que aconteça, sendo a primeira delas a escrita, que tornou possível o registro do que antes era somente dito (LOSSO, 2007). As cartas de Platão e as Epístolas de São Paulo são, para alguns autores, as primeiras experiências na modalidade a distância. Outros argumentam que a EaD se iniciou no século XV com a invenção da imprensa, que permitiu que os escritos

3 chegassem a um número maior de pessoas pela reprodução do conhecimento (MAIA e MATTAR, 2007). A evolução da EaD pode ser dividida em três gerações, segundo Maia e Mattar (2007). A primeira, conhecida pela oferta de cursos por correspondência, tem início na década de 1720 com o registro de cursos oferecidos em anúncios de jornais. O desenvolvimento dos transportes e do correio em meados do século XIX possibilitou o surgimento efetivo da EaD, proporcionando o ensino por correspondência. A segunda geração é representada pela utilização de novas mídias de vídeo e áudio (como TV, rádio, vídeo, fitas cassetes, telefone) e pelo surgimento das universidades abertas a distância em diversos países. Já a terceira geração é marcada pelo uso de tecnologias ligadas ao computador, que funciona como suporte de integração das diversas mídias presentes na geração anterior. Essa fase caracteriza a EaD on-line, que transforma o ambiente de ensino pela introdução do espaço virtual de aprendizagem. Diversas tecnologias mediaram a EaD, como jornais, que propagaram o ensino por correspondência, livros, apostilas, rádio, televisão, teleconferência com áudio e vídeo, e a internet, responsável pela grande expansão da EaD ultimamente, e caracterizando o ensino on-line. As evoluções nas tecnologias da informação e comunicação provocaram uma mudança de postura do usuário, e a EaD acompanhou essas evoluções por meio da oferta e do crescimento visível do ensino on-line, que remete aos projetos de educação a distância desenvolvidos na internet e nos então possíveis espaços virtuais de aprendizagem. Maia e Mattar (2007) apontam que, para Peters (2004), o ensino on-line significou um novo formato do processo de ensino-aprendizagem, (...) aberto, centrado no aluno, baseado no resultado, interativo, participativo, flexível quanto ao currículo, às estratégias de aprendizado e envio e não muito preso a instituições de aprendizado superior, porque pode também se dar nos lares e nos locais de trabalho. (PETERS, 2004) O ensino a distância tem encontrado espaço também na educação superior no Brasil - mesmo que de forma tardia em relação a outros países. Em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional oficializou a educação a distância, e seus

4 cursos começaram a ser regulamentados e fiscalizados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em 1999, exigindo equivalência entre cursos presenciais e a distância e garantindo assim a mesma validade de certificação. Além disso, o Ministério da Educação abriu a possibilidade de as Instituições de Ensino Superior oferecerem 20% de sua carga horária em Educação a Distância (MATTAR, 2012). Mas não só na graduação é possível perceber o crescimento da modalidade a distância: também tem sido crescente a oferta de cursos de extensão on-line, levando as universidades a ampliar seu alcance e fazendo com que pessoas de lugares longínquos tenham acesso ao conhecimento produzido nas universidades, como é o caso da UFRJ que oferece cursos de extensão a distância por meio do Programa de Formação Continuada de Servidores Públicos. O conceito de Extensão Universitária desenvolvido pelo FORPROEX nos XXVII e XXVIII Encontros Nacionais, realizados em 2009 e 2010, apresenta a seguinte definição: A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade. Consideramos a Extensão como processo educativo e transformador entre Universidade e demais setores da sociedade, e ainda a Formação Continuada segundo Marcelo Garcia (1999, p.193) como: [...] um processo de aprendizagem mediante o qual alguém (professores, diretores) deve aprender algo (conhecimentos, competências, disposições, atitudes), num contexto concreto (escola, universidade, centro de formação) implica um projecto, desenvolvimento e avaliação curricular. O currículo, neste caso, referese à planificação, execução e avaliação, de processos formativos, tendentes a melhorar a competência profissional [...] [grifos do autor]. Compreendendo a relevância da Universidade como espaço possível e privilegiado de oferta de ações de formação continuada, vislumbrou-se na extensão o Programa de Formação Continuada de Servidores Públicos, que tem como finalidade promover a reflexão acerca das funções sociais de cada cidadão e colaborar com o desenvolvimento de um olhar crítico para a realidade em que estamos inseridos.

5 O Programa de Formação Continuada de Servidores Públicos A Universidade Federal do Rio de Janeiro, maior instituição federal de ensino superior do Brasil, é responsável pela formação de profissionais de qualidade e da massa crítica intelectual do país nos campos da ciência, da tecnologia, da cultura e das relações sociais, e principalmente pelo desenvolvimento da sociedade brasileira. Segundo Peres (2012), a sociedade está na era do conhecimento, mas ainda vivendo a era da informação, que se caracteriza pela velocidade e facilidade de acesso a qualquer tipo de informação graças aos avanços tecnológicos. Estes avanços fazem com que as informações se renovem rapidamente, promovendo o contato, em tempo real, com fatos e acontecimentos. Esta realidade acentua a necessidade de capacitar de forma contínua, pois a atualização de conhecimentos torna-se essencial em face ao dinamismo das informações, próprias de uma sociedade em permanente mudança. Neste sentido, a Pró-reitoria de Extensão da UFRJ criou o Programa de Formação Continuada de Servidores Públicos (PROFOS), que busca reunir iniciativas de formação que tenham como público-alvo os trabalhadores do setor público, em seus diversos ambientes organizacionais, articulando-as com sua formação inicial em nível básico, médio ou superior e ainda com iniciativas de formação continuada no nível de pós-graduação. Este programa inaugura na UFRJ um trabalho de formação que beneficia os servidores públicos de todo o Estado do Rio de Janeiro e também do Brasil por meio de cursos presenciais e a distância. Atendendo à finalidade que justifica a existência da UFRJ e que baliza seus objetivos, que consiste em proporcionar à sociedade brasileira os meios para dominar, ampliar, cultivar, aplicar e difundir o patrimônio universal do saber humano, capacitando todos os seus integrantes a atuar como força transformadora, este Programa contribui para melhorar a eficiência e elevar a qualidade dos serviços públicos prestados à sociedade através dos diversos órgãos federais, municipais e estaduais. Deste modo a Universidade pode dialogar com outras instituições, refletindo sobre os saberes e as experiências trazidos, entendendo a experiência como nos apresenta

6 Larrosa (2002), que é tudo aquilo que nos atravessa e nos toca. E assim a formação do servidor passa a ser dialógica, com a troca de saberes e experiências entre os pares. Os cursos oferecem possibilidades de discussão, reflexão e aprimoramento dos conhecimentos. Para que as ações possam ter o efeito desejado tanto na formação cidadã quanto nas atividades laborais, o monitoramento e a avaliação das atividades é uma prática constante e indispensável. Nesse sentido, desenvolvemos instrumentos para que alunos, coordenadores, instrutores e a equipe de supervisão façam suas avaliações sobre os aspectos estruturais, pedagógicos e os efeitos das atividades em termos profissionais e pessoais. Para que possamos ofertar nossas ações ao maior número possível de servidores públicos, a educação a distância é uma ferramenta de grande valor. Como são oferecidas vagas para servidores de todo o país, os cursos na modalidade a distância são indispensáveis para que possamos atingir os objetivos do Programa. Além de propiciar maior alcance, a educação a distância também permite uma oferta maior de vagas, propiciando que ainda mais pessoas tenham a possibilidade de realizar os cursos, com o benefício de realizar a formação num horário mais conveniente se comparado ao ensino presencial. Com o objetivo de garantir a qualidade dos cursos ofertados, além do cuidado com a produção e diversidade do material didático, a seleção de tutores respeita critérios técnicos que envolvem, inclusive, a formação desses tutores em cursos específicos para a sua atuação em educação a distância. Os cursos privilegiam a interação em fóruns de discussão, em que os servidores interagem discutindo sobre o conteúdo-base e no qual há um estímulo constante à construção coletiva do conhecimento pela troca de informações e opiniões, que tem sido muito rica graças à variedade de servidores que tem participado das ações de formação. Com a preparação de nosso corpo técnico e docente para a atuação na EaD e o trabalho constante junto às equipes dos cursos, temos visto que os cursos têm atingido um público-alvo bastante diverso, de servidores públicos das mais diferentes instituições e localidades, possibilitando àqueles que estão fisicamente distantes a realização de ações que contribuem para a formação e capacitação dos servidores públicos de todo o país.

7 Este trabalho tem sido bastante gratificante, nos mostrando que as universidades têm muito a ganhar quando abrem suas portas para públicos tão diversos e com tanto a contribuir, graças às possibilidades oferecidas pela educação a distância. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELLONI, I. Avaliação da universidade: por uma proposta de avaliação consequente e compromissada política e cientificamente. In: VIEIRA, Sofia Lerche, et al. A universidade em questão. São Paulo: Cortez, GARCÍA, C. M. Formação de professores: para uma educação continuada. Porto: Porto Editora, LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, Jan./Fev./Mar./Abr LOSSO, A. Reflexões sobre a Educação a Distância o papel do professor tutor na perspectiva da mediação pedagógica Disponível em: < 1193/1008>. MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EaD: a educação a distância hoje. São Paulo: Pearson, Tutoria e Interação em Educação a Distância. São Paulo: Cengage Learning, PERES, M. F. M. R. Era do Conhecimento X Era da Informação. Artigo disponível em