Prof. Fernando Antunes Soubhia
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- Luiz Eduardo Bernardes Garrido
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1 CAPÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL SEÇÃO I DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL Constrangimento Ilegal Art Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Liberdade individual, mais especificamente a Liberdade de escolha. Garantia do princípio da legalidade CF, art. 5, II 2) TIPO OBJETIVO a) Verbo núcleo Constranger impor contra a vontade b) Meio Executório: Violência pode ser direta ou indireta (ex: retirar as muletas de um aleijado ou arrancar as portas de uma casa para forçar os moradores a saírem (HUNGRIA, apud. JUNQUEIRA) Grave ameaça Outro meio capaz de reduzir a resistência da vítima É possível constrangimento por meio de omissão? Sim. Ex: Enfermeira deixa de alimentar o paciente para obrigá-lo a determinado comportamento. c) Ilegitimidade do comportamento imposto: a sujeição a que a vítima se submete deve ser ilegítima. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 1
2 Constrangimento para impedir alguém de pratique ato ilícito não configura o crime. Deverá ser analisada, no entanto, a proporcionalidade dos meios empregados. Por outro lado, o Constrangimento para evitar a prática de ato meramente imoral (ex: incesto), configura o crime. Atenção: Se o sujeito passivo é constrangido a praticar crime, não responderá em razão da exclusão de sua culpabilidade (coação irresistível). O coator, no entanto, responderá como autor mediato do crime praticado, em concurso material com o constrangimento ilegal. Guilherme Nucci faz uma ponderação importante: Não é porque a lei impõe um dever que outra pessoa está autorizada a forçá-lo mediante violência ou grave ameaça, a cumprir a obrigação, pois vivemos num Estado democrático de Direito, onde o Estado assumiu o monopólio do direito de punir e exigir compulsoriamente a prática de alguma conduta. Portanto, muitas vezes, quando o particular constrange outrem a fazer o que a lei manda estará praticando o crime de exercício arbitrário das prórprias razões (NUCCI, Código Penal Comentado. 12ª Ed. RT: São Paulo, p. 746) d) Constrangimento para impedir o Suicídio: tirar a própria vida não é considerado infração penal, mas há previsão específica para exclusão do crime quando o constrangimento for praticado para evitar o suicídio alheio (art. 146, 3º, II). A doutrina diverge quanto a natureza jurídica da exclusão do crime. Para uns, trata-se de causa de atipicidade (dominante); para outros, exclusão da antijuridicidade. 3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade coagir alguém. 4) SUJEITOS: Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 2
3 a. Ativo qualquer pessoa. i. Se for praticado por funcionário público poderá caracterizar abuso de autoridade (Lei 4.898/65) b. Passivo qualquer pessoa com capacidade de autodeterminação. i. Se for praticado contra Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, por motivos políticos, o crime será o do art. 28, da Lei de Segurança Nacional Lei 7,170/83 5) CONSUMAÇÃO Crime material, exige que a pessoa efetivamente pratique ou deixe de praticar o ato. 6) TENTATIVA Admite-se. Aumento de pena 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. 7) Causas de Aumento de Pena a. Mais de três pessoas o concurso intelectual não é suficiente. A pluralidade de agentes deve estar presente na execução do crime b. Emprego de Armas Prevalece que a arma deve ser efetivamente utilizada, não bastando o porte, ainda que ostensivo. Prevalece Também que é necessário que seja arma de verdade, a revogação da súmula 174 do STJ afasta a possibilidade de arma de brinquedo majorar a pena. Há corrente que exige mais de uma arma (Bittencourt), mas prevalece que basta uma (Pierangeli) Prevalece, por fim, que a arma pode ser imprópria. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 3
4 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. 8) Exclusão do Crime a. Intervenção médica quando houver iminente perigo de vida b. Impedir o suicídio A doutrina diverge quanto a natureza jurídica da exclusão do crime. Para uns, trata-se de causa de atipicidade, uma vez que o constrangimento deve ser para a prática ou omissão de ato ilegítimo (Nucci - dominante); para outros, trata-se de exclusão da antijuridicidade. Ameaça Art Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Liberdade individual, mais especificamente a Liberdade de escolha. A pessoa ameaçada deixa de escolher livremente suas ações. 2) TIPO OBJETIVO a) Verbo núcleo Ameaçar prometer causar mal a alguém b) Meio Executório: Palavra Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 4
5 Escrito Gesto Qualquer outro meio simbólico É possível ameaça por meio de omissão? c) Mal injusto e grave Não haverá crime se o agente prometer realizar mal justo (legítimo). Ex: se não abaixar o som, vou chamar a polícia; Se não pagar em dia, incluirei seu nome no SERASA. A gravidade deve levar em conta a subjetividade da vítima (Mirabete). O critério do homem médio ainda é utilizado (Noronha), mas é injusto. O mal prometido deve ser grave e possível, bem como deve haver credibilidade na ameaça (idoneidade). Por vezes, ainda que o mal seja fisicamente impossível, deve ser analisado se não se trata de uma força de expressão e se não há uma ameaça velada. P. ex: vou arrancar seu couro; hoje a cobra vai fumar; vou triturar você... d) Mal futuro o mal prometido não pode estar na iminencia de ocorrer (ex: gritar vou quebrar sua cara seguido de um soco). Classificações da ameaça: Explícita clara e induvidosa Implícita de forma velada, oculta dentro de uma simbologia Direta mal recairá sobre a própria pessoa ameaçada Indireta o mal recairá sobre terceira pessoa Condicional o mal depende de acontecimento futuro ou de um comportamento da vítima Incondicional o mal não depende de nada Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 5
6 3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade amedrontar a vítima. Existe discussão sobre o afastamento do elemento subjetivo quando o agente se encontra excepcionalmente exaltado ou mesmo embriagado, pois, em tais situações, a ameaça decorreria do desequilíbrio emocional e não da vontade livre e consciente de amedrontar (Regis Prado). Prevalece que não afasta (Hungria, Damásio, Cunha) 4) SUJEITOS: a. Ativo qualquer pessoa. i. Se for praticado por funcionário público poderá caracterizar abuso de autoridade (Lei 4.898/65) b. Passivo qualquer pessoa com capacidade de compreender a ameaça. i. Se for praticado contra Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, por motivos políticos, o crime será o do art. 28, da Lei de Segurança Nacional Lei 7,170/83 5) CONSUMAÇÃO Crime formal, não exige que a pessoa se sinta efetivamente amedrontada. 6) TENTATIVA Admite-se, quando praticada por escrito e interceptada. 7) AÇÃO PENAL pública condicionada 8) CONFLITO APARENTE DE LEIS a) CDC, art Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena Detenção de três meses a um ano e multa. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 6
7 b) Lei 7170/83, art Atentar contra a liberdade pessoal de qualquer das autoridades referidas no art. 26. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. Seqüestro e cárcere privado Art Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº , de 2002) Pena - reclusão, de um a três anos. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Liberdade individual, mais especificamente a Liberdade de Locomoção, Liberdade Ambulatória. 2) TIPO OBJETIVO a) Verbo núcleo Privar tolher ou comprometer a liberdade locomotiva de alguém b) Sequestro x Cárcere privado: Sequestro privação de liberdade sem confinamento (ex: em uma fazenda, uma casa) Cárcere Privado privação de liberdade com confinamento (ex: em um quarto, um buraco) A possibilidade de fuga não desnatura o crime, desde que haja risco pessoal ou que a vítima desconheça a possibilidade. c) Meio executório crime de forma livre. Pode ser praticado com violência, grave ameaça, fraude ou até mesmo por omissão (ex: médico que se recusa a dar alta ao paciente). d) Tempo relevante (?) - Parcela da doutrina entende que para se configurar o crime de sequestro ou cárcere privado, a Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 7
8 privação da liberdade deve se prolongar por tempo relevante (Junqueira). Prevalece, no entanto, que a extensão de tempo da privação é irrelevante, bastando a restrição da liberdade. 3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade de privar a vítima de sua liberdade. Não pode haver elemento subjetivo específico. Se houver o crime se desnaturará para outro (Extorsão mediante sequestro, Exercício Arbitrário das Próprias Razões, Tortura, Redução a Condição Análoga de Escravo...) 4) SUJEITOS: a. Ativo qualquer pessoa. i. Se for praticado por funcionário público poderá caracterizar abuso de autoridade (Lei 4.898/65) b. Passivo qualquer pessoa. i. O consentimento da vítima exclui o crime. ii. Se for praticado contra Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, por motivos políticos, o crime será o do art. 28, da Lei de Segurança Nacional Lei 7,170/83 5) CONSUMAÇÃO Crime formal, consuma-se com a privação da liberdade. O crime é de natureza permanente, de modo que a consumação se prolonga no tempo. 6) TENTATIVA Admite-se, por se tratar de crime plurissubsistente. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 8
9 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº , de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº , de 2005) 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. 7) QUALIFICADORAS a. Vítima ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, maior de 60 ou menor de 18: Companheiro foi incluído pela lei /05 Idoso foi incluído pelo Estatuto do Idoso Atenção: por se tratar de crime permanente, caso a vítima tenha sido sequestrada antes das referidas leis, mas a liberação tenha ocorrido depois, aplica-se a qualificadora em razão da súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. b. mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital internação fraudulenta ou simulada. Interna-se a pessoa sem que seja necessário ou contra sua vontade. c. privação da liberdade dura mais de quinze dias argumento de reforço para aqueles que ensinam que a duração da privação da liberdade é irrelevante. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 9
10 d. fins libidinosos continuidade típico normativa do crime de rapto violento. 8) CONFLITO APARENTE DE LEIS a. ECA, art Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Trata-se da apreensão de criança ou adolescente em desconformidade com as exigências legais (ECA, art. 106). Se houver cárcere, o crime será o do art. 148, 1º, IV b. CP, art.157, V se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. A distinção reside no tempo de privação da liberdade. Se apenas o suficiente para praticar o roubo, haverá a causa de aumento; se for além do necessário, haverá concurso material de crimes. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 10
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