Recebido em 09/06/2005, aceito em 25/08/2005. Médica Fisiatra da Clínica de Paralisia Cerebral/AACD 3
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- Luís Campelo de Paiva
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1 Influência da transferência reto-femoral na excursão dos joelhos em pacientes com paralisia cerebral The influence of rectus femoris transfer on knee range of motion of cerebral palsy patients Anny ichelly Paquier Binha 1, Adriana Rosa Lovisotto Cristante 2, Gláucia Somensi de Oliveira Alonso 2, auro César orais ilho 3, Yara Juliano 4 RESUO A marcha com o joelho rígido é um padrão comum na paralisia cerebral e a etiologia, em muitos casos, é a espasticidade do músculo reto-femoral. A transferência deste músculo para flexor de joelho tem sido usada como tratamento, porém com resultados variados. Para avaliar a efetividade deste procedimento, vinte e oito pacientes com paralisia cerebral tipo diparesia espástica, submetidos à transferência do reto-femoral, foram estudados retrospectivamente. No subgrupo A (n=16), os pacientes não usavam órteses ou auxiliares para marcha e enquanto que no subgrupo B (n=12) sim. oi considerado como critério de inclusão a realização da análise computadorizada da marcha antes e a cirurgia. O objetivo foi avaliar o efeito do tratamento no arco de movimento dos joelhos (cinemática) e na qualidade de vida dos pacientes (questionário). Resultados mostraram aumento do arco de movimento dos joelhos para os dois subgrupos (p=0,006 para o A e p=0,045 para B). A avaliação subjetiva (questionário) demonstrou alto nível de satisfação a tratamento apesar dos familiares responderem que quase não houve mudanças nas atividades de vida diária. Os resultados sugerem ser necessário uma investigação adicional para identificar outros fatores que poderiam alterar os resultados e que, um instrumento mais objetivo, como o G é uma opção melhor para avaliação funcional. Palavras chave Paralisia cerebral, análise de marcha, articulação do joelho, amplitude articular, transferência reto-femoral. ABSTRACT Stiff knee gait is a common walking pattern in cerebral palsy and rectus femoris spasticity is the etiology in many cases. Rectus femoris transfer has been used in the treatment of this condition, but surgery outcomes are variable. In order to evaluate the effectiveness of this procedure, twenty-eight patients with diparetic spastic cerebral palsy, that had undergone rectus femoris transfer, were reviewed in retrospective study. In the subgroup A (n=16), patients did not use orthosis or walking aids, but in the subgroup B(n=12) they did. A complete tridimensional gait analysis before and after surgery was considered an inclusion criterion. The objective was to evaluate the effect of treatment at knee range of motion (kinematic) and patient quality of life (questionnaire). Results show increase of knee range of motion in both subgroups (p = 0,006 in the subgroup A and p = 0,045 in the subgroup B). The subjective evaluation (questionnaire) demonstrated high level of satisfaction despite the fact that there was no change in the activities of dairy life after surgery. The results suggest that further investigation is necessary to identify which factors could influence rectus transfer results and a more objective instrument, like Gross otor unction easure, is a better option to evaluate function level. Keywords Cerebral palsy, gait analysis, knee joint, range of motion, rectus femoris transfer. Recebido em 0/06/2005, aceito em 25/08/ édica Residente da isiatria/aacd 2 édica isiatra da Clínica de Paralisia Cerebral/AACD 3 édico Ortopedista e Coordenador Clínico do Laboratório de archa/aacd 4 Prof. Titular de Bioestatística da aculdade de edicina da Universidade de Santo Amaro Endereço para correspondência: Av. Professor Ascendino Reis, 724 Vila Clemetino São Paulo SP CEP: , annymich@hotmail.com
2 ACTA ISIATR 2005; 12(2): Binha A P, Cristante A R L, Alonso G S O, ilho C, Juliano Y - Influência da Introdução A paralisia cerebral (PC) é definida como um grupo de desordens motoras, resultante de lesões cerebrais que ocorrem nos primeiros estágios do desenvolvimento cerebral. Entre as causas podemos citar anóxia perinatal, prematuridade, malformações e asfixia intra-uterina. Essas alterações motoras não progridem, pois a lesão cerebral já está instalada, mas podem ocorrer mudanças do padrão motor como o aparecimento ou progressão de deformidades 1,2,3. O ato de andar depende do controle e coordenação motores, interação entre ossos e força muscular, rotações articulares e também das forças físicas externas que agem no corpo. Sendo assim, se um desses elementos estiver alterado, obteremos uma marcha fora dos padrões normais 4. A análise da marcha vem ocupando espaço cada vez maior com o objetivo de auxiliar no estudo dos padrões dos movimentos não só em portadores de paralisia cerebral, mas também em outras doenças neuromusculares, permitindo planejamento terapêutico, seja para indicação cirúrgica ou acompanhamento -operatório. Como sabemos, a marcha com joelho rígido é um dos padrões comumente vistos na PC, e uma das possíveis causas é a espasticidade do músculo reto-femoral. Assim, a cirurgia de transferência da porção distal deste músculo, geralmente para músculos como grácil, semitendinoso e semimembranoso, auxiliaria no aumento da flexão dos joelhos na fase de balanço e conseqüentemente no arco total de movimento desta articulação 5,6,7. Com isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar o impacto da transferência do músculo reto-femoral, para flexor de joelho, sobre o arco de movimento desta articulação em pacientes com PC através da avaliação cinemática antes e a a realização do procedimento cirúrgico. O grau de satisfação dos familiares com relação aos ganhos funcionais obtidos no período -operatório também fora considerado e analisado. Casuística e étodo A amostra foi formada por pacientes com PC tipo diparesia espástica, todos deambuladores comunitários, com ou sem órteses ou meios auxiliares para a marcha (muletas canadenses ou andador), submetidos à cirurgia de transferência reto-femoral para flexor de joelho entre 18 e 2002, e que realizaram exame de marcha antes e a a cirurgia. oram excluídos os pacientes sem acompanhamento médico regular na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), pacientes cujos questionários não estavam devidamente preenchidos e aqueles que não possuíam exame tridimensional de marcha e -operatório. Vinte e oito pacientes preencheram todos os critérios supracitados e foram considerados para o estudo. Aqueles que não necessitavam do uso de órteses ou apoio para a marcha formaram o sub-grupo A, enquanto que os pacientes que necessitavam de órteses, muletas ou andador constituíram o sub-grupo B. oram consideradas indicações para a transferência do músculo reto anterior da coxa para flexor de joelho: teste de Ely positivo ao exame físico, pico de flexão na fase de balanço menor que um desvio padrão do normal (menor que 54 ), pico de flexão na fase de balanço a 72% do ciclo de marcha, atividade não apropriada do músculo reto-femoral no balanço médio na EG. Este procedimento cirúrgico foi combinado com a correção simultânea de outras deformidades nos membros inferiores em 22 casos no mesmo ato anestésico, com o objetivo de promover uma reabilitação apropriada e evitar recidivas. O subgrupo A (n=16) foi formado por doze pacientes do sexo masculino e quatro do sexo feminino. Onze pacientes (68,75%) já haviam sido submetidos a cirurgias anteriormente e a média de idade no ano da cirurgia de transferência reto-femoral era de anos (tabela 1). O subgrupo B (n=12) apresentava seis pacientes do sexo masculino e seis do sexo feminino. Nove pacientes (75%) já haviam sido submetidos a cirurgias vias e a média de idade na ocasião da transferência do reto-femoral foi de 12 anos (tabela 2) Todos eles (n=28) realizaram fisioterapia -operatória. A análise tridimensional da marcha foi realizada com base no método escrito por Davis et al 8 e para tal, marcadores fotoreflectivos foram locados na pelve e nos membros inferiores conforme padronização. A trajetória tridimensional dos marcadores foi aferida com a utilização de 6 câmeras infra-vermelho de 60 hertz (VICON; Oxford etrics, Oxford, Reino Unido) e a cinemática foi calculada através dos ângulos de Euler. Os pacientes foram orientados a andarem em sua velocidade habitual na pista de oito metros do laboratório de marcha da AACD e ciclos de marcha foram coletados para avaliação da consistência. Para análise clínica foi selecionado apenas um ciclo de marcha representativo de cada paciente e não foi observada inconsistência do grupo estudado. Na cinemática, foram pesquisados a extensão máxima dos joelhos na fase de apoio e o pico de flexão no balanço. A diferença entre estes dois parâmetros foi considerada o arco de movimento da articulação, e os valores anterior e posterior à cirurgia foram comparados de por meios estatísticos. Vale a pena mencionar que se optou pela avaliação do arco de movimento ao invés do pico de flexão na fase de balanço, em virtude do primeiro ser mais abrangente e refletir o funcionamento global da articulação, não apenas a fase de balanço. No presente estudo não foram avaliados os efeitos da cirurgia sobre os movimentos compensatórios do joelho rígido. Como complemento ao exame de marcha, os responsáveis pelo paciente foram solicitados a responder um questionário sobre a capacidade em realizar atividades de vida diária, satisfação com o tratamento e resultado do mesmo, a coleta dos dados de cinemática. Estes dados, que ficaram arquivados no prontuário do laboratório de marcha da AACD, foram quantificados seguidos pela comparação entre o e -operatório. Com relação ao processo de reabilitação, a verificação foi feita com base nos prontuários do arquivo geral da instituição. Para a análise dos resultados foram aplicados: 1. teste de Wilcoxon para comparar as medidas do arco total obtidas antes e a a cirurgia, para cada um dos subgrupos; 2. teste de ann-whitney para comparar os valores do % ( % depois antes / antes) x 0, entre os dois subgrupos. ixou-se em 0,05 ou 5% o nível de rejeição da hipótese de nulidade assinalando-se com um asterisco e o p os valores significantes (). 68
3 ACTA ISIATR 2005; 12(2): Binha A P, Cristante A R L, Alonso G S O, ilho C, Juliano Y - Influência da Tabela 1 Características dos pacientes do sub-grupo A, cirurgias realizadas e dados cinemáticos dos joelhos antes e a os procedimentos cirúrgicos. Pacientes do subgrupo A Sexo Idade no ano cirúrgico (em anos) Cirurgias associadas à TR Pico de flexão dos joelhos no balanço (em graus) Arco total movimento dos joelhos(em graus) H.C..N ISQ D/E, PIP D/E, GT D/E,OT D/E, 54,4 67,3 60,0 58, 28,6 32,3 30,1 27,6 E.C.B.L 8 PIP D/E, ISQ D/E 44,4 6,3 65,8 57, 35,8 45,4 40,2 41,0 E..B PIP D/E, HTP D/E 60, 63,7 61,0 70,6 35, 60,8 50, 61,1 T..O PIP D/E, OT D/E, 53,3 57,6 47,6 51,5 4,7 7,4 24,0, D.J.L 12 PIP D/E, GT D/E, ATP D/E, HTA D/E, OVC D/E 46,1 55,1 60,8 53,8 36,2 2,4 34,8 28,3 R.R.C.C OD D/E, ATP D/E 6,0 45,4 60,8 44,0 76,0 46,8 67,0 30,1 D.D.S.S GT D/E, OT D/E, 31,4 24,4 5,1 53, 40,1 40,7 54,2 52,8..C ISQ D/E, GT D/E, P D/E, ECL D/E, HTA D/E 50,8 61,0 62,3 56,1 27,1 2,1 38,1 27,0 G..L ,2 31,1 55,6 57,7 20,2 1,8 42,5 16,8 G.B..S ISQ D/E, GT D/E, OD D/E, PIP D/E 58,7 47,5 47, 50,8 47,7 34,8 3,5 43,1 J.R.D.C ,8 42,6 50,0 51,3 16,1,8,0 20,3 E.O.S OD D/E, OT D/E, GT D/E, 65,3 64,6 55,6 52,3 35,2 23,5 37,5 31,3 N.C.G ,6 51,0 66,5 65,5 45, 40,0 6,5 76,7 V.T.T OE D/E, ISQ D/E, PIP D/E 50,5 67,0 51,7 61,4 27,2 3,0 3,8 40,.S PIP D/E, ISQ D/E 47, 58,2 47, 51,4 22,3 30,1 30,7 33,1 G.. 18 PIP D/E, ARTP D/E 51,4 42, 64,4 51, 25,5 34,2 52,5 46,0 D (direito), E (esquerdo), (masculino), (feminino), TR (transferência do reto femoral), ISQ (alongamento dos isquiotibiais mediais), PIP (tenotomia intrapélvica do psoas), GT (alongamento do gastrocnêmio), OT (osteotomia derrotativa interna da tíbia), CLP (alongamento da coluna lateral dos pés), HTP (hemitransferência do músculo tibial posterior), ATP (alongamento do músculo tibial posterior), HTA ( hemitransferência do músculo tibial anterior), OVC (osteotomia varizante dos calcâneos), OD (osteotomia derrotativa externa dos fêmures), ECL (encurtamento da coluna lateral dos pés), P (fasciotomia plantar), OE (osteotomia extensora dos fêmures) e ARTP (artrodese tríplice dos pés). Tabela 2 Características dos pacientes do sub-grupo B, cirurgias realizadas e dados cinemáticos dos joelhos antes e a os procedimentos cirúrgicos. Pacientes do subgrupo B Sexo Idade no ano cirúrgico (em anos) Cirurgias associadas à TR Pico de flexão dos joelhos no balanço (em graus) Arco total movimento dos joelhos(em graus) P.E.R.P 18 5,3 47, 62,4 55,0 33,6 40, 28,3 34,4 P..N, GT D/E, OT D/E 30, 37,6 55,7 52,0 34,6 38,8 33,5 24,3 N.S.P ISQ D/E, TAD D/E, 44,4 43, 56,3 40,1 23,7 25,3 46,6 37,8 L.S ,5 56,0 55,6 67,7 41,5 51,7 48,0 56,2 A.A.C.S. ISQ D/E, OT D/E, 42,8 3,0 57,7 5,7 32,7 33,4 28,2 34,3 G.S.S 7 PIP D/E, TAD D/E, ISQ D/E, GT D/E 44,0 44,6 42, 58, 42,6 27, 3,6 37, R.S.J 3,5 35,7 5,2 54,5 34,7 32, 72,1 65, S.J.R 13 OD D/E, ISQ D/E, 34,5 3,4 64,6 70,0 35,5 26,3 25,1 22,3 J.J.S 27,6 28,5 3,2 50,7 26,1 34,6 2,1 35,8 J.A 12 PIP D/E, TAD D/E, ISQ D/E, OT D/E 43, 34,4 47, 45, 2,4 30,7 31,0 35,2 E.H.T. OD D/E, GT D/E 62,6 38,4 56,2 48, 42,2 34,3 45,2 42,1 G.C.B PIP D/E, ISQ D/E, HTA D/E, ATP D/E, GT D/E 47, 3,7 5,0 56,4 35,5 34,7 54,0 56,8 D (direito), E (esquerdo), (masculino), (feminino), TR (transferência do reto femoral), ISQ (alongamento dos isquiotibiais mediais), PIP (tenotomia intra-pélvica do psoas), GT (alongamento do músculo gastrocnêmio), OT (osteotomia derrotativa interna da tíbia), CLP (alongamento da coluna lateral dos pés), TAD (tenotomia dos adutores de quadril), OD (osteotomia derrotativa externa dos fêmures D/E), ATP (alongamento do músculo tibial posterior), HTA (hemitransferência do músculo tibial anterior). 6
4 ACTA ISIATR 2005; 12(2): Binha A P, Cristante A R L, Alonso G S O, ilho C, Juliano Y - Influência da Resultados Com relação ao arco total de movimento dos joelhos, os pacientes do subgrupo A mostraram aumento na média que foi de 32,8 para 3,35 (aumento de 6,37º ou de 1,7%). De acordo com o teste de Wilcoxon, o aumento do arco de movimento dos joelhos a a transferência do reto-femoral foi significativo (p=0,006). Para o subgrupo B, o aumento foi 34,03 para 40,40 (aumento de 6,37 ou 18,73%) a a realização dos procedimentos cirúrgicos e também foi significativo estatisticamente (p=0,045). Através do teste de ann-whitney constatou-se que não houve diferença estatística no aumento do arco de movimento entre os dois grupos (p=0,67) (tabela 3). édia ediana Tabela 3 Pacientes com paralisia cerebral submetidos a cirurgia de transferência reto-femoral e que tiveram seu arco de movimento dos joelhos avaliado Com base nos questionários, 2 pacientes do sub-grupo A conseguiam subir e descer escadas sem a utilização do corrimão antes da realização do tratamento cirúrgico. No -operatório 1 paciente manteve este status enquanto que o outro perdeu. Dos que não conseguiam realizar esta tarefa no -operatório, 4 (28,57%) passaram a realizá-la. Para o subgrupo B, nenhum dos 12 indivíduos realizava essa atividade no -operatório e 2 deles passaram a executá-la a a intervenção cirúrgica (figuras 1 e 2). Discussão subgrupo A Antes cirurgia A cirurgia 32,875 33,2500 3, ,8000 % 1,27 édia ediana subgrupo B Antes cirurgia A cirurgia 34, , , ,8000 O presente estudo mostrou que a transferência do músculo reto anterior da coxa para flexor de joelho foi efetiva para aumentar o igura 01 Variação do número de pacientes, do subgrupo A, que passou a subir e descer escadas/ rampas sem usar o corrimão e a correr a o procedimento cirúrgico. % 18,730 igura 02 Variação do número de pacientes, do subgrupo B, que passou a subir e descer escadas / rampas sem usar o corrimão e a correr a o procedimento cirúrgico. arco de movimento desta articulação. A média de aumento para os dois subgrupos foi semelhante estatisticamente, ou seja, podemos dizer que o resultado da cirurgia não foi influenciado pela utilização de auxiliares para marcha (órteses suro-podálicas, muletas canadenses e andadores). Não foi encontrada comparação na literatura, pois em geral os autores mesclam em suas amostras pacientes que usam e que não usam órteses e/ou meios auxiliares de marcha. Porém, considerando a média do aumento do arco total de movimento dos joelhos dos nossos pacientes (6,37º), chegamos mais próximos dos resultados obtidos por Saw et al 12, que descrevem um aumento de 7º em sua amostra, do que dos obtidos por Ounpuu et al 13 que atingiu 16º. O aumento do arco de movimento dos joelhos pode ser obtido pela redução da flexão na fase de apoio, aumento do pico de flexão na fase de balanço ou uma combinação entre ambos. A espasticidade do músculo reto-femoral causa limitação para a flexão dos joelhos na fase de balanço, portanto presume-se que na amostra estudada o aumento no arco de movimento ocorreu às custas do aumento do pico de flexão nesta mesma fase da marcha. Posto isto, seria muito desejável um estudo adicional com a mesma amostra, com o objetivo de se identificar em quais pacientes o alongamento dos isquiotibiais mediais foi realizado no mesmo tempo cirúrgico da transferência reto-femoral, com objetivo de definir qual a importância de cada procedimento cirúrgico sobre a amplitude de movimentação dos joelhos,15,16. Correlacionando a parte quantitativa (arco de movimento) com a qualitativa (função), apesar de termos obtido aumento estatisticamente significante para o arco de movimento dos joelhos, para os dois grupos, não houve mudanças significativas no perfil funcional (checado pelas respostas dos questionários). E mais ainda, mesmo sem essa melhora funcional, familiares responderam estar satisfeitos com o resultado e que repetiriam o tratamento caso fosse necessário. Avaliar respostas de um questionário simples torna os resultados bastante subjetivos, o que nos leva a acreditar que esse perfil 70
5 ACTA ISIATR 2005; 12(2): Binha A P, Cristante A R L, Alonso G S O, ilho C, Juliano Y - Influência da funcional seria mais bem explorado e provavelmente obteríamos uma avaliação mais objetiva se fosse aplicado um protocolo quantitativo para avaliar função motora. Atualmente há uma crescente importância e exploração dos métodos para avaliação funcional e da qualidade de vida, como demonstrado por orris et al, e em muitos deles, tenta-se correlacioná-los com os resultados obtidos na análise de marcha 18. Damiano et al 1 demonstraram correlação entre análise de marcha (através de exame realizado em laboratório de marcha) e função motora grossa (através do G - Gross otor unction easure) em crianças com paralisia cerebral. Enquanto o laboratório de marcha é um bom instrumento para medir de maneira exata as alterações da marcha (múltiplas medidas de uma única habilidade motora), o G pode detectar de maneira quantitativa e objetiva mudanças no padrão motor que afetam a qualidade de vida. É importante lembrar que muitas vezes uma melhora na qualidade de marcha não reflete alterações na função motora grossa, ou seja, não são detectadas pelo G 20. Conclusão No presente estudo, de acordo com a análise quantitativa, observou-se um aumento estatisticamente significativo do arco de movimento dos joelhos a transferência reto-femoral para os dois subgrupos, sendo que a média de aumento foi semelhante entre eles, ou seja, não houve diferença se o paciente era dependente ou não de órteses ou meios auxiliares de marcha (o uso de órteses ou meios auxiliares de marcha foi a variável que diferenciou os subgrupos). Percebemos que apenas um questionário simples, a ser respondido por familiares e/ou pacientes, não nos oferece respostas suficientes, que tornariam mais adequado o estudo do perfil funcional de cada paciente, complementando o exame de marcha. 2003; 23(5): Sutherland DH, Davids JR. Common Gait Abnormalities Of The Knee In Cerebral Palsy. Clinical Orthopaedics And Related Research 13; 228: Ounpuu S, uik E, Davis RB, Gage JR, Deluca PA. Rectus emoris Surgery In Children With Cerebral Palsy Part II: A comparision Between The Effect Of Transfer And Release Of The Distal Rectus emoris On Knee otion. J Pediatr Orthop 13; 13(3): Perry J. Distal Rectus emoris Transfer. Devel ed And Child Neurol 187; 2: Van der linden L, Aitchison A, Hazlewood E, Hillmam SJ, Robb JE. Effects of Surgical Lengthening of the Hamstrings without a concomitant Distal Rectus emoris Transfer in Ambulant Patients With Cerebral Palsy. J Pediatr Orthop 2003; 23(3): Ounpuu S, uik E, Davis RB, Gage JR, Deluca PA. Rectus emoris Surgery In Children With Cerebral Palsy Part I: The Effect Of Rectus emoris Transfer Location On Knee otion. J Pediatr Orthop 13; 13(3): orris C, Galuppi BE, Rosenbaum PL. Reliability of amily Report for the Gross otor unction Classification System. Dev ed Child Neurol 2004; 46: Wren T, Pirpiris, Dorey, Otsuka NY. Outcome assessment by gait analysis versus functional testing and quality of life questionnaires; paper nº 257, 2005 Annual eeting eb 23-27, Washington DC, of the American Academy of Orthopaedic Surgeons 1. Damiano DL, Abel. Relation of Gait Analysis to Gross otor unction in Cerebral Palsy. Devel ed And Child Neurol 16; 38: Rosenbaum PL, Walter DJ, Hanna SE, Palisano RJ, Russel DJ, Raina P, et al. Prognosis for gross motor function in cerebral palsy. Jama 2002; 288(): Referências bibliográficas 1. errareto I, Souza AC. Paralisia Cerebral: Aspectos Práticos. São Paulo, Editora emnon 18, 38 páginas. 2. Chambers HG. Advances in Cerebral Palsy. Curr Opin Orthop 2002; 13(6): Grande AB, Luque A, Alfaro CG, Chacon B, Gonzalez T, Roldan JD. Parálisis Cerebral Infantil: estudio de 250 casos. Rev Neurol 2002; 35(): Chambers HG, Sutherland DH. A Practical Guide to Gait Analysis. Journal Of The American Academy Of Orthopaedic Surgeons 2002; (3): Gage JR, Deluca PA, Renshaw TS. Gait Analysis: Principles And Applications. The Journal Of Bone and Joint Sugery 15; 77A(): Lee EH, Goh JCH, Bose K. Value Of Gait Analysis In The Assessment Of Surgery In Cerebral Palsy. Arch Phys ed Rehabil 12; 73(7): Perry J, Gage JR, Hicks RR, Koop S, Werntz JR. Rectus emoris Tranfer to Improve Knee unction of Children with Cerebral Palsy. Devel ed And Child Neurol 187; 2: Davis RB, Ounpuu S, Tyburski DJ, Gage JR. A gait analysis data collection and reduction technique. Hum motion analysis: current applications and future directions. Piscataway: IEEE Press. 16; p Kabada P, Ramakrishnan HK, Wootten E. easurement of lower extremity kinematics during level walking. J Orthop Res 10; 8: Siegel S, Castellan NJ. Nonparametric Statistics. New York, Editora cgraw-hill Int 188, 2a ed.. Smith PA, Saw A, Chen S, Sirirungruangsarn Y, Hassani S, Harris G, Kuo KN. Rectus emoris Transfer or Children with Cerebral Palsy: long term outcome. J Pediatr Orthop 71
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