CONCEPÇÕES SOBRE DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: A FORMAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA EM SAÚDE i
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1 CONCEPÇÕES SOBRE DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: A FORMAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA EM SAÚDE i RESUMO Ana Clédina Rodrigues Monteiro - CEDESS/UNIFESP, Christine Barbosa Betty - CEDESS/UNIFESP, Lidia Ruiz-Moreno - CEDESS/UNIFESP Este estudo apresenta resultados parciais de pesquisa iniciada no ano de 2012 acerca da formação docente em saúde. Seu objetivo é identificar as concepções sobre docência de pós-graduandos matriculados na disciplina Formação Didático-Pedagógica em Saúde. Esta disciplina é ofertada pelo Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS), órgão complementar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) a estudantes de programas de pós-graduação stricto sensu em saúde. Sua proposta de trabalho parte do princípio que é função do docente a reflexão crítica da prática e da realidade onde se realiza e considera que a formação docente na área da saúde no Brasil é influenciada pelas mudanças na formação profissional em decorrência da consolidação do Sistema Único de Saúde- SUS. O presente estudo foi realizado com uma das turmas da disciplina do ano de 2012, ofertada na modalidade semipresencial. Foram selecionados como sujeitos da pesquisa os estudantes que informaram não ter participado de experiências de formação didático-pedagógica e nem exercido atividades docentes. Os resultados foram obtidos por meio da análise de conteúdo de narrativas elaboradas pelos pós-graduandos no início e no final da disciplina. Foram propostas três categorias de análise: concepções sobre a profissão docente, concepções sobre o papel docente e concepções sobre a prática docente. Os resultados revelaram que é possível verificar o processo de desenvolvimento do conhecimento sobre docência em saúde ao longo da disciplina e que este conhecimento está em consonância com as mudanças do perfil do profissional de saúde preconizado pelas atuais políticas de formação profissional nesta área. Palavras-chave: formação docente; saúde; ensino superior. PROBLEMÁTICA Assumir a docência na educação superior requer conhecimentos acerca da didática, do currículo, do planejamento educacional, dos processos de ensino, aprendizagem e avaliação, da interação professor-estudante, entre outros. Porém os cursos de pós-graduação na área da saúde voltam-se mais para a formação de pesquisadores ou especialistas em determinados campos do saber, ficando na maior parte das vezes a formação docente restrita às experiências práticas quando o profissional já se encontra atuando em sala de aula (BATISTA; BATISTA, 2004). Aliada a esta questão a formação docente na área da saúde adquire especial relevância no atual contexto de mudanças na formação profissional em decorrência da consolidação do Sistema Único de Saúde-SUS que, por sua vez, demanda um novo 02049
2 2 perfil profissional para esta área e consequentes inovações no processo de formação docente. O Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS) oferece a disciplina de Formação Didático-Pedagógica em Saúde, num formato bimodal, ii aos pós-graduandos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) visando o preparo para a formação docente numa perspectiva crítica e reflexiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1) Concepções dos sujeitos da pesquisa sobre a profissão docente Analisando as concepções dos pós-graduandos, profissionais da área da saúde, os quais almejam seguir a profissão docente, observamos em seus relatos uma diversidade de opiniões acerca da profissão docente. Há sujeitos que concebem a docência como uma área de atuação profissional e outros que a entendem como uma arte que proporciona prazer ao compartilhar o conhecimento. Há ainda quem a considere uma profissão que oculta uma arte. Para este participante que assume ter uma visão um pouco idealizada da atividade, a docência é uma vocação, requer abnegação e satisfação pessoal e afirma: E eu ainda vou ganhar para fazer isso? Que maravilha! Na visão dos participantes os professores da graduação são tidos como referências para a formação dos alunos que pretendem exercer a docência em saúde e suas condutas, atitudes e comportamentos são exemplos a serem seguidos ou não. Para ser docente em saúde é preciso ser capaz de transmitir, respeitar e honrar o que lhe foi ensinado. E o professor deve ser exigente, preparado, sábio, atualizado, inovador, conselheiro e trabalhar por prazer. A profissionalidade docente sinalizada pelos sujeitos é indicada por Imbernón (2006, p.27) ao afirmar que ver o docente como um profissional implica dominar uma série de capacidades e habilidades especializadas que o fazem ser competente em determinado trabalho, e que, além disso, o ligam a um grupo profissional organizado e sujeito a controle. Os pós-graduandos afirmam que o bom professor precisa ter três capacidades acima da média: escuta ativa, resiliência e energia positiva além de competência, conhecimento, assiduidade e outras características. Há também quem considere que o bom professor é cordial, honesto, tem gosto por repassar o seu conhecimento e domínio de conteúdo. Há quem entenda que para ser um bom professor é preciso didática, paciência, carisma e disposição. Para Nóvoa (2009), nos dias atuais, são essenciais ao bom professor cinco disposições: conhecimento, cultura profissional, tato pedagógico, 02050
3 3 trabalho em equipe e compromisso social. Mesmo realizando uma disciplina de formação didático-pedagógica a qual visa a construção da identidade docente, notamos que nas análises iniciais sobre a profissão os sujeitos se mantêm no papel de alunos. Porém, nos relatos elaborados na conclusão da disciplina, essa concepção se altera para a maioria dos sujeitos, uma vez que deslocam seu foco para a figura do professor e para as práticas docentes, conforme narrado a seguir: a interação dos grupos e dos docentes, isso com certeza irá ficar marcado e aumentou ainda mais a minha vontade de um dia ser professora e estar do outro lado da sala. Ainda nos relatos finais são reiterados atributos do bom docente assinaladas anteriormente tais como competência, conhecimento, assiduidade e outras ditas comuns e acrescidas a preparação pedagógica. Indicando o reconhecimento da importância do campo teórico da educação indicados por Pimenta e Anastasiou (2008) para a docência no ensino superior. Nas narrativas finais o docente passa a ser visto não apenas como aquele que ensina, mas também como aquele que aprende. O docente em saúde é definido como profissional capaz de integrar ensino e serviço o que está de acordo com as atuais políticas indutoras de formação profissional em saúde. 2) Concepções dos sujeitos da pesquisa sobre o papel docente Segundo os relatos iniciais o docente tem o papel de: ensinar, aprender, educar, mobilizar e estimular para o desafio de pressupostos institucionalmente estabelecidos; contribuir para escolha profissional do discente; motivar os alunos a seguir seus princípios após a faculdade; despertar os alunos para a realidade assim como para as dificuldades inerentes à profissão escolhida. Há ainda quem considere como papel do professor transmitir conhecimento e passar informação com clareza. De acordo com os relatos finais é papel do professor possibilitar a participação ativa de colegas ; gerar clima confortável e libertador capaz de proporcionar abertura para que os alunos possam falar. E é papel do docente em saúde reforçar a importância de uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar tanto na formação de conhecimento e conhecedores, como na assistência de pacientes. Considerando a docência como uma prática social, percebemos que o papel do docente se estende para além do ensino em direção à formação integral dos envolvidos no processo educativo. Com isso verificamos que as concepções dos pós-graduandos acerca do papel do docente revela um considerável nível de criticidade que ficou ainda mais evidenciado nas narrativas elaboradas ao final do processo
4 4 3) Concepções sobre a prática docente Nos relatos iniciais a boa prática docente requer dedicação e esta por sua vez leva à conquista da amizade. A prática docente precisa superar a maneira convencional, deve proporcionar aos alunos momentos únicos de pura iluminação e meditação sobre o assunto, o bem-estar indescritível de, por um momento, APRENDER! É ainda meio para que o professor possa repassar o conhecimento e para isso precisa desenvolver suas habilidades. Verificamos ainda nas narrativas de parte dos pós-graduandos apresentadas no início da disciplina que para exercer a profissão docente é necessário possuir uma boa didática. No entanto, a compreensão acerca do objeto da didática se restringe à forma de transmitir os conhecimentos que foram adquiridos, ou ainda apontam a importância de posturas como entonação da voz, explanações do conteúdo, domínio do assunto e de metodologias. Com isso observou-se que o termo didática foi citado como elemento que legitima a atuação do professor, representando sua importância no fazer docente, apesar das concepções restritas que possuem sobre a mesma. Sobre essa questão, Imbernón (2006) aponta para a necessidade de se romper com a imagem de um profissional técnico, que segue modelos prescritos, buscando-se a construção de um profissional que inova a partir de uma atuação mais dinâmica, reflexiva, ética e crítica no contexto educativo, o que traz a possibilidade de transformar a si próprio, a profissão docente e os contextos educativos. Após análise dos relatos finais foi observado que faz parte da prática docente o planejamento pedagógico e para que esta proporcione uma aprendizagem mútua há a demanda de um currículo articulado que integre os ciclos básico e profissionalizante na formação em saúde. Outro aspecto relatado neste momento foi a constatação da presença das novas tecnologias como parte da prática docente atual. Sobre a prática vivenciada na disciplina de Formação Didático-Pedagógica em Saúde foi evidenciado que esta contribui para o crescimento individual e profissional: fazer um projeto de ensino completo... foi complicado, mas senti uma grande satisfação no final, pois me senti mesmo docente! A prática integradora permitiu que docentes e discentes compartilhassem conhecimentos e experiências e ainda revelou como superar a hegemonia das aulas expositivas. Esse reconhecimento do papel da prática vem de encontro ao que afirmam Ludke e Boing (2004, p.1174) somente a prática dará consistência ao repertório pedagógico que os professores foram assimilando ao longo de sua formação
5 5 Diante desses relatos percebemos indícios que orientam para uma prática reflexiva do profissional docente em saúde, reconhecendo a importância de elementos tais como: materiais didáticos, técnicas, inovações curriculares, novas competências e outros que, como afirmam Pimenta e Anastasiou (2008, p.180), são comumente identificados como parte da dimensão técnica de ensinar, mas que o docente não deve ser refém desses elementos. Afinal, tais elementos não passam de instrumentos na sua prática. CONSIDERAÇÕES Após as primeiras análises das informações coletadas nos relatos dos pósgraduandos identificamos que no início da disciplina os participantes apresentam concepções sobre a docência com ênfase em aspectos técnicos e centralidade no docente, com uma leitura sobre a profissão notoriamente marcada pelo olhar no papel de aluno. Na etapa final percebemos que os participantes, embora ainda não tenham exercido a docência, já conseguem se colocar no papel docente indicando um movimento gradativo de construção de identidade. Foi possível também identificar nesta etapa reflexões mais amplas que abrangem aspectos institucionais, curriculares e também as especificidades da área da saúde considerando o atual contexto de mudanças. Atribuímos a isso os resultados dos trabalhos desenvolvidos na disciplina de Formação Didático-pedagógica em Saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, N.A.; BATISTA, S. H.S. da S. (Orgs). Docência em saúde: temas e experiências. São Paulo: Senac, IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 6ªed. São Paulo: Cortez Editora, LUDKE, Menga; BOING, Luiz Alberto. Caminhos da profissão e da profissionalidade docentes. Educação & Sociedade, Campinas, vol. 25, n. 89, p , Set./Dez Disponível em: < NÓVOA, António. Professores imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa da Graças C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez,
6 6 i Pesquisa apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ii A proposta foi semipresencial e desenvolvida em parceria com o Departamento de Informática em Saúde-DIS da UNIFESP com a participação do Especialista Antônio Aleixo
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