Vantagens e desvantagens do/no ensino médio noturno sob o olhar do jovem do regular e da EJA
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- Sabina Freire Amaral
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1 Vantagens e desvantagens do/no ensino médio noturno sob o olhar do jovem do regular e da EJA Mírian Carvalho de Araujo Barreto Silvia Alicia Martinez A opção dos jovens pelo ensino médio na modalidade regular noturno ou educação de jovens e adultos (EJA) possibilita reflexões acerca do sentido de estar na escola para esses sujeitos singulares e diversos. Buscam o direito à educação diante de um histórico de ausência de políticas efetivas que sejam capazes de promover não apenas sua expansão, mas sua obrigatoriedade e acima de tudo mudança no quadro educacional. As modalidades regular e EJA, dentro de uma mesma etapa de escolarização básica, trazem consigo semelhanças no processo de conquista de direitos, mas, sobretudo desafios a serem superados. Para tanto, essa pesquisa tem se proposto, através de técnicas de coleta quantitativa e qualitativa, levantar a realidade dessas duas modalidades em escolas da rede pública estadual no município de Campos dos Goytacazes-RJ, tomando como ponto de partida uma destas escolas, e observando a possível ocupação do espaço da EJA como recurso de certificação aligeirada entre jovens na faixa etária de 17 a 24. Suas escolhas por uma ou outra modalidade estão permeadas por razões que vão desde o valor da certificação, ao tempo que dispõem para cursarem o ensino denominado completo. Entre as possíveis vantagens ou desvantagens desta ou daquela modalidade estão a facilidade do ensino na EJA em relação ao regular, o ambiente mais tranqüilo e agradável, a liberdade de ir e vir, a possível adequação à realidade do aluno jovem trabalhador refletida na flexibilidade do professor. Entre as desvantagens estão a falta de conhecimentos básicos para prosseguir estudos, os professores profissionais (indicação de ruptura na relação de proximidade professor e aluno), o aligeiramento do processo, o peso negativo na seleção para emprego, entre outras questões. Assim, o anunciado esvaziamento deste segmento aponta uma gradativa substituição do regular pela EJA, como puro recurso de cumprimento da educação básica para o jovem. Palavras-chave: educação de jovens e adultos (juvenilidade); ensino médio noturno; sentido da escola; políticas públicas. Introdução Estudos e pesquisas sobre o ensino médio noturno indicam necessidade de investigação sobre o tema, considerando que as políticas públicas não lhe têm atribuído importancia devida, levando em conta uma faixa da população que não pode freqüentar a escola durante o dia. Sua trajetória de expansão e universalização tem sido marcada por políticas deficitárias e há indícios de redução de oferta, imprimindo à educação de jovens e
2 2 adultos (EJA) a substituição dessa função. Então, estaria a EJA sendo confundida com ensino regular noturno? Entre as escolhas dos jovens por uma ou outra modalidade há um caminho de expectativas presentes e futuras. Suas motivações e análises sobre vantagens e desvantagens no/do regular e da EJA compõem parte da investigação de uma pesquisa em curso, tendo como foco a juventude e o ensino médio noturno no contexto dos (des)amparos das políticas públicas. A juvenilização na EJA A ampliação de oferta de vagas no ensino público no nível fundamental a partir da segunda metade do século XX não representou melhoria das condições do ensino, pois a deficiência de oferta do ensino básico no país apontava uma realidade excludente na qual jovens e adultos estavam inseridos. Hoje a exclusão educacional apresenta uma nova configuração, pois muitos jovens e adultos apesar do acesso à escola não obtiveram aprendizagens suficientes. Tais alterações geraram um aumento do número de jovens que abandonam ou migram do ensino regular para a EJA. Segundo Haddad e Di Pierro (2000) o fenômeno da juvenilização, é um desafio crescente representado pelo ingresso cada vez maior de jovens nos programas e na modalidade de ensino, sendo em sua maioria adolescentes excluídos da escola regular. A redução da idade mínima dos alunos para cursar os exames supletivos é identificada como fator predominante na acentuação desse fenômeno. Os dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) oficializados em 2007 comprovam acentuado número de alunos da EJA no país em idade que varia entre 15 a 19. Representam a maioria em todo o Sudeste e ampliando a faixa etária para os 24 o índice de jovens é ainda maior, confirmando o fenômeno crescente da juvenilidade no país. (Tabela 1). Em relação ao município de Campos dos Goytacazes-RJ, lócus de investigação dessa pesquisa, o Censo Escolar de 2007 apresenta o quantitativo de estudantes para um total de habitantes, estando 17,6% matriculados na EJA (14,4% em escolas urbanas e 3,2% em escolas da área rural do município). Quanto à demanda da EJA, ela nunca é universal, diz Haddad (2007), tendo em vista a diversidade dos sujeitos e suas especificidades no processo de escolarização. Assim, os jovens buscam prosseguir seus estudos, por razões que giram em torno da
3 3 certificação para o trabalho, da necessidade ou não de aligeirar os estudos, preocupados com uma formação considerada mais completa para ingressar na universidade ou num outro curso tentando recuperar o tempo perdido. Enfim, são escolhas distintas para sujeitos distintos. A expansão e o sentido do ensino médio regular Desde 1996, no Brasil, o antigo segundo grau passou a corresponder ao ensino médio, a etapa do sistema de ensino equivalente à última fase da educação básica, com finalidades estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional nº. 9394/96 especificamente regulamentada e com composição curricular mínima obrigatória. Essa mudança ancorou-se tanto na vontade das camadas populares por mais escolarização, quanto na necessidade de tornar o país mais competitivo no cenário econômico internacional provocando novos desafios (KRAWCZYK, 2009, p.8). No entanto, muito se discute sobre a identidade do ensino médio, considerando a ausência de clareza quanto ao seu papel, a não ser o de trampolim para a continuidade dos estudos ou para a formação profissional. Através da Constituição Federal brasileira, conforme Emenda Constitucional nº 14 de 13 de setembro de 1996, foi estabelecida a progressiva universalização do ensino médio gratuito (CF 1988, art. 208, II). Já a nova LDBEN nº 9394/96, no art. 4º, II instituiu a progressiva extensão da obrigatoriedade ao ensino médio. Considerando tal realidade, Krawczyk (2009, p.8) argumenta que os enunciados apontam diferentes papéis ao Estado e à família quanto à provisão do ensino médio, afirmando que a Nova Lei não somente garante o avanço da universalização do ensino médio, como também obriga o Estado a garantir a oferta. Levando em conta que o ensino médio regular noturno seria uma opção de escolarização para o jovem trabalhador ou não-trabalhador, dados sobre o percentual de matrículas na rede pública brasileira indicam que dos 89,8% do total nacional, 0,82% são de responsabilidade do governo federal, 86,5% do estadual e 1,96% do municipal (dados do IDEB/2005). Segundo o Censo escolar 2007, o número de matriculados no ensino médio no município de Campos dos Goytacazes-RJ era de alunos para um total de 37 escolas, estando 75,24% em escolas públicas estaduais, 08,73% em escola federal, 0,86% em escola municipal e 15,17% na rede privada (IBGE, 2007).
4 4 Muito embora os estudos e pesquisas tenham denunciado uma crise, ou ainda um possível apagão e até mesmo ausência de sentido, os pontos de debate na atualidade estão focados na queda nas matrículas no ensino médio regular; ausência de professores especialistas [...]; desempenho insatisfatório dos estudantes nos exames [...], além da discussão sobre sua obrigatoriedade (GRACIANO, HADDAD, 2009, p. 5). Apesar da expansão da oferta, de acordo com os dados da PNAD 2006, o acesso ao ensino médio ainda é desigual, pois dentre as pessoas com idade entre 15 e 17 apenas 24,9% estavam matriculadas, considerando também que estes estavam entre os 20% mais pobres. Um contraponto nos leva a um percentual de 76,3% de matriculados entre os 20% mais ricos, brancos e residentes em área urbana. Observa-se ainda uma defasagem percentual entre os jovens negros e os brancos quanto ao acesso ao ensino médio, e entre os que vivem no campo e na área urbana das cidades. Não se pode afirmar que esta expansão seja a configuração da universalização da educação, tendo em vista jovens ainda fora da escola. O declínio das matrículas que vem ocorrendo desde o ano de 2004, bem como os altos índices de evasão e reprovação são indicadores de desafios que revelam uma crise de legitimidade da escola, tendo como um dos resultantes a falta de motivação dos próprios estudantes quanto ao prosseguimento dos estudos (KRAWCZYK, 2009). Entre os desafios provocados pela abrangência da educação básica destaca-se o fato do ensino médio regular abrigar alunos que poderiam estar na educação de jovens e adultos, uma vez que sua faixa etária já não comporta aquela prevista para este nível de escolaridade. Isso aponta para o problema da defasagem idade/ano escolar, mas também é considerada uma evidência do que Gomes e Carnielli (2003) denominam como zona cinzenta entre o ensino médio regular e a educação de jovens e adultos. Ao considerarem que a EJA é o lócus legal por excelência para os que buscavam uma segunda oportunidade de escolarização, entendem que ela ficou obscurecida uma vez que ambos (EJA e Ensino Médio noturno) estavam recebendo alunos com atrasos no processo escolar. Também consideram que o fato do ingresso ser uma opção voluntária, os jovens ainda optam por permanecer no ensino regular. Embora as estatísticas sinalizassem um possível esvaziamento do ensino regular pela educação de jovens e adultos desde a alteração da idade mínima para ingresso, as matrículas de EJA mantinham-se modestas nesse período.
5 5 Um dado interessante no Censo realizado em 2007 refere-se ao percentual de 51,6% de estudantes de 15 ou mais de idade que já haviam cursado o 1º ano do ensino médio regular antes da EJA, e 22,9% que cursaram até o 2º ano, ambos na região Sudeste (dados do IBGE), indicando circulação de jovens entre as duas modalidades. O GT Interministerial apresentou ao final de 2008 estudo a respeito da reestruturação e expansão do ensino médio no Brasil, destacando o desafio de se estabelecer um sentido nessa etapa de formação básica: uma mera passagem para o ensino superior ou inserção na vida econômica-produtiva. Tal proposta visa à formação integral do estudante estruturada na ciência, cultura e trabalho. Os Técnicos não descartam a importância da integração profissional técnica, muito pelo contrário, reconhecem-na como importante política pública. Mas, consideram a necessidade de uma complementação que se efetivaria a partir de mudança curricular no ensino médio não profissionalizante. O desafio estaria no atendimento de qualidade extensivo a todos, tendo em vista a universalização nessa etapa; desafio que indica a necessidade de uma política que atenda à diversidade e aos anseios da juventude e da população adulta que volta às escolas (MEC, 2010). EJA e regular: um caminho de investigação em curso Diante dessas reflexões, as interrogações centrais desta pesquisa são: 1) O processo de expansão e universalização do ensino médio tem caracterizado a escolha dos jovens pela modalidade regular noturno ou EJA, assegurando oferta que atenda à demanda quantitativa? 2) Haveria no ensino regular noturno facilidades e/ou adaptações à realidade do jovem que o tornaria um concorrente da EJA de maneira bem-sucedida? 3) Onde se dá a maior demanda e por quê? 4) Como se expressa o significado/sentido da escola e de estar na escola noturna para esses jovens da EJA e do regular? Para tanto, uma investigação de teor qualitativo tem sido desenvolvida numa escola pública estadual no município de Campos dos Goytacazes-RJ, que oferece as duas modalidades de ensino medio noturno (EJA e regular) com expressivo quantitativo de matriculados, tendo como técnicas de coleta de dados questionário e entrevistas realizadas com jovens estudantes na faixa etária de 17 a 24, matriculados no último ano/fase, bem como outras fontes oficiais e documentais. Conforme Censo Escolar 2009, das 42 escolas públicas estaduais no município, 38 têm a oferta do ensino noturno distribuídas em áreas rurais e urbanas. Dentre estas,
6 6 30 escolas oferecem ensino médio na modalidade da EJA, remetendo aos dados de 2007 em que o Censo Escolar apresenta 17,6% de matriculados na EJA entre os alunos numa população de habitantes, incluindo ensino fundamental e medio. Conforme Tabela 2, algumas escolas são destacadas na área urbana da cidade segundo a localização e número expressivo de matrículas, indicando assim, fluxo constante em função da convergência de bairros distintos, mas também concomitância na oferta das modalidades de ensino regular e EJA, representando fator determinante para a escolha da denominada Escola F como escola-campo. Considerando que a implantação do ensino médio regular se deu a partir do ano de 1997 nessa escola Escola F, observa-se que há um processo de evolução no diurno já nos seguintes, com queda em 2000, provavelmente em virtude do inicio do curso noturno. Em 1999 houve um ingresso significativo de alunos no 1º ano, o qual não se reflete nas turmas do 2º ano seguintes, ou seja, percebe-se uma ascensão no turno diurno em 1999 e em 2002, com concentração de alunos no 2º ano, mas com queda nos seguintes, mantendo-se estável até o presente. (Gráfico 1) A EJA foi implantada em 2005, e ao verificar as matrículas deste período ao 1º semestre de 2010, identifica-se um aumento em 2006 com leve decréscimo nos seguintes, voltando a crescer em Também observa-se maior número de matrículas no 1º semestre em relação ao 2º em quase todos esses. (Gráfico 2) A partir da implantação da EJA, há uma significativa redução do número de turmas do ensino medio regular oferecidas no noturno. Tal quantitativo foi mantido nos seguintes, limitando-se em media a 3 (três) turmas, uma para cada ano escolar. Segundo dados oficiais houve um aumento de matrículas no ensino médio em todo o país no ano de 2001 com acentuada queda nos seguintes. Altos índices de evasão e repetência são indicados como fatores envolvidos nesse conseqüente processo (Sposito, 2003). As taxas de evasão da EJA na Escola F apontam percentuais de 6% a 25% entre os de 2005 a 2010, sendo 22% em 2007 e 25% em (Gráfico 3) À medida que ocorreu a expansão da oferta do ensino médio na modalidade da EJA, reduziou-se a oferta na modalidade regular, fato também questionado e criticado por estudos recentes na área, considerando que gradativamente os sistemas de ensino têm se eximido da sua responsabilidade em relação ao ensino de jovens e adultos. No ensino regular diurno o número de turmas do 3º ano é sempre inferior ao 1º ano, o que indica interrupção dos estudos. Mas, curiosamente em 2005, ano da implantação da EJA, houve um aumento de matriculados no 3º ano regular, gerando um
7 7 número de turmas superior às de 1º e 2º. Daí em diante a redução é fator marcante e estável em todos os escolares seguintes. Contudo, ouvir e registrar a voz dos jovens sobre essas e outras questões é o marco dessa investigação em curso. Um olhar juvenil sobre a EJA e o regular e as suas (des) vantagens A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96 traz como uma das finalidades do ensino médio a capacitação do estudante para o prosseguimento dos estudos. No entanto, considerando que suas expectativas e necessidades variam de acordo com o sexo, idade, origem social e experiências vivenciadas, percebe-se que eles procuram a escola, e o ensino médio em particular, por razões também diversas. Porém, o que atrai de fato estudantes jovens para uma e outra modalidade? E quais sentidos estão postos nestas escolhas e em suas falas? Então eu falei: eu vou voltar a estudar porque eu tenho que terminar o 2º grau, porque se eu quero ter alguma coisa a mais tenho que estudar. (Um jovem da EJA- 23 ) Tomar decisões nesta fase da vida, que embora pareça homogênea é tão singular, expressa-se em suas incertezas em tal declaração: vim fazer o ensino médio porque não tinha alguma coisa que eu queria certo. Aí eu continuei fazendo pra ir pensando, porque eu não sabia o que eu queria até então. Agora eu já tenho idéia do que eu vou fazer. (Um jovem da EJA-19 ) Dayrell (2006, p. 140) afirma que o que cada jovem é quando chega à escola, é fruto de experiências sociais vivenciadas nos mais diferentes espaços sociais. Sendo assim, não há como compreendê-lo sem levar em conta o que ele chama de experiência vivida. Então, estar e buscar a escola tem uma multiplicidade de sentidos, seja nas incertezas quanto ao futuro, na ausência de perspectivas pessoais, ou mesmo no desejo expresso de ser alguém, compreendido como se esse fosse o papel da escola. Há certa depreciação acerca das condições e habilidades pessoais expressa em suas falas. [...] minhas condições só dava pra fazer o ensino médio... (Uma jovem da EJA- 24 ), e os relatos demonstram não somente suas razões, mas também inúmeros fatores embutidos no processo de escolarização, e nos sentidos dessa escolarização na relação com suas expectativas quanto ao trabalho presente ou futuro. Um dos destaques que Dayrell (2006) traz sobre os projetos dos alunos é a possibilidade de se desenvolver uma articulação entre a experiência que a escola oferece e esses tais projetos. Se partíssemos da idéia de que a experiência escolar é um espaço de formação humana ampla, e não apenas transmissão de conteúdos, não
8 8 teríamos de fazer da escola um lugar de reflexão (re-fletir, ou seja, voltar sobre si mesmo, sobre sua própria experiência) e ampliação dos projetos dos alunos? (DAYRELL, 2006, p. 145) Assim, escolher, optar, decidir por uma ou outra modalidade é sempre uma grande questão. Então, por que EJA? Ou por que não EJA? Ora, porque eu já perdi de ano duas vezes e pra terminar logo, [...] porque senão eu ia ficar estudando até 19, 20. (Um jovem da EJA- 18 ) Ou então, porque não consegui um curso técnico. [...] Não pensei em fazer EJA e minha mãe também não deixou não. Aí eu fui fazer o regular mesmo. (Um jovem do regular-18 ) Nesse universo pesquisado há um grande público que optamos chamar de flutuante, pois matriculam-se apenas para conclusão do ensino médio, ou seja, para cumprir uma obrigação que lhes permita avançar em curto tempo por meio da EJA. O tempo é considerado algo valioso apesar de tão jovens, mas que em virtude de suas trajetórias escolares mal sucedidas, parece urgente encerrar essa etapa, seja para ir avante aos projetos concretos ou idealizados, ou simplesmente pelo dever cumprido. Quanto às questões que envolvem as facilidades e dificuldades na realização do curso noturno na EJA ou no regular, as opiniões juvenis se entrecruzam em alguns aspectos, divergem em outros, mas apontam para problemas e inquietações. A vantagem na EJA é pra quem trabalha. [...] Você não estuda, é só fazer uma coisinha que você passa. [...] Aprende muito pouco que não vai mudar praticamente nada. (Um Jovem da EJA- 19 ). Suas opiniões apontam para o grande problema do aligeiramento do ensino noturno nessa modalidade, mas que desponta como uma grande opção, pois, no regular se aprende muito mais coisa, há mais conteúdo, bagagem que o professor vai passar pra você, do que num período de seis meses. Claro que isso me prejudica. [...] Mesmo assim eu optei pela EJA por praticidade. (Um Jovem da EJA 23 ) Refletindo sobre a função da EJA entende-se que ela foi vista como uma compensação e não como um direito. Deslocou-se essa idéia substituindo-a pelas de reparação e equidade segundo o Parecer CNE/CEB nº 11/2000, porém, há muito a percorrer em prol da efetivação da EJA, na busca de uma educação que seja permanente e que esteja a serviço do pleno desenvolvimento do educando (BRASIL, 2000). Um ensino considerado mais fácil também no regular, a ausencia de professores, a ameaça de ter o direito ao ensino noturno impedido pela evasão, o profissionalismo dos professores, são algumas das questões apontadas pelos jovens. Considerar o direito do jovem ao ensino medio noturno ou diurno de qualidade, e que de fato cumpra as
9 9 finalidades previstas pela própria legislação, é sem dúvida promover o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando a formação do cidadão para a vida social e para o mercado de trabalho, oferecendo-lhe o conhecimento básico necessário para o ingresso no ensino superior. No entanto, suas vivencias escolares, apontam que tem diferença ser aluno do regular. [...] Você pode ser excelente aluno, um excelente profissional, bem qualificado, mas a pessoa vê e pensa... esse cara fez supletivo, será que é por falta de capacidade dele? Então, aquele preconceito de que a pessoa é do EJA ou não tem capacidade de concluir acaba pesando um pouco. (Um jovem do regular 19 ) Um ensino que seja mais forte é a denuncia e ao mesmo tempo o clamor diante de uma realidade repleta de tantas diversidades. O preconceito aliado à visão de ensino menor, para incapazes, para desqualificados, excluídos enfim, é uma preocupação. Vão estabelecendo padrões, reproduzindo outros, mas, sobretudo encarando suas verdades no tocante às expectativas depositadas nessa formação final básica. São suas observações e leituras sobre esse espaço de aprendizagens que vão delineando os sentidos e representações que trazem no decorrer dessa vivencia escolar que se estende desde a infância, culminando na juventude ou ainda na fase adulta. Portanto, se o ensino regular noturno ainda é uma área de amplas dimensões e alta atração, [...] a educação de jovens e adultos constitui, pelas dificuldades que tem vivido, uma alternativa negligenciada de democratização educacional (GOMES; CARNIELLI, 2003, p. 48). Considerações finais Duas modalidades dentro de uma mesma etapa de escolarização trazendo semelhanças no processo de conquista e efetivação de direitos, mas, sobretudo desafios que precisam ser superados no tocante às políticas públicas na área. Até presente estagio da pesquisa foi possível constatar a presença marcante de jovens entre adultos na EJA e uma diversidade de motivações quanto ao ingresso e conclusão da formação básica. Suas leituras e sentidos sobre uma e outra modalidade expressam um quadro ainda crítico de políticas efetivas no avanço desse nível de ensino entre as (des)vantagens que os acompanham em suas escolhas.
10 10 Porém, uma questão permanece em aberto: O anunciado esvaziamento do ensino regular noturno seria apenas conseqüência da tão falada ausência de significado? Ou a EJA tornou-se simplesmente etapa final de conclusão escolar básica? Referencias Bibliográficas BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em Acesso em 12 de dezembro de Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, 20 dez, Disponível em Acesso em 4 de dezembro de Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Parecer n.º 11/2000, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, Aprovado em 10 de maio de 2000 Disponível em Acesso em 24 de abril de BRASIL - MEC, GT Interministerial - Reestrututração e Expansão do Ensino Médio no Brasil (apresentação), Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Brasília, Disponível em uturacao-e-expansao-do-ensino-medio-no-brasil&catid=342:reestruturacao-e-expansaodo-ens-medio-no-brasil&itemid=837 Acesso em 05 de março de DAYRELL, Juarez (org.). Múltiplos olhares sobre a educação e cultura. 2ª reimpressão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006, p GOMES,Candido Alberto ; CARNIELLI, Beatrice Laura. Expansão do Ensino Médio: temores sobre a educação de jovens e adultos. Cadernos de Pesquisa, n. 119, p , julho/ GRACIANO, Mariângela; HADDAD, Sergio. Balanço e perspectivas do ensino médio no Brasil. In KRAWCZYK, Nora. O ensino médio no Brasil. São Paulo: Ação Educativa, HADDAD, Sérgio. Ação de governos locais na educação de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação. V.12, n. 35, maio/ago Disponível em Acesso em março de HADDAD, Sérgio e DI PIERRO, Maria Clara. Aprendizagem de jovens e adultos: avaliação da década da educação para todos. São Paulo Perspec. [online]. 2000, vol.14, n.1, pp ISSN Disponível em Acesso em 10 de dezembro de 2009.
11 11 KRAWCZYK, Nora. O ensino médio no Brasil. São Paulo: Ação Educativa, Estatísticas educacionais PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Aspectos complementares da educação de jovens e adultos e educação profissional: 2007/ IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento Rio de Janeiro: IBGE, 2009, 190 p. IBGE. Censo Demográfico. Ensino matrículas, docentes e rede escolar 2008 disponível em Acesso em 10 de junho de INEP educacenso 2009 Disponível em Acesso em 24 de outubro de INEP - Acesso em 15 de outubro de SINOPSES ESTATÍSTICAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA - Acessos em 2/11/ 2008, 27/05/2009, 8/09/2009, 3 de março de Tabelas e gráficos Tabela 1- Número de matriculados por faixa etária na EJA por região Número de Alunos da Educação de Jovens e Adultos por Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação, em 30/5/2007 Unidade da Federação Total 0 a a 17 Alunos da Educação de Jovens e Adultos Faixa Etária 18 e a a a a 39 Mais de 39 Brasil Sudeste Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Fonte: Inep/MEC/Deed
12 12 Tabela 2- Relação de matrículas nas escolas públicas estaduais no município de Campos dos Goytacazes no ensino médio regular e na EJA de ensino médio e fundamental em 2009 segundo localização ESCOLAS LOCALIZAÇÃO (bairro) Matrículas no ensino médio regular noturno Matrículas na EJA ensino fundamental noturno Matrículas na EJA ensino médio noturno TOTAL ESCOLA - A CENTRO ESCOLA - B PQ. LEOPOLDINA ESCOLA - C LAPA ESCOLA - D JARDIM CARIOCA ESCOLA - E GOITACAZES ESCOLA - F PQ. TARCISIO MIRANDA Fonte: CENSO ESCOLAR 2009 Coordenadoria de Ensino Norte Fluminense Polo I Gráfico 1 Gráfico 2 Fonte: Dados coletados na secretaria da escola-campo no 1º semestre 2010
13 13 Fonte: Dados coletados na secretaria da escola-campo no 1º semestre 2010 Gráfico 3 Fonte: Dados coletados na secretaria da escola-campo no 1º semestre 2010
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