A REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

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1 A REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA RESUMO Adriane Lazzaroti 1 Andréa Tassoni da Silva ¹ Bibiana Gelinski Rocha ¹ Clara Rutkoski Hoff ¹ Dayani Vieira Mielczarski ¹ Elisandra Bastos Rodrigues ¹ Fernanda Barros de Oliveira ¹ Letícia Fagundes Pinheiro ¹ Letícia Machado ¹ Lidiane Mateus Escarcel ¹ Liliana da Silva Machado ¹ Luciano Raphaelli Dias ¹ Maria Teresinha Reis de Morais ¹ Morgana Giuseppe Moreira ¹ Paulo Sérgio E. Pacheco ¹ Renato Lacerda Isquierdo ¹ Sandra Rejane Silva Vargas ¹ Simone Biedzicki ¹ Teresinha Coelho de Freitas ¹ Zuleica Nunes ¹ Adriana Lemes 2 O presente artigo é um texto coletivo, resultado de pesquisas, estudos e discussões acerca da origem e evolução da Língua Portuguesa, realizados por alunos da disciplina de Origem e Evolução da Língua Portuguesa, do Curso de Letras da Ulbra Campus Guaíba, no período letivo de AS3 em 2008/2. Através deste texto pretende-se sistematizar as informações obtidas, facilitando a compreensão das propostas de mudanças, bem como propondo reflexão a respeito das vantagens e desvantagens da nova ortografia, além dos interesses não-lingüísticos envolvidos nessa questão. Palavras-chave: países lusófonos, Reforma ortográfica; Língua Portuguesa. INTRODUÇÃO Existem alterações que se implementam naturalmente na língua e outras que são determinadas por lei, como o Acordo de Unificação Ortográfica, elaborado em O objetivo de tal acordo é padronizar a escrita dos países que usam a Língua Portuguesa como idioma oficial, pois atualmente as entidades internacionais precisam redigir dois 1 Acadêmicos do Curso de Letras da Ulbra Campus Guaíba, Autores deste artigo. 2 Professora orientadora deste trabalho.

2 tipos de documentos oficiais: um com a grafia de Portugal e um com a do Brasil. Das línguas mais faladas no mundo, a única que não é unificada é o Português. Assim, a partir de janeiro de 2009, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste terão de se adaptar às mudanças ortográficas. Para isso é necessário que os países ratifiquem as mudanças, como fez o Congresso Nacional brasileiro. Em 2007, o Ministério da Educação do Brasil começou a preparar as mudanças nos livros didáticos e pretende que elas estejam totalmente implantadas em As maiores resistências à reforma vieram de Portugal, justamente o país que deve ter mudanças mais significativas. Os portugueses só ratificaram o acordo em maio de Segundo Indriunas (2008), as tentativas de unificação ortográfica dos países lusófonos são antigas, datando do início do século 20. O Português, no Brasil, já passou por duas reformas ortográficas: uma em 1943 e outra em 1971, ou seja, um brasileiro com mais de 65 anos vai passar por três reformas, escrevendo êle/ele, sómente/somente e, agora, lingüiça/linguiça. Em Portugal, a última reforma aconteceu em 1945, mas apesar de compartilharmos o mesmo idioma, as diferenças lingüísticas entre Brasil e Portugal continuaram. AS MUDANÇAS 1 COMO FICA O ALFABETO? Com o acordo ortográfico, as letras "k", "y" e "w" passam a integrar oficialmente o alfabeto da Língua Portuguesa, totalizando 26 letras. Na prática, elas já são utilizadas em nomes próprios como Walquíria ou Kauã, além de diversos termos estrangeiros espalhados em placas e anúncios publicitários como delivery. A inclusão no alfabeto, no entanto, não vai alterar a importância das três letras, que continuarão a ser utilizadas apenas em palavras estrangeiras, seus derivados e símbolos de unidade de medida. Exemplos: Web; show; windows; Yuri; Karina; Yara; Kelly; kg (quilograma); km (quilômetro); w (watt) ; webcam; link.

3 2 COMO FICA O ACENTO AGUDO? 2.1 OS DITONGOS ABERTOS Serão abolidos os acentos dos ditongos abertos ei e oi das palavras paroxítonas, passando a serem escritos da seguinte forma: "assembleia", plateia, "ideia", geleia, colmeia, alcateia, "heroica", "jiboia", eu apoio (v. apoiar). Os ditongos abertos de palavras oxítonas, mantêm o acento, como o caso de anéis, fiéis, papéis, herói(s), sóis, constrói, remói, entre outros. O ditongo aberto eu não sofrerá modificações, a exemplo de véu(s), céu(s), chapéu(s) etc. 2.2 OS HIATOS TÔNICOS Já nas palavras paroxítonas, o "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo passam a ser grafados sem acento: "feiura" e "baiuca". 2.3 AS FORMAS VERBAIS CUJO ACENTO TÔNICO ENCONTRE-SE NA RAIZ Um pequeno número de formas verbais apresenta essa acentuação, portanto, quando o u tônico estiver precedido de g ou q e seguido de e ou i, perderá o acento, como demonstra a tabela a seguir: Apazigúe Averigúe Argúem Apazigue Averigue Arguem 3 COMO FICAM OS ACENTOS DIFERENCIAIS? Será abolido o acento de pólo, de "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e também "pelo" (combinação da preposição com o artigo). Da mesma forma, passam a ter a mesma grafia pára (v.) e para,. Como exceção, as palavras pôr (v.) e por (prep.) mantêm o acento diferencial, assim como pôde e pode. 4 COMO FICAM OS CIRCUNFLEXOS DE VOGAIS REPETIDAS?

4 As paroxítonas terminadas com duas letras "o" não mais terão acento circunflexo. Abençôo, vôo, enjôo passarão a ser escritos da seguinte forma: abençoo, voo, enjôo. O circunflexo também será extinto nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus decorrentes. A grafia correta será creem, deem, leem e veem. 5 COMO FICA O TREMA? Com a nova reforma ortográfica, o trema entra em desuso. Na tabela abaixo observamos a mudança. Palavras com Trema Palavras após a Reforma Bilíngüe Bilíngue Lingüística Lingüista Linguística Linguista Pingüim Pinguim Cinqüenta Cinquenta Freqüência Frequência Tranqüilo Tranquilo Argüição Arguição Eqüestre Sagüi Equestre Sagui Seqüela Sequela Por ocasião dessa mudança, surge a dúvida sobre a pronúncia da palavra, motivo infundado, pois o u continuará a ser pronunciado normalmente, apenas não teremos mais o sinal gráfico. Há que se salientar que, em caso de nomes próprios, o trema será mantido, como no caso de Müller. 6 COMO FICA O USO DO HÍFEN?

5 Substantivos compostos consagrados manterão o hífen, como arco-íris, guarda-roupa, cachorro-quente, ano-luz, norte-americano. Não haverá mais hífen em palavras como paraquedas, paraquedista. Nos casos das palavras compostas cujo segundo elemento iniciem com s ou r, essas consoantes serão duplicadas, como no caso de antissemita, antirreligioso, contrarregra, biorritmo, ecossistema, entre outros. Como exceção a essa regra, enquadram-se as palavras cujos prefixos terminarem com r. Dessa forma, o hífen será mantido em hiper-caloria e inter-relação. Também serão mantidos os hífens em palavras cujo segundo elemento inicie com h, como super-homem, sobre-humano, anti-higiênico e pré-história. Uma novidade será a introdução do hífen em palavras compostas nas quais o primeiro e o segundo elemento iniciem com a mesma letra palavras do nosso dia-a-dia serão escritas, então, micro-ondas, tele-entrega, super-resistente, pré-escola. Circum e pan levam hífen antes de elemento iniciado por vogal, m, n e h, como pan-americano. Ex e vice mantêm o hífen existente hoje, como em ex-prefeito e vice-presidente. O hífen desaparecerá em palavras cujos prefixos terminem em vogal e os segundos elementos iniciem com vogal diferente, como em extraescolar, autoestrada, intrauterino, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual, entre outras. 7 O QUE MUDA EM PORTUGAL? 7.1 Desaparecem da língua escrita o c e o p nas palavras onde não são pronunciados, como: acção ação acto ato adopção adoção baptismo batismo Egipto Egito objecto objeto óptimo ótimo

6 Em palavras como facto e idemnizar, permanecerão as consoantes, pois são pronunciadas. 7.2 DESAPARECE O H INICIAL DE ALGUMAS PALAVRAS, COMO: húmido úmido herva erva 7.3 DUPLA GRAFIA: Em Portugal académico, Amazónia, génio, fenómeno, bónus, anatómico, tónico, croché, efêmero,bebé, bidê,matiné, puré, caratê, matiné. No Brasil acadêmico, Amazônia, gênio, fenômino, bônus, anatômico, tônico, crochê,efêmero, bebê, bidê, matinê, purê, caratê, matinê. CONSIDERAÇÕES FINAIS O acordo para a unificação ortográfica foi proposto em 1990, mas só agora foi aprovado. O motivo mais expressivo dessa demora é a relutância de alguns países, como Portugal, por exemplo, de ratificar o acordo. Até julho de 2004, era preciso que todos os países membros da CPLP ratificassem as novas normas. Um acordo feito nessa data estabeleceu que bastaria, então, a ratificação por parte de três países. Em 1995, o Brasil efetivou sua ratificação, seguido de Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro. Portugal ainda precisa adaptar sua legislação às novas regras. Enquanto as mudanças afetarão 0,45% das palavras brasileiras, Portugal sofrerá alterações em 1,6% de seu vocabulário. Na verdade, essas mudanças não serão efetivadas de forma repentina. Está previsto um período de transição para que as pessoas se acostumem com a nova ortografia e as editoras possam atualizar suas publicações. As opiniões sobre a mudança são divergentes. Filólogos, lingüistas, professores, acadêmicos, jornalistas, editores, políticos, empresários, entre outros personagens de destaque nesse cenário, ainda não entraram em consenso. Para alguns, o acordo ortográfico tem pontos obscuros e indefinições no texto, como no caso do uso do hífen, por exemplo, quando informa, de maneira demasiada subjetiva, a supressão do mesmo

7 quando se perder a noção de composição ; para outros, trata-se de uma inconstitucionalidade; há também quem alegue que as mudanças não acarretarão transformação relevante na língua e outros, ainda, defendem existir os ideais implicitamente econômicos e sociais por trás das propostas. Sem excluir essas posições, prefere-se crer que a intenção do acordo seja facilitar o processo de intercâmbio cultural e científico entre as nações e ampliar a divulgação do idioma e da literatura em Língua Portuguesa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em < Acesso em 30/08/2008. INDRIUNAS, Luís. Como funciona a reforma ortográfica do português. Disponível em < Acesso em 30/08/2008. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Acordo ortográfico da Língua Portuguesa. Disponível em < =1294> Acesso em 30/08/2008.