República Democrática de São Tomé e Príncipe e

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1 1 1. Considerações a respeito do Acordo Ortográfico O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é um tratado internacional cujo objetivo é criar uma ortografia unificada para o idioma português, a ser utilizada por todos os países de língua oficial portuguesa. O instrumento foi ratificado por representantes dos países lusofonos, ao fim de negociações iniciadas em 1980 entre a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras. São Estados signatários do Acordo de 1990: República Popular de Angola República de Cabo Verde República da Guiné-Bissau República de Moçambique República Portuguesa República Democrática de São Tomé e Príncipe e República Federativa do Brasil O idioma português é o quinto mais falado do mundo. A comunidade lusófona é constituída por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor Leste, e também em Goa, no Oriente, onde esteve presente a colonização portuguesa. Especialistas sempre consideraram a existência de duas ortografias oficiais da língua portuguesa a lusitana e a brasileira muito prejudicial à integração intercontinental do português. Essa dicotomia originou-se em 1911, ano da primeira grande reforma ortográfica realizada por Portugal, mas não adotada pelo Brasil. As tentativas de mudanças da língua portuguesa e de unificação do idioma datam de 1990 e abrangem Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 2004, foi assinado um documento diplomático que inseria no grupo dos países de língua portuguesa o Timor Leste.

2 2 São quatro os decretos que dispõem sobre esse novo pacto, tendo sido o último assinado em 29 de setembro de 2008, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São eles: Decreto nº 6.583: promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de Decreto nº 6.584: promulga o Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Praia, em 17 de julho de Decreto nº 6.585: dispõe sobre a execução do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em São Tomé e Príncipe, em 25 de julho de Decreto nº 6.586: dispõe sobre a implementação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Unificar a grafia da língua portuguesa é, assim, o objetivo direto da Reforma Ortográfica ratificada pelo Brasil, de forma a facilitar o intercâmbio cultural e político entre essas oito comunidades. De acordo com estudos realizados, as novas regras beneficiarão 240 milhões de pessoas que falam português no mundo. Segundo os linguistas que prepararam o acordo Antônio Houaiss, do Brasil, e João Malaca Casteleiro, de Portugal 0,43% das palavras no Brasil e 1,42% em Portugal passarão por mudanças. No geral, algumas alterações são mais relevantes para Portugal, a exemplo da supressão de letras. Em outras hipóteses, as novas regras se relacionam diretamente com o Brasil, como é o caso da extinção do trema. Uma observação importante se impõe: todas as alterações advindas dessa Reforma são, como o seu nome mesmo diz, apenas ortográficas, relacionando-se somente com a grafia, não alterando em absolutamente nada a pronúncia. Justamente por esse motivo, em determinadas hipóteses, será permitida a dupla grafia e esta é uma das críticas contra o Acordo.

3 3 Todo processo de mudança exige um período de adaptação que, na hipótese da Reforma Ortográfica irá até 31 de dezembro de Note-se que as novas regras já estão em vigor, no Brasil, desde 1º de janeiro de 2009, mas somente serão exigidas em caráter exclusivo a partir de Até lá, valerão tanto as regras antigas como as novas. O Brasil foi o único país a efetivamente implantar as alterações. Portugal ainda não deu início à concretização das modificações propostas, e os outros países estão esperando por Portugal. 2. A Reforma Ortográfica: elas: É possível destacar as principais alterações trazidas pelo Acordo de São a) o acréscimo de três letras no alfabeto; b) a extinção do trema; c) alterações acentuação gráfica; d) alterações no uso do hífen Alfabeto acréscimo de K, W e Y O alfabeto brasileiro que contava com 23 caracteres oficiais, passa a computar 26. Trata-se da inclusão oficial das letras k, y e w. Note-se que tais caracteres já eram habitualmente utilizados na grafia brasileira, com a Reforma Ortográfica passam a ser oficialmente reconhecidos.

4 Trema Não se usa mais o trema, sinal antes colocado sobre a vogal u átona, para indicar que ela deveria ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. Agüentar Seqüestro Tranqüilo Lingüiça aguentar sequestro tranquilo linguiça O trema permanece apenas em nomes próprios e em seus derivados: Müller, mülleriano, Bündchen Acentuação Gráfica: As principais alterações nas regras de acentuação gráfica: Acento agudo a) não mais será utilizado acento em ditongos abertos ei e oi, em palavras paroxítonas, ou seja, aquelas com acento tônico na penúltima sílaba. idéia alcatéia andróide apóia (verbo apoiar) apóio (verbo apoiar) assembléia bóia celulóide clarabóia ideia alcatéia androide apoia apoio assembleia bóia celuloide claraboia

5 5 colméia Coréia heróico jibóia jóia colmeia Coreia heroico jiboia joia Essa regra alcança apenas palavras paroxítonas, não sendo aplicada às palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. um ditongo. b) não mais será utilizado acento no i e no u tônicos quando depois de baiúca bocaiúva cauíla feiúra baiuca bocaiuva cauila feiura Se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí. gui. c) não mais será utilizado o acento agudo no u dos grupos que, qui, gue, apazigúe averigúe enxagúe apazigue averigue enxague Acento circunflexo

6 6 Eliminação do acento circunflexo nas palavras terminadas em êem ou ôo(s) abençôo crêem (verbo crer) dêem (verbo dar) dôo (verbo doar) enjôo lêem (verbo ler) magôo (verbo magoar) perdôo (verbo perdoar) povôo (verbo povoar) abençoo creem deem doo enjoo leem magoo perdoo povoo Acento diferencial diferentes. Eliminação do acento diferencial para palavras homônimas, com significados pára pêlo pêra para Pelo pera O acento diferencial permanecerá em três hipóteses: a) diferenciação de pode (como presente do indicativo) e pôde (no pretérito); b) diferenciação de por (preposição) e pôr (verbo); c) diferenciação do singular e plural dos verbos ter e vir : tem/têm, vem/vêm. Facultatividade na utilização do acento circunflexo na palavra forma/fôrma.

7 Hífen: a) O sinal gráfico será abolido nas palavras compostas em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente. auto-afirmação auto-ajuda auto-escola infra-estrutura neo-expressionista Autoafirmação Autoajuda Autoescola Infraestrutura Neoespressionista Quando o primeiro elemento terminar com vogal idêntica à do segundo elemento, o hífen deverá ser utilizado. Note-se que essa regra acaba por mudar a grafia dessas palavras, que eram escritas unidas. antiinflamatório antiimperialista arquiinimigo contraataque microondas Microônibus anti-inflamatório anti-imperialista Arqui-inimigo Contra-ataque micro-ondas micro-ônibus b) Não mais será utilizado o hífen nos compostos em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento é iniciado por consoante, salvo quando h. Quando o segundo elemento começar com r ou s, essas consoantes serão duplicadas. ante-sala auto-retrato antessala autorretrato

8 8 anti-rugas contra-senso supra-sumo ultra-sonografia antirrugas contrassenso suprassumo unltassonografia c) O uso do hífen será abolido em determinados compostos em que se abandonou, em certa medida, a noção de composição. pára-quedas manda-chuva paraquedas mandachuva As regras hoje existentes em relação ao emprego do hífen, que não foram alvo das alterações oriundas do Acordo, continuarão a ser observadas. Nesse sentido, o uso desse sinal gráfico permanece: a) Nos compostos em que os prefixos super, hiper, inter terminados em r aparecem combinados com elementos também iniciados por r : hiper-rancoroso, inter-regional, super-racional. b) Nos compostos com prefixo em que o segundo elemento começa por h : anti-herói, neo-helênico, super-homem. c) Nos compostos sem elemento de ligação, que constituam uma unidade sintagmática (sintagmas: seqüência de palavras que constituem uma unidade, ou seja, uma associação de elementos compostos num conjunto, organizados num todo), que mantém acentuação própria: conta-gotas; bem-te-vi; ano-luz; couve-flor. d) Nos compostos com prefixos ex, vice e soto : ex-marido, vicecandidato, soto-mestre. e) Nos compostos com prefixos circum e pan, quando o segundo elemento começar por vogal, m ou n : pan-americano, circum-navegação. f) Nos compostos com prefixos tônicos acentuados pré, pró e pós, quando o segundo elemento tiver significado próprio, se considerado individualmente: pré-natal, pós-graduação, pró-doação.

9 9 3. Análise crítica das alterações. O público está dividido em relação às alterações introduzidas pela Reforma Ortográfica. São vários os argumentos favoráveis e contrários às novidades Argumentos favoráveis As medidas propostas servem de instrumento para a difusão e o fortalecimento da língua portuguesa no cenário mundial. O custo em relação à produção de edições diferentes de dicionários, livros didáticos e literários para o Brasil e para Portugal é um dos fundamentos apontados pela corrente favorável à Reforma. Os livros e outros materiais educativos, os programas de educação a distância e outros materiais didácticos adotados em qualquer país lusófono poderão ser mais facilmente reproduzidos noutro país, sem as barreiras existentes em relação à ortografia adotada por cada um deles. Nesse sentido, defendem que o Acordo possibilita que programas de formação e aperfeiçoamento para professores de português como segunda língua, por exemplo, passem a ser comuns, em vez de Portugal e Brasil desenvolverem separadamente as suas iniciativas. Nas palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, O acordo ortográfico é o reencontro do Brasil com suas raízes mais profundas. Como avançar sem fortalecer a língua, como produzir bens culturais e didáticos sem uniformidade? De acordo com o escritor e presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação (MEC), Godofredo de Oliveira Neto Com o acordo, os países de língua portuguesa terão uma identidade mais forte e a língua portuguesa sai fortalecida. Haverá maior circulação de livros entre os países lusófonos. Com uma tiragem maior, a expectativa é que o livro saia mais barato, o que vai contribuir para a diminuição do analfabetismo.

10 10 Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, o Acordo se revela como uma peça-chave da cooperação com os países da língua portuguesa Argumentos contrários Ainda que pesem os benefícios apontados anteriormente, o Acordo ainda é alvo de objeções. As críticas mais comuns relacionam-se à efetiva necessidade das alterações: seus custos, a insuficiência da proposta, a projecção internacional e abrasileiramento da língua, e, principalmente, a possibilidade de múltiplas grafias. Há quem defenda que a proposta, em sua formatação atual, se mostra incapaz de alcançar seus objetivos, diante, principalmente, da permissão de adoção, em determinadas hipóteses, de grafias distintas entre os países. Essa é, sem dúvida, a principal crítica recebida pela Reforma. Para não ignorar as diferenças fonéticas entre Brasil e Portugal, previu-se a possibilidade de palavras com duas ou mais grafias, o que, para especialistas, impede a concretização do principal objetivo do Acordo. De acordo com Vasco Graça Moura, o reconhecimento oficial de grafias distintas enfraquece seriamente a unidade da língua portuguesa escrita, contrariando o próprio conceito de ortografia. Na população em geral, é possível apontar dois motivos para a essa oposição: o receio de não saber escrever de acordo com as novas regras e o vínculo emocional formado em relação à escrita até então adotada. Mas, a relutância não está presente apenas na população, atinge também escritores, professores etc. Um dos primeiros a dar sua opinião foi o Professor Pasquale Cipro Neto: Sou contra o acordo. Sei que isso é um tiro no próprio pé, pois, se o acordo passar, vou ser chamado para fazer muitas palestras. Mas não quero esse dinheiro, não. Com outro espírito, outra proposta, uma unificação talvez fosse possível. Mas esta é uma reforma

11 11 meia-sola, que não unifica a escrita de fato e mexe mal em pontos como o acento diferencial. Vamos enterrar dinheiro em uma mudança que não trará efeitos positivos. Nesse mesmo sentido é a opinião de João Ubaldo Ribeiro: Encaro com grande ceticismo esse acordo ortográfico. É uma reforma tímida, que não traz grandes inovações. Mas não gostei. Queria que meus tremas ficassem onde estão.