PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NA REGIÃO NORTE NO PERÍODO INTERCENSITÁRIO ( )
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- Luiz Eduardo Salgado Henriques
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1 Estatísticas & Estudos Regionais PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NA REGIÃO NORTE NO PERÍODO INTERCENSITÁRIO (-) CENSOS - RESULTADOS PROVISÓRIOS António Eduardo Pereira * A expansão demográfica na região Norte decorreu, entre e, a um ritmo claramente superior ao do período intercensitário precedente. O crescimento do número de indivíduos residentes foi maioritariamente causado pelo movimento natural da população, cabendo contudo aos comportamentos migratórios um importante papel complementar na explicação do dinamismo demográfico regional nos anos 90. Este padrão contraria a tendência observada ao nível nacional. O modelo de povoamento da região continuou a evoluir no sentido de um reforço da componente urbana, traduzido quer no aprofundamento da litoralização da população, quer no reforço do peso demográfico dos principais centros urbanos do interior. Em 90% dos concelhos do Norte, verificou-se uma evolução dual, com algumas freguesias a ganharem população, a par de outras cujo número de habitantes diminuiu. Globalmente, aumentou o grau de concentração territorial da população. Acentuou-se o envelhecimento demográfico, sem que o Norte deixasse de ser uma das mais jovens regiões portuguesas apesar das extremas assimetrias internas que a este respeito caracterizam a região. Os resultados provisórios do XIV Recenseamento Geral da População permitem ainda identificar um importante salto qualitativo na distribuição dos residentes por níveis de instrução. * I.N.E. Direcção Regional do Norte. 7
2 Região Norte A realização de um censo constitui uma oportunidade ímpar para aprofundar o conhecimento das estruturas demográficas vigentes, bem como das respectivas tendências evolutivas. O presente artigo procura aproveitar essa oportunidade para o caso específico da região Norte de Portugal, tendo por base a informação disponibilizada pelos resultados provisórios dos Censos, na componente respeitante ao recenseamento da população. CRESCIMENTO POPULACIONAL Entre e o número de residentes na região Norte cresceu 6,2% (equivalente a +214 mil indivíduos), fixando-se em cerca de milhares de habitantes. Deste modo, o ritmo de crescimento PORTUGAL NORTE Minho-Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trás-os-Montes Quadro 1 - População Residente demográfico na região mais do que triplicou face aos valores que haviam sido registados para a década 1981-, período no qual a população do Norte apenas crescera 1,8% (menos de 63 mil indivíduos). De entre as restantes regiões (NUTS II) 1 de Portugal, durante a última década apenas o Algarve registou uma expansão demográfica mais intensa do que a do Norte, crescendo 15,8%. Em termos absolutos, porém, o crescimento de 214 mil indivíduos no Norte supera o de qualquer outra região, apenas sendo aproximado pelo ganho de 178 mil habitantes registado em Lisboa e Vale do Tejo. Deste modo, o Norte assume uma importância decisiva como reserva demográfica no contexto nacional. Em, a população do Norte correspondia a uma proporção de 7 em cada 20 indivíduos residentes em Portugal. Variação indivíduos ,3 1,8 2,6 7,4 6,7 4,5 2,2 6,5 8,7 13, Nota: os valores do Ave e do Tâmega para 1981 e foram recalculados do acordo com a configuração actual destas sub-regiões, uma vez que a criação do concelho de Vizela ditou a transferência de duas freguesias do Tâmega para o Ave. À semelhança do que já ocorrera entre 1981 e, o Cávado voltou, na década subsequente, a ser a subregião (NUTS III) 2 do Norte com a mais intensa expansão demográfica, aumentando a respectiva população em 11,3%. Seguem-se-lhe as sub-regiões do Entre Douro e Vouga, do Ave, do Tâmega e do Grande Porto, todas com crescimentos demográficos entre 8,0 % Variação - indivíduos % 5,0 6,2 0,1 11,3 9,4 8,0 8,3 9,7 7,1 5,1 e 9,7% no último período intercensitário. Todas estas sub-regiões se contam entre as dez NUTS III do país com maior crescimento relativo da população entre e, reforçando a ideia da importância demográfica da região Norte. Além disso, estas cinco sub-regiões verificam, sem excepção, uma clara aceleração do ritmo de crescimento populacional durante a última década, face ao que havia sido registado entre 1981 e. 1 Nomenclatura de unidades territoriais para fins estatísticos, nível 2. 2 Nomenclatura de unidades territoriais para fins estatísticos, nível 3. 8
3 Estatísticas & Estudos Regionais Quadro 2 - Sub-regiões (NUTS III) portuguesas com maior crescimento relativo da população residente durante o período intercensitário (-) ALGARVE PINHAL LITORAL PENÍNSULA DE SETÚBAL CÁVADO BAIXO VOUGA OESTE ENTRE DOURO E VOUGA AVE TÂMEGA GRANDE PORTO 15,8 % 11,9 % 11,6 % 11,3 % 10,1 % 9,8 % 9,7 % 9,4 % 8,3 % 8,0 % Quanto às sub-regiões do Norte que entre 1981 e haviam sofrido quebras populacionais, destaca-se o Minho-Lima, pela circunstância de ter logrado suster essa tendência negativa, registando em um efectivo demográfico semelhante ao de. Por seu turno, as sub-regiões do Douro e de Alto Trás-os- Montes voltaram, durante a ultima década, a registar perdas populacionais, embora menos intensas do que as registadas entre 1981 e. Assim, pode dizer-se que durante a última década (e por confronto com a evolução ocorrida nos anos de 1981 a ) a totalidade das sub-regiões do Norte melhoraram o respectivo dinamismo demográfico seja por terem reforçado o ritmo de crescimento populacional, seja por terem trocado uma situação de declínio por outra de estabilidade demográfica, seja ainda por terem atenuado o ritmo de decréscimo populacional. As situações mais impressivas a este respeito serão, porventura, o Tâmega (que passa de um ritmo de expansão demográfica de 2,2% entre 1981 e para 8,3% na década seguinte) e Alto Trás-os- Montes (que após uma quebra de 13,7% entre 1981 e, perdeu apenas 5,1% da sua população na década mais recente, deixando para o Douro o pior desempenho demográfico do Norte nos anos 90). Ao nível concelhio observa-se uma grande variedade de situações, as quais se estendem desde o forte dinamismo da Maia (cuja população cresceu 28,9% desde o Censo de, ritmo que em todo o país apenas foi superado pelos concelhos de Albufeira, Sintra, Sesimbra e S. Brás de Alportel) até à acentuada quebra demográfica em Boticas (que perdeu 19,1% da sua população, naquela que foi a segunda perda mais acentuada entre os concelhos portugueses, superada apenas por São Vicente, na Região Autónoma da Madeira). Deste modo, 40 concelhos do Norte viram a sua população crescer durante a última década, enquanto nos restantes 46 o número de habitantes evoluiu em sentido contrário. DINÂMICAS POPULACIONAIS COMPARADAS NOS CONCELHOS DA REGIÃO NORTE NOS ANOS OITENTA E NOS ANOS NOVENTA A generalidade dos concelhos com crescimento demográfico positivo entre e evidenciaram nesse período um dinamismo populacional mais forte do que havia sido registado entre 1981 e. Constituem excepção os casos de Vizela, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Penafiel, Santo Tirso e Vale de Cambra. Alguns concelhos que haviam perdido população durante os anos 80, lograram na década mais recente inverter essa tendência negativa. É o caso, entre todos particularmente notável, de Cabeceiras de Basto, que após ter perdido quase um em cada sete habitantes entre 1981 e, viu a sua população crescer cerca de 9% nos dez anos seguintes. Situações análogas, embora menos expressivas, foram vividas nos concelhos de Chaves, Mirandela, Bragança, Vila Real, Castelo de Paiva, Vila Verde e Ponte de Lima, evidenciando que, durante a última década, no território habitualmente denominado por interior Norte se fizeram sentir algumas tendências demográficas distintas das que haviam caracterizado a década precedente. 9
4 Região Norte Gráfico 1 - Variação Relativa da População Residente (concelhos com expansão demográfica entre e ) 30 entre 1981 e 25 entre e 20 % Maia Paços de Ferreira Felgueiras Lousada Braga Vila Nova de Gaia Valongo Póvoa de Varzim Vila do Conde Gondomar Santa Maria da Feira Trofa São João da Madeira Paredes Vizela Vila Nova de Famalicão Guimarães Amares Esposende Fafe entre 1981 e entre e 5 % Matosinhos Barcelos Cabeceiras de Basto Marco de Canaveses Vila Real Chaves Viana do Castelo Amarante Póvoa de Lanhoso Oliveira de Azeméis Vila Verde Caminha Bragança Castelo de Paiva Penafiel Santo Tirso Ponte de Lima Mirandela Arouca Vale de Cambra Entre os municípios que acusam uma perda de habitantes desde o Censo de, observam-se situações bastante diferenciadas, com vários concelhos a lograrem atenuar a tendência negativa que já haviam conhecido durante o período enquanto outros, pelo contrário, conheceram nos últimos dez anos uma evolução demográfica mais desfavorável do que no período imediatamente anterior. Em particular, os concelhos de Tarouca, Espinho, Valença e Vila Nova de Cerveira sofrem uma inversão de tendência, pois tendo visto crescer o número dos seus habitantes nos anos 80, sofreram na última década perdas populacionais. 10
5 Estatísticas & Estudos Regionais Gráfico 2 - Variação Relativa da População Residente (concelhos com perda demográfica entre e ) 10 5 entre 1981 e entre e 0 % Baião Ponte da Barca Vila Nova de Cerveira Espinho Valença Vila Nova de Foz Côa Cinfães Calorico de Basto Sabrosa Vieira do Minho Lamego Miranda do Douro Penedono Mogadouro Macedo de Cavaleiros Arcos de Valdevez Paredes de Coura Murça Monção Melgaço Resende Torre de Moncorvo São João da Pesqueira % entre 1981 e entre e -30 Mondim de Basto Moimenta da Beira Vila Flor Mesão Frio Terras de Bouro Sernancelhe Alfândega da Fé Santa Marta de Penaguião Vila Pouca de Aguiar Alijó Peso da Régua Ribeira de Pena Porto Tarouca Valpaços Armamar Tabuaço Freixo de Espada à Cinta Vimioso Vinhais Carrazeda de Ansiães Montalegre Boticas 11
6 Região Norte FACTORES DETERMINANTES DO CRESCIMENTO POPULACIONAL O confronto da evolução intercensitária com os registos de nados-vivos e óbitos permite decompor a variação populacional efectiva segundo os factores que a explicam, nomeadamente o saldo natural (diferença entre nados-vivos e óbitos) e o saldo migratório (diferença entre o número de indivíduos que entram num território para nele passarem a residir e os que, ao contrário, deixam de residir no mesmo território). Uma vez obtido o saldo natural para o período entre os dois últimos momentos censitários 3, o cálculo da diferença entre a variação populacional intercensitária e o saldo natural conduz a uma estimativa do saldo migratório para o mesmo período 4 : ( Pop ) Saldo Natural Saldo Migratório = Pop O crescimento demográfico do Norte, entre e, beneficiou de valores positivos quer do saldo natural, quer do saldo migratório. A diferença entre nados-vivos e óbitos foi, por si só, suficiente para motivar um crescimento de cerca de 122 mil indivíduos na população do Norte devendo os restantes 92 mil ser explicados pela diferença entre o número de indivíduos que vieram residir para a região e os que a abandonaram para se fixarem noutras paragens. Assim, o saldo natural foi o factor de crescimento demográfico mais importante no Norte entre e, respondendo por 57% da evolução registada. A situação descrita para o Norte contrasta com o panorama geral observado para Portugal. Com efeito, mais de quatro quintos da expansão demográfica portuguesa entre e são explicados pela ocorrência de um forte saldo migratório positivo, cabendo ao saldo natural um papel meramente residual ao nível nacional. Expressando ambos os saldos em termos relativos 5, constata-se que entre e a população do Norte cresceu cerca de 3,5% por efeito do saldo natural (taxa de crescimento natural), ao que se junta um crescimento de 2,7% por efeito dos comportamentos migratórios (taxa de crescimento migratório). Refira-se que a taxa de crescimento natural observada para o Norte é, logo a seguir à dos Açores (3,6%), a segunda mais elevada entre as regiões (NUTS II) portuguesas. Taxa de crescimento efectivo da população = Taxa de crescimento natural + Taxa de crescimento migratório O panorama globalmente descrito para o Norte esconde diferenças significativas entre sub-regiões. A totalidade das cinco sub-regiões cuja população cresceu entre e (Cávado, Ave, Grande Porto, Tâmega e Entre Douro e Vouga), observaram valores positivos tanto na componente natural, como na componente migratória. De modo inverso, o Douro e Alto Trás-os- Montes perdem população por efeito cumulativo dos saldos natural e migratório. Quanto ao Minho-Lima, regista um ligeiro saldo natural negativo, compensado por um saldo migratório positivo igualmente ligeiro. Gráfico 3 - Saldo Natural e Saldo Migratório no período intercensitário nas sub-regiões (NUTS III) do Norte Crescimento populacional Saldo natural Saldo migratório Minho- Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trásos-Montes 3 Os momentos censitários são o momento ao qual se refere a informação recolhida nos recenseamentos da população e da habitação que o INE realiza. Os dois últimos foram as 0 horas do dia 15 de Abril de e as 0 horas do dia 12 de Março de. 4 O valor assim obtido tem de ser considerado como uma estimativa. Efectivamente, ele incorpora, juntamente com o verdadeiro saldo migratório, todas as eventuais incorrecções que existam nos dados censitários, resultantes de erros de cobertura que possam ter estado presentes num e noutro recenseamento. A verdadeira dimensão destes erros de cobertura censitária não é, naturalmente, conhecida. No entanto, as estimativas disponíveis mostram que se trata de margens de erro bastante pequenas. A ocorrência de incorrecções nos registos (de origem administrativa) de nados-vivos e óbitos é bastante menos provável. 5 Na forma de uma percentagem face à população residente de. 12
7 Estatísticas & Estudos Regionais A representação cartográfica da taxa de crescimento natural, por concelho, evidencia uma separação bastante clara entre as zonas caracterizadas por valores positivos e negativos do saldo entre nados-vivos e óbitos. As maiores taxas de crescimento natural da população, entre e, ocorreram no sector ocidental da região Norte, nomeadamente numa vasta zona que se estende, na direcção Norte-Sul, entre Ponte de Lima e Oliveira de Azeméis e, na direcção nascente-poente, desde os concelhos de Cabeceiras de Basto e de Amarante, até ao litoral compreendido entre Esposende e Espinho (excluindo o Porto). Por NUTS III, constatase que o Tâmega, o Cávado e o Ave foram as subregiões portuguesas com maior taxa de crescimento natural da população. Em particular, destaca-se a mancha formada pelos concelhos de Vizela, Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, nos quais o saldo natural acumulado ao longo da década correspondeu a mais de 10% da população inicial do período. Em todo o país, apenas dois outros concelhos registaram taxas de crescimento natural da população superiores a 10% (Câmara de Lobos e Ribeira Grande). Por seu turno, os concelhos do Norte cuja população sofreu importantes taxas negativas de variação natural localizam-se, por um lado, no extremo nordeste da região (ao longo do vale do Minho, incluindo os concelhos de Paredes de Coura e Arcos de Valdevez) e, por outro lado, na sua parte mais oriental. Os valores mais acentuadamente negativos ocorrem tendencialmente junto às zonas de fronteira com Espanha. Em 19 dos 86 concelhos do Norte, o saldo natural acumulado entre e (seja positivo ou negativo) adquire uma expressão relativa pouco importante, resultando em taxas de crescimento natural da população compreendidas entre 2% e 2% (equivalentes a menos de 0,2% ao ano, em valor absoluto). A localização geográfica da maioria destes concelhos configura zonas de transição entre os espaços que revelam maior e menor dinamismo na evolução natural da respectiva população residente. Exceptuamse os concelhos do Porto (claramente inserido numa zona de forte crescimento natural da população) e de Mirandela (rodeado por concelhos com taxas de variação natural da população negativas relativamente acentuadas). Cartograma 1 - Taxa de crescimento natural da população, entre e (%) - concelhos da região Norte a a -6-6 a -2-2 a 2 2 a 6 6 a a 12 13
8 Região Norte A taxa de crescimento migratório da população não apresenta uma relação tão marcada com o território como foi constatado para a componente natural do movimento da população. De facto, tanto no litoral, como no interior da região, encontram-se concelhos, por vezes vizinhos, caracterizados por acentuadas taxas de crescimento migratório positivas e negativas. A Maia destaca-se por registar aquela que é de longe a mais elevada taxa de crescimento migratório registada entre os concelhos do Norte, com 22,4% (o segundo maior valor observado na região diz respeito a Vila Nova de Gaia e foi de 11,5%). Grande parte das restantes taxas concelhias de crescimento migratório da população superiores a 6% ocorreram também na parte ocidental da região, nomeadamente no Grande Porto (exceptuando o Porto e Espinho), mas também na zona Norte do Vale do Sousa, em parte do Entre Douro e Vouga, no eixo Braga-Amares e em Caminha. No entanto, também no interior da região deparamos com alguns concelhos que registam uma forte capacidade atractiva da população. É o caso, sobretudo de Chaves, Bragança, Cabeceiras de Basto e Vila Real, mas também de Vila Nova de Foz Côa e Mirandela. A maior parte dos concelhos do Norte com taxas de crescimento migratório negativas particularmente acentuadas situam-se na sub-região Douro. Globalmente considerado, o Douro registou mesmo a segunda mais acentuada taxa de crescimento migratório negativa entre as NUTS III portuguesas, logo a seguir à Madeira. Os concelhos de Tarouca, do Peso da Régua e do Porto, contam-se entre os cinco concelhos portugueses com taxas de crescimento migratório negativas mais acentuadas entre e. Em 20 dos 86 concelhos do Norte, a taxa de crescimento migratório tomou valores moderados (entre 2% e 2%). Cartograma 2 - Taxa de crescimento migratório da população, entre e (%) - concelhos da região Norte a a -6-6 a -2-2 a 2 2 a 6 6 a a 23 14
9 Estatísticas & Estudos Regionais O cartograma da taxa de crescimento efectivo (ou variação percentual) da população, por concelho, permite constatar que a maioria dos crescimentos populacionais mais fortes ocorreram, entre e, na zona ocidental da região Norte, em particular na maioria dos concelhos do Grande Porto, em parte do Entre Douro e Vouga, parte do Vale do Sousa, parte do Cávado e parte do Ave. A Maia é mesmo o quinto concelho português com maior expansão populacional no período. Em todo o litoral Norte, Espinho e o Porto constituem-se como excepções, por registarem perdas populacionais. A zona identificada como sendo a de maior dinamismo populacional estende-se desde o litoral até concelhos limitados ou atravessados pelo rio Tâmega, tais como Cabeceiras de Basto, Amarante e Marco de Canaveses. Mais para oriente, os únicos concelhos com crescimento populacional são Vila Real, Chaves, Bragança e Mirandela, atestando a importância estratégica das principais cidades do interior Norte. Boticas e Montalegre (ambos de Alto Trás-os-Montes) contam-se entre os cinco concelhos portugueses com perdas populacionais mais acentuadas entre e. No entanto, é o Douro que surge em terceiro lugar na lista nacional das NUTS III com maior recuo demográfico. Cartograma 3 - Taxa de crescimento efectivo da população, entre e (%) - concelhos da região Norte a a -6-6 a -2-2 a 2 2 a 6 6 a a 29 15
10 Região Norte TIPOLOGIA DE CONCELHOS SEGUNDO O SENTIDO E AS CAUSAS DA VARIAÇÃO POPULACIONAL A representação das unidades territoriais como pontos no plano definido pelas taxas de crescimento natural e migratório permite uma identificação imediata do sentido (positivo ou negativo) e das razões determinantes da respectiva evolução demográfica. O esquema representado no gráfico 4 demonstra esta ideia. A linha AB traduz as situações em que a soma dos saldos natural e migratório é nula, não havendo por isso qualquer variação no efectivo demográfico. Assim, as zonas 1 a 4 correspondem à ocorrência de crescimento populacional, enquanto os sectores 5 a 8 denunciam perdas demográficas. Por outro lado, a linha CD espelha situações de igualdade entre o saldo natural e o saldo migratório. Deste modo, as áreas 3 a 6 correspondem a valores do saldo migratório inferiores ao saldo natural, ao passo que as zonas 1, 2, 7 e 8 traduzem, pelo contrário, saldos naturais inferiores ao saldo migratório. Sintetizando: Zona 1 - Zona 2 - Zona 3 - Zona 4 - Zona 5 - Zona 6 - Zona 7 - Crescimento demográfico explicado em exclusivo pelo saldo migratório; Crescimento demográfico explicado sobretudo pelo saldo migratório, complementado pelo saldo natural; Crescimento demográfico explicado sobretudo pelo saldo natural, complementado pelo saldo migratório; Crescimento demográfico explicado em exclusivo pelo saldo natural; Decréscimo demográfico explicado em exclusivo pelo saldo migratório; Decréscimo demográfico explicado sobretudo pelo saldo migratório, complementado pelo saldo natural; Decréscimo demográfico explicado sobretudo pelo saldo natural, complementado pelo saldo migratório; Decréscimo demográfico explicado em exclusivo pelo saldo natural; Zona 8 - Linha AB - Variação populacional nula; Linha CD - Equivalência dos saldos natural e migratório. Gráfico 4 - Esquema de análise das determinantes da variação populacional A D Taxa de Crescimento Migratório 0% C 0% Taxa de Crescimento Natural B 16
11 O esquema exposto permite ler o gráfico 5. Assim, o Tâmega, o Cávado e o Ave (tal como a região Norte globalmente considerada) viram a sua população aumentar sobretudo devido à componente natural, embora beneficiando também de comportamentos migratórios globalmente positivos. Ao contrário, o Grande Porto viu a sua população crescer sobretudo em termos migratórios, embora beneficiando igualmente de um saldo natural positivo um cenário idêntico ao observado ao nível nacional. O Entre Douro e Vouga registou um crescimento demográfico explicado em partes iguais pelos dois tipos de comportamento. A população residente no Minho-Lima estabilizou, compensando um saldo natural negativo com um saldo migratório positivo de montante praticamente idêntico. Finalmente, em Alto Trás-os-Montes e no Douro observaram-se perdas populacionais, para as quais contribuiram quer o saldo natural, quer o saldo Estatísticas & Estudos Regionais migratório. No Douro, foram os comportamentos migratórios o mais importante factor explicativo do recuo demográfico, enquanto em Alto Trás-os-Montes esse papel coube ao movimento natural da população. Numa outra leitura, realça-se o facto de o Tâmega, o Cávado e o Ave serem as três sub-regiões com taxas de crescimento natural mais elevadas entre e não apenas no Norte, mas também em todo o país. Pelo contrário, Alto Trás-os-Montes foi a sub-região nortenha a registar a taxa de crescimento natural negativa mais acentuada. O Entre Douro e Vouga, o Cávado e o Grande Porto destacam-se pelas elevadas taxas de crescimento migratório apuradas para o período -. Ao contrário, o Douro registou a segunda mais acentuada taxa de crescimento migratório negativa entre as sub-regiões portuguesas, logo a seguir à Madeira. Gráfico 5 - Taxa de Crescimento Natural e Taxa de Crescimento Migratório no período intercensitário em Portugal, na região Norte e nas sub-regiões (NUTS III) do Norte Taxa de Crescimento Migratório 8% 0% 8% 8% Minho- Lima Alto Trás-os- Montes Douro PORTUGAL Utilizando a grelha de leitura definida pelo gráfico 4, é ainda possível construir uma tipologia dos concelhos da região Norte baseada na variação populacional observada no período intercensitário e respectivos 0% Grande Porto NORTE Taxa de Crescimento Natural EDV Cávado Ave Tâmega 8% factores explicativos. Os tipos definidos correspondem às zonas que foram previamente identificadas no gráfico 4. 17
12 Região Norte Cartograma 4 - Tipologia dos concelhos da região Norte segundo a variação populacional intercensitária e respectivos factores determinantes Uma primeira constatação é o facto de os saldos migratórios tenderem a acompanhar os saldos naturais. De facto, em quase três quartos dos concelhos da região Norte as taxas de crescimento natural e migratório têm sinal idêntico, seja positivo (em 30 concelhos), seja negativo (em 32 casos). Aparentemente, o saldo natural dá alguma indicação quanto à capacidade de um dado território atrair, em termos líquidos, população migrante. A ocorrência de aumentos de população num cenário de crescimento natural negativo (em que portanto os fenómenos migratórios são o único factor explicativo da expansão demográfica) foi extremamente rara entre os concelhos da região Norte no período de a, tendo sido registados apenas quatro casos (tipo 1), nomeadamente: os concelhos onde se situam as principais cidades transmontanas (Bragança, Chaves e Mirandela) e ainda Caminha. A situação inversa (expansão demográfica suportada exclusivamente por um saldo natural positivo e num cenário de saldo migratório negativo; tipo 4) é igualmente rara, sendo detectada de forma clara em apenas três concelhos (Penafiel, Castelo de Paiva e Arouca) que formam uma continuidade geográfica numa zona marcada por acessibilidades deficientes. A estes haveria ainda a juntar os concelhos de Vale de Cambra (no prolongamento Sul daquele eixo), Ponte de Lima e Santo Tirso, mas nestes casos a taxa de crescimento migratório foi praticamente nula, pelo que na realidade podemos situar estes concelhos na transição entre os tipos 3 e 4. No tipo 2 (crescimento populacional baseado sobretudo no saldo migratório, mas beneficiando também da componente natural) sobressai um conjunto de concelhos em torno do Porto formando como que uma versão alargada do Grande Porto, a qual inclui a Trofa, Santa Maria da Feira e São João da Madeira, mas exclui, no entanto, Espinho e o próprio Porto. Ainda no tipo 2, encontramos também alguns concelhos onde se situam cidades com alguma importância na região (nomeadamente Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Fafe) e ainda Amares (arredores de Braga) e Cabeceiras de Basto. Neste segundo grupo de concelhos, no entanto, observam-se, à excepção de Braga, ritmos de crescimento populacional tendencialmente menores do que nos concelhos agrupados em torno do Porto. 18
13 Estatísticas & Estudos Regionais Os concelhos classificados no tipo 3 (aumento da população motivado sobretudo pelo saldo natural, mas ajudado também pela componente migratória) tendem a situar-se na vizinhança dos concelhos de tipo 2 e a preencher os territórios entre grupos de concelhos tipo 2. Deste modo, o conjunto dos concelhos classificados nos tipos 2 e 3 acaba por formar um contínuo geográfico que ocupa grande parte da metade ocidental da região Norte, prolongando-se em direcção ao interior até Vila Real ou até Cabeceiras de Basto. Neste vasto território, a população cresceu impulsionada quer pelo saldo natural, quer pelo saldo migratório. A ocorrência de saldos migratórios positivos não evitou, face aos valores desfavoráveis do saldo natural, o decréscimo da população residente nos concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de Cerveira e Melgaço (tipo 8). Em rigor, incluem-se neste grupo também os concelhos de Paredes de Coura, Valença e Ponte da Barca, mas nestes casos a taxa de crescimento migratório foi praticamente nula, pelo que na realidade se trata de concelhos próximos da fronteira entre os tipos 7 e 8. Outros concelhos perderam população apenas devido ao efeito dos fluxos migratórios e apesar da ocorrência de um saldo natural positivo (tipo 5). Nesta situação identificam-se três aglomerados de concelhos: o contínuo formado por Baião, Mesão Frio, Peso da Régua e Lamego, o par Celorico de Basto e Mondim de Basto, e ainda o concelho de Espinho. Há também a referir o concelho de Tarouca, mas neste caso a taxa de crescimento natural foi praticamente nula, pelo que este concelho se aproxima da fronteira entre os tipos 5 e 6. No extremo oriental da região Norte, encontramos um conjunto de concelhos que se estende paralelamente ao percurso internacional do Douro e nos quais ocorreram decréscimos da população motivados sobretudo pela ocorrência de saldos naturais negativos, embora reforçados por saldos migratórios também desfavoráveis (tipo 7). A mesma situação ocorreu também em outros dois concelhos do Douro e em dois do Minho-Lima. Finalmente, em 22 concelhos da região Norte a população diminuiu entre e sobretudo devido aos comportamentos migratórios, embora o saldo natural tenha igualmente sido negativo (tipo 6). Este vasto conjunto de concelhos distribui-se principalmente pelo Douro (9 casos), por Alto Trás-os- Montes (7 casos) e pelo Tâmega (3 casos). O concelho do Porto inclui-se também neste tipo. POVOAMENTO E CONCENTRAÇÃO A representação cartográfica da variação populacional relativa entre e, ao nível de freguesia, faz ressaltar sobretudo dois aspectos. Em primeiro lugar, constata-se uma forte concentração de freguesias com variação positiva na parte ocidental da região, desde a faixa litoral até zonas do concelho de Amarante, por exemplo. Neste contexto, constitui excepção notável o concelho do Porto, que perde população na maior parte das suas freguesias. Em segundo lugar, verifica-se que no restante território do Norte predominam as freguesias com perda de população, mas igualmente se detecta a existência de freguesias isoladas ou pequenos grupos de freguesias, com uma localização dispersa, que observam ganhos de população e que correpondem aos principais núcleos urbanos do interior Norte. Estes dois aspectos são, afinal, duas faces de um mesmo fenómeno, que é o facto de o modelo de povoamento evoluir no sentido de uma maior urbanização tendência que explica quer a progressiva litoralização da população, quer o referido reforço demográfico dos principais centros urbanos do interior. Efectivamente, em 80 dos 86 concelhos do Norte existe pelo menos uma freguesia que registou, entre e, um crescimento da sua população, correspondendo na maior parte dos casos à existência de um ou mais algomerados urbanos em crescimento. As únicas excepções foram Boticas, Freixo de Espada à Cinta, Peso da Régua, Ribeira de Pena, Tabuaço e Montalegre concelhos que não lograram aumentos populacionais em nenhuma das suas freguesias. Exactamente metade daqueles 80 concelhos registaram um diminuição do seu efectivo demográfico total. Por outro lado, em 78 concelhos da região coexistiram freguesia(s) caracterizada(s) por expansão demográfica, com freguesia(s) marcada(s) por perdas populacionais, denotando assim uma evolução dual do efectivo demográfico no interior do seu espaço geográfico: ocorrência de crescimento no principal aglomerado populacional (ou nos principais aglomerados populacionais) e perda no restante território concelhio. As excepções foram Valongo (cujas população aumentou em todas as freguesias) e São João da Madeira (concelho formado por apenas uma freguesia), além dos casos já referidos no parágrafo anterior. 19
14 Região Norte Cartograma 5 - Taxa de crescimento efectivo da população, entre e (%) - freguesias da região Norte a a -9-9 a -3-3 a 3 3 a 9 9 a a 125 A distribuição da população pelo território do Norte mantém-se bastante assimétrica. A análise da densidade populacional por freguesia mostra claramente esse facto, bem como evidencia a desigual importância das duas dimensões do processo de urbanização atrás referidas. Efectivamente, a litoralização da população (entendida grosso modo como a sua concentração na metade ocidental da região, e, portanto, tomando a expressão litoral numa acepção bem mais vasta do que a estrita faixa costeira) é um fenómeno muito evidente no cartograma 6, traduzindo-se em densidades populacionais muito elevadas num vasto contínuo territorial. Ao invés, a relativa importância dos centros urbanos do interior (expressão utilizada num sentido complementar ao utilizado antes para litoral ) expressa-se em densidades populacionais não tão elevadas e observadas num número reduzido de freguesias, com pouco efeito de alastramento para freguesias vizinhas. 20
15 Estatísticas & Estudos Regionais Cartograma 6 - Densidade populacional, em (hab. / km 2 ) - freguesias da região Norte - 2,7 a 24,1 24,1 a 76,7 76,7 a 187,2 187,2 a 465,3 465,3 a 17725,7 O gráfico 6 apresenta as Curvas de Lorenz referentes ao estudo da concentração geográfica da população residente na região Norte em 1981, e. Este gráfico foi elaborado com base nos dados observados ao nível da freguesia, nomeadamente: população residente, área e densidade populacional. Para cada ano, ordenaram-se as freguesias da região Norte de modo crescente da respectiva densidade populacional. Foram assim obtidas as séries da superfície e da população acumuladas nas freguesias, à medida que se consideram freguesias de densidade populacional crescente. Deste modo, o gráfico 6 relaciona, para cada ano, a proporção (face à área total do Norte) de superfície acumulada num determinado número de freguesias de menor densidade populacional, com a proporção (face à população total do Norte) de residentes acumulada nessas mesmas freguesias (ver caixa A curva de Lorenz e o estudo da concentração geográfica da população ). O gráfico 6 evidencia um progressivo aumento do grau de concentração geográfica da população residente no Norte de 1981 a, patente no afastamento crescente da Curva de Lorenz em relação à bissectriz a qual corresponderia à situação (teórica) em que todas as freguesias tivessem a mesma densidade populacional e em que, portanto, a concentração seria nula. A ideia da concentração crescente da população é igualmente traduzida pelas seguintes constatações, extraídas dos dados subjacentes ao gráfico 6: - nas freguesias correspondentes, em cada ano, aos 40% do território da região Norte menos densamente povoados, residiam em 1981 cerca de 4,8% da população regional proporção que, em, baixou para 3,8% e que, em, era de apenas 2,9%; - ao contrário, nas freguesias correpondentes, em cada ano, aos 40% do território mais densamente povoados, residiam em 1981 cerca de 89,6% dos habitantes da região Norte sendo que, em, essa proporção era já de 91,5% e, em, atingia 93,2%; 21
16 Região Norte - nas freguesias correpondentes, em cada ano, aos 20% do território mais densamente povoados, residiam, em 1981, cerca de 76,4% dos habitantes da região Norte em, essa proporção cresceu para 79,2% e, em, chegou a 82,1%; - os 90% da população residente nas freguesias que, em cada ano, eram as mais densamente povoadas, espalhavam-se, em 1981, por cerca de 41,2% do território da região Norte mas, em, já se concentravam em 36% do território e, em, limitavam-se a 31,2% da superfície total. Gráfico 6 - Concentração geográfica da população residente na região Norte, por freguesia (Curvas de Lorenz 1981, e ) 100% 90% 1981 Proporção Acumulada de Residentes 80% 70% 60% 50% 40% 30% Densidade populacional uniforme nas freguesias 20% 10% 0% 0% 20% 40% 60% 80% 100% Proporção Acumulada de Superfície (das freguesias ordenadas por densidade populacional crescente) A CURVA DE LORENZ E O ESTUDO DA CONCENTRAÇÃO GEOGRÁFICA DA POPULAÇÃO A curva de Lorenz foi originalmente desenvolvida com o objectivo de representar graficamente a desigualdade, ou o grau de concentração, patente na forma como o rendimento gerado numa dada economia se distribui pelos indivíduos ou pelas famílias. Posteriormente, a curva de Lorenz tem sido utilizada em muitas outras situações, nas quais se pretende avaliar o grau relativo de concentração de um determinado atributo num determinado conjunto de indivíduos, por referência às duas situações extremas seguintes: um único indivíduo detém todo o atributo em causa, ou o atributo reparte-se igualmente por todos os indivíduos. Quando o problema em causa é o estudo da forma como a população residente (de um país ou de uma região) se distribui pelo território, surge uma dificuldade resultante da necessidade de considerar uma dada partição do território. Com efeito, o estudo da concentração pode levar a resultados distintos consoante o tipo de unidade territorial elementar que se considere (por exemplo: distritos, NUTS III, concelhos, freguesias ). A seguinte situação teórica ilustra o problema. A figura a) simula um território perfeitamente quadrado, no qual os indivíduos se apresentam uniformemente distribuídos. Se fosse possível utilizar a partição do território representada na figura b), a análise facilmente reproduziria a conclusão de que os indivíduos se encontravam perfeitamente distribuídos pelo território. Na prática, porém, raramente existe alternativa à utilização dos limites territoriais disponíveis, quase sempre de origem administrativa e mais ou menos arbitrários. A figura c) simula uma partição alternativa do território, com base na qual já poderia ser erradamente transmitida a ideia de um 22
17 Estatísticas & Estudos Regionais certo grau de concentração (i.e. uma certa desigualdade), uma vez que nos levaria a dizer algo como: a unidade territorial mais populosa concentra 4/9 da população, enquanto na unidade territorial menos populosa reside apenas 1/9 da população. a) b) c) d) A utilização da densidade populacional permite ultrapassar parcialmente a dificuldade apontada. Com efeito, na situação anterior, mesmo na hipótese representada pela figura c) todas as unidades territoriais apresentam a mesma densidade populacional, recuperando portanto a ideia de uma distribuição uniforme da população. Ainda assim, o critério da densidade populacional não resolve totalmente o problema. Na figura d) as quatro unidades territoriais continuam a ter todas a mesma densidade populacional, mas é evidente uma concentração dos indivíduos mais forte no canto superior esquerdo. Resta, portanto, assegurar que as unidades territoriais utilizadas sejam homogéneas, no sentido de não se caracterizarem por desequilíbrios internos na distribuição da população. Na prática, porém, é virtualmente impossível assegurar tal hipótese mas estaremos tão mais próximos de a observar, quanto mais desagregada fôr a partição territorial retida na análise, i.e.: quanto menor for a superfície média das unidades territoriais elementares consideradas. A análise desenvolvida teve em conta a correcção pela densidade populacional e considerou-se suficiente a partição administrativa do território da região Norte ao nível das freguesias. Assim, para a elaboração do gráfico com as curvas de Lorenz procedeu-se, em cada ano, à arrumação das freguesias por ordem crescente da respectiva densidade populacional. O mesmo critério esteve na base do cálculo, subsequente, do índice de Gini. O estudo das curvas de Lorenz pode ser complementado com o cálculo de indicadores do grau de concentração, dos quais o mais conhecido é o índice de Gini. A forma mais simples de definir o índice de Gini é, por recurso ào gráfico 6, dizer que ele resulta da divisão da área contida entre a Curva de Lorenz e a linha representativa da situação de densidade populacional uniforme, pela área total situada entre essa mesma linha e o eixo das abcissas. Deste modo, o índice de Gini varia entre 0 e 1, sendo que o valor 0 se obtém quando a curva de Lorenz coincide com a linha de densidade populacional uniforme (concentração nula) e o valor 1 corresponde a uma situação teórica em que a população se concentra toda numa mesma freguesia (concentração total). O quadro 3 apresenta os valores do índice de Gini correspondentes ao gráfico 6, na coluna dos cálculos por freguesia. Nota-se que o acréscimo registado no índice de Gini entre 1981 e (de 0,721 para 0,749) é idêntico ao ocorrido entre e (de 0,749 para 0,777), levando por isso a afirmar que o reforço do grau de concentração geográfica da população decorreu a ritmos semelhantes nos anos 80 e nos anos 90. A título ilustrativo, o quadro 3 apresenta também os valores do índice de Gini que resultariam de se conduzir a análise com base em dados desagregados apenas ao nível de concelho. Os resultados teriam igualmente denunciado a existência de um grau de concentração crescente, mas os valores do índice viriam menores o que se compreende uma vez que, neste cenário, não seria tida em conta a desigualdade na repartição territorial da população existente internamente a cada concelho. Por outro lado, esta alternativa de análise levaria a detectar um certo abrandamento do processo de concentração territorial da população dos anos 80 para os anos 90 conclusão que não se considera válida face à análise precedente, desenvolvida com base em dados por freguesia. Esta circunstância leva-nos a supor que, entre e, o acréscimo no grau de concentração espacial da população recebeu das assimetrias existentes ao nível intraconcelhio um contributo mais expressivo do que na década precedente. 23
18 Região Norte Quadro 3 - Índices de Gini relativos à concentração geográfica da população residente na região Norte 1981, e unidade territorial elementar considerada Ano nos cálculos: freguesia concelho ,721 0,749 0,777 0,655 0,683 0,705 ENVELHECIMENTO Entre e, a população residente na região Norte sofreu um processo de envelhecimento, seguindo a tendência observada em todo o país. Ainda assim, o Norte mantém-se como uma das regiões portuguesas com população mais jovem (a única região NUTS II do Continente onde, em, o número de jovens residentes menores de 15 anos excedia o de idosos com mais de 64 anos). A proporção de jovens menores de 15 anos observada entre os residentes na região Norte diminuiu de 22,1%, em, para 17,5%, em, acompanhando a evolução registada ao nível nacional (de 20,0% para 16,0%). Do mesmo modo, a proporção de residentes na região Norte entre os 15 e os 24 anos igualmente diminuiu, passando de 18,0% para 15,1%. Estas tendências foram unanimemente sentidas em todos os concelhos da região. Por outro lado, a proporção de residentes com mais de 64 anos subiu, na região Norte, de 11,4% para 14,0%, entre e. Também aqui o Norte acompanhou a evolução nacional (a qual foi de 13,6% para 16,4%) e se tratou de uma tendência generalizada a todos os concelhos da região. Finalmente, a proporção de indivíduos com 25 a 64 anos de idade aumentou em quase todos os concelhos da região, tendo diminuído apenas em Freixo de Espada à Cinta, Vimioso, Torre de Moncorvo e Miranda do Douro. Gráfico 7 - Estrutura etária da população residente em e (Portugal, Norte e sub-regiões do Norte) 0-14 anos anos anos 65 ou mais anos 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Portugal Região Norte Minho- Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trás- os- Montes 24
19 Estatísticas & Estudos Regionais O índice de envelhecimento representa o número de indivíduos maiores de 64 anos, por cada 100 indivíduos com menos de 15 anos e surge como um indicador com boa capacidade de resumir a estrutura etária dos residentes num dado território. O gráfico 8 mostra que nos últimos 20 anos o índice de envelhecimento mais do que duplicou, tanto para a região Norte como para Portugal. O Norte, porém, não só se mantém mais jovem do que a média nacional, como inclusive denota uma progressão algo mais lenta do índice de envelhecimento. Gráfico 8 - Índice de envelhecimento - numero de residentes com mais de 64 anos, por cada 100 jovens menores de 15 anos - Portugal 1981 Região Norte A representação cartográfica dos valores concelhios do índice de envelhecimento, em, evidencia a existência de um forte contraste entre zonas distintas da região Norte. Assim, os concelhos mais jovens ocupam uma vasta zona na parte ocidental da região, correspondendo a grande parte do Cávado, do Ave, do Grande porto (com a excepção notável do próprio Porto), do Tâmega e do Entre Douro e Vouga. O Ave e o Tâmega eram mesmo as duas sub-regiões (NUTS III) portuguesas menos envelhecidas em. Ao contrário, os concelhos com população mais envelhecida são, na sua maioria, territórios de fronteira com Espanha ou, pelo menos, vizinhos desses concelhos fronteiriços. O contraste identificado não somente corresponde a uma demarcação territorial bem definida, como também pressupõe situações claramente opostas em termos de grau de envelhecimento da população. Basta notar que o valor do índice de envelhecimento para os concelhos do Norte variava, em, entre os 39,8 de Paços de Ferreira (o quarto concelho português menos envelhecido e o mais jovem do território do Continente) e os 295,0 de Melgaço. Todos os concelhos do Norte apresentavam em um índice de envelhecimento mais elevado do que em. A dimensão desse agravamento, porém, variou substancialmente, podendo apontar-se como situações extremas os concelhos de Felgueiras (cujo índice de envelhecimento apenas evoluiu de 31,7 para 43,2 entre e ) e de Vimioso (onde o índice de envelhecimento saltou de 113,5 para 279,4, no mesmo período). 25
20 Região Norte Cartograma 7 - Índice de envelhecimento, - concelhos da região Norte - 39,8 a 60,9 60,9 a 77,6 77,6 a 119,7 119,7 a 182,8 182,8 a 295,0 A tipologia de concelhos da região Norte já antes apresentada neste artigo (com base na evolução dos efectivos populacionais no período intercensitário e respectivos factores determinantes) revela-se esclarecedora também no que se refere à questão do envelhecimento. Assim, os tipos 2 a 5 correspondentes à ocorrência de valores positivos no saldo natural não apenas verificam (quer em, quer em ) os menores índices de envelhecimento, como também observam o menor agravamento desse mesmo índice. Por seu turno, o tipo 7 (que agrupa os concelhos com valores negativos em ambos os saldos, sendo no entanto o saldo natural o mais acentuado) não só regista o mais elevado nível médio de envelhecimento em e, como também acusa o maior agravamento do fenómeno do envelhecimento populacional ao longo da década. Os tipos 6, 7 e 8 (correspondentes à ocorrência de saldos naturais negativos acompanhados de quebras no efectivo populacional entre e ) são aqueles onde se verifica maior dispersão absoluta nos níveis de envelhecimento dos concelhos agrupados. 26
21 Estatísticas & Estudos Regionais Gráfico 9 - Índice de envelhecimento, por tipos de concelhos Índice de envelhecimento 250 maior valor concelhio menor valor concelhio Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Tipo 6 Tipo 7 Tipo 8 Crescimento populacional Decréscimo populacional 0 NÍVEIS DE INSTRUÇÃO A terminar, deve referir-se que os resultados provisórios dos Censos tornam evidente o aumento do nível de escolarização dos residentes no Norte. A comparação da estrutura da população residente segundo o nível de ensino atingido, em e em, permite destacar a queda da proporção de habitantes cujo nível de ensino atingido era apenas o 1º ciclo do ensino básico (de 48% para 37%), compensada sobretudo pelo reforço da proporção daqueles que haviam atingido o ensino secundário (de 7% para 13%) ou o ensino superior (de 4% para 9%). O salto qualitativo operado na escolarização dos residentes no Norte foi de tal modo significativo, que inclusivamente se constata que o número de indivíduos que haviam atingido (concluindo ou não...) o ensino superior mais do que duplicou entre e. O mesmo é válido, aliás, para o ensino secundário. Gráfico 10 - População residente no Norte por nível de ensino atingido (%) 7% 1% 4% 16% 0% 9% 14% 9% Nenhum nível de ensino 1º ciclo do ensino básico 13% 2º ciclo do ensino básico 3º ciclo do ensino básico Ensino Secundário 11% 15% Ensino Médio 37% 48% Ensino Superior 15% 27
22 Região Norte Naturalmente, a análise dos níveis de ensino torna-se incompleta se não tiver em linha de conta a estratificação etária da população. Infelizmente, o cruzamento do nível de instrução com a idade dos indivíduos não integrou a fase de divulgação correspondente aos resultados provisórios dos censos, pelo que apenas ficará disponível com os resultados definitivos. Em todo o caso, procurou-se construir um indicador capaz de relacionar informação sobre níveis de ensino e grupos etários assegurando algum nível de coerência entre os dois tipos de variáveis. Assim, relacionou-se o número de indivíduos cujo nível de ensino atingido ultrapassava a actual escolaridade obrigatória (podendo, portanto, corresponder ao ensino secundário, ao ensino médio ou ainda ao ensino superior) com o número de residentes com 15 ou mais anos de idade, expressando o resultado na forma de uma percentagem. O valor obtido para a região Norte, em, foi de 27,4%. Este resultado é muito semelhante aos observados na Madeira e no Centro e supera ligeiramente os registos dos Açores e do Alentejo. No entanto, aquele valor deixa a região Norte a grande distância dos resultados obtidos com o mesmo indicador para o Algarve (32,8%) e, sobretudo, para Lisboa e Vale do Tejo (41,9%). O indicador definido apresenta uma grande diversidade no interior da região Norte. O concelho do Porto regista o maior rácio entre os indivíduos que atingiram pelo menos o ensino secundário e os residentes de 15 ou mais anos, com um valor de 46,7%. Seguem-se-lhe Braga e a Maia, com 39,9%. Ao contrário, Baião é o concelho que apresenta a relação mais desfavorável (apenas 10,7%), seguindo-se-lhe Cinfães e Boticas ainda abaixo dos 12%. Refira-se, aliás, que apenas dois outros concelhos portugueses (Pampilhosa da Serra e Góis, ambos na região Centro) registavam igualmente valores inferiores a 12% para este indicador no ano. Cartograma 8 - Número de indivíduos que atingiram pelo menos o ensino secundário, por cada cem indivíduos com 15 ou mais anos de idade - concelhos da região Norte - 10,7 a 14,9 14,9 a 16,9 16,9 a 19,5 19,5 a 24,9 24,9 a 46,7 28
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