MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM SETORES DA BACIA DO RIO CASCAVEL EM GUARAPUAVA (PR)
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- Sônia Cavalheiro Carvalhal
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1 MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM SETORES DA BACIA DO RIO CASCAVEL EM GUARAPUAVA (PR) Diego Moraes Flores 1 1. Introdução O novo Código Florestal Brasileiro, Lei nº , de 25 de maio de 2012, procurou manter em sua nova redação um importante instrumento de proteção e conservação, trata-se das Áreas de Preservação Permanente (APPs). Essas foram contextualizadas e criadas com a finalidade de manter e preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Sua espacialização foi esquematizada segundo áreas de maior fragilidade não só do relevo, mas de todo o ecossistema existente. Entretanto, as novas modificações delineadas no novo código florestal impuseram modificações significativas nos parâmetros de manutenção de matas ciliares. Diretrizes legislativas amparadas em comprovações e estudos científicos antes estabelecidos por ambientalistas e pesquisadores foram modificadas em prol de pressões externas oriundas das atividades de mercado e que não leva em consideração a manutenção das funções ecológicas de determinados ecossistemas. Tais funções remetem a aspectos bióticos de fluxo gênico de fauna e flora típica das áreas de mata ciliar, além de prover a manutenção de encostas, topos de morro e alagados, quando se considera feições morfológicas do relevo. Segundo Metzeger (2010, p. 94) o conhecimento científico obtido nos últimos tempos permitiu não apenas sustentar os valores indicados no Código Florestal anterior (Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965) em relação à extensão das APPs, mas na realidade indicaram a necessidade de expansão destes valores para limiares mínimos de pelo menos 100 m (50 m de cada lado do rio), independentemente do bioma, do grupo taxonômico, do solo ou do tipo de topografia. As APPS são parte deste meio pressionado, e têm sofrido incomensuráveis impactos produzidos por atividades econômicas (agricultura, pecuária, indústria, turismo) e estruturais (moradia, estradas, obras de urbanização em geral, usinas de 1 Professor Colaborador do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste -UNICENTRO, Campi Guarapuava (PR). Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 03 Vila Carli. Fone: (42) , CEP: Guarapuava PR. diegomoraesf@hotmail.com
2 geração de energia, etc.). O discurso preservacionista/conservacionista não implica em impedimento a projetos de desenvolvimento e crescimento do país, uma vez que não se pode desenvolver o país a custo de processos que degradem e coloquem em risco os recursos naturais. Dessa forma, há necessidade de se rever a forma de produção e consumo, de modo a equilibrar tais forças. 2. Objetivos O objetivo geral desta pesquisa foi a caracterização geomorfológica e o mapeamento de áreas de Preservação Permanente de setores da bacia do Rio Cascavel, no município de Guarapuava (PR). Por se tratar de pesquisa vinculada ao Grupo de Estudos Regionais e Análise Territorial GERAT da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) Campus de Guarapuava (PR), buscou-se subsidiar as análises e levantamentos que os demais trabalhos do grupo já realizam na área mencionada. O objetivo específico da seguinte pesquisa foi: a) Elaborar material cartográfico que subsidie a caracterização geomorfológica da área de estudo onde incida os setores de APPs na bacia do Rio Cascavel no município de Guarapuava (PR). 3. Metodologia A metodologia utilizada buscou a definição das áreas de APPs a serem mapeadas na bacia correspondente, como faixas marginais de rios, cabeceiras, reservatórios, entre outros. Foi produzida base cartográfica da área em formato digital com uso do software Arc Gis 10. A metodologia de mapeamento e caracterização geomorfológica seguiu os princípios de Ross (1992) no que tange os níveis de tratamento a cerca de pesquisas geomorfológicas utilizando sua linha metodológica de taxonomia do relevo. A delimitação das áreas de APP seguiu os princípios da Lei nº , de 25 de maio de 2012 e Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de Além disto, foi realizado o levantamento bibliográfico de toda legislação pertinente ao tema, bem como, textos de referência sobre áreas de preservação permanente.
3 4. Resultados e Discussões Em relação à caracterização geomorfológica, a bacia esta inserida regionalmente na unidade morfoestrutural, Bacia Sedimentar do Paraná (1º táxon), em sua porção centro sul, e como unidade morfoescultural o denominado Terceiro Planalto Paranaense (2º táxon), assentado sobre rochas vulcânicas do trapp do Paraná da Formação Serra Geral, predominando basaltos de idade Jurássica - Cretácica, que compõem quase toda a bacia do rio Cascavel, diferenciando-se apenas, na porção sudoeste desta, onde as rochas do Membro Nova Prata são mais presentes, formado por rochas ígneas, variando de básicas a ácidas, compreendendo basaltos pórfiros, dacitos, riodacitos e riólitos. Como o mapeamento pautou-se nos preceitos de Ross (1992), a representação gráfica das formas do relevo, considera que os tamanhos destas estão atrelados a cronologia e sua gênese, portanto, as formas de relevo maiores estão concentradas nos maiores táxons, e sua classificação é aplicada conforme a escala de observação no mapa. Assim, a Bacia Sedimentar do Paraná como estrutura maior pertence ao primeiro táxon e as demais unidades morfoesculturais pertencem ao segundo táxon em diante, levando sempre em consideração cronologia, gênese e processos denudacionais envolvidos. A taxonomia das unidades morfoesculturais da bacia do rio Cascavel foram delimitadas através de conjunto de cores e hachuras, sendo que cada qual foi especificada conforme a unidade morfológica existente na área. O tratamento de imagem SRTM, com a produção de MDE (modelo digital de elevação), contribuiu para a elaboração de hipsometria (fig.1), a partir das curvas de nível. A determinação de linhas de falhas e a observação da morfologia, além de algumas observações de campo auxiliaram na caracterização geomorfológica geral da bacia; a determinação dos limites das APPs seguiu a legislação pertinente com aplicação das ferramentas do software. Figura 1. Mapa Hipsométrico Bacia do rio Cascavel - Guarapuava (PR).
4 Na Bacia do rio Cascavel predomina-se o padrão de formas em colinas, sendo estas mais alongadas em direção aos divisores de água à montante. A delimitação da unidade morfoescultural levou em consideração o modelado predominante da bacia que detém declives menores que 6% e altitudes que variam entre 1025 a 1150m. Regionalmente a subunidade escultural no qual se insere a bacia do rio Cascavel é denominada de Planalto de Palmas/Guarapuava (3º táxon), limitada pelos paralelos e de latitude sul e os meridianos e de longitude oeste, possuindo aproximadamente 78 km² de área, sendo parte do sistema de drenagem do Rio Jordão, afluente da margem direita do Rio Iguaçu (LIMA, 2011). As formas de relevo predominantes são topos de colinas aplainadas com vertentes retilíneas a convexizadas (4º táxon), os interflúvios são levemente alongados, e os vales são predominantemente em U, modelados quase que diretamente nas rochas da formação Serra Geral, os principais lineamentos encontram-se direcionados NE/SW como pode ser observado no mapeamento produzido (fig.2). Figura 02. Unidades geológicas, compartimentos geomorfológicos e APPs da bacia do rio Cascavel - Guarapuava (PR). O clima regional incidente no município, segundo Thomas e Vestena (2003), é do tipo subtropical mesotérmico-úmido, com temperatura média anual de 17 C,
5 pluviosidade bem distribuída, com média mensal acima de 100 mm e média anual acima de 1900 mm. Em relação às propriedades de drenagem a bacia do Rio Cascavel, esta segue um padrão básico paralelo a dentrítico em uma rede de drenagem assimétrica, com alinhamento do canal principal na margem direita da bacia e um maior desenvolvimento dos tributários na margem esquerda. O grau de integração da rede de drenagem pode ser considerado de médio a alto, o que demonstra consistência de fluxo entre seus tributários e o curso principal. Dias-Oliveira et. al. (2009) indicaram que a bacia apresenta um comprimento dos cursos fluviais na ordem de 124,84km resultando em uma densidade de drenagem de 1,54 km/km², considerada por estes, como um valor de uma bacia de boa drenagem, a variação é de baixa (0,5 km/km 2) a bem drenada (> 3,5 km/km2). Em relação às APPs, da bacia em questão, a maior parte delas foi assimilada pelo desenvolvimento urbano da cidade ou atividades ligadas ao setor agropecuário (porções territoriais fora da área considerada urbanizada). As áreas em que se pode observar vegetação ciliar ocorrem nos terrenos mais rebaixados (planícies de inundação) dentro e fora dos limites urbanos, sobretudo em média e baixa bacia e alguns pontos em direção a montante. Os impactos mais observados fora a perda da vegetação ciliar ou ripária em função da urbanização, despejo irregular de esgoto em setores residenciais mais próximos da calha do rio, além de pontos de assoreamento e presença de espécies de plantas exóticas (foto, 1). Foto 1. Trecho de planície de inundação do rio Cascavel com encosta à direita da foto que dá acesso a PR 277, na margem esquerda há um conjunto de residências, tendo algumas delas a presença de tubulações de esgoto ligadas direto ao rio.
6 O novo código florestal (Lei Federal /2012) determina que as áreas de matas ciliares devam ser consideradas Áreas de Preservação Permanente-APPs, conforme dispõe o inciso II do Artigo 3º. II Área de Preservação Permanente APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. A redação da lei 4771/65(antigo código florestal) determinava que a APP fosse medida a partir do nível mais alto do curso de água e a resolução CONAMA 303/2002 estabelecia que o nível mais alto fosse aquele alcançado quando da cheia sazonal. O novo texto (artigo 3º inciso XIX e artigo 4º inciso I) determina que a APP seja medida a partir da calha do leito regular. Não houve alteração na determinação das APPs de rios, já que nos processos de licenciamento busca-se determinar o nível mais alto alcançado pelos cursos de água no limite de suas margens, o que pode ser entendido como calha do leito regular, uma vez que não são consideradas as cheias excepcionais. No caso de áreas úmidas e várzeas adjacentes a cursos de água, a APP incidirá na própria área úmida ou várzea, já que deverá se medida a partir da calha do rio. As práticas correntes dos órgãos ambientais executores era demarcar a APP a partir do limite da área úmida. A partir da edição da Lei 12651/12, caso haja presença de áreas de várzeas, deverá ser feita a análise caso a caso, e, havendo justificativa técnica, serão adotadas medidas visando a proteger a vegetação típica dessas áreas. As dimensões das APPs de cursos de água em função da largura do curso permanecem as mesmas da legislação anterior. Como os alagadiços deste trecho da bacia não se configuram como lagos ou lagoas, sejam elas naturais (Inciso II do Artigo 4º) ou artificiais (Inciso III do Artigo 4) não é incidente a legislação, cabendo através da argumentação ambiental ressaltar sua importância e função ecológica. 5. Conclusões Por se tratar de uma região de morros alongados a aplainados com vertentes de convexidade moderada e retilinizadas propícia a concentração de água nas planícies de inundação, as margens do rio Cascavel em média e baixa bacia, são as áreas em que mais ocorrem fenômenos de enchentes e alagamentos, o planejamento e ocupação do núcleo urbano do município de Guarapuava e adjacências deve ser muito bem organizado com o objetivo de não intensificar os transtornos nos períodos de maior
7 vazão da rede hídrica. Mesmo em um ambiente urbanizado como o apresentado, o esforço para manter áreas de APP será sempre válido a fim de proteger as mata ciliares, ecossistemas fundamentais no equilíbrio ecológico da paisagem. Como o município de Guarapuava se encontra em um estágio de urbanização crescente e com vistas de se expandir ainda mais, é pertinente que os órgãos competentes e sociedade civil se articule no sentido de planejar adequadamente quais áreas devam receber ainda projetos de urbanização e quais devam ser organizadas no sentido de manter as poucas áreas de APPs passíveis de ser manejadas e possibilitar o equilíbrio do sistema hídrico como um todo e do relevo que o comporta. Em relação ao mapeamento e caracterização geomorfológica, embora simples, forneceu informações básicas sobre as características de relevo da bacia, podendo auxiliar tomadas de decisão sobre algum aspecto de uso de solo ou planejamento ambiental. Por se tratar de Projeto de Pesquisa Especial (PQE) com tempo de duração de um semestre, demais informações serão produzidas e tratadas no próximo projeto a ser finalizado no semestre seguinte, abrangendo mapeamento e caracterização morfométrica do relevo da bacia do rio Cascavel. 7. Referências BRASIL. Lei nº , de 25 de maio de Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e , de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no , de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília.. Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de áreas de preservação permanente. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília. GOLDBLATT, David. Teoria Social e Ambiente. Lisboa: Editora Instituto Piaget, LIMA, A. G. Morfologia da rede de drenagem do rio Cascavel e sua potencial interação hidrossedimentar com o ambiente urbano de Guarapuava, PR: notas preliminares. Ciência e Natura, UFSM, v.33 nº2, p METZGER. J. P. O Código Florestal tem base científica? Natureza & Conservação, julho/2010. p ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos Fatos Geomórficos e a Questão da Taxono mia do Relevo, Revista do Depto. Geografia, FFLCH-USP, São Paulo, n.6, p.17-29, 1992.
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