APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: DESAFIOS E TENDÊNCIAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL
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1 APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: DESAFIOS E TENDÊNCIAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL Fábio Luiz Mação Campos, Cefet-Campos/ IEMA, fabiomacao@gmail.com Resumo As áreas de preservação permanente (APP s) são áreas legalmente protegidas que tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Alvo de ocupações em todo o país, o estabelecimento de limites ideais para ocupação dessas áreas para fins de licenciamento ambiental é o principal tema de nosso trabalho. Inúmeros conflitos são encontrados quando se diz respeito à delimitação e ocupação das APP s. A rigorosidade e a objetividade da legislação não têm garantido a preservação dos recursos naturais nem o exercício de suas funções adequadamente. Frente a este problema buscamos delimitar as APP s, não baseados na legislação, mas nas áreas essenciais para o exercício de suas funções primordiais das APP s de Topo de morro e Cursos D água na bacia do rio Sana, município de Macaé - RJ. O objetivo principal deste trabalho é desenvolver conceitos e métodos para avaliação das funções das áreas de preservação permanente, contribuindo para aprimoramento dos processos de licenciamento ambiental sob tutela do poder público. O método utilizado para alcance dos resultados, consistiu no reconhecimento e das funções ambientais das diversas modalidades, realização de estudos de caso para delimitação e das áreas relevantes e comparação dos resultados obtidos com a legislação em vigor. O trabalho foi elaborado seguindo quatro etapas: 1) Seleção de áreas com características relevantes para realização dos estudos de caso; 2) Planejamento e Realização dos estudos de caso; 3) Análise e conclusão dos estudos; e 4) Discussão dos resultados Os resultados encontrados apontaram uma legislação em desacordo com as características naturais das áreas estudadas, a possibilidade de flexibilização da legislação é discutida apontando algumas diretrizes que podem ser tomadas no andamento dos processos de licenciamento ambiental. Introdução As áreas de preservação permanente (APP s) são áreas legalmente protegidas que tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Alvo de ocupações em todo o país, o estabelecimento de limites ideais para ocupação dessas áreas para fins de licenciamento ambiental é o principal tema de nosso trabalho. Justificativa Inúmeros conflitos são encontrados quando se diz respeito à delimitação e ocupação das APP s. A rigorosidade e a objetividade da legislação não têm garantido a preservação dos recursos naturais
2 nem o exercício de suas funções adequadamente. Frente a este problema buscamos delimitar as APP s, não baseados na legislação, mas nas áreas essenciais para o exercício de suas funções primordiais das APP s de Topo de morro e Cursos D água na bacia do rio Sana, município de Macaé - RJ. Objetivo Desenvolver conceitos e métodos para avaliação das funções das áreas de preservação permanente, contribuindo para aprimoramento dos processos de licenciamento ambiental sob tutela do poder público. Métodos utilizados O método utilizado para alcance dos resultados, consistiu primeiramente no reconhecimento das funções ambientais das modalidades de APP s (conforme tabela 1), posteriormente selecionou-se a área de uma propriedade de m², cujas características da físicas são mostradas na Figura 1. Dentro dessa propriedade buscou-se uma delimitação das áreas mais importantes para exercício das funções relativas às APP s tratadas no estudo de caso, baseando-se primordialmente em critérios hidrológicos e geomorfológicos. Tabela 1 APP s e Funções Ambientais (destaque para as APP s encontradas na área de estudo) Modalidade de APP Principais Funções Ambientais Associadas Margens de Cursos D'água Manutenção de biodiversidade, Estabilização geomorfológica das Margens, Manutenção da qualidade da água, Regularização da vazão hídrica, Prevenção de Desastres Naturais Margens de Lagoas/Reservatórios Manutenção de biodiversidade, Manutenção da qualidade da água, Regularização da vazão hídrica, Prevenção de Desastres Naturais Topos de Morro Mitigação de processos Erosivos, Recarga de Aquíferos Entorno de Nascentes Manutenção da qualidade da água, Regularização da vazão Declividade > 100% Mitigação de processos Erosivos, Prevenção de Desastres Naturais Restinga (Costa) Mitigação de processos Erosivos, Manutenção de biodiversidade, Prevenção de Desastres Naturais Altitudes > 1800 m Manutenção de biodiversidade (Fonte: Mação, 2008)
3 Nas APP s de cursos d água, buscou-se priorizar as funções de Estabilização geomorfológica das Margens e a Prevenção de Desastres Naturais, para tanto mapeamos as áreas com declividades acentuadas, áreas onde há intenso solapamento de margens e as áreas atingidas pelas cotas de inundação normalmente registradas no trecho do curso d água em questão. Considerando que as funções das APP s detopo de morros consistem basicamente na Mitigação de processos Erosivos e na Recarga de Aquíferos, essas APP s foram desprezadas. Em seu lugar, foram mapeadas as áreas cuja morfologia é menos propícia à infiltração das águas pluviais e as áreas onde os processos erosivos são mais acentuados, assim foram consideradas respectivamente as áreas que apresentam grandes declividades associadas a morfologias de que tendem à acumulação do fluxo do escoamento superficial. Essas áreas foram obtidas através da geração de modelo numérico do terreno e a função flow acumulation do software ArcGis 9.2. As APP s de Declividade foram consideras quando associadas a áreas relativamente consideráveis, a locais de concentração de fluxo do escoamento superficial ou a áreas que representavam riscos a populações humanas como. No caso da propriedade em estudo apenas foram identificadas as que tinham áreas consideráveis, que adotamos como exemplo as áreas maiores que 100 m², pelo maior potencial de promoverem movimentos de massa. Gerou-se assim um mapa que retratava as áreas as quais suas preservações seriam mais importantes para que as funções ambientais fossem exercidas. Após esse esforço de delimitação, buscou-se comparar as vantagens e desvantagens das duas delimitações, comparando a área disponível para uso e as áreas da preservação.
4 Figura 1 Características da Área de estudo Fonte: Mação, 2008 Resultados Os resultados gerados a partir dos estudos, como pode-se observar na figura 2, demonstraram uma grande diferença entre a proposta legal de preservação e a proposta técnica. As principais diferenças notadas foram que proposta legal não apontou a necessidade de preservação nas áreas mapeadas
5 como susceptíveis à erosão pluvial, superestimou as faixas marginais de proteção do curso d água e as áreas com declividade acentuada. Figura 2 - Comparação entre as proposta de Áreas de Preservação Fonte: Mação, 2008 Na prática, para o licenciamento ambiental, glebas perfeitamente aptas para ocupação e uso econômico deveriam deixar de serem aproveitadas, uma vez que a área ocupada pelas APP s demarcadas conforme a legislação em vigor foi de m², enquanto a proposta técnica reduziria as áreas de preservação obrigatória para m². Em suma, os resultados encontrados apontaram uma legislação em desacordo com as características naturais da área estudada, verificando assim, que existe a possibilidade de flexibilização da legislação, para tanto lançamos as seguintes propostas: 1) Avaliação das funções ambientais das APP s A avaliação em escala de detalhe das funções ambientais das APP s poderá flexibilizar seu uso. Áreas legalmente consideradas APP s podem não ter função ambiental relevante o bastante para que seja exigida por parte do órgão ambiental a sua preservação, por outro lado, a preservação permanente de algumas áreas que não são legalmente protegidas poderá trazer maiores benefícios.
6 A proposta, nesses casos, é que haja compensação pela utilização de APP s. Mesmo que a função exercida pela APP utilizada possa ser prejudicada, é possível que se preserve outra área dentro da mesma propriedade cujo uso econômico seja menos interessante, mas que, entretanto, possa exercer funções ambientais que substituam a área utilizada. 2) Planejamento e avaliação local/ regional da necessidade das características necessárias para manutenção das funções ambientais Dadas as características locais e/ou regionais em cada caso, é possível que as funções ambientais para quais as APP s foram criadas sejam exercidas em áreas diferentes das demarcadas segundo a legislação vigente. Dessa maneira, caso seja realizada uma avaliação ambiental em nível mais detalhado, serão encontradas áreas que garantirão as funções ambientais que se pretende sendo definidas novas APP s, baseadas em estudos técnicos. Esses estudos técnicos detalhados, devem resultar em planos de utilização da propriedade ou da região, que poderiam substituir a legislação vigente culminando em utilização mais racional do solo e minimizando os conflitos entre as práticas econômicas e a legislação. Uma proposta a ser analisada é que essa nova regulamentação seja realizada pelo poder público, através da associação de municípios que compõem determinadas bacias ou sub-bacias hidrográficas ou caso seja mais apropriado, que essas políticas/ planos sejam realizados em conjunto com o plano de bacias hidrográficas, através de agências das bacias. 3) Implementação de práticas e mecanismos que possibilitem a melhoria das funções ambientais Algumas práticas agrícolas e de controle ambiental podem auxiliar sobremaneira o exercício das funções ambientais das APP s. 4) Regularização da ocupação de APP s em áreas urbanas A minimização dos impactas atividades urbanas regularização das Análise de riscos inerentes à implantação da atividades. 5) Criação de um cadastro de áreas para compensação ambiental Havendo a disponibilidade de áreas para compensação ambiental, as APP utilizadas poderiam ser compensadas em áreas cujo proprietário não tem interesse em utilizá-la economicamente. Referências Bibliográficas AB'SABER, A.N., O suporte geoecológico das florestas beiradeiras (ciliares). In: Matas Ciliares - Conservação e Recuperação. Rodrigues e Leitão Filho (Eds.). EDUSP/FAPESP:15-25 BERTONI, J.; LOMBARDI-NETO, F. Conservação do solo. 1. ed. Piracicaba: Livroceres, p.
7 BRASIL, Lei nº 4771/1965, 15 de setembro de Institui o Código Florestal Brasileiro Disponível em < Acesso em: 15/10/2007 CONAMA. Resolução nº 303, de 20 de abril de Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. Disponível em Acesso em: 15/10/2007. CONAMA. Resolução nº 369, de 28 de março de Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente-APP. Disponível em < Acesso em: 15/10/2007 HADLEY, R. F. R.; Lal, C. A.; ONSTAD, D. E.; WALLING, A. Yair. Recent developments in erosion and sediment yield studies. Tech. Dev. Hydrol., Working Group ICCE IHP-II project, United Nations Educ. Sci. and Cult. Org., Paris, HINKEL, Rudnei. Vegetação Ripária: Funções e ecologia. In: Anais do I Seminário de Hidrologia Florestal - Zonas Ripárias, PPGEA-UFSC, 2003 LIMA, Luiz Dias da Mota; SILVEIRA, Patrícia Gomes da; SILVA, Fellipe Figueiredo; LOUREIRO, Hugo Alves Soares. Estudo dos Processos Erosivos no Médio e Alto Cursos da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé, Macaé/Rj. In: Anais do V Seminário Latino-Americano de Geografia Física. Revista Geografia Ensino & Pesquisa V. 12, nº1. Santa Maria RS, MAÇÃO, Fábio Luiz Campos. Gestão ambiental em áreas de preservação permanente com vistas ao licenciamento ambiental. Projeto de Pesquisa/ Dissertação de Mestrado apresentado ao Cefet-Campos, VALENTE, Osvaldo Ferreira. Preocupações de um Conservador de Nascentes. artigo disponível em < acesso em: 29/10/2008
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