Utilizando-se o biofeedback no treinamento de fortalecimento dos músculos extensores do joelho em um paciente com lesão meniscal: relato de caso

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1 Utilizando-se o biofeedback no treinamento de fortalecimento dos músculos extensores do joelho em um paciente com lesão meniscal: relato de caso 77 Edson Donizetti VERRI 1 Evandro Marianetti FIOCO 2 Luciana Aparecida TEIXEIRA 3 Waléria Miguel COELHO 4 Resumo: Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia do uso do biofeedback/emg no treinamento dos músculos extensores do joelho. Realizou-se a avaliação e o tratamento de um paciente do sexo masculino com 51 anos de idade, duas vezes por semana. Para avaliação e tratamento, foi utilizada a eletromiografia a fim de captar o sinal eletromiográfico da contração isométrica voluntária máxima do indivíduo; também utilizamos a célula de carga de Lafayette para avaliar a força muscular dos extensores do joelho na posição sentada. No treinamento, foi utilizado o cálculo de 65% a 85% da contração voluntária máxima. O biofeedback/emg mostrou-se eficaz, uma vez que em um curto espaço de tempo o paciente apresentou melhora na sua força muscular, devido à conscientização da função de contração. Palavra-chave: Biofeedback. Lafayette. Eletromiografia. Fisioterapia. 1 Edson Donizetti Verri. Doutorando em Biologia Oral pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Biologia e Patologia Bucodental pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Professor Pesquisador do Projeto de Extensão e Pesquisa Saúde, Educação e Qualidade de Vida, do Claretiano Centro Universitário, onde também atua como docente em cursos de Graduação e Pós-graduação. <edverri@gmail.com>. 2 Evandro Marianetti Fioco. Doutorando em Biologia Oral pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Promoção de Saúde pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Professor Pesquisador do Projeto de Extensão e Pesquisa Saúde, Educação e Qualidade de Vida, do Claretiano Centro Universitário, onde também atua como docente em cursos de Graduação e Pós-graduação. <evandroacm@claretiano.edu.br>. 3 Luciana Aparecida Teixeira. Bacharel em Fisioterapia pelo Claretiano Centro Universitário. <luciannyap27@hotmail.com>. 4 Waléria Miguel Coelho. Bacharel em Fisioterapia pelo Claretiano Centro Universitário. <waleriamiguelcoelho@gmail.com>.

2 78 Using biofeedback on the strenght training of the extensor muscles of the knees in a patient with meniscal lesion: a case report Edson Donizetti VERRI Evandro Marianetti FIOCO Luciana Aparecida TEIXEIRA Waléria Miguel COELHO Abstract: This study aimed at evaluating the effectiveness of using biofeedback/emg while training the muscles of the knees. A fifty-one-year-old male patient was evaluated and treated twice a week. In order to do so, we used electromyography, aiming at capturing the electromyographic signal of the individual s maximum voluntary isometric contraction; we also used Lafayette s charge cell to evaluate the muscle strenght of the extensors of the knees while sitting. During the training, we calculated 65% to 85% of the maximum voluntary contraction. Finally, biofeedback/emg showed to be effective, once the patient presented improvements in his muscular strenght in a short period of time, due to the conscientization of the contraction function. Keywords: Biofeedback. Lafayette. Electromyography. Physiotherapy.

3 79 1. INTRODUÇÃO O joelho é uma das articulações mais lesadas em todo o corpo (MELO; MEJIA, 2014). Segundo Cabral e Monteiro-Pedro (2003), a articulação do joelho está normalmente envolvida em cerca de 50% das lesões musculoesqueléticas. A articulação tibiofemoral é a responsável pela sustentação do peso e também amortece impactos com a ajuda dos meniscos (MELO; MEJIA, 2014). Os meniscos são estruturas fibrocartilaginosas semicirculares que exercem funções de transmissão de carga, estabilidade articular, propriocepção, lubrificação articular e distribuição de nutrientes. As lesões meniscais são geradas por excessivas forças de compressão e cisalhamento sobre meniscos normais ou degenerados (LAURINO, 2009). Entre as opções utilizadas para o tratamento conservador, temos o treinamento muscular com a utilização do biofeedback/emg (eletromiográfico), que é um recurso indolor e não invasivo. É uma técnica de condicionamento por meio da aprendizagem de controle voluntário de respostas fisiológicas específicas durante determinada atividade, utilizando estímulos reforçadores para ensinar o paciente por sinais auditivos e/ou visuais a tomar consciência imediata de respostas de seu organismo (VIEIRA; MALTA; SABINO, 2007). 2. OBJETIVO Avaliar a eficácia do uso do biofeedback/emg sobre o treinamento dos músculos extensores contralaterais ao membro com lesão do menisco. 3. METODOLOGIA Foi realizada avaliação de um paciente do sexo masculino, 51 anos, com lesão meniscal medial no joelho direito por degeneração. Este paciente, que já realizava sessões de fisioterapia na Clínica Multidisciplinar do Claretiano Centro Universitário de Batatais, foi informado sobre todas as etapas da pesquisa e o seu objetivo, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram coletados por meio do teste eletromiográfico com o aparelho Eletromiógrafo MyoSystemBR-1, versão portátil acoplado a um laptop o valor de seu RMS (raiz quadrada) e sua contração voluntária máxima, bem como avaliada a força em kg pelo teste de Lafayette durante 5 segundos, sendo ele realizado na posição sentada para extensores de joelho. O local para a realização da pesquisa foi no Laboratório de Biomecânica do Movimento (LABIM) do Claretiano, duas vezes por semana, no período da tarde, com duração de 1 hora. Para o treinamento foram utilizadas duas posições sentado com joelho estendido (Figura 1) e em decúbito dorsal com rolo de toalha sob o joelho (Figura 2). Foram solicitadas cinco contrações voluntárias máximas em cada posição, com descanso de um minuto entre elas, e anotados ao final de cada contração os valores eletromiográficos (Figura 3). Ao final do treino, foram realizados alongamentos para extensores e flexores de joelho em ambos os membros inferiores por 3 x 30 segundos.

4 80 Figura 1. Paciente sentado realizando contração voluntária máxima. Fonte: arquivo pessoal dos autores. Figura 2. Paciente em decúbito dorsal com rolo de toalha sob o joelho realizando contração voluntária máxima. Fonte: arquivo pessoal dos autores.

5 81 Figura 3. Sinal eletromiográfico. Fonte: arquivo pessoal dos autores. 4. RESULTADOS Na primeira avaliação por meio da célula de carga, obtivemos o seguinte resultado: os músculos extensores do joelho direito apresentaram uma força muscular de 18,26 kg e o esquerdo 15,13 kg, constatando-se, assim, uma diminuição na força dos extensores do MIE, ou seja, o membro contralateral à lesão meniscal. Na reavaliação, após ter realizado quatro sessões do treinamento com o Biofeedback apenas nos extensores do MIE, apresentou uma força muscular nos extensores de joelho direito de 24 kg e no esquerdo de 25,1 kg, equiparando, assim, um membro com o outro (Gráfico 1). Em relação à EMG, foi realizada uma contração isométrica voluntária máxima da musculatura extensora do MIE e obteve-se o valor de 714,28 µv. No treinamento, foi utilizado o cálculo de 65% a 85% da contração voluntária máxima, onde ele deveria permanecer no mínimo entre 465,68 µv e 607,13 µv. Nos resultados com a EMG, no primeiro dia de treino na posição sentada teve como resultado médio um RMS de 78,77 e contração máxima de 520,30 µv. Após a quarta sessão, já foi possível observar uma melhora na conscientização da contração, obtendo como resultado uma média do RMS de 85,37 e uma contração máxima de 542,364 µv (Gráfico 2). Em relação à posição em decúbito dorsal, seu resultado médio inicial foi de RMS 58,106 e contração máxima de 446,37 µv e, após a quarta sessão, foi obtida a média do RMS de 78,346 e contração máxima de 557,014 µv (Gráfico 3).

6 82 Gráfico 1. Teste de Lafayette. Fonte: elaborado pelos autores. Gráfico 2. Resultados eletromiográficos início e término do tratamento na posição sentado. Fonte: elaborado pelos autores.

7 Gráfico 3. Resultados eletromiográficos início e término do tratamento na posição decúbito dorsal. 83 Fonte: elaborado pelos autores. 5. DISCUSSÃO Segundo estudo de Paiva et al. (2007), as lesões do menisco medial são mais frequentes que as do menisco lateral em uma proporção de vinte vezes, sendo sua maior causa a combinação dos movimentos de flexão e rotação. O trauma da articulação do joelho é seu principal mecanismo de lesão, porém, observa-se que após os 50 anos ele se dá devido à degeneração (SOCIEDADE BRASILEIRA DE AR- TROSCOPIA, 2014). O bloqueio do joelho durante a movimentação e o derrame articular é apresentado como uma das queixas, e a dor na interlinha do menisco lesado, como sintoma mais frequente. A fisioterapia deve ser adotada como primeira opção de tratamento, e o encaminhamento a algum procedimento cirúrgico deverá ser realizado somente na ausência de melhora. Independentemente da causa deverão ser adotados exercícios de fortalecimento de quadríceps, uma vez que ele pode sofrer uma hipotrofia, ocasionada pelo desuso e vinculada à dor, que deverá ser tratada quando existente, bem como ser feito alongamento muscular (PLAPLER; GREVE, 2010). Forti (2005) nos traz que a eletromiografia é utilizada como recurso para avaliação da função e disfunção muscular, sendo os fisioterapeutas seus maiores utilizadores. Ela tem como função avaliar a eficácia dos exercícios mediante análise da resposta muscular a fim de constatar se as metas terapêuticas estão realmente sendo alcançadas. Em nosso estudo, foi possível verificar que o músculo retofemoral direito (lado da lesão meniscal) estava mais forte em relação ao esquerdo. Foi levantada a hipótese de que, durante o tratamento fisioterapêutico, enfatizou-se o fortalecimento do membro inferior direito, ocasionando, assim, o enfraquecimento do membro contralateral. Devido a isso, foram realizadas sessões de biofeedback eletromiográfico, tendo como foco o retofemoral esquerdo.

8 84 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esse estudo, foi possível verificar que mesmo o biofeedback/emg tendo sido realizado somente no membro contralateral à lesão, ambos tiveram benefícios em relação à reeducação na conscientização da contração e no ganho de força muscular em um curto espaço de tempo, uma vez que o MIE equiparou-se ao MID. Nossa principal limitação foi em relação à escassez de artigos científicos relacionados à utilização do biofeedback/emg nas lesões meniscais, fazendo-se necessários novos estudos que comprovem sua efetividade. REFERÊNCIAS CABRAL, C. M. N.; MONTEIRO-PEDRO, V. Recuperação funcional de indivíduos com disfunções fêmoro-patelar por meio de exercícios em cadeia cinética fechada: revisão da literatura. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 7, n. 1, p. 1-8, FORTI, F. Análise do sinal eletromiográfico em diferentes posicionamentos, tipos de eletrodos, ângulos articulares e intensidades de contração f. Dissertação (Mestrado em Fisioterapia) Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Piracicaba, Disponível em: < Acesso em: 19 jul LAURINO, C. F. S. As lesões meniscais do joelho. Atualização em Ortopedia e Traumatologia do Esporte, jan Disponível em: < Acesso em: 19 jul MELO, F. S.; MEJIA, D. P. M. Reabilitação na lesão do ligamento cruzado anterior: Da anatomia ao tratamento. Portal Bio Cursos Disponível em: < LesYo_do Ligamento_Cruzado_Anterior_da_anatomia_ao_tratamento.pdf>. Acesso em: 19 jul PAIVA, E. S. et al. Exercícios físicos como auxiliares na prevenção e reabilitação do joelho: Bases teóricas. In: XI ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E VII ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA, 2007, São José dos Campos. Anais eletrônicos... São José dos Campos: Universidade do Vale do Paraíba, Disponível em: < trabalhos/saude/inic/inicg00184_01o.pdf>. Acesso em: 19 jul PLAPLER, P. G.; GREVE, J. M. D. Reabilitação do joelho. Texto de apoio ao curso de especialização Atividade física adaptada e saúde Disponível em: < tapoioreabilitacaojoelhocompleto.pdf>. Acesso em: 19 jul SOCIEDADE BRASILEIRA DE ARTROSCOPIA. Portal SBOT Disponível em: < portalsbot.org.br/wp-content/uploads/2014/12/o-que-%c3%a9-les%c3%b5es-meniscais-e-artroscopia-do-joelhovers%c3%a3o-impress%c3%a3o.pdf>. Acesso em: 19 jul VIEIRA, L. A.; MALTA, R. D.; SABINO, G. S. Biofeedback eletromiográfico (Biofeedback/EMG) no pós-operatório de joelho. Fisioterapia em Movimento, v. 20, n. 3, p , 2007.