CASA UBATUBA. Implantação e Partido Formal

Transcrição

1 CASA UBATUBA Local: Ubatuba-SP Ano: Escritório SPBR Autoras: Stefânia Rossato Tonet, Cristina Piccoli e Ana Elísia da Costa Implantação e Partido Formal A casa Ubatuba se localiza na cidade litorânea de mesmo nome, ao norte do estado de São Paulo. Projetada para um casal aposentado, a residência foi construída em um terreno com 6m testada sudoeste e 50m de profundidade, cujo limite leste é a Praia do Tenório. A forte declividade do terreno e a exuberante vegetação nativa foram determinantes na escolha do partido da edificação. (figura ) N Figura 0: Implantação. Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia Quatro blocos compactos conectados através de passarelas, circulações verticais e fortes elementos estruturais, como três colunas e duas vigas que percorrem a casa horizontalmente pela cobertura, são os principais elementos que constituem a composição aditiva. A edificação foi posicionada de forma a minimizar a interferência na topografia e vegetação existente. Apenas sua três colunas tocam o solo íngreme e sustentam o conjunto que tem a cobertura na mesma cota da rua. Desse modo, a casa, que está a 30 metros do nível da praia, parece flutuar entre as árvores. Observa-se ainda que a posição desencontrada dos quatro blocos permite que estes proporcionem visuais privilegias da beira-mar. (figura 2)

2 Blocos aditivos Elementos de conexão Figura 02: Esquema de composição aditiva. Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia. 206 O tratamento dado aos volumes reforça a ideia ambígua entre contraste e integração com o entorno. O peso visual do concreto aparente utilizado nas empenas laterais dos blocos opõe-se à leveza dos grandes planos de vidro frontais que possibilitam a conexão visual com a paisagem. A madeira, apresentada em sua cor natural, reveste passarelas, guarda-corpos e os painéis verticais que funcionam como persianas. (figura 3) Figura 3: Esquema de composição aditiva. Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia. 206 A composição em planta da residência Ubatuba sugere uma grelha ordenadora. Ao se analisar a configuração dos ambientes, pode-se concluir que existe um módulo principal que determinou as medidas dos blocos compactos integrantes da composição, bem como do afastamento existente entre eles. Os ambientes regulares, ou seja, de medidas e usos convencionais, foram determinados por este módulo principal. Corredores, varandas, ou simplesmente acréscimos nas dimensões de determinados ambientes, são subdivisões deste módulo. Transversalmente a esta organização, segue outra modulação que organiza principalmente os dormitórios e cujos meio módulos organizam os elementos de composição

3 irregulares, como os banheiros. A estrutura da residência não segue a mesma modulação encontrada na organização dos ambientes, portanto pode-se concluir que a casa possui uma estrutura independente e suas paredes não possuem função estrutural. (figura 4) Módulo principal Derivações do módulo Figura 04: Esquema do princípio de organização, Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia. 206 Como já observado, o sistema de sustentação da casa tem como apoios principais três colunas que são os únicos elementos a tocarem o solo íngreme. Duas dessas colunas sustentam diretamente duas vigas invertidas que, partindo do nível da rua, atravessam longitudinalmente a edificação. Conectam estas vigas a laje que cobre a varanda e o volume da piscina que funciona com uma grande viga e que também se apoia na terceira coluna. A partir das duas vigas invertidas longitudinais, são definidos tirantes que sustentam as lajes dos demais volumes. (figura 5) Figura 05: Esquema estrutural. Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia. 206

4 Configuração funcional A casa Ubatuba é organizada em blocos e em níveis. Cada bloco conta com dois pavimentos, além da cobertura que também funciona como área de lazer com piscina. A exceção é o Bloco 0, semienterrado, cuja cobertura serve como acesso e estacionamento, abrigando casa de máquinas, depósito e reservatórios. Os Blocos 02, 03 e 04 abrigam no pavimento inferior, invariavelmente, o setor íntimo, estando os blocos 02 e 03 conectados por uma mesma circulação vertical e Bloco 4, isolado, acessado por um sistema de circulação próprio. Já nos pavimentos superiores, os ambientes de convívio social dominam os espaços. Neles, a planta livre é favorecida pelo arranjo dos elementos irregulares de composição, sempre na periferia da edificação, e pelas circulações em suíte e sugeridas. No setor íntimo, a planta compartimentada, característica dos ambientes que exigem privacidade, possui banheiros interpostos aos quartos ou nas extremidades do bloco. A circulação espacializada e periférica também favorece este arranjo. (figura 6) Bloco 0 Bloco 02 Bloco 03 Bloco 04 Bloco 0 Bloco 02 Bloco 03 Bloco 04 Bloco 02 Bloco 03 Bloco 04 Setor de íntimo Setor social Setor de serviço Elementos irregulares Figura 06: Esquema de setorização, Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia. 206 O acesso se dá a partir da rua, na cota mais alta do terreno, e é feito através de um passeio pela cobertura que inicia numa passarela, contorna a piscina, até chegar às duas escadas que levam aos níveis inferiores. Sem o uso do hall como estratégia de organização ou de segregação entre externo e interno, o usuário precisa eleger entre dois percursos tratados aqui como Percurso 0 e 02. O Percurso 0 conecta prioritariamente os Blocos 02 e 03 e, através de sua escada, chega-se ao espaço de serviço-convivência do Bloco 02. A partir dele, são derivados dois percursos: no mesmo nível, acessa-se ao

5 estar do Bloco 3; no nível inferior, através de uma escada helicoidal que contorna uma das colunas de sustentação da casa, acessa-se as zonas íntimas dos Blocos 02 e 03. O Percurso 02 conecta os Blocos 03 e 04 e, através de sua escada, cujo patamar se agiganta formando uma varanda no nível intermediário, é possível chegar ao estar do Bloco 03. Transposto este estar, uma nova escada conduz ao setor íntimo do Bloco 04. Assim, o estar do Bloco 03 se comporta como uma zona de convergência que conecta os percursos 0 e 02.(figura 7) Acesso Percurso 0 Percurso 02 Figura 07: Esquema de circulação, Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia. 206

6 Espacialidade O percurso de acesso à casa Ubatuba sugere que os usuários percebam primeiro a paisagem, tenham uma visão geral do entorno, da vegetação, para depois adentrar na residência. (figura 07) As estreitas escadas ladeadas por delgados guardacorpos que conduzem às salas estar do Bloco 2 no Percurso 0 e estar do Bloco 03 no Percurso 02 - não chegam a causar sensações de compressão espacial, e introjetam o usuário no que será uma experiência contrastante em todos os percursos da casa: uma tensão multidirecional. 2 Figura 08: Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia Grandes planos envidraçados voltados para a Praia do Tenório e para os vãos que segregam os volumes desvelam a natureza exuberante do entorno e fazem com que o interior e o exterior sejam quase um ambiente único. Mesmo com os maciços planos longitudinais que define os volumes, o que sugere um enquadramento da paisagem, observa -se que a relação visual entre ambientes dos vários blocos e seus vazios, bem como a relação destes com a varanda e a paisagem, sugere uma indefinição de limites espaciais, configurando diversos pontos focais. (figura 08) 2 2 Figura 09: Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia

7 Os trajetos descendentes que levam aos dormitórios são dinâmicos no Percurso 0, já que as escadas e corredores preservam sutis limites laterais, e mais introspectivos no Percurso 02, cujas escadas fechadas por painéis de madeira, reforçam a ideia de privacidade. Nos quartos, grandes aberturas promovem a integração visual e sensorial com o exterior, configurando-se como seus pontos focais, direcionando os olhares ao contrário do que ocorre nos ambientes de convívio social. (figura 09) Figura 00: Casa Ubatuba (2005) SPBR. Fonte: TONET, Stefânia