29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul. Cada asfalto uma CICLOfaixa
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- Iago Álvaro Brezinski
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1 29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul Cada asfalto uma CICLOfaixa Área Temática 05 - Meio Ambiente Maurício Couto Polidori (Coordenador da Ação de Extensão) Fernanda Tomiello 1 Hector Horácio Severi Cardoso 2 Maurício Couto Polidori 3 Otávio Martins Peres 4 Susan Von Ahn Bierhals 5 Palavras-chave: mobilidade, bicicletas, intervenção, urbanismo. Resumo A campanha cada asfalto uma CICLOfaixa objetiva alertar que as mudança viárias precisam considerar com prioridade a implantação de um sistema cicloviário eficiente e seguro. Essa possibilidade é indicada frente às recentes obras de asfaltamento realizadas na cidade de Pelotas, que constituem um facilitador para implantar esse sistema cicloviário. O movimento consiste na realização de intervenções urbanas, jornadas de estudos, passeios ciclísticos e audiências públicas sempre com foco na integração entre a comunidade acadêmica e nãoacadêmica. Introdução A concentração populacional em centros urbanos tem sido uma característica marcante do processo de desenvolvimento mundial, gerando problemas para as cidades e exigindo alternativas para o seu crescimento (Comissão Européia, 2000). Dentre esses problemas está o aumento da frota de automóveis, que tem acarretado 1 Bolsista do Programa de Educação Tutorial; Curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Pelotas; fernandatomiello@gmail.com. 2 Representante do MUBPel - Movimento de Usuário de Bicicleta de Pelotas; horacioseveri@yahoo.com.br. 3 Doutor em Ciências; professor no Departamento de Arquitetura e Urbanismo, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas; mauricio.polidori@terra.com.br. 4 Mestre em Arquitetura e Urbanismo; otmperes@gmail.com. 5 Bolsista do Programa de Educação Tutorial; Curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Pelotas; susan_bier@yahoo.com.br.
2 esgotamento dos sistemas de circulação, aumento da poluição e da insegurança, com elevado consumo de recursos não renováveis além de prejuízos à sustentabilidade e dificuldade nos processos de gestão urbana. (Vasconcellos, 1996). Nesse contexto, a inserção da bicicleta nos atuais sistemas de circulação aparece como alternativa à mobilidade urbana sustentável, prometendo ganhos na qualidade de vida e facilitando os processos de gestão urbana (Comissão Européia, 2000). Sendo assim, para possibilitar e estimular a locomoção por bicicleta é necessário prover as cidades de características espaciais e de infra-estrutura compatíveis com as necessidades dos ciclistas, o que exige a reconfiguração dos sistemas viários atuais, os quais não têm facilitado o uso das bicicletas, indicando a necessidade de alternativas de desenho urbano e de organização espacial. (Geipot, 2001a e b). O Brasil, com uma frota estimada em 60 milhões de bicicletas, ocupa posição expressiva no mundo quanto à venda deste veículo. No entanto, conta com cerca de 2,505 km de infra-estrutura exclusiva à circulação da bicicleta, pouca com relação à sua dimensão continental (Ministério Das Cidades, 2007b). Faltam políticas públicas voltadas à construção de redes cicloviárias nas cidades e espaços contínuos para a circulação das bicicletas, visando à configuração de rotas cicláveis. É extremamente precária a oferta de locais para estacionamentos, com segurança, mesmo em cidades que têm se destacado nessa área. No Brasil, questões econômicas estão associadas às razões para o uso da bicicleta. Nas grandes cidades do país, os ciclistas que mais fazem uso da bicicleta vivem nas regiões periféricas e o realizam para destinos distantes da sua moradia (Braga e Miranda, 2006). Em 2007, a Secretaria de Transportes e da Mobilidade Urbana (SeMob) desenvolveu o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, estimulando os governos municipais, estaduais e do Distrito Federal a desenvolver e aprimorar ações que favoreçam o uso da bicicleta como modo de transporte, com mais segurança. De acordo com a Secretaria de Transportes, a inclusão da bicicleta nos deslocamentos urbanos deve ser abordada como elemento para implantação do conceito de mobilidade urbana sustentável e como forma de redução do custo da mobilidade das pessoas (Ministério Das Cidades, 2007b). No Brasil, a bicicleta é o veículo individual mais utilizado nos pequenos centros urbanos (cidades com menos de 50 mil habitantes), que representam mais de 90% do total das cidades brasileiras. Ela divide com o modo pedestre a esmagadora maioria dos deslocamentos nessas cidades (Ministério das Cidades, 2007b). Nas cidades médias, o que muda em relação às pequenas cidades é a presença eventual de linhas de transporte coletivo, às vezes em condições precárias, pois a exploração dos serviços só se torna viável quando a demanda é concentrada e as distâncias são grandes. A situação somente muda nas grandes cidades, onde há oferta significativa de transporte coletivo, associada a um tráfego mais denso, representando maior tempo despendido nos deslocamentos diários. Por isso, as bicicletas se encontram presentes em grande número nas áreas periféricas das grandes cidades, onde as condições se assemelham às encontradas nas cidades médias, sobretudo em função da precariedade dos transportes coletivos e da necessidade de complementar seus percursos. A cidade de Pelotas é sabidamente adequada para uso de bicicletas, considerando seu tamanho, sua topografia plana, seu clima e suas tradições culturais; o movimento de ciclistas, com maioria realizando viagens ligadas ao trabalho, já atua
3 como complementar no transporte coletivo, com vantagens financeiras para quem usa e com amenizações ambientais para todos. Porém a situação pode ser fortemente melhorada, pois a valorização do uso das bicicletas tende a provocar aumento de uso, com resultados de forte impacto positivo na economia, no trânsito, na despoluição e no prazer de viver nas cidades. A campanha cada asfalto uma CICLOfaixa, tem como objetivo maior, alertar que as mudança viárias precisam considerar com prioridade a implantação de um sistema cicloviário consistente, que conduza a cidade para um futuro com mais qualidade para todos. O movimento indica essa possibilidade frente às recentes obras de revestimento asfáltico realizadas na cidade, que representam oportunidade para desenhar e executar esse sistema cicloviário, melhorando a economia, a segurança e o prazer de circular na cidade. A atividade é desenvolvida mediante uma parceria do Programa de Educação Tutorial (PET) e do Laboratório de Urbanismo (LabUrb) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUrb) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com o Movimento de Usuários de Bicicletas de Pelotas (MUBPel). Metodologia Encontros presenciais, estudos de material bibliográfico, elaboração de material de divulgação em mídia digital e impressa, além da constante atualização do blog são algumas das metodologias utilizadas para a realização deste movimento. Esta atividade é composta por um conjunto de ações que têm como objetivo principal divulgar os benefícios da bicicleta e reivindicar a criação e manutenção de espaços dedicados a circulação de bicicletas, através da implantação de um sistema cicloviário eficiente e seguro, sempre com foco na integração entre a comunidade acadêmica e não-acadêmica. Algumas dessas ações, que também compõem a metodologia do trabalho, serão descritas a seguir. Organização e realização de bicicletadas, sempre em parceria com o movimento popular, para chamar atenção da população e do poder público para a necessidade de um maior número de ciclofaixas na cidade. A figura 1 mostra a concentração para a bicicletada do trabalhador, que ocorreu no dia 1º de maio de 2009, ocasião em que foi realizado o lançamento público da campanha. Figura 1 Bicicletada do trabalhador. Realização de audiência pública na Câmara de Vereadores (Figura 2), integrando a universidade, o poder público e a comunidade para debater políticas de trânsito voltadas ao transporte através das bicicletas, contando com a presença do Ministério das Cidades e de diversas prefeituras da região.
4 Figura 2 Audiência Pública na Câmara de vereadores de Pelotas. Organização e execução de uma mobilização pública com intervenção de aproximadamente 1 km de ciclofaixa com a locação de cones e pintura no asfalto a fim de discutir com a população esta prática e atrair os meios de comunicação ampliando esta discussão (Figura 3). Figura 3 Ciclofaixa da Santa Cruz. The Ghost Bikers Project, com versão em português apelidada de Ciclistas Imaginários, concretizada por uma intervenção artística realizada em frente ao Altar da Pátria, na cidade de Pelotas, que simula usuários de uma ciclofaixa que não existe, representados por bicicletas sem ciclista, sugerindo um atravessamento de presenças e ausências. Figura 4 The Ghost Bikers Project Elaboração de material de divulgação em mídia digital e impressa, bem como a criação de um blog como um canal de comunicação e publicação das mídias da campanha informando detalhes sobre o movimento, divulgando contatos e apoiadores e informando experiências de outros locais.
5 Figura 5 Material de divulgação da campanha. Conclusões O projeto de extensão tem realizado ações e alcançado resultados crescentes e diferentes a cada edição, sendo que a atividade vem-se realizando permanentemente desde 2009, através da campanha cada asfalto uma CICLOfaixa. As principais conclusões das ações realizadas até agora serão descritas a seguir. Além da campanha propriamente dita, que trabalha com participação direta nos movimentos sociais urbanos, com produção de mídias digitais, com inserção nas redes sociais eletrônicas e com instalações concretas no espaço urbano, quatro intervenções podem ser destacadas, tais quais aparecem anteriormente: a) realização de passeios sistemáticos de bicicleta, com participantes da comunidade e da universidade; b) realização de audiência pública na Câmara de Vereadores de Pelotas, com a presença do Ministério das Cidades e de diversas prefeituras da região; c) intervenção na rua Santa Cruz, com 1 km de ciclofaixa simulada; d) intervenção Ciclistas Imaginários, numa das praças públicas mais frequentadas da cidade, em frente ao Altar da Pátria (The Ghost Bikers Project), as quais interagiram com o público por mais de três meses e surpreenderam a imprensa e a comunidade. A questão do uso da bicicleta no meio urbano é considerada como importante pela comunidade, exigindo melhorias urgentes nas políticas públicas e na estrutura física da cidade: como políticas públicas aparecem destacadamente indicações de valorização no uso da bicicleta no sistema de circulação urbana, realização de projeto de sistema cicloviário, dotação de infraestrutura, integração com outros meios de transporte, melhoria das condições de segurança e implementação de um programa de educação para o trânsito; como melhorias necessárias na estrutura física da cidade há consenso de que devem ser melhoradas e conectadas as vias existentes para bicicleta, implantadas novas ciclovias, ciclofaixas e vias cicláveis, estações de integração e apoio, paraciclos e sinalização horizontal e vertical dedicadas. A comunidade de usuários demanda melhorias no sistema de circulação através de diversos movimentos sociais, com possibilidade de participação pró-ativa na construção dessas políticas públicas e na realização dos projetos de planejamento e desenho urbano. A comunidade acadêmica, por sua vez, tem conhecimento e prática para participar de projetos de concepção e implementação de sistemas cicloviários para as cidades, como vem sendo feito há anos pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de UFPel para as cidades de sua área de abrangência, podendo ser feito para Pelotas. Por fim, é visível o aumento do número de ciclistas nas unidades da UFPel localizadas na cidade, o que é particularmente percebido na FAUrb, onde está sediada a atividade de extensão; além disso, estreitam-se as relações entre os
6 usuários de bicicleta e a equipe da universidade, o que indica possibilidades de avançar no projeto e alcançar novos objetivos. Referências BRAGA, M.G.C., MIRANDA, A.C.M. Análise dos Sistemas Cicloviários Brasileiros e propostas para seu desenvolvimento. Portugal: Pluris 2006 Congresso Luso Brasileiro para o planejamento urbano, regional, integrado e sustentável, COMISSÃO EUROPÉIA. Cidades para Bicicletas, Cidades de Futuro. Luxemburgo: Serviços das Publicações Oficiais das Comunidades Européias, GEIPOT. Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, Planejamento cicloviário: diagnóstico nacional. Brasília, MINISTÉRIO DAS CIDADES. PlanMob Caderno de Referência para Elaboração de Plano de Mobilidade Urbana Brasília: Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, 2007a. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades, Coleção Bicicleta Brasil, caderno, 2007b. VASCONCELLOS, E. A. Transporte Urbano, Espaço e Eqüidade. São Paulo: PAPESP, 1996.
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