Direito Civil. Direito das Coisas. Júlio César Franceschet Renan Agrião Wagner Inácio Freitas Dias
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- Mateus Dinis de Caminha
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2 Júlio César Franceschet Renan Agrião Wagner Inácio Freitas Dias 5 Direito Civil Direito das Coisas De acordo com o NCPC De acordo com a lei /
3 Capítulo 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS Leia a lei: Arts e da Lei /02 Código Civil. Na acepção jurídica do termo, entende-se por coisa tudo aquilo que pode ser objeto das relações jurídicas. Dentre o gênero coisa estão todas as espécies de bens (m veis e im veis, corp reos e incorp reos) que possam ser apoderados pelo homem, inteirando-lhe o patrimônio. O objeto do Direito das Coisas consiste justamente no estudo das relações existentes entre os homens e os bens, ora examinando os direitos existentes entre o sujeito e a coisa (ou entre o sujeito, a coisa e as demais pessoas), ora regulamentando o exercício desses direitos para que se adequem aos moldes determinados pela nova ordem constitucional, respeitando a uma função social. Na de inição de ORLANDO OMES (2004, p. 0 ), O Direito das Coisas regula o poder dos homens sobre os bens e os modos de sua utilização econômica. Este Direito das Coisas, tema do presente livro, se fragmenta nos estudos da posse, dos direitos de vizinhança e dos direitos reais. Destes últimos, nos ocuparemos agora para estabelecer algumas diferenciações necessárias.
4 20 vol. 5 DIREITO DAS COISAS Wagner Inácio, Júlio César Franceschet e Renan Agrião Cumpre esclarecer, contudo, que a existência de uma classe de direitos absolutos que compreenda relações apenas entre a pessoa e a coisa não está imune de controvérsias. Há imensurável divergência quanto a real existência de uma dicotomia que faz dos direitos reais classe distinta daquela em que estão inseridos os direitos pessoais. Enquanto uma vertente doutrinária consagra com que efetivamente existem alguns direitos ditos absolutos e que, por traçarem uma estrita relação entre a pessoa e a coisa, devem ser classi icados como direitos reais, há os que defendem que esses direitos nada mais são que uma espécie dos direitos pessoais cujo sujeito passivo é representado por um número indeterminável de pessoas. Consolidaram-se, então, duas teorias a esse respeito a Teoria Realista e a Teoria Personalista. A também denominada Clássica advoga que os direitos reais não se confundem com os direitos pessoais, existindo, portanto, duas classes de direitos completamente distintos, devendo ser compreendido como Direitos Reais aquele conjunto de direitos em que a relação jurídica é traçada direta e imediatamente entre o sujeito ativo e a pr pria coisa material. Logo, para esta teoria os direitos reais têm como sujeito passivo o pr prio bem, não havendo a participação de nenhuma pessoa intermediando a formação do vínculo. Por outro lado, sob a tica da os direitos reais são, na verdade, uma espécie de direito pessoal, vez que resulta de uma relação jurídica entre pessoas. Segundo esta teoria, seria inadmissível a concretização de uma relação jurídica entre a pessoa e a coisa, vez que não há relação de direito entre ser e coisa, mas tão somente entre pessoas. Logo, para esta corrente os direitos reais devem ser interpretados como uma relação jurídica entre pessoas, na qual o sujeito passivo é universal e indeterminado, fazendo emergir a ideia de que todas as demais pessoas devem reconhecer e respeitar a relação existente entre o titular e a coisa. A discussão está longe de tomar rumos concretos, vez que a doutrina diuturnamente diverge sobre o tema. Apenas para ilustrar a emblemática dissonância de posicionamentos, enquanto CAIO MÁRIO (2004, p. 4) envereda pela Teoria Personalista a irmando que todo direito se constitui entre humanos, pouco importando a indeterminação subjetiva, Silvio Rodrigues (2009, p. 06) prefere considerar o
5 Cap. 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS 21 Direito Real como uma relação entre a pessoa e a coisa, denotando clarividente predileção pela Teoria Clássica (Realista). Afora a acirrada discussão sobre o tema, é imperioso consignar o clássico conceito de LAFAYETTE (2004, p. 21), segundo o qual O direito real é o que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos respeitos (sob todos os respeitos, se é o domínio; sob certos respeitos, se é um direito real desmembrado do domínio, como a servidão) e a segue em poder de quem quer que a detenha. Por se tratar de direitos oponíveis erga omnes e visando garantir que todos tenham ciência de quais direitos existem e devem ser respeitados, chegou-se ao consenso de que o rol dos direitos reais é taxativo. Logo, devem ser considerados como tais apenas aqueles expressamente previstos em lei, não se admitindo que novos direitos reais sejam criados pela autonomia da vontade das partes. A esse respeito, obtempera SIL IO RODRI UES (2009, p. 09) que O direito real é uma espécie de direito que vem munido de algumas regalias importantes, tais a oponibilidade erga omnes e a sequela, de modo que a sua constituição não pode icar à mercê do arbítrio individual. O C digo Civil dispôs o rol dos direitos reais em seu art , estabelecendo como tais a propriedade, a super ície, o usufruto, a habitação, o direito do promitente comprador do im vel, o penhor, a hipoteca, a anticrese, a concessão de uso especial para ins de moradia e, por im, a concessão de direito real de uso. Observa-se que embora a en iteuse não mais encontre previsão no novo diploma civil, tal instituto foi encartado no ADCT (art. 49) e tem incidência restrita aos terrenos da marinha e seus acrescidos. Os principais atributos intrínsecos aos direitos reais é a sequela e a preferência. O direito de sequela encontra previsão no art do CC e compreende na prerrogativa do titular do direito real de seguir e reaver a coisa das mãos de quem a detenha ou possua. Por seu turno, o direito de preferência compreende a garantia conferida ao titular do direito real de se utilizar da coisa para satisfazer o seu crédito em caso de inadimplemento, preferindo aos demais credores desprovidos de garantia real. A par destas duas correntes, merece destaque a concepção do direito real como uma situação jurídica, ou seja, uma in lexão, um poder,
6 22 vol. 5 DIREITO DAS COISAS Wagner Inácio, Júlio César Franceschet e Renan Agrião direto da pessoa sobre a coisa. Segundo esta visão, não se pode falar em relação entre uma pessoa e uma coisa, mas sim em um poder exercido diretamente (logo, sem necessidade de um agir positivo da outra outras parte). Reconhecendo que o direito brasileiro per ilhou-se à Teoria Realista para acolher os direitos reais em categoria pr pria, distinguindo- -os dos direitos pessoais, é pertinente que se faça a seguinte distinção DIREITOS PESSOAIS aderência mediário); icidade lei); licidade erga omnes DIREITOS REAIS A relação existe sem qualquer interme- adotada a Teoria Realista) ou um núme- -
7 Cap. 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS 23 DIREITOS PESSOAIS erenidade es ecialidade DIREITOS REAIS - sas alheias (quanto ao objeto) quanto sobre coisas alheias. Sendo assim, quanto ao objeto em que recaem jus in re própria (direitos reais jus in re aliena (direitos reais sobre coisas alheias). dade. O direito de propriedade é um direito real por excelência, o mais completo e abrangente dos direitos reais, vez que confere ao titular todos os demais direitos, garantindo-lhe o domínio pleno da coisa. Logo, a propriedade é o único direito real exercido sobre a coisa própria. reais na coisa alheia seriam o resultado da decomposição dos diversos poderes jurídicos contidos no direito de propriedade. O proprietário desmembraria um desses poderes e o atribuiria a outra pessoa. destaca o seu direito de uso e o seu direito de gozo e os atribui a terceira pessoa, estaria conferindo-lhe o direito de usufruto. Portanto, os direitos reais sobre coisas alheias são os direitos que derivam do direito de propriedade.
8 24 vol. 5 DIREITO DAS COISAS Wagner Inácio, Júlio César Franceschet e Renan Agrião Os direitos reais podem servir para garantir o cumprimento de determinada obrigação ou possibilitar que seu titular goze do bem sobre o qual detém o direito. Portanto, diz-se que os direitos reais classi icam-se entre direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese) e direitos reais de gozo (todos os demais, tais como propriedade, super ície, servidões, usufruto, uso, habitação, etc). Se analisados sob o objeto que podem recair, os direitos reais podem também ser classi icados como mobiliários ou imobiliários. São direitos reais mobiliários aqueles que recaem sobre bens m veis, como a propriedade, o usufruto e o penhor. Os demais direitos reais são todos imobiliários (têm como objeto bens im veis) e, portanto, estão sujeitos a registro público. Observadas as diferenças entre os direitos reais (aquele que adere à coisa direita e imediatamente e a persegue com quem quer que ela esteja) e os direitos pessoais (traz ao devedor a obrigação de cumprir determinada prestação, objeto da relação), há algumas iguras que não são propriamente obrigações pessoais e nem tampouco guardam os atributos para que sejam consideradas um direito real. Assumem essa natureza híbrida as obrigações propter rem e as e os ônus reais. As obrigações in rem scriptae, ob ou propter rem são aquelas que decorrem da coisa e recaem sobre o seu titular, ou seja, são im- de um direito real. Logo, se a pessoa mantém com a coisa um vínculo direito e imediato, essa relação já é su iciente para lhe sujeitar a determinadas obrigações decorrentes da lei. Na de inição de ORLANDO OMES (2004, p. 24) Tais obrigações existem quando o titular de um direito real é obrigado, devido a essa condição, a satisfazer determinada prestação. Apenas para ilustrar, o art do CC impõe ao condômino a obrigação de concorrer para as despesas de conservação da coisa em
9 Cap. 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS 25 comum. Esta obrigação lhe é imposta pela lei unicamente pelo fato de ser proprietário da coisa. Nesse diapasão, o viés pessoal das obrigações propter rem se dá pelo fato de recaírem diretamente sobre a pessoa titular de um direito real. Por outro lado, também guardam um cunho eminentemente real na medida em que seguem a coisa para obrigar quem quer que esteja em sua posse ou domínio. Logo, a natureza jurídica das obrigações propter rem situando-se em uma zona intermediária não tão real e nem tampouco pessoal. Também as apresentam natureza jurídica híbrida. Trata-se de obrigações contratadas pelas partes que, pela sua importância, podem ser oponíveis a terceiros. Transcendem o efeito inter partes que é pr prio das relações obrigacionais para aproximar-se dos direitos reais, que são oponíveis erga omnes. Exemplo típico de obrigação com e icácia real é a estampada nos
10 26 vol. 5 DIREITO DAS COISAS Wagner Inácio, Júlio César Franceschet e Renan Agrião ônus reais também causam certa perplexidade quanto a natureza jurídica. Representam gênero do qual as obrigações propter rem é espécie e se caracterizam por incutir sobre a própria coisa um gravame que limita o pleno exercício do direito de propriedade. Por ser oponível contra todos, mantém faceta de direito real. Difere-se das obrigações propter rem na medida em que enquanto estas obrigam o titular do direito real, os ônus reais impõe gravame sobre a própria coisa. Exemplos temos nas cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade. Não se podem confundir ou generalizar o fato de que parte dos ônus reais são tam- ram como tais. Além disso, como os ônus reais representa um gravame sobre a não acontece com as obrigações propter rem, que em face do perecimento da coisa continuam a obrigar o seu titular de forma ilimitada. INTRODUÇÃO AOS DIREITOS DAS COISAS Conceito O eto de est do Teoria Realista Teoria Personalista relações existentes entre os homens e os ens - -
11 Cap. 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS 27 Princi ais caracter s cas dos direitos reais INTRODUÇÃO AOS DIREITOS DAS COISAS Aderência coisa; Ti icidade P licidade: - Per et idade: Excl si idade Es ecialidade: - Direito real so re coisa r ria Direito real so re coisa alheia Direito real de gozo Direito real de garan a O rigações mistas intermediárias - - propter rem terceiros) e os ônus reais
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