VISITANDO O PASSADO COM VISTAS AO FUTURO DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL (2012) 1

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1 VISITANDO O PASSADO COM VISTAS AO FUTURO DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL (2012) 1 XAVIER, Mariane da Silva²; SILVA, Cristiane Trivisiol da³; TERRA, Marlene Gomes 4 ; FREITAS, Fernanda Franceschi de 5 ; SILVA, Adão Ademir da 6 ; SOCCOL, Keity Laís Siepmann 7 ; VASCONCELOS, Raíssa Ottes 8 ; ELY, Gabriela Zenatti 9 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de uma acadêmica do curso de Enfermagem e profissionais em formação da Universidade Federal do interior do Estado do Rio Grande do Sul após uma visita a um grande Hospital Psiquiátrico da capital do Estado. Este é um relato de experiência em que se buscou através de uma visita a um grande hospital psiquiátrico ainda em funcionamento, uma importante oportunidade para conhecer a 1 Relato de experiência. Universidade federal de Santa Maria. 2 Apresentadora. Acadêmica de Enfermagem. Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista FIPE. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. marianesxavier@yahoo.com.br. 3 Enfermeira. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria - PPGEnf UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. 4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do PPGenf UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. 5 Enfermeira. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria - PPGEnf UFSM. Enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. 6 Enfermeiro. Mestre em Enfermagem. Enfermeiro do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. 7 Enfermeira. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria - PPGEnf UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. 8 Acadêmica de Enfermagem. Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista FIEX. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. 9 Enfermeira. Residende Multiprofissonal R 2 do Hospital Universitário De Santa Maria (HUSM). 1

2 história da psiquiatria, bem como visualizar como a reforma psiquiátrica é vivenciada nos grandes hospitais psiquiátricos. Como resultado pode-se o observar que a redução do número de internados e asilares, a internação mais criteriosa e a inserção de estudantes no campo já é um reflexo da Reforma psiquiátrica e luta antimanicomial. Portanto essa experiência foi de grande valia na medida em que foi possível reviver momentos históricos da psiquiatria e ver que anos após a lei da Reforma Psiquiátrica ser promulgada alguns lugares ainda vivenciam o modelo manicomial. Palavras Chave: Saúde mental; Enfermagem; Cuidados de enfermagem; Desinstitucionalização. ABSTRACT The present work objectives to report the experience of one academic nursing and training professionals in the Federal University of the State of Rio Grande do Sul after a visit to a large psychiatric Hospital in the State capital. This is an account of experience on which sought through a visit to a large psychiatric hospital still in operation, an important opportunity to learn about the history of Psychiatry, as well as show how the psychiatric reform is experienced in large psychiatric hospitals. As a result it is the note that reducing the number of admitted and resident, the more discerning and inserting hospitalization of students in the field already is a reflection of the psychiatric reform and fight antimanicomial. So that experience was of great value to the extent that it was possible to revive historic moments of Psychiatry and see that years after the Psychiatric reform law be enacted some places still experience the manicomial model. Keywords: Mental health; Nursing; Nursing care; Deinstitutionalization. 1. INTRODUÇÃO A saúde mental brasileira nas duas últimas décadas, mais precisamente de 1979 a 1999, passou por transformações através de avanços que constituíram e constituem o processo contemporâneo desta prática. Em 1979, o Brasil recebe a visita do psiquiatra italiano Franco Basaglia, cujo discurso sobre a desinstitucionalização do aparato psiquiátrico repercute no meio social e político que passa por contestações e desejos de mudança em 2

3 uma sociedade que vivencia um processo de abertura, após anos de regime militar ditatorial. Surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, que era fortalecido pela sociedade civil organizada e pelas primeiras experiências de desinstitucionalização, em 1989 surge então o movimento de Reforma Psiquiátrica, a criação do Projeto de Lei 3657 de autoria do deputado Federal Paulo Delgado que dispõe sobre a superação do manicômio e a construção de assistência substitutiva e Luta Antimanicomial. Em janeiro de 1999, o referido projeto foi aprovado no Senado, em abril de 2001 passou pela Câmara dos Deputados e foi sancionado pelo Presidente da República, tornando-se a Lei Nº , de 6 de abril de 2001, denominada Lei da Reforma Psiquiátrica¹. A Reforma Psiquiátrica é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide sobre três esferas do governo (municipal, estadual e federal). Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios². Mesmo com a referida Lei vigorando desde 2001, muitas instituições de saúde ainda mantém a lógica manicomial, tornando o sujeito um agente passivo e dependente de um cuidado muitas vezes imposto por profissionais, que detêm um saber e uma sociedade que designa lugares para vivenciar a loucura. 2. OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de uma acadêmica do curso de Enfermagem e profissionais em formação da Universidade Federal do interior do Estado do Rio Grande do Sul após uma visita a um grande Hospital Psiquiátrico da capital do Estado. 3. METODOLOGIA Este é um relato de experiência em que se buscou através de uma visita a um grande hospital psiquiátrico ainda em funcionamento, uma importante oportunidade para conhecer a história da psiquiatria, bem como visualizar como a reforma psiquiátrica é vivenciada nos grandes hospitais psiquiátricos. O referido hospital na década de 70 chegou a ter

4 pacientes internados em 2011 contava com 270 moradores denominados asilares, que estão há anos internados, sendo que a grande parte deles não têm contato com seus familiares. Este hospital atende adultos e crianças com transtornos mentais e dependentes químicos, sendo a maior causa de internação o abuso de crack. Até o momento da visita em dezembro do ano de 2011 tinha-se o total de 250 usuários agudos internados. Uma das consequências da reforma psiquiátrica foi o aumento das consultas ambulatoriais, com 600 consultas por mês, sendo referência para 88 municípios. Ainda como reflexo da reforma psiquiátrica o hospital funciona como campo de estagio para estudantes da graduação dos cursos da saúde além de residentes médicos e multiprofissionais. A enfermeira que recepcionou e orientou o grupo durante a visita, relatou que o vínculo entre o hospital e a família dos usuários representa uma das dificuldades com que a equipe se depara no dia a dia de trabalho. São realizados grupos com os familiares, para aproximação, escuta e orientação, no entanto há uma baixa adesão por parte dos mesmos. Além da estrutura mencionada acima na área do hospital encontra-se uma vila onde os usuários considerados melhores de saúde e independentes residem. Este movimento esta embasado nos serviços de residenciais terapêuticos do ministério da saúde, que é uma das estratégias para reinserção social para pessoas que por muitos anos estavam em tratamento de cunho asilar. Em certo momento da visita a enfermeira relatou a possibilidade fechamento do hospital, e deixou clara sua preocupação com o destino dos usuários internados e moradores. Os usuários asilares despertam maior apreensão, pois a maioria não possui família ou responsáveis. Com relação à estrutura física o hospital se encontra extremamente precário, os quartos, enfermarias e leitos utilizados pelos usuários também se encontram em situação problemática, por vezes os expondo à riscos físicos e ambientais, remontando a historia de abandono e todo o sofrimento da doença mental. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao realizarmos a visita pode-se observar que a problemática do fechamento do hospital é de alta relevância, uma vez que a maioria dos internados não teriam para onde ir. E se a questão for retirá-los de um local onde estiveram a vida inteira para insticionalizá-los em outro local é de se rever mais profundamente essa questão. Ao permanecermos na local da visita os sentimentos passados eram por vezes de tristeza e abandono. Visto que em nossas vidas muitas coisas já foram realizadas enquanto, que esses usuários passaram 4

5 anos cercados por muros, sem muitas vezes ter contato com o que estava ocorrendo ao seu redor. Durante a visita ao observar um dos usuários sentado à sombra de uma árvore, com um olhar sem foco, refletimos o quanto de vivências, algumas felizes, outras tristes e o quanto teria para passarmos de conhecimento caso fosse realizado uma conversa com o mesmo. Em sua face observou-se um expressão de que seus pensamentos estavam longe do hospital. Nesse contexto vale ressaltar que hoje a realidade do hospital é de 250 pacientes internados e 270 asilares bem menos que os 6000 do passado, isso mostra que a internação atualmente é mais criteriosa que há anos atrás, podendo ser considerado um resultado da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial que teve início nos anos 80. Pôde-se constatar que apesar da Lei da Reforma Psiquiátrica estar em vigor desde 2001, são muitas as dificuldades para sua efetiva implementação. Para que isso aconteça é necessário que o fazer transcenda o discurso dos profissionais da saúde mental, pois é sabido que a lei foi criada vislumbrando o cuidado ampliado, humano e respeitoso, sendo os usuários sujeito ativos e co-responsáveis no seu tratamento. Portanto faz-se necessário que os profissionais ampliem seus conhecimentos sobre as transições na saúde mental, para que mudanças aconteçam no ato de cuidar. 5. CONCLUSÃO A psiquiatria colocou o sujeito entre parênteses para ocupar-se da doença; a doença é que deveria ser colocada entre parênteses para que pudéssemos ocupar-nos do sujeito em sua experiência. Colocar a doença entre parênteses não significa a sua negação; a negação de que exista algo que possa produzir dor, sofrimento, diferença ou mal-estar. Significa a recusa à explicação psiquiátrica; à capacidade de a psiquiatria dar conta do fenômeno com a simples nomeação abstrata de doença. A doença entre parênteses é, ao mesmo tempo, a denúncia social e política da exclusão, e a ruptura epistemológica com o saber naturalístico da psiquiatria 3. Neste sentido, acreditamos existirem questões e noções de base que necessitem de maior debate, a fim de oferecerem um aprofundamento e uma clareza acerca da problemática dos novos serviços, num contexto de construção do campo da saúde mental e suas práticas 4. Portanto essa experiência foi de grande valia na medida em que foi possível reviver momentos históricos da psiquiatria e ver que anos após a lei da Reforma Psiquiátrica ser promulgada alguns lugares ainda vivenciam o modelo manicomial. 5

6 REFERÊNCIAS 1 GUIMARÃES, Jacileid; MEDEIROS, Soraya Maria de; SAEKI, Toyoko; ALMEIDA, Maria Cecília Puntel. Desinstitucionalização em Saúde Mental: considerações sobre o paradigma emergente. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 25, n. 58, p. 5-11, maio/ago Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de AMARANTE, Paulo. Reforma Psiquiátrica e Epistemologia. Cad. Bras. Saúde Mental, Vol 1, no1, jan-abr AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho; TORRES, Eduardo Henrique. A constituição de novas práticas no campo da Atenção Psicossocial: análise de dois projetos pioneiros na Reforma Psiquiátrica no Brasil. Cad. Bras. Saúde Mental, Vol 1, no1, jan-abr