Um hotel para a. [ 40 ] maio/junho 2003 diga lá. nº 31

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1 Um hotel para a [ 40 ] maio/junho 2003 diga lá nº 31 m

2 moda Imagine um ambiente totalmente de lycra. Sim, um restaurante com sofás de couro com lycra, um mobiliário flexível como a lycra, tudo ao lado de uma loja só de roupas com lycra casacos de couro, vestidos, roupas masculinas e as mais ousadas lingeries. MARCIA CEZIMBRA Mais adiante, um centro de informações sobre tudo o que se faz em moda com lycra e um centro de pesquisas têxteis sobre lycra, é claro. Para espairecer, uma visita a uma galeria de arte contemporânea com exposição de moda, fotos e figurinos com lycra. Puxa, onde você está? Num filme temático? Não, apenas no Hotel Lycra, inaugurado no dia 13 de abril, na rua Oscar Freire, 1055, em São Paulo. diga lá nº 31 maio/junho 2003 [ 41 ]

3 Trata-se de uma verdadeira ousadia da DuPont Têxtil e Interiores, a indústria americana que detém a marca Lycra, matéria-prima que integra há 40 anos as novidades da moda internacional. A empresa é americana, mas a ousadia é brasileira. O projeto de um hotel que hospedasse, em vez de pessoas, tendências de moda e cultura ligadas à marca Lycra foi da paulista Paula Limena Stanzione gerente de Marketing da DuPont Têxtil e agora gerente do Hotel Lycra, que teve uma idéia genial, encampada com confiança pela empresa. Sinto-me privilegiada por ter tido essa idéia e desenvolvido esse conceito, e por ele ter sido aprovado e implantado por uma empresa como a DuPont. É louvável que uma empresa desse porte se abra para investir em projetos originais de seus funcionários. Para mim, foi muito gratificante criar um projeto diferente e vê-lo ser aceito e bem recebido pela empresa onde trabalho. É um grande estímulo, conta Paula. Um hotel que hospeda A idéia do projeto é reunir, num espaço multimídia, um centro de tendências da moda ligadas à marca Lycra, aliado à arte contemporânea e à cultura gastronômica. O local é aberto ao público, exceto o centro de informações e pesquisas têxteis, que é reservado aos pro- fissionais de moda, no formato business to business, segundo Paula. O clima geral é lycra. Há uma integração entre os benefícios oferecidos aos profissionais e ao público e o ambiente da marca, desenvolvido por arquitetos que utilizaram somente linhas curvas, numa referência à flexibilidade da lycra. O media designer é Marcello Dantas, o lighter designer, Beto Kaiser, e o projeto arquitetônico é de Patrícia Anastassiadis. Além dos sofás de couro com lycra, lançados há três anos pela Makouros, e dos pufes de ketten com lycra assinados pela designer Betina Lafer, todo o mobiliário restante é Lycra. No Hotel Lycra não existem ângulos retos. Até a arara da loja tem um desenho não convencional, em linhas curvas, que se locomove pelo espaço interno flexibilizando o acesso dos clientes, explica. Só para se ter uma idéia, a loja tem uma linha de moda em couro com lycra. O primeiro estilista do mundo a apre- tendências [ 42 ] maio/junho 2003 diga lá nº 31

4 sentar roupas de couro com lycra em desfiles de moda internacionais foi o brasileiro Carlos Miéle, em Genebra. Mas agora o estilista Jum Nakao é o parceiro-curador dos modelitos exclusivos que ninguém imagina que levam lycra. O compromisso da loja é mostrar diferenciação e ineditismo em relação à lycra. Há peças que têm apenas 1% a 2% de lycra, sendo lançadas ou criadas pela própria loja. Há outras peças que serão lançadas em outras lojas, além de uma linha exclusiva da loja do Hotel Lycra. O cliente vai encontrar produtos surpreendentes aqui, avisa Paula. Basta ver os estilistas que assinam as peças para se ter uma idéia da sofisticação dos produtos: Carlos Miéle, Cavalera, Ricardo Almeida e os criadores das marcas Cori, Du Loren, It s Underwear, LeLis Blanc, Mareu Nitschke, Maria x Madalena, Triumph e Valisére. Lá não há promoções ou liquidações. A loja do hotel não é uma concorrente das outras lojas que trabalham com lycra. Sua proposta é ser um espaço de vanguarda que não só vende o produto, mas apresenta as suas referências na moda. Como o hotel é aberto ao público, o restaurante não pretende ser um gueto do pessoal da moda. Oferece uma cozinha internacional com bufê semelhante ao de alguns restaurantes badalados de São Paulo como o Spot e o Ritz, resultado da parceria entre Sergio Abdala Kalil, Maria Helena Guimarães, Lygia Lopes e José Guilherme Meirelles. O público do restaurante é bem eclético. Há grupos de senhoras que vêm comemorar um aniversário, execudiga lá nº 31 maio/junho 2003 [ 43 ]

5 tivos em almoços de negócios, casais e, evidentemente, estilistas e gente da moda que podem usar o restaurante, por exemplo, para um encontro com a imprensa, explica Paula. Mas um hotel que não hospeda ninguém pode se intitular como tal? O nome Hotel Lycra também é uma provocação, segundo Paula, uma brincadeira para subverter a palavra hotel. A primeira intenção, segundo ela, foi buscar uma referência de hospedagem de tendências, localizada bem próximo de onde está o comércio, a infra-estrutura da moda ou seja, a rua Oscar Freire, nos Jardins. A tecnologia é de ponta, bem ao gosto da vanguarda paulistana. O espaço tem equipamento de vídeo, luz e som de última geração integrando todos os ambientes, com imagens imensas do movimento do hotel e da rua Oscar Freire. No restaurante, os monitores gigantes exibem vídeos, entrevistas e documentários sobre moda. Quando desligados, viram espelhos. Um luxo! Isso tudo ao som de uma programação bem eclética, que vai do jazz e da música clássica à música eletrônica. A luz de Beto Kaiser também é um caso à parte, permitindo explorações múltiplas dos ambientes. É inédita no mundo essa interação dos visitantes com uma marca. A idéia surgiu de um projeto envolvendo a marca Lycra que fosse capaz de sedimentar a herança cultural desse produto que está no mercado desde 1959, e que tem um grau de relevância considerável nos hábitos das metrópoles do mundo inteiro, diz. Inaugurado há pouco tempo, o Hotel Lycra ficará ainda por alguns meses sob a gestão de sua criadora, que, depois de dotá-lo de autonomia própria, deverá voltar à DuPont para tentar, quem sabe, outra idéia brilhante. Essa já deu tão certo que, segundo Paula, a DuPont planeja inaugurar brevemente uma filial do Hotel Lycra nos Estados Unidos. Em Nova York, claro! A galeria do Hotel Lycra se define como de cultura contemporânea, com mostras ligadas à estética Lycra que tenham contribuído de alguma forma para a criação de moda. A exposição atual, por exemplo, é do Leonílson. Em breve, poderemos ter um workshop com o figurinista de um filme que interesse ao mundo da moda, ou uma mostra de fotos criadas dentro do Hotel Lycra, anuncia a gerente. A moda dos hotéis de design Essa experiência única do visitante com a marca Lycra caracteriza o Hotel Lycra como uma das novas vertentes dos hotéis de design, nos quais o hóspede se transforma num personagem de um ambiente caracterizado por uma decoração que pode ser temática ou seguir o estilo específico de uma época, clássica ou radicalmente tech. O primeiro hotel de design apareceu em Nova York, em 1993, quando Ian Scharager, [ 44 ] maio/junho 2003 diga lá nº 31

6 antigo dono da boate Studio 54, comprou uma espelunca na Broadway e a entregou ao arquiteto e designer Philippe Starck. Surgiu assim o Paramount, tão inovador que deu origem à rede alemã Design Hotels Inc., que atualmente tem 170 estabelecimentos espalhados em 33 países, inclusive o Brasil, com o Normandie Design Hotel em São Paulo, o único do país filiado à rede. Um hotel de design deve refletir a arquitetura típica da cidade onde está localizado e o mobiliário deve ser assinado por designers famosos, num estilo que demonstre perfeita sintonia com o do hotel. Esses hotéis costumam ser os preferidos de executivos jovens ou profissionais ligados à moda, arquitetura e decoração pessoas que perdem a identidade se não estiverem num ambiente totalmente fashion, cercado, naturalmente, da mais alta tecnologia. É inadmissível, por exemplo, que um hotel de design não tenha vários pontos no quarto para conexão de laptops com a internet, além de um badalado cybercafé no lobby. Essa parafernália não interfere nas diárias que variam de US$ 100 a US$ 1 mil, dependendo do valor do design, claro. O paulista Normandie Design Hotel, por exemplo, é totalmente contemporâneo, com todos os apartamentos em preto-e-branco mobiliados com peças de arquitetos consagrados como Le Corbusier, Mackintosh, Philippe Starck, Van der Rohe e Charles Eames. Os 174 apartamentos têm TV a cabo, telefone e fax, além de conexões para computadores; e o hóspede ainda dispõe de um lobby com cybercafé e home theather. A diária por tudo isso é US$ 70. Vale a sofisticação. Outro que tenta ingressar nesse seleto time da Design Hotels Inc. é o Perganon, antigo Firenze, em São Paulo, restaurado pelos arquitetos Janete Costa e Mario Santas. O hotel mantém uma atmosfera pop em todos os seus ambientes, com homenagens a artistas brasileiros na exposição permanente de peças de Alexandre Nóbrega e Eduardo Frota. E hospeda gente famosa como o estilista brasileiro radicado em Paris Ocimar Versolato e o fotógrafo Sebastião Salgado. Essa tendência consolida o conforto como um valor imprescindível no Terceiro Milênio. O bem-estar depende do bom gosto visual e das facilidades técnicas. O novo estilo está se alastrando também por hospitais e casas de saúde, cada vez mais empenhados em oferecer um ambiente sofisticado, confortável, digamos, fashion aos seus pacientes. Talvez o design ajude na recuperação dos doentes. Por que não? diga lá nº 31 maio/junho 2003 [ 45 ]