Caracterização dos Distúrbios da Comunicação em Jovens Infratores Institucionalizados.
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- Benedicto Mangueira de Sequeira
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1 Caracterização dos Distúrbios da Comunicação em Jovens Infratores Institucionalizados. Destro, Carla Maria Ariano; Gurgueira, Adriana Limongeli Descritores: Transtornos da comunicação, Delinqüência juvenil, Adolescente institucionalizado. Introdução Pesquisas que investigam a relação entre competências lingüísticas e comportamento social têm muito a oferecer para a compreensão do perfil dos jovens de alto risco. Vários autores têm se dedicado a investigações científicas para identificar déficits de linguagem em jovens infratores 1;2;3;4. Uma pesquisa verificou que algumas crianças podem apresentar problemas sutis de linguagem que só serão detectados quando ela estiver exposta a uma demanda verbal maior durante a escolaridade 5. Alguns estudos com crianças com distúrbio de leitura e escrita têm observado que, além de dificuldades de domínio fonológico, elas apresentam outros distúrbios de linguagem, como déficits da representação lexical e integração sintático-semântica 6;7;8;9;10.. Estudos tem relacionado a dificuldade persistente no desenvolvimento da linguagem a um aumento nas chances de desenvolvimento de problemas mentais e envolvimento em atividades criminais, especialmente, para certas camadas da população. Um terço das crianças pesquisadas com desordens no desenvolvimento da linguagem desenvolveu problemas de saúde mental que, em alguns casos, resultaram em envolvimentos em crimes 11;12. O comportamento delinqüente, então, pode estar associado a alguma dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem, o que levaria, em alguns casos, a limitações cognitivas e lingüísticas. Nesses casos, as tentativas frustradas de aprendizagem podem levar à indisciplina 13. No Estado de São Paulo, os adolescentes infratores estão sob a tutela da Fundação Casa a qual tem por pressuposto a proibição de qualquer tipo de violência física contra esses adolescentes, por acreditar que tratá-los de forma mais humana poderia apontar um caminho para a redução da violência 14. A inserção de jovens na criminalidade, muitas vezes, sugere uma defasagem escolar. Muitos são multirrepetentes e apresentam histórico de não adaptação ao cotidiano escolar. As escolas não estão preparadas para atender aos adolescentes com comportamentos desviados e não têm recursos para estudar esses alunos 15. Ao estudar as dificuldades de linguagem e comunicação em jovens infratores, onde 66% a 90% da amostra obtiveram desempenho abaixo do esperado nos testes, os autores
2 concluíram que se deve disponibilizar o instrumento da terapia fonoaudiológica para aqueles jovens infratores que tenham dificuldades de linguagem e comunicação, bem como para aqueles que não estejam freqüentando o sistema educacional 16. Como mencionado, dificuldades relacionadas tanto à linguagem oral, quanto à linguagem escrita, somadas a outros fatores, podem contribuir para o aumento da criminalidade. A legislação vigente prevê, para os jovens infratores, a cobertura profissional especializada em âmbito sócio-educativo, porém, ainda não há nenhum tipo de atividade do fonoaudiólogo dentro do conjunto de medidas tomadas. Desta forma, o presente trabalho se propõe a verificar a ocorrência de distúrbios de linguagem oral e/ou escrita em jovens infratores institucionalizados para que, com base nesses dados, o fonoaudiólogo possa atuar com essa população. Objetivo Caracterizar a população de adolescentes infratores de uma unidade da Fundação Casa de São Paulo quanto à saúde geral e nível de escolaridade e verificar a ocorrência dos distúrbios de comunicação oral e/ou escrita. Método Esta pesquisa consiste de um estudo transversal, quantitativo e qualitativo e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (n 087/08). Foram sujeitos da pesquisa 17 internos da Fundação Casa, unidade UI 29 Tapajós, do complexo da cidade de Franco da Rocha entre 18 e 19 anos e 11 meses. Foram considerados fatores de exclusão o indivíduo possuir menos de 18 anos e mais de 19 anos e 11 meses e não ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram utilizados os seguintes materiais: Termo de Consentimento à Instituição, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os participantes da pesquisa, Questionário de Saúde Geral e Trajetória Escolar, Mini-Exame do estado mental, Teste Montreal Toulouse Exame de Afasia, Módulo Standard Inicial, Versão Alpha, Gravador K7 marca Panasonic, modelo RQ-L309 e Fita K7 para gravação. Procedimentos Para a coleta de dados, foi aplicado inicialmente um questionário sobre a Saúde Geral e Trajetória Escolar de cada sujeito. Em seguida, os sujeitos foram submetidos ao Mini-Exame do estado mental MMSE, para detecção de indivíduos que pudessem apresentar algum déficit cognitivo e, por fim ao Teste Montreal, para verificação das habilidades de linguagem oral e escrita. Os procedimentos foram realizados pela pesquisadora numa única sessão com aproximadamente 50 minutos de duração. Todos os indivíduos foram gravados e os dados foram submetidos à Análise de
3 Freqüência e ao Teste T para amostras independentes com nível de significância de Resultados Em relação às respostas do MMSE sobre alfabetização, 13 sujeitos (76,4%), foram identificados como alfabetizados e cinco sujeitos (23,6%) analfabetos. Do total de sujeitos analisados quatro (23,6%) foram identificados pelo teste com déficit cognitivo, e mesmo os quatro sendo alfabetizados, referiram dificuldades escolares. No tocante à trajetória escolar, todos os sujeitos relataram já ter freqüentado a escola, mas dez sujeitos (58,8%) referiram abandono escolar. Dos sujeitos analisados 15 (88,2%) referiram apresentar dificuldades, sendo que 64,7% das dificuldades relatadas eram de leitura e escrita. Todos os sujeitos relataram o uso de drogas, seis sujeitos (35,3%) utilizavam um tipo de droga, e 11 sujeitos (64,7%) utilizavam três ou mais tipos. Na análise das respostas do Teste Montreal Toulouse verificou-se que os indivíduos testados apresentaram melhor desempenho nas provas de compreensão oral quando comparados ao desempenho nas provas de compreensão escrita. Quanto à análise de cópia, verificou-se 93% de acerto, enquanto na análise de ditado, verificou-se 57% de acertos. Os sujeitos considerados analfabetos tiveram 100% de acerto na cópia e 0% de acerto no ditado. Foi realizada ainda a análise do desempenho no Teste Montreal entre os sujeitos com e sem histórico de abandono escolar por meio do Teste T e, para todas as provas aplicadas, não foram encontradas diferenças significantes. Discussão A partir da análise crítica dos resultados, foram estabelecidas comparações com os dados fornecidos em outras pesquisas disponíveis na literatura especializada. No presente estudo alguns sujeitos foram identificados pelo teste MMSE com déficit cognitivo. Na literatura pesquisada encontraram-se dados que associavam o comportamento do delinqüente a alguma dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem, o que levaria às limitações cognitivas e lingüísticas 13. Observou-se entre os sujeitos pesquisados o histórico de abandono escolar, dado também relatado em outro estudo, cuja freqüência de abandono foi de 90% 16. Quanto às dificuldades escolares, os maiores relatos eram de leitura e escrita, relacionando-se com a pesquisa de outro autor que observou a ocorrência de baixo desempenho acadêmico, de aprendizagem e/ou déficits de atenção a jovens infratores 17. Os autores também associaram essa dificuldade ao abandono escolar precoce, desenvolvimento educacional inadequado, desemprego crônico, dependência
4 da previdência social e a continuidade na atividade criminosa 14;12;13;11. Todos os sujeitos relataram o uso de drogas, e isto pode ter influenciado tanto no desempenho acadêmico destes jovens como na sua história de abandono escolar. Para alguns autores, o baixo desempenho acadêmico é fator de risco para o uso de drogas e álcool 18. Já outros pesquisadores alertam que o uso de drogas na idade escolar pode ser um fator de risco para alterações comportamentais e escolares. A análise das respostas do Teste Montreal evidencia que os sujeitos avaliados, além de apresentarem dificuldades em tarefas mais complexas, apresentaram uma compreensão oral melhor do que a compreensão escrita. Uma pesquisa demonstra que há um grupo de crianças que apresentam problemas sutis de linguagem que permanecem não detectados até que eles se deparem com uma demanda verbal maior durante a escolaridade e com estruturas sintáticas mais complexas 5. Outra pesquisa afirma que as dificuldades de ler quase sempre isolam alunos, os quais procuram superar suas limitações lingüísticas com comportamentos agressivos, rebeldes e violentos. Nesses casos, as tentativas frustradas de aprendizagem levam à indisciplina 13. Observou-se uma diferença de acertos entre as provas de cópia e ditado, o que parece demonstrar a dificuldade desses jovens em relação à aprendizagem da escrita. Alguns autores descrevem que, na alfabetização, para comprovar um distúrbio, as habilidades de leitura e escrita devem estar comprometidas entretanto, o esforço envolvido na aprendizagem dependerá, tanto da complexidade do sistema de escrita, quanto da efetividade do ensino 19. Algumas pesquisas com crianças com distúrbio de leitura e escrita têm demonstrado que, além de dificuldades de domínio fonológico, elas apresentam outros distúrbios de linguagem que incluem déficits da representação lexical e integração sintático-semântica 6;7;8;9 Os achados apontaram que jovens infratores possuem grandes dificuldades no processamento de informações e na tradução de suas experiências, pensamentos e idéias em discurso oral. Conclusão Este estudo permitiu concluir que os jovens infratores estudados eram em sua maioria usuários de drogas e apresentavam histórico de dificuldades e abandono escolar. Em relação ao desempenho nas provas do Teste Montreal Toulouse foi observada que para a grande maioria dos jovens pesquisados a melhor performance foi em tarefas de linguagem oral. Este foi apenas um estudo inicial que deve ser aprofundado com maior número de sujeitos e com outros testes de linguagem, para comprovação da relação entre dificuldades de linguagem oral e/ou escrita e delinqüência juvenil.
5 Referências Bibliográficas 1 Davis AD, Sanger DD, Morris-Friehe M. Language skills of delinquent and nondelinquent adolescent males. J Commun Disord 1991;24: Sanger DD, Creswell JW, Dworak J, Schultz L. Cultural analysis of communication behaviors among juveniles in a correctional facility. J Commun Disord 2000;33: Humber E, Snow PC. The language processing and production skills of juvenile offenders: a pilot investigation. Psychiatry, Psychology and Law 2001;8: Bryan K. Preliminary study of the prevalence of speech and language difficulties in young offenders. Int J Lang Commun Disord 2004;39: Donahaue M. Linguistic and communicative development in learning disabled children. In: Ceci S. (ed.). Handbook of cognitive, social and neuropsychological aspects of learning disabilities. NJ: Lawrence Erlbaum Associates; Kahmin AG, Catts HW. Reading disabilities a developmental language perspective. Boston: Allyn e Bacon; Bishop D, Adams C. A prospective study of the relationship between specific language impairment, phonological disorders, and reading retardation. J Child Psychol Psychiatry 1990;31: Scarborough HS. Early syntactic development of dyslexic children. Annals of Dyslexia; 1991;41: Waltzman DE, Cairns HS. Grammatical knowledge of third grade good and poor readers. Appl Psycholinguist 2000;21: Santos M T M, Navas A L G P. Distúrbios de Leitura e Escrita: teoria e prática. Barueri: Manole; Locke A, Ginsborg J, Peers I. Development and disadvantage:implications for the early years and beyond. Int J Lang Commun Disord 2002;37: Clegg J, Hollis C, Rutter M. Life sentence. Royal College of Speech and Language Therapists Bulletin 1999 Nov. 13 Tavares SF. Efeitos da internação sobre a psicodinâmica de adolescentes autores de ato infracional [dissertação]. São Paulo(SP): Universidade de São Paulo; Fundação Casa. Disponível em: < Acesso em: 10 out
6 15 Dias MDF, Schoen-Ferreira TH, Aznar-Farias M. Caracterização de uma amostra de adolescentes infratores segundo as categorias do CBCL. Anais do II Congresso Iberoamericano de Psicologia Clínica e da Saúde; ; Guarujá, Brasil. UEL-APICSA; Bryan K, Freer J, Furlong C. Language and communication difficulties in juvenile offenders. Int J Lang Commun Disord 2007;42: Loeber R, Farrington DP, Stouthamer-Loeber M, Van Kammen WB. Multiple risk factors for multi-problem boys: co-occurrence of delinquency, substance use, attention deficit, conduct problems, physical aggression, covert behavior, depressed mood, and shy/withdrawn behavior. In New Perspectives on Adolescent Risk Behavior. Jessor R (ed.). Cambridge University Press: Cambridge;1998; Snow PC, Powell MB. Oral Language Competence, Social Skills and High-risk Boys: What are Juvenile Offenders Trying to Tell us? Children & Society 2008;22: Morton J, Frith U. Causal modeling: a structural approach to developmental psychopathology. In.: Cicchetti D, Cohen DJ (eds.). Manual of developmental psychopathology. New York: Wiley; 1995.
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