Bruna Lima Ramos 1. GD5 História da Matemática e Cultura. Introdução
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- Valdomiro Esteves Fragoso
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1 A Pedagogia Científica e os Ensinos de Matemática nos Primeiros Anos Escolares: o que dizem os relatórios das delegacias regionais de ensino do estado de São Paulo? Bruna Lima Ramos 1 GD5 História da Matemática e Cultura Esta pesquisa de mestrado acadêmico compõe uma investigação mais ampla, que analisa o impacto da chamada pedagogia científica nas escolas do estado de São Paulo, entre as décadas de 1930 a Trata-se da investigação intitulada A Pedagogia Científica e os Ensinos de Matemática: um estudo das transformações da cultura escolar do curso primário, coordenada pelo Prof. Dr. Wagner Rodrigues Valente, que vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Educação e Saúde na Infância e na Adolescência, da Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos/SP. O presente projeto pretende analisar como foram apropriadas as propostas de renovação pedagógica em tempos da pedagogia científica e estabelece como questão norteadora do estudo que representações foram construídas sobre o impacto da pedagogia científica nos ensinos de matemática no curso primário paulista, lidas nos relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo?. O conceito de representação e, ainda, os de apropriação, estratégias, táticas e cultura escolar nesta pesquisa são tomados de estudos dos pesquisadores Roger Chartier (2002; 2009), André Chervel (1990), Dominique Julia (2001) e Michel de Certeau (1998). As fontes a serem utilizadas nesta investigação, como indicado no próprio título do trabalho a ser desenvolvido, serão os relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo, escritos por inspetores escolares, arquivados entre 1930 e 1950, cuja guarda dos originais encontra-se no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Palavras-chave: Pedagogia científica. Ensino de matemática. Relatório de inspetores. Introdução Este projeto de pesquisa de mestrado acadêmico integra uma investigação mais ampla, que analisa o impacto da chamada pedagogia científica nas escolas do estado de São Paulo, entre as décadas de 1930 a Trata-se do projeto A Pedagogia Científica e os Ensinos de Matemática: um estudo das transformações da cultura escolar do curso primário, coordenado pelo Prof. Dr. Wagner Rodrigues Valente. 1 Universidade Federal de São Paulo, bruna_lramos@hotmail.com, orientador: Wagner Rodrigues Valente.
2 A pesquisa será desenvolvida junto ao Programa de Educação e Saúde na Infância e na Adolescência, do Departamento de Educação, da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo, campus Guarulhos, SP. Considerando um tempo em que novas referências foram colocadas para o desenvolvimento do trabalho didático-pedagógico a pedagogia científica referenciada na psicologia experimental (testes psicológicos e pedagógicos), com base de avaliação estatística, o estudo a ser desenvolvido atém-se ao impacto dessa modernização dos processos educativos no cotidiano das escolas paulistas, a partir dos relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo. O trabalho integra ampla gama de pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no GHEMAT 2 Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática sobre a matemática nos anos escolares. Em face da problemática maior de investigar os processos e dinâmicas que envolveram a matemática dos anos iniciais escolares, este projeto de pesquisa intenta analisar como foram apropriadas as propostas de renovação pedagógica em tempos da pedagogia científica. Assim sendo, estabelece como questão norteadora do estudo a seguinte interrogação: Que representações foram construídas sobre o impacto da pedagogia científica nos ensinos de matemática no curso primário paulista, lidas nos relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo? Apropriação, representação, estratégias, táticas dentre outros conceitos farão parte do ferramental teórico-metodológico a ser utilizado para responder à interrogação de pesquisa, descrito de modo sintético no item seguinte. Sobre o Ferramental Teórico-Metodológico da Pesquisa Esta pesquisa lança mão de estudos vindos da História Cultural. Desde logo, cabe, mesmo que de modo muito breve, caracterizar essa perspectiva de investigação. Aqui, vale citar um de seus representantes mais expressivos: o historiador Roger Chartier. A partir de seus estudos, Chartier (2002, p ) classifica que a História Cultural tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada 2 Criado no ano 2000, o GHEMAT é um grupo cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq que desenvolve projetos de pesquisas com objetivo de produzir história da educação matemática. Possui como coordenadores principais os professores Neuza Bertoni Pinto (PUC/PR) e Wagner Rodrigues Valente (UNIFESP/Campus Guarulhos). Dados retirados e disponíveis em
3 realidade social é construída, pensada, dada a ler. Leme da Silva & Valente (2009) observam que Chartier irá lançar mão do conceito de representação para caracterizar como a realidade social é construída, pensada e dada a ler, como pode-se notar: As representações do mundo social assim constituídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza (CHARTIER, 2002, p. 17). Conforme Chartier, essas percepções do social não emitem um discurso neutro, e sim estratégias e práticas, as quais são propensas a impor autoridade à custa de outros, para justificar suas escolhas e condutas. As representações são importantes para que um determinado grupo mostre qual sua concepção do mundo social e os seus valores. O que leva seguidamente a considerar estas representações como as matrizes de discursos e de práticas diferenciadas (...) que têm por objetivo a construção do mundo social, e como tal a definição contraditória das identidades (CHARTIER, 2002, p. 18). Pois é através da representação que se propõe compreender o funcionamento da sociedade. Já a noção de apropriação pode ser reformulada e colocada no centro de uma abordagem de história cultural que se prende com práticas diferenciadas, com utilizações contrastadas (CHARTIER, 2002, p. 26). A apropriação tem por objetivo uma história social das interpretações, remetidas para as suas determinações fundamentais (que são sociais, institucionais, culturais) e inscritas nas práticas específicas que as produzem (CHARTIER, 2002, p.26). Desta forma, as representações ou percepções do social são construídas através das impressões de cada sujeito, através do seu entendimento, ou seja, da sua apropriação. Assim, os conceitos de representação, prática e apropriação constituirão para Chartier os elementos fundamentais dos estudos que pretendem tratar de uma história cultural (LEME DA SILVA; VALENTE, 2009, p. 22). Outro conceito a ser mobilizado no ferramental teórico-metodológico deste projeto referese à cultura escolar. A partir das ideias iniciais de Chervel (1990, p. 43) de que a escola tem por finalidade não somente o instruir as crianças e os adolescentes, mas também lhes dar uma cultura sólida, então começa-se a melhor caracterizar o cotidiano escolar em termos da existência de uma cultura que lhe é própria. Esse é um dos elementos trazidos dos estudos do historiador Dominique Julia, na sistematização feita para definir cultura escolar.
4 Para ser breve, poder-se-ia descrever a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização) (JULIA, 2001, p. 10, grifos do autor). Chervel (1990) e Julia (2001) dialogam no sentido de tratar os saberes presentes nas escolas como organizados ao longo do tempo, elaborados e sistematizados na escola, para servirem a própria escola, como ingredientes de uma cultura escolar. De outra parte, para Julia (2001) a cultura escolar não pode ser explicada sem considerar os embates que ela trava com as demais culturas como a cultura religiosa, política ou popular (JULIA, 2001, p. 10). Assim, cabe considerar que a escola faz parte de uma realidade social ampla, contrapondo-se, muitas vezes, com diferentes instâncias, com diferentes culturas. Tendo tratado, mesmo que modo muito breve, os conceitos de representação e apropriação que podem ser mobilizados para leitura dos processos presentes em uma cultura escolar, é necessário melhor compreender a caracterização dos conceitos de estratégia e tática, que serão utilizados ao longo desta investigação. Tais ferramentas conceituais foram elaborados pelo historiador Michel de Certeau. Chamo de estratégia o cálculo (ou a manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder (uma empresa, um exército, uma cidade, uma instituição científica) pode ser isolado. A estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma exterioridade de alvos ou ameaças (DE CERTEAU, 1998, p. 99). De Certeau assume que a tática é a arte do fraco (1998, p. 101) e que quanto mais fraca for a força à estratégia, mais ela se tornará tática. A tática então seria fortificar ao máximo a posição do mais fraco e as estratégias são portanto ações que, graças ao postulado de um lugar de poder (...), elaboram lugares teóricos (...), capazes de articular um conjunto de lugares físicos onde as forças se distribuem (DE CERTEAU, 1998, p. 102). (...) chamo de tática a ação calculada que é determinada pela ausência de um próprio. Então nenhuma delimitação de fora lhe fornece a condição de autonomia. A tática não tem por lugar senão o outro. E por isso deve jogar com o terreno que lhe é imposto tal como o organiza a lei de uma força estranha (DE CERTEAU, 1998, p. 100). Em suma as estratégias apontam para a resistência que o estabelecimento de um lugar oferece ao gasto do tempo; as táticas apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões que apresenta e também dos jogos que introduz nas fundações de um poder. (DE CERTEAU, 1998, p. 102). Nesta pesquisa, analisaremos, a partir dos Relatórios, que
5 estratégias e táticas estiveram presentes no impacto da pedagogia científica sobre os ensinos de matemática no curso primário paulista, na elaboração de novas representações para os ensinos de matemática nos primeiros anos escolares. Objetivo da Pesquisa Este projeto de pesquisa tem por objetivo analisar as representações construídas para o ensino de matemática face ao impacto da pedagogia científica, no cotidiano escolar dos grupos escolares paulistas, entre 1930 e 1950, a partir dos relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do estado de São Paulo. O Contexto Abordado pela Pesquisa: A Pedagogia Científica A pedagogia científica, ou pedagogia experimental, foi uma proposta que surgiu na década de 1920 dentro do movimento Escola Ativa, também tratado por Movimento da Escola Nova, em que se pensava a educação de uma nova maneira. Pretendia reorganizar os programas de ensinos, e não somente os métodos, a fim de modernizá-los e padronizá-los. Em relação à matemática, pretendiam trocar a "sistematização lógica" dos conteúdos pela sistematização psicológica. Como ingredientes dessa proposta destaque-se (...) o questionário, a observação e a experimentação (VALENTE, 2014a, p. 15). Com isso, surgem os testes 3, espécie de provas que permitiram classificar os alunos em fracos, médios ou fortes, em termos dos testes pedagógicos; e, estabelecendo classificações relativas à capacidade mental, no que toca aos testes psicológicos. Tais testes acabam por transformarem-se em ícones da pedagogia científica. Em suma, acreditava-se que com eles seria possível (...) verificar o andamento do ensino, e proceder-se assim à comparação objetiva entre o trabalho dos professores de duas classes, entre os de todas as classes de uma escola, das várias escolas de um distrito, do de vários distritos de uma circunscrição. Tais meios vieram permitir a organização de normas de uma verdadeira pedagogia experimental, cujas conquistas são de alcance inestimável para a economia da própria administração. (LOURENÇO FILHO apud VALENTE, 2014a, p. 20). Neste projeto pretendemos avançar sobre a compreensão do impacto que a chamada pedagogia científica causou nas escolas do estado de São Paulo, entre as décadas de 1930 e 1950, lançando o foco de análise para os ensinos de matemática, levando em conta os 3 No projeto maior, guarda-chuva, já existe uma pesquisa de doutorado, em andamento, de Nara Vilma Lima Pinheiro que trata dos testes psicológicos e pedagógicos e os ensinos de matemática. Esta pesquisa irá dialogar com esse estudo em termos de melhor compreender a presença dos testes e suas referências, nos Relatórios.
6 Relatórios. A escolha dessas décadas para o estudo se deu pois considera-se que é o período de nascimento, estabilização e refluxo da pedagogia científica (VALENTE, 2014b, p. 2). Segundo o mesmo autor, cabe destacar sobre o período que: (...) esse tempo conformou muitos dos elementos presentes atualmente no cotidiano das escolas. Dizendo de outro modo, trata-se de uma época em que foram introduzidas normativas e práticas que fazem parte até hoje da cultura escolar. De onde vêm, por exemplo, a convicção de muitos professores, de que classes homogêneas permitem que seja realizado um melhor trabalho pedagógico? Como entender a divisão, hoje naturalizada, de classificar alunos como fracos, médios e fortes? Ou a elaboração de questões de provas distribuídas nessa mesma escala de avaliação? Essas são algumas das representações construídas à época do impacto do movimento que ficou conhecido como pedagogia científica, presentes hoje no cotidiano das escolas. Uma pedagogia que se consolidou pela medida, pelos testes, pelos laboratórios onde vai estar presente a experimentação, pela aferição estatística dos dados coletados etc (VALENTE, 2014b, p.3). Nos Relatórios que serão tomados como fonte de pesquisa pode-se encontrar vários gráficos classificatórios de classes de alunos fracos, médios e fortes, os quais serão analisados ao longo do estudo. No inventário de estudos e revisão bibliográfica feita por Valente (2014a, p. 12), esse tempo pedagógico chamado pedagogia científica tem sido investigado somente em termos de estudos amplos educacionais, como o trabalho do historiador Carlos Monarcha (2009). A busca feita por esse autor, não encontrou estudos de maior fôlego sobre o ensino de conteúdos que envolvem a matemática nos anos iniciais escolares, em tempos da pedagogia científica [...]. Assim, esta pesquisa é relevante, pois trabalharemos com os anos iniciais tendo em vista a nova pedagogia vigente entre as décadas de 1930 e 1950, e seus resultados permitirão melhor analisar a presença de elementos que fazem parte da educação matemática em tempos atuais (VALENTE, 2014a, p. 13). Sobre as Fontes para a Pesquisa: Os Relatórios As fontes a serem utilizadas nesta pesquisa serão, como já se mencionou anteriormente, os relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo, escritos por inspetores escolares, arquivados entre 1930 e 1950, cuja guarda dos originais encontra-se no Arquivo Público do Estado de São Paulo 4. Sobre esses documentos, em breve resumo, pode-se dizer que após a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1931, na mesma época, surgiram também as Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo (CELESTE FILHO, 2012, p. 73). Tais órgãos, entre 1930 e 1940, foram responsáveis por elaborar documentos, como relatórios 4 Disponível em
7 de inspetores das escolas. Estes são tidos como fontes de pesquisa fundamentais para a história da educação paulista num dos momentos decisivos da institucionalização dos sistemas públicos de educação no Brasil (2012, p. 73). Esses relatórios podem ser encontrados na íntegra no Arquivo Público do Estado de São Paulo, um dos maiores arquivos públicos brasileiros. Os textos podem ser obtidos, mais especificamente, no sítio da Instituição, quando percorremos Acervo digitalizado >> Relatórios da Educação. No endereço é possível ler que o conjunto documental dessa coleção foi produzido e reunido por diferentes organizações de secretarias, dando certo destaque aos relatórios produzidos pelas Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo, que eram responsáveis pelos assuntos escolares dos municípios. O Arquivo Público reúne relatórios das cidades de Araraquara, Bauru, Botucatu, Campinas, Casa Branca, Guaratinguetá, Itapetininga, Jaboticabal, Jundiaí, Lins, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Rio Claro, Rio Preto, Santa Cruz do Rio Pardo, Santos, São Carlos, São Paulo, Sorocaba e Taubaté. Esses relatórios eram utilizados para informações de caráter administrativo e estrutural das escolas particulares, estaduais e municipais do estado de São Paulo. Nesses documentos são encontradas informações do tipo: quadro de funcionários e suas funções; quantidade de classes, alunos e matrículas ofertadas nas Unidades de Estabelecimento da Região escolas particulares, escolas isoladas rurais, isoladas urbanas, grupos escolares, escolas municipais e escolas reunidas ; fotografias das escolas e das classes com os alunos; gráficos sobre o desempenho dos alunos; estrutura do prédio e subdivisão das salas; informação sobre as classes homogêneas (período masculino e feminino), informações sobre o ensino de diferentes matérias escolares, entre outras informações que serão tratadas e analisadas ao longo da pesquisa. Todos os dados contidos nos relatórios foram escritos por delegados regionais os inspetores. A fim de agrupar documentos importantes para pesquisas, o GHEMAT junto com a USFC Universidade Federal de Santa Catarina criaram um repositório 5 para agrupar toda e qualquer documentação que possa servir como fontes para estudos de história da educação matemática. O Grupo, numa fase inicial, selecionou partes de muitos dos Relatórios, onde estão temas que envolvem a educação matemática. Foram feitos recortes nos relatórios disponíveis no 5 O repositório de conteúdo digital está disponível em
8 Arquivo do Público do Estado de São Paulo e inseridos no repositório textos que, de alguma maneira, evidenciam assuntos ligados à matemática nos primeiros anos escolares. Esse trabalho, de outro lado, não está finalizado. Assim, pretende-se nessa pesquisa, continuar a realizar esses recortes e melhorar o acervo do repositório digital, disponibilizando partes importantes desses relatórios de inspetores para compreensão da trajetória dos ensinos de matemática no curso primário paulista. A título ilustrativo, veja-se abaixo, um trecho 6 de relatório que interessa diretamente a esta investigação: Através da análise dos relatos contidos nesses documentos espera-se melhor entender, como mencionou-se anteriormente, o impacto de uma nova pedagogia nos ensinos de matemática do curso primário paulista. E aqui, cabe mencionar que estamos entendendo por ensinos de matemática aqueles relacionados a diferentes rubricas escolares presentes no curso primário que abrigam saberes elementares matemáticos. Exemplos disso, como se nota pela ilustração acima, é o Desenho em suas variadas denominações e finalidades. 6 Trecho retirado do Relatório da Delegacia do Ensino de São Carlos, 1945, São Paulo.
9 Acrescente-se a Geometria, a Aritmética, o Cálculo etc. sempre considerando a alteração de nomes e criação de novas denominações a depender das reformas e leis de ensino. Justificativa para Realização do Projeto Este projeto integra as pesquisas realizadas pelo GHEMAT. O Grupo, desde o ano 2000, organiza documentos e materiais com a finalidade de servirem como fontes para pesquisas em história da educação matemática. Recentemente, o Grupo criou um repositório de conteúdo digital para agrupar manuais de ensino, documentos oficiais da legislação escolar, documentos de arquivos escolares como os relatórios de inspetores entre outros registros importantes para as pesquisas em história da educação matemática. Este projeto, como mencionado anteriormente, compõe pesquisa de maior amplitude intitulada A Pedagogia Científica e os ensinos de matemática: um estudo das transformações da cultura escolar do curso primário, coordenado pelo Prof. Dr. Wagner Rodrigues Valente. Tal projeto guarda-chuva está organizado em três frentes de investigação, a saber: 1) As representações da cultura escolar e os ensinos de matemática lidos nos relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo; 2) As revistas pedagógicas e as representações utilizadas para o convencimento dos professores a transformarem suas práticas pedagógicas em vista da pedagogia científica para o ensino de matemática nos primeiros anos escolares; 3) Os programas de ensino como síntese das normativas e representações de implantação de novos modelos pedagógicos: a pedagogia científica e o ensino do cálculo aritmético. O presente estudo contribuirá com o desenvolvimento da primeira temática de investigação. O desenvolvimento do projeto guarda-chuva, no aprofundamento dessas três subtemáticas irá permitir um melhor entendimento dos processos e dinâmicas de transformação da cultura escolar, em termos do ensino de matemática no curso primário, na construção de representações elaboradas ao tempo da pedagogia científica. A justificativa para a realização deste projeto tem igual teor daquela já estabelecida para desenvolvimento do projeto guarda-chuva : a carência de estudos de maior fôlego sobre a penetração da pedagogia científica relativamente aos ensinos de matemática nos anos iniciais escolares. Tal carência pôde ser constatada nos inventários realizados pelo Grupo em bases como o banco de teses e dissertações da CAPES
10 ( a base de dados de trabalhos acadêmicos que estão disponíveis no CEMPEM ( banco de teses e dissertações da USP ( dentre outros levantamentos. Referências Bibliográficas Iniciais CELESTE FILHO, Macioniro. Os relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo como fonte de pesquisa para a história da educação décadas de 1930 e Rev. bras. hist. educ., Campinas-SP, v. 12, n. 1 (28), p , jan./abr CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A. Trad. Maria Manuela Galhardo, 2ª edição CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Tradução: Cristina Antunes, 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica editora, CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Revista Histoire de l éducation, n. 38. Tradução Guacira Lopes Louro DE CERTEAU, Michel. A invenção do Cotidiano: artes de fazer. Tradução Ephraim Ferreira Alves, 3ª edição. Petrópolis: Vozes, JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Tradução Gizele de Souza. Campinas, n. 1, p. 9-43, jan./abr LEME DA SILVA, Maria Célia; VALENTE, Wagner Rodrigues. Na oficina do historiador da educação matemática: cadernos de alunos como fonte de pesquisa. Organizado por Iran Abreu Mendes e Miguel Chaquiam. Coleção História da Matemática para professores. Belém: SBHMat, v.19, VALENTE, Wagner Rodrigues. A era dos tests e a pedagogia científica: um tema para pesquisas na Educação Matemática. Revista Acta Scientiae, v. 16, p , 2014a. VALENTE, Wagner Rodrigues. A Pedagogia Científica e os Programas de Ensino para o Curso Primário: uma análise dos documentos do repositório de conteúdo digital, In: XI Seminário Temático GHEMAT, 2014b, Florianópolis, SC. Anais do XI Seminário Temático. SC: UFSC, 2014b. v. 1. p
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