Processo no /001. ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque

Transcrição

1 JR.t 1.,". er4u n ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque Acórdão Apelação Cível - no /001 Relator: Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque la)apelante: Edjarkia Janaina da Silva Gama Bezerra - Adv.: Kotaro Tanaka e outros. 2o)Apelante: Mansa Lojas Varejistas Ltda - Adv.: Bruno Bezerra de Souza Apelados: os mesmos EMENTA: - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - SENTENÇA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE - IRRESIGNAÇÃO - APELO. PRIMEIRA APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - COMPRAS DE PRODUTOS FEMININOS REALIZADAS EM LOJA - PAGAMENTO FEITO DE FORMA CORRETA - DISPARO DE ALARME ANTI-FURTO NA SAÍDA DA LOJA - REVISTA E CONFERÊNCIA DOS PERTENCES FEITA DE FORMA CONSTRANGEDORA E VEXATÓRIA - DANO MORAL CARACTERIZADO - INDENIZAÇÃO FIXADA DE FORMA PRUDENTE - OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - DESPROVIMENTO DO PRIMEIRO APELO. SEGUNDA APELAÇÃO - DANOS MORAIS - CARACTERIZAÇÃO SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - CONDENAÇÃO APENAS EM De mbalgador Mar 1

2 VALOR INFERIOR AO REQUERIDO NA INICIAL - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA NÃO CARACTERIZADA - SÚMULA No 326 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - NECESSIDADE DE REFORMA - JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO "A QUO" PARA A INCIDÊNCIA DOS JUROS DE MORA - RESPONSABILIDADE AQUILIANA - DATA DO PREJUÍZO - SÚMULA No 54 DO STJ - APLICAÇÃO - CORREÇÃO MONETÁRIA - DATA DA FIXAÇÃO - SENTENÇA CONCESSIVA - PROVIMENTO PARCIAL DO SEGUNDO APELO. identificados. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos acima Acorda a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO PRIMEIRO APELO E DAR PROVIMENTO PARCIAL O SEGUNDO, nos termos do voto do relator. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível, interposta por Edjarkia Janaína da Silva Gama Bezerra, e Apelação Cível interposta por Mansa Lojas Varejistas Ltda, hostilizando a sentença do Juízo de Direito da 1a Vara Cível da Comarca da Capital que, nos autos da Ação de Indenização por Danos Morais, julgou parcialmente procedente o pedido contido na inicial para condenar a primeira apelante ao pagamento de R$ ,00 (dez mil reais) pelos danos morais ocasionados a segunda apelante. Nas razões recursais (fls.116/128), alega a primeira apelante que, em nenhum momento os seguranças da loja trataram a segunda apelante de forma violenta, ou a destrataram, mas o que ocorreu foi que a segunda apelante apenas sentiu-se ofendida, por ter soado o alarme de segurança e a mesma ter sido inquirida pelos funcionários da loja que estavam desempenhando sua função. Desrbargador - volcanti t bu. 2

3 Alega ainda que, quando uma pessoa passa pela saída de uma loja e o alarme é ativado, a primeira impressão dos demais clientes e daqueles que rodeiam o local é que deve ter ocorrido uma falha no equipamento, não causando qualquer constrangimento. Aduz que, é importante salientar que o dano moral indenizável não corresponde a simples dissabores ou aborrecimentos sofridos no dia a dia das pessoas, mas a acontecimentos sérios e relevantes. No final pugna pelo provimento do recurso. Nas razões recursais (fls. 130/136), a segunda apelante alega que o valor da condenação deve ser majorado, pois a condenação deve ser arbitrada em um valor que tenha uma função educativa, para que a primeira apelante não torne a praticar novamente danos de ordem moral aos seus clientes consumidores. Alega ainda que, não houve sucumbência reciproca, pois a sentença acolheu integralmente a causa de pedir, ao reconhecer a existência dos fatos que levaram á subsunção do ato ilícito e a consequente obrigação de indenizar. Aduz que, a sentença foi omissa em relação a fixação 111 dos juros de mora e da correção monetária. No final pugna pelo provimento recurso. A primeira apelante e a segunda apelante não apresentaram contrarrazões conforme certidão às fls Instada a manifestar-se, a Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo desprovimento de ambos os recursos. (fls. 150/155). É o relatório. 3

4 VOTO Analisarei as duas Apelações de forma conjunta. Inicialmente, vale ressaltar que a segunda apelante ingressou com Ação de Indenização por Danos Morais, contra a primeira apelante, buscando reparação pelo constrangimento sofrido ao realizar uma compra em uma loja de propriedade da primeira apelante. DANOS MORAIS Às fls. 94/95, consta o depoimento da segunda apelante de onde se observa o seguinte: "Que realmente no dia 29/03/2008 esteve na empresa promovida, fez compras, efetuou o pagamento no caixa e quando foi saindo da loja o alarme soou, ocasião em que uma moça se apresentando como segurança da loja chegou e verificou as compras em que a loja tinha efetuado e que estava dentro da sacola padronizada da loja, nada encontrado;... Que eles mandaram ela ir embora e novamente ao sair o alarme soou;... Que no momento em que o alarme tocou a declarante retornou para dentro da loja e que naquele momento veio a moça e os demais seguranças, ocasião em que a declarante entregou a sacola para que eles verificassem, então perguntaram o que ela havia comprado, pediram a nota fiscal de compra e foram conferir a nota fiscal com as compras da sacola; Que após eles conferirem que as compras constantes da nota fiscal batiam com as compras que estavam na sacola, então passaram a pedir que ela abrisse a sua bolsa pessoal e foram investigar dentro da mesma, nada encontrado, foi aí que a Desemb 4

5 mandaram embora. Às fls. 97, consta o depoimento da testemunha Risomar Dionísio da Silva, de onde se extrai o seguinte: "Que tinha ido ao shopping tambiá para comprar presente para o seu sobrinho acompanhado da esposa dele e lá chegando como não tinha nada para homem ela chamou para ir a outra loja, foi quando a esposa do seu sobrinho passou a dizer " olha a ladra! olha a ladra!" ao que perguntou a depoente "Aonde? E ao olhar ouviu o som do alarme, sirene e a moça que trabalha como segurança na Mansa, revirando a bolsa pessoal da moça aqui presente, e virando de boca para baixo, jogando os seus pertences, naquele momento a autora estava chorando e mostrando a nota fiscal do que tinha comprado; Que pode presenciar quando a autora dizia para a segurança tremendo e chorando: "olha aqui eu paguei!, olha aqui eu paguei!" Que presenciou quando a autora dizia " olha aqui eu paguei!" a segurança dizer: "não quero saber não" e continuou a vasculhar a bolsa da moça: Que muitas pessoas curiosas foram para perto ver o fato, agora a depoente em razão do tumulto foi embora daquele local." O dano moral ficou caracterizado, pelo constrangimento, da segunda apelante, ter que passar pela situação vexatória, humilhante de ter seu pertences revistados, revirados, após o disparo de alarme anti-furto pelos funcionários da primeira apelante, mesmo tendo pago corretamente pelas compras realizadas. Com relação a fixação do "quantum" indenizatório, frise-se, inicialmente, que o valor fixado a título de indenização por Dano 5

6 Moral não pode ser ínfimo ou abusivo, mas proporcional à dúplice função deste instituto indenizatório: reparação do dano, buscando minimizar a dor da vítima, e punição do ofensor, para que não volte a reincidir. Na hipótese dos autos, trata-se de indenização por dano moral fixada em R$ ,00 (dez mil reais). Diante da valoração das provas realizada pelo juízo "a quo", entendo que foi adequado o "quantum" fixado, considerando-se o constrangimento e a situação vexatória, pelo que passou a segunda apelante, uma vez que quando da fixação do valor indenizatório deve o Magistrado, por seu prudente arbítrio, levar em consideração as condições econômicas e sociais do ofendido e da causadora do ato ilícito; as circunstâncias do fato; sem esquecer o caráter punitivo da verba e que a reparação não pode servir de causa a enriquecimento injustificado. decidiu que: No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça "a indenização deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação enseje enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte financeiro das partes, orientando-se o julgador pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso." (REsp /Df; RECURSO ESPECIAL 2001/ Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Quarta turma. D ) arbitrada. Logo, não entendo que seja abusiva a indenização HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 6

7 A sentença de fls. 113/114, decidiu o seguinte: "Sucumbência recíproca, a teor do art. 21, caput da Lei de Ritos Cíveis, ficando, todavia, a autora jungida ao comando do art. 12 da Lei 1060/50, face a ser beneficiária da gratuidade judicial." Analisando os autos verifico que a segunda apelante requereu na petição inicial uma indenização por danos morais no valor de R$ ,00 (cento e vinte quatro mil e quinhentos reais) e o Magistrado monocrático condenou a primeira apelante ao pagamento de ,00 (dez mil reais) pelo danos causados. A Súmula no 326 do Superior Tribunal de Justiça disciplina o seguinte: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca. posição: O Superior Tribunal de Justiça também adota seguinte AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DANOS MORAIS. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. CULPA COMPROVADA. REAPRECIAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. CONDENAÇÃO. DANO MORAL. MONTANTE INFERIOR AO POSTULADO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. INEXISTÊNCIA. SÚMULA 326/STJ. VALOR EXCESSIVO - NÃO OCORRÊNCIA - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO. 1.- O Tribunal de origem apreciou todas as dig-itra r Cav a que 7

8 questões relevantes ao deslinde da controvérsia nos limites do que lhe foi submetido. Não há que se falar, portanto, em violação do artigo 535 do CPC. 2.- A alteração do julgado, como pretendido pela recorrente, para se concluir pela ausência de culpa, necessitaria do revolvimento de matéria de prova dos autos, o que é vedado em recurso especial, nos termos da Súmula 7/ 3.- "Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca" (Súmula 326/ST3). 4.- É possível a intervenção desta Corte para reduzir ou aumentar o valor indenizatório por dano moral apenas nos casos em que o quantum arbitrado pelo Acórdão recorrido se mostrar irrisório ou exorbitante, situação que não se faz presente no caso em tela. 5.- Agravo Regimental improvido. (AgRg no AREsp /SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/12/2011, 133e 01/02/2012) Desta forma, como apenas a condenação foi inferior ao requerido na inicial não a configuração de sucumbência recíproca, devendo a sentença vergastada ser reformada neste ponto. Sendo assim, condeno a primeira apelante ao pagamento de honorários advocatícios no percentual de 10% sobre o valor da condenação. DA CORREÇÃO MONETÁRIA E DOS JUROS DE MORA Analisando os autos, observo que sentença Desembargador.arás Cj ciii d ergue 8

9 monocrática foi omissa com relação a fixação de juros de mora e correção monetária. Em primeiro lugar, em relação aos juros de mora, é cediço que nas indenizações decorrentes da responsabilidade extracontratual ou aquiliana, como "in casu", incidem a partir do evento danoso, nos estritos termos da Súmula 54, do STJ (os juros moratórios fluem a partir.do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual). Em segundo lugar, para a fixação do termo inicial de incidência da correção monetária, nos casos de responsabilidade extracontratual, segundo recente entendimento do STJ, a correção monetária deverá incidir a partir da data em que foi arbitrado o seu valor, não se aplicando a Súmula 43, do mesmo pretório. Visando ilustrar a matéria em deslinde, convém transcrever aresto do Superior Tribunal de Justiça: "ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. JUROS DE MORA A PARTIR DO EVENTO DANOSO. SÚMULA 54/STJ. CORREÇÃO MONETÁRIA INCIDENTE SOBRE INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL. TERMO A QUO. DA DATA DA FIXAÇÃO DO QUANTUM. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 43/STJ. 1. Os furos de mora, nos casos de responsabilidade extracontratual, ainda que objetiva, têm como termo inicial a dada em que ocorreu o evento danoso. Súmula 54 do STJ. 2. Nas indenizações por dano moral, o termo a guo para a incidência da correção monetária é a data em que foi arbitrado o valor, não se aplicando a Súmula 43/ Recurso especial parcialmente provido". (REsp /SE, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 9

10 , p. 242) (Destaquei) ISTO POSTO, NEGO PROVIMENTO PRIMEIRO RECURSO APELATÓRIO, E DOU PROVIMENTO PARCIAL AO SEGUNDO RECURSO APELATÓRIO para reformar parcialmente a sentença de primeiro grau, condenando a primeira apelante ao pagamento de honorários advocatícios no percentual de 10% sobre o valor da condenação e no que tange aos juros moratórios e correção monetária deve-se observar o seguinte. Primeiramente, determino que sobre o valor da condenação, por danos morais, (dez mil reais), fixados pelo juízo originário, incidam juros de mora a partir do evento danoso (Súmula 54, do STJ), e em relação à correção monetária, determino que passe a incidir a partir da data em que foi arbitrado o seu valor, qual seja, 31 de agosto de 2011 (data da sentença de primeiro grau). É como voto. Presidiu a sessão a Excelentíssima Desembargadora Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti. Participaram do julgamento este relator Marcos Cavalcanti de Albuquerque, Vanda Elizabeth Marinho (Juiza convocada para substituir a Desembargadora Maria das Neves do Egito A D Ferreira) e Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti. Presente ao julgamento o Excelentíssimo Senhor Doutor Francisco Sagres Macedo Vieira, Procurador de Justiça. Sala de Sessões da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em ão P, 05 de junho de Desembargador arcos ava nti de albuquerque Relator 45 Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque 10