Relatório dos trabalhos arqueológicos de prospecção no âmbito do EIA da EN substituição da Ponte da Gala.
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- Heloísa Vilalobos Carreiro
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1 24 TRABALHOS DO CNANS Relatório dos trabalhos arqueológicos de prospecção no âmbito do EIA da EN substituição da Ponte da Gala. Pedro Caleja, António de Sá, Miguel Aleluia Foto: Pedro Caleja Lisboa, Dezembro 2004
2 Relatório dos trabalhos arqueológicos de prospecção no âmbito do EIA da EN substituição da Ponte da Gala. Pedro Caleja, António de Sá, Miguel Aleluia Adaptação gráfica: Francisco Alves, a partir do modelo Trabalhos do CIIPA. Execução gráfica e tratamento fotográfico: Pedro Caleja. Foto da capa: A Ponte da Gala em Outubro de Trabalhos do CNANS nº 24, Dezembro de 2004.
3 Caracterização da zona de intervenção A zona de intervenção localiza-se na margem esquerda da foz do Rio Mondego. O Inventário Nacional do Património Náutico e Subaquático Carta Arqueológica de Portugal, gerida pelo CNANS, possui, através de fontes escritas e arqueológicas, registos da ocorrência de 155 naufrágios na zona compreendida entre o Cabo Mondego e a Barra da Figueira. Destes, o naufrágio mais antigo data de 1555, sendo que a grande maioria dos registos consta de embarcações perdidas durante o séc. XIX. Por sua vez, neste Inventário, da zona do estuário do rio Mondego, apenas estão registados três sítios de vestígios arqueológicos da época moderna, dois no troço terminal do próprio estuário e um por fora do molhe norte da foz, não existindo quaisquer dados relativos à zona de intervenção em questão. 1
4 Fig. 1 Mapa de Portugal na Península Ibérica com a localização da zona de Intervenção. Fig. 2 Área de intervenção do projecto em questão (origem: escala 1:25.000). 2
5 Fig. 3 Ortofotomapa da zona do estuário do rio Mondego. 3
6 Relatório dos trabalhos arqueológicos de prospecção no âmbito do EIA da EN substituição da Ponte da Gala. Pedro Caleja A vertente patrimonial de um Estudo de Impacte Ambiental (EIA) visa avaliar exaustivamente as consequências da implementação de um projecto relativamente ao património cultural, do ponto de vista arqueológico, histórico e arquitectónico. Depois de devidamente avaliados os efeito de um projecto, cabe ao EIA identificar e avaliar os impactes e, sempre que necessário, propor as adequadas medidas de minimização. A prospecção prévia ao início da obra em questão foi adjudicada pela empresa GeoArquE ao Instituto Português de Arqueologia (IPA), tendo em atenção a necessidade de caracterizar do ponto de vista patrimonial as áreas húmidas e subaquáticas que serão afectadas pela substituição da actual Ponte da Gala na Figueira da Foz, tendo em vista garantir a salvaguarda de qualquer vestígio do património cultural subaquático aí eventualmente existente. A prospecção da área teve lugar entre os dias 20 de Setembro e 1 de Outubro de 2004 sob a direcção do signatário, destacado pelo CNANS. A fase de prospecção foi realizada por uma equipa técnica de arqueologia subaquática composta pelo signatário pelo assistente de arqueólogo Miguel Aleluia e pelo técnico António Sá. A equipa contou no plano logístico com uma viatura Nissan Patrol e uma embarcação semi-rígida (Argos), recorrendo à panóplia de equipamentos de prospecção, posicionamento e registo habitual neste tipo de missões. A área a prospectar compreendeu a zona de implantação dos novos pilares e respectivas ensecadeiras, totalizando uma área de 1125m2 por rectângulo de prospecção, tendo sido montados três, totalizando 3375m2 prospectados, ao que se deve adicionar a prospecção efectuada no arranque da ponte de ambas as margens e através de vários corredores de reconhecimento entre os actuais pilares. A metodologia aplicada foi a da instalação, junto aos actuais pilares da ponte, de eixos/cabos pré-definidos colocados transversalmente no fundo e em paralelo, com 45x25m de lado, que guiaram em mergulho os elementos da equipa e que serviram de referência à prospecção visual com detecção aproximada através de detector de metais. O espaçamento entre cada corredor foi de 5m. Numa primeira fase, no caso de serem identificadas anomalias, estava previsto que as mesmas fossem georeferenciadas e posteriormente verificadas por sondagem através do recurso a uma sugadora subaquática. A enorme concentração de resíduos e lixos recentes, nomeadamente as numerosas armadilhas para a apanha de caranguejo, acabaram por condicionar os resultados obtidos através do uso de detectores de metais, tornando muito mais morosa a operação de despistagem de anomalias. A reduzida visibilidade e as fortes correntes que se fazem sentir no local, dada a proximidade do canal principal e da Foz do Mondego, acresceram aquelas dificuldades. 4
7 De referir que a obrigatoriedade de uma prospecção visual exaustiva com detecção electromagnética aproximada, devido por vezes à impossibilidade técnica de se utilizarem métodos de detecção geofísica em zonas com estas características (sobretudo em áreas estuarinas, portuárias e respectivas barras), tem a ver com o facto de estas serem justamente as zonas que sofreram maior impacto antrópico numa larga diacronia histórica, e portanto nela ser previsível conterem um potencial arqueológico mais ou menos importante, obrigatoriamente a avaliar. De referir, aliás, que este potencial se exprime frequentemente não só em vestígios residuais ou remanescentes nos seus locais de origem ou formação contextual, como também em vestígios resultantes de uma dinâmica de arrastamento, como o atestam numerosos casos referenciados nomeadamente nos rios Tejo 1, Arade 2, Sado 3, Guadiana 4 e na Lagoa de Óbidos 5. Após o término da prospecção foram obtidas as batimetrias imediatamente contíguas a cada um dos seis pilares em ambas as direcções. Estas medidas foram tiradas num ponto central entre os dois pilares, 5 m adiante, novamente aos 10 m e por fim aos 15 m. No caso vertente a avaliação prospectiva realizada no terreno, em contexto subaquático, não permitiu localizar elementos de interesse patrimonial. No entanto, dada a existência de várias estacas de madeira junto aos actuais pilares da ponte da Gala, na sua maioria firmemente enterradas no leito do rio e que terão sido utilizadas aquando da construção da referida ponte, terá de ser oportunamente providenciada uma operação de recolha das mesmas por uma equipa do CNANS, previamente à fase de desmantelamento das mesmas (bastando para tal um contacto atempado). Com efeito, o CNANS recolhe sistematicamente amostras de madeiras antigas com vista à respectiva análise dendrocronológica, método hoje em dia consagrado internacionalmente para o estudo e caracterização cronológica de madeiras antigas. Finalmente, seja referido que a não confirmação da existência de alvos de natureza antrópica, não significa no plano arqueológico que não venham a aparecer tais vestígios a qualquer momento da obra, pelo que, por norma de prevenção, terá de ser providenciado o acompanhamento arqueológico directo de quaisquer obras de desmantelamento ou intrusivas nos sedimentos locais. 1 Diogo, A. D. Alves, F : Ânforas provenientes de achados fluviais nas imediações de Vila Franca de Xira e de Alcácer do Sal, In: O Arqueólogo Português IV-6/7, Lisbonne, Viana, A. Zbyszewski, G. 1949: Contribuição para o estudo do Quaternário do Algarve, In: Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal 29, Lisbonne, Loureiro, V. 2004: O navio Arade 1: uma embarcação do início da Época Moderna (communication présentée lors du Séminaire Os Museus e o Património Naútico (Portimão de 17 a 19 de Juin 2004, organisé par le Museu Municipal de Portimão). *Sous presse. 3 Op. Cit. Nota 1. 4 Viana, A. Zbyszewski, G. 1949: Contribuição para o estudo do Quaternário do Algarve, In: Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal 29, Lisbonne, Lillios, K. Read, C. Alves, F. 2000: The Axe of the Obidos Lagoon (Portugal) An uncommon find recovered during an underwater archaeological survey (1999), In: Revista Portuguesa de Arqueologia 3.1, Lisbonne,
8 Fig. 4 Planta do Projecto com representação das grelhas de prospecção. 6
9 Conclusões e proposta de medidas de minimização de impactos. Na sua globalidade, a intervenção arqueológica não permitiu constatar na área intervencionada a presença de qualquer contexto arqueológico subaquático ou de artefactos isolados. Como medida preventiva, este Centro é de parecer que eventuais dragagens ou escavações que venham a realizar-se para implantação dos novos pilares deverão ser objecto de acompanhamento arqueológico qualificado, por pessoal técnico devidamente credenciado pelo IPA. 7
10 Fig. 5 Portinho de Pesca da Gala. Ponto de apoio da equipa. Fig. 6 Aspecto da fixação do cabo do quadrado de prospecção. 8
11 Fig. 7 Medição dos eixos de referência das zonas a prospectar, lateralmente posicionados de 5 m em 5m. Fig. 8 Aspecto das redes e aros de armadilhas para apanha do caranguejo. 9
12 Fig. 9 Pormenor de outra rede e fragmentos recentes de madeira. Fig. 10 Fragmentos da parte inferior do tabuleiro da ponte. 10
13 Fig. 11 Aspecto de um dos pilares da ponte, a descoberto por acção da corrente. Fig. 12 Fragmento de madeira. 11
14 Fig. 13 Uma das estacas de construção dos pilares da ponte semi-deitada. Fig. 14 Aferição das batimétricas entre pilares. 12
15 Créditos fotográficos Foto Capa Pedro Caleja Fotos 5, 6, 8-10, 14 Pedro Caleja Fotos 7, Miguel Aleluia Digitalizações e tratamento de imagem Pedro Caleja 13
16 Documentação fotográfica de arquivo 14
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18 16
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