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Transcrição

1 ACÓRDÃO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N I miii mil mil mil um mu mi um i m * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n , da Comarca de São Bernardo do Campo, em que são apelantes/apelados ELETROPAULO METROPOLITANA ELETRICIDADE DE SÃO PAULO S/A, RITA DE CÁSSIA PEREIRA, JOÃO PAULO PEREIRA TORRES, WILLIAM APARECIDO PEREIRA TORRES, JANAINA PEREIRA TORRES e ITAÚ SEGUROS S/A. ACORDAM, em 34 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ E DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO APELO DOS AUTORES.VU.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores GOMES VARJÃO (Presidente) e SOARES LEVADA. São Paulo,20 de junho de NESTOR DHSET1 RELATOR

2 1 Apelação com Revisão n Comarca: São Bernardo do Campo Apelantes e apelados: Rita de Cássia Pereira, João Paulo Pereira Torres, William Aparecido Pereira Torres, Janaina Pereira Torres, Eletropaulo Metropolitano Eletricidade de São Paulo S/A. e Itaú Seguros S/A. VOTO Ementa: Ação indenizatória. Vítima fatal. Eletroplessão. Ausência de culpa concorrente ou exclusiva da vítima. Ligação clandestina. Inteligência dos artigos 90 e 99 da Resolução n 456/2000. Responsabilidade civil da ré verificada. Pensão mensal mantida. Ausência de demonstração de que o ofendido auferia remuneração em patamar superior. Limite de idade dos filhos menores alterado para 25 anos. Dano moral presumido. Valor fixado de acordo com as circunstâncias. Inexistência de violação ao artigo 5 o da Constituição Federal. Condição sócioeconômica dos autores é requisito para sua fixação. Danos materiais comprovados. Juros de mora alterados. Denunciação da lide acolhida. Natureza de ação. Cabimento das verbas sucumbenciais. Negado provimento ao apelo da ré. Provimento parcial aos recursos dos autores e da litisdenunciada. Visto.

3 2 Trata-se de ação ajuizada por Rita de Cássia Pereira, João Paulo Pereira Torres, Janaina Pereira Torres, William Aparecido Pereira Torres em face de Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A. 90/102). A ré denunciou a lide a Itaú Seguros S/A.(fls. A r. sentença de fls. 620/635, cujo relatório adoto: (1) julgou parcialmente procedentes os pedidos dos autores, condenando a ré ao pagamento de (a) pensão mensal de R$ 300,00 (trezentos reais) até a data em que a vítima completaria 65 anos de idade, podendo um autor acrescer ao quinhão do outro, cessando aos filhos quando completarem a idade de 21 anos; (b) indenização correspondente a 70 salários mínimos por danos morais a cada um deles; (c) R$ 3.000,00 a título de danos materiais; (d) custas, despesas processuais e honorários advocatícios; (2) julgou procedente a lide secundária, condenando a litisdenunciada ao pagamento das despesas suportadas pela ré até o limite do valor segurado, além das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 1.500,00, sem prejuízo do ressarcimento das verbas de sucumbência da lide principal. Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A. interpôs apelação (fls. 647/656). Alega, em síntese, ausência de responsabilidade pelo acidente por inexistência de falha no fornecimento de energia elétrica, culpa exclusiva da vítima e falta de nexo causai. Assevera também que os danos morais não foram demonstrados. Pugna pela improcedência da ação e, subsidiariamente, requer a diminuição da indenização pelos danos extrapatrimoniais. Os autores recorreram adesivamente (fls. 670/673). Argumentam que a fundamentação para a fixação dos danos morais afronta o artigo 5 o da Constituição Federal. A vítima era mecânico e não tiveram como comprovar rendimento superior ao do registro em carteira de trabalho. Pleiteiam a majoração da indenização por danos morais, do montante da pensão mensal - alterando-se ( &

4 3 inclusive o limite de idade para 25 anos em relação aos filhos - e da verba sucumbencial em ambas as ações. Itaú Seguros S/A. opôs embargos de declaração, os quais foram parcialmente acolhidos (fls.637/640 e 643/645). Em apelação (fls. 674/682), sustenta não ter sido comprovada a culpa exclusiva da ré. Aduz, ainda, que a vítima foi a causadora do evento e os danos materiais não foram demonstrados. Quanto à lide secundária, afirma que aceitou a denunciaçâo e tomou conhecimento a respeito do sinistro com a citação. Pede a improcedência da demanda principal. Em caráter subsidiário, pleiteia a redução dos juros de mora e a exclusão da condenação nas verbas sucumbenciais. Os recursos da ré e da litisdenunciada foram preparados (fls. 657/660 e 693/697), recebidos (fls. 661 e 699) e respondidos (fls. 664/669 e 701/703). O apelo dos autores, beneficiários da justiça gratuita, foi recebido (fls. 699) e respondido (fls. 704/711 e 712/718). O parecer da Procuradoria Geral de Justiça é pelo não provimento dos recursos (fls. 721/723). É o relatório. Conheço dos recursos. Narra a inicial, em suma, que no dia 18 de agosto de 2002, algumas residências foram atingidas por violenta sobrecarga de energia elétrica. Na casa de Genival Simões Torres houve início de incêndio nos fios da rede de eletricidade interna e nos aparelhos eletrodomésticos que a guarneciam. Na tentativa de desligar o disjuntor da caixa de força, ele sofreu descarga elétrica que lhe causou morte instantânea por eletroplessão. Os elementos de convicção amealhados autos tornam inequívoca a responsabilidade civil da ré. aos Segundo o laudo pericial (fls. 395/420), o fato gerador da "(...) anomalia na rede elétrica é desconhecido, haja vista

5 4 que a concessionária não forneceu documentação que pudesse explicar a origem da mesma, mas, podemos considerar algumas hipóteses (...). Porém todas as situações citadas ou alguma outra que não tenha sido mencionada, jamais poderiam acarretar o fatídico acidente, pois, algum dispositivo de proteção, da rede de distribuição da concessionária, deveria ter atuado impedindo seu acontecimento. Como isto não ocorreu somos forçados a concluir que este não estava instalado ou estava danificado no dia do acidente." (fls. 412/413). Demais disso, não prospera o argumento de que se o fio neutro estivesse devidamente aterrado haveria minimização da tensão e, conseqüentemente, o evento danoso não teria se verificado. Ora, acerca do aterramento do fio neutro, o experto esclareceu que, embora incumbisse ao consumidor fazê-lo, tal não impediria o acidente, dada a tensão Volts (fls. 419). Em abono, Elias Moura dos Santos, empregado da ré, disse que uma fiação de boa qualidade não conseguiria evitar que a descarga elétrica de Volts entrasse em uma residência. Afirmou, ainda, que o aterramento poderia minimizar a entrada de tensão de energia, mas não conseguiria reduzi-la para 110 Volts (fls. 573/575). A seu turno, Durval Missali Júnior, também empregado da concessionária, informou que uma fiação de boa qualidade, aliada ao aterramento, poderia reduzir de 30 a 70 % a descarga elétrica. Assinalou, porém, que 100 Volts de tensão seriam suficientes para matar uma pessoa (fls. 576/578). De ver-se que mesmo se a vítima houvesse adotado a cautela devida o acidente não seria evitado, uma vez que o dispositivo de segurança da ré não operou. concorrente nem tampouco exclusiva da vítima. Não há que se falar, pois, em culpa

6 TRIBUNAL OE JUSTIÇA DE SÃO PAULO 5 Ademais, o experto, em seus esclarecimentos, observou que o imóvel em questão estava irregularmente ligado à rede elétrica há 38 meses (fls. 473/485). Como é cediço, a Resolução n 456/2000 da ANEEL estabelece a obrigação da concessionária de notificar o consumidor a respeito das deficiências nas instalações elétricas da unidade consumidora, especialmente no padrão de entrada da energia elétrica, podendo até suspender o fornecimento, nos termos dos artigos 90 e 99. No caso em tela, decorreram mais de três anos sem que a ré adotasse alguma dessas providências. pelo evento. Assim, inequivocamente assumiu a ré o risco Agregue-se a isso o fato de os vizinhos da vítima, ouvidos como informantes do juízo (fls. 569/572), terem afirmado em uníssono que havia fogo na fiação dos postes da concessionária ré. danos. Destarte, existe a obrigação de reparar os A vítima, mecânico de automóveis, percebia a quantia de R$ 450,00 mensais, conforme registro em carteira de trabalho (fls. 31/32). Não merece acolhida a pretensão de majoração do montante da pensão mensal, tendo em vista que não se desincumbiram os autores do ônus de demonstrar auferimento de remuneração em patamar superior, àquele constante do contrato de trabalho. Já o limite de idade imposto aos filhos do ofendido deve ser alterado para 25 anos, na esteira do seguinte entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça:

7 6 "EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ERRO MATERIAL. PROCESSUAL CIVIL. LIMITE DE IDADE. PENSÃO DANOS MATERIAIS. (RECURSO DOS AUTORES. DANOS MATERIAIS CUMULAÇÃO COM PENSÃO PREVIDENCIÁRIA. 2/3 RENDIMENTOS DA VÍTIMA. FILHOS MENORES ATÉ 25 ANOS DE IDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE." (EDcl. no REsp /RS, Rei. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/05/2010, DJe 09/06/2010). Por outro lado, o dano moral experimentado é presumido, decorrendo do trágico acidente em si e o valor fixado, correspondente a 70 (setenta) salários mínimos a cada autor atende à razoabilidade, mostrando-se adequado, ainda, para desestimular a perpetração de semelhante conduta. Cumpre notar, também, que o fato do MM. Juiz sentenciante ter considerado a condição sócio-econômica dos autores para fixação da indenização dos referidos danos em nada afronta o princípio da isonomia, já que apenas observou um dos requisitos para o seu arbitramento. Quanto aos eletrodomésticos do imóvel em questão, embora Sebastião de Santana Ferraz (fls. 569/570) tenha afirmado ter visto apenas a televisão e a geladeira danificadas, as fotografias e as notas fiscais acostadas aos autos dão conta da propriedade dos objetos e da destruição deles (fls.49/60 e 61/71). ressarcimento. É o que basta para que seja devido o No que tange aos juros de mora, correrão, desde a data do óbito, à razão de 0,5% até a entrada em vigor do Código Civil atual, e daí por diante, de 1% ao mês. p

8 7 No que diz respeito à lide secundária, Itaú Seguros S/A. deverá ressarcir a ré denunciante, nos termos da r. sentença de primeiro grau, incluindo-se as verbas de sucumbência, respeitando-se os limites da apólice. A denunciação da lide tem natureza de ação, de sorte que as custas e honorários advocatícios devem ser suportados individualmente pelos vencidos de cada uma das lides. Relativamente à condenação nas custas, despesas processuais e honorários advocatícios, fica mantido o determinado na r. sentença, considerando-se, quanto à verba honorária, a complexidade da causa. Ao contrário do que aduzem os autores em suas contra-razões, porém, a simples dedução de pretensão não caracteriza a litigância de má-fé, a qual não é reconhecida neste caso. Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso da ré e dou provimento parcial ao apelo dos autores para alterar o limite de idade da pensão no tocante aos filhos da vítima e ao reclamo da litisdenunciada para modificar os juros de mora. NesTorDuárXe^^^ETâTor