ENTRE RAÍZES AMAZÔNICAS E O GRAFISMO URBANO: PROPOSIÇÕES PARA O ENSINO DE ARTE
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- Dina Bayer Aveiro
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1 Modalidade: Resumo Expandido GT: (Artes Visuais) Eixo Temático: (Cultura visual e ensino/aprendizagem em artes visuais) ENTRE RAÍZES AMAZÔNICAS E O GRAFISMO URBANO: PROPOSIÇÕES PARA O ENSINO DE ARTE Suzana Alfaia da Cunha (Unama, Pará, Brasil) Luziane Soares Pinheiro (Unama, Pará, Brasil) RESUMO: O trabalho apresentado se constitui em uma pesquisa sobre a utilização do grafismo no ensino de arte, com o intuito de promover a interação dos alunos da Educação Básica com a produção de artistas locais e com as linguagens urbanas. A justificativa da empreitada é a exploração de novos temas para o ensino de arte que permitam o diálogo com uma produção visual jovem e urbana, que muitos de nossos alunos possuem contanto no dia a dia, estampadas nas paredes e muros da cidade de Belém. Inicialmente, a pesquisa foi de cunho bibliográfico, tendo como aporte teórico a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa. Os resultados indicaram a possibilidade do uso do grafismo para ampliar a compreensão dos alunos sobre a necessidade expressiva humana, marcada no corpo pelas tatuagens, nas cavernas pelos grafismos primitivos e nos muros das cidades pela produção do grafite urbano. Do ponto de vista prático, o estudo culminou com a organização de uma apresentação do artista visual e grafiteiro Sebá Tapajós, dentro de uma atividade cultural na Universidade da Amazônia Unama, e caminha ainda na organização de uma Mostra de grafite Amazônico. Palavras-chave: grafite, ensino de arte, Amazônia. ABSTRACT This work presented constitutes a survey on the use of graphism in the teaching of art, in order to promote the interaction of Fundamental Education students with the production of local artists and urban languages. The justification of this endeavor is the exploration of new subjects for teaching of art to enable dialogue with a young and urban visual production, which many of our students have contact on a daily basis, printed on the walls of the city of Belem. Initially, the survey was bibliographic nature, having as theoretical support the triangular approach of Ana Mae Barbosa. The results indicated the possibility of the use of graphism to expand the students' understanding of the expressive human need, marked on the body by tattoos, in the caves by the primitive graphism and the walls of the cities by the production of urban graffiti. From a practical point of view, the study ended with the organization of a presentation of the visual artist and graffiti artist Sebá Tapajós, in a cultural 2497
2 activity at the University of Amazônia - UNAMA, and still walks in organizing an exhibition of Amazonian graffiti. Key words: graphite, teaching art, Amazon. 1 Introdução O presente trabalho reflete sobre o uso do grafismo, especificamente o grafismo urbano, no ensino de arte. Focar no grafismo é, em ultima análise, trazer o tema do desenho para a pauta de discussão, ou como sugere Dupret (2008), a pintura, pois para esta grafitar é pintar. Sendo o desenho e a pintura, uma condição representativa da imagem, pautada em sistemas de códigos, registros, rabiscos, ou imagens realizadas pelo Homem ao longo da sua história, estas se constituem também em uma linguagem e representam a necessidade humana de se expressar e comunicar. Contudo, circunscrever o grafismo e o grafite no ensino de arte é trazer para o universo da escola a cultura jovem e a produção urbana, aproximando os alunos da Educação Básica de artistas locais e ampliando o olhar desses estudantes sobre a própria cidade onde moram, seus contornos, contradições, formas e arquiteturas. Metodologicamente, o trabalho se constituiu em dois momentos. Primeiro, uma revisão bibliográfica e, na sequencia, a organização de uma atividade de vivência da arte do grafismo, em uma atividade cultural organizada na Universidade da Amazônia Unama. O artista convidado foi Sebá Tapajós, que apresenta uma produção voltada ao uso do grafismo para retratar temas amazônicos, em uma mistura de referências urbanas e étnicas. Na continuação do trabalho, busca-se organizar uma mostra, com obras de diferentes artistas do grafite da cidade de Belém. A pesquisa se justifica pela valorização do grafitado em nossa história, com o propósito de estimular crianças e adolescentes, pichadores de caderno a usarem essa pulsão expressiva para a criação artística. Nesse sentido, de incorporação do grafismo como uma linguagem jovem, o grafismo e o grafite precisam ser pensados como parte de políticas públicas de incentivo à juventude, à arte e a educação. 2 O grafite, uma pulsão expressiva O grafismo vem do grego grafito e denomina diversas formas de expressão pelo desenho. Quando uma criança inicia seus primeiros traços, rabiscos, garatujas, letras e desenhos diversos, esta se encontra no universo do grafismo. A pintura nos corpos de nossos ancestrais indígenas também são manifestações de grafismo, bem como as gravuras nas paredes das cavernas dos povos primitivos (GITAHY, 1999). Assim, a arte do grafite, a arte do desenho, surge unida as primeiras manifestações expressivas do homem, realizada sobre diferentes suportes, não necessariamente pensados para o ato de desenhar, visto que: considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade. (WIKIPÉDIA, 2015). Como se pode perceber há uma espontaneidade no grafite, que o marca também como expressão rebelde, pois grafa o desenho em outros territórios para além do papel utilizando a cidade como suporte. Para Gitahy (1999), o grafite 2498
3 propicia a democratização da arte, pois não está comprometido com questões espaciais e nem preso aos ditames da arte erudita. O artista introduz, pelo grafite, formas, cores e detalhes de seu cotidiano, de sua comunidade, ou de outros elementos subjetivos que façam sentido com a sua proposta, sobre muros, fachadas, painéis, etc. A arte do grafismo é simples e exuberante nos traços e nas cores, é efêmera e acessível a todos os transeuntes. Como movimento de desenhar para além do papel, o grafite permitiu experimentações e contestações sociais a partir do movimento da street art ou arte urbana, nascida na década de 1970 nos EUA, em que o artista utiliza os espaços públicos, para interferir intencionalmente na cidade, criando novas cores e novas imagens. Enfim, produzindo imagens da cidade tendo a cidade como tela, em uma metalinguagem que recria os espaços urbanos e faz seus moradores se reapropriarem dessa paisagem. (GANZ, 2010; GITAHY, 1999, SPINELLI, 2010). O próprio vandalismo das pichações expressa essa pulsão pela expressão, pela apropriação do espaço para comunicar. Por isso, importa realizar ações de incentivo ao grafite nas escolas para permitir que nossos jovens possam se expressar de maneira mais artística e responsável, transformando essa vontade de assinar a paisagem em uma produção urbana relevante. Além disso, o grafite nas aulas de arte permitiria encarar pedagogicamente diferentes problemas vivenciados na escola. Entre estes, a falta de interesse dos jovens com as atividades educativas. Apesar de desenharem em seus cadernos, nas cadeiras, mesas e paredes, muitos desses jovens não efetivamente participam das aulas de arte. Estes alunos tomam a arte como uma produção hermética, de museus e galerias. Ao trazer o tema do grafite para a sala de aula, o professor de arte valoriza e aperfeiçoa as habilidades existentes nos próprios alunos pichadores, valorizando o talento e estimulando a capacidade criadora desses estudantes e dando nome a arte que os cerca nos murros da cidade. Inovar nas aulas de arte, fazer da sala de aula um trampolim para o surgimento de futuros artistas, é levar para o aluno da Educação Básica, uma visão de valorização da cultura jovem, com seus traços espontâneos, livres e provocativos. Assim fazendo, o arte-educador valoriza seu próprio aluno como produtor de cultura, como bem sugere o PCN de Arte. (Brasil, 2000) Desenvolver nas aulas de arte a reflexão e a identificação dos diferentes grafismos que circundam o dia a dia dos alunos, permite a estes lançarem um novo olhar sobre a cidade, percebendo suas marcas do tempo, suas casas, edifícios e muros pichados ou grafitados, levando-os a debater esta realidade especifica. Uma vez debatido o assunto, pesquisado e observado os diferentes grafites produzidos na cidade, bem como a produção de artistas grafiteiros, é fundamental que os alunos tenham também seu dia de produtores, seu momento de desenvolver seus próprios grafismos. Primeiramente, os estudantes podem treinar em papel A4 e, em uma segunda etapa, fazer experimentações usando outros suportes, como os muros e paredes da própria escola. O importante neste trabalho é criar caminhos que possibilitem ao estudante se expressar artisticamente, ao mesmo tempo em que este incorpora conceitos a respeito de sua identidade cultural e as técnicas de desenho e pintura. Tal caminho cumpre o propósito de desenvolver o senso crítico dos estudantes por meio dos estudos em arte, tal qual indicam Ferraz & Fusari (1993). Ora, a aprendizagem crítica do olhar é fundamental para o exercício democrático, pois quebra a passividade e introduz a crítica as imagens e textos que chegam pelos diferentes meios de comunicação e informação. Como bem alerta Barbosa (1998, p.35), Num 2499
4 país onde os políticos ganham as eleições através da televisão, a alfabetização para a leitura é fundamental, e a leitura da imagem artística, humanizadora. Ao se apresentar como um tema relevante para disciplina de arte, pois oportuniza a relação do aluno com o conhecimento prático/teórico, as atividades com o grafite permitem ampliar a motivação dos estudantes para o aprendizado da arte, bem como a identificação de novos talentos. Permite ainda o aprofundamento nos estudos de composição e seus elementos formais, como as linhas, traços, pontos, cores, volumes, texturas etc. Além disso, ao serem produtores dos grafites, esses alunos evocam e refletem sobre suas referencias sociais e culturais, sobre a sua realidade e, assim fazendo, a questionam e se questionam, em um processo de crítica e autocrítica fundamental a vivencia cidadã. No intuito de aproximar nossos estudos teóricos sobre o grafite da prática do ensino de arte, convidamos o artista visual e grafiteiro Sebá Tapajós para realizar uma produção gráfica durante o evento #deixa disso, organizado pelos estudantes de Artes Visuais da Unama. A produção apresentada pelo artista mesclou elementos urbanos e indígenas, em uma continuação a sua série de obras que apresentam um dialogo entre diferentes referencias da Amazônia contemporânea. A aproximação do artista e da arte do grafite com os alunos de artes visuais foi muito positiva para a divulgação da potencialidade pedagógica do tema. Segue imagem do processo de produção da obra citada: Fotografia 1 Grafite durante o evento #Deixa disso, Belém (Pa), Fotografia de Luziane Pinheiro Fonte: Portfólio dos pesquisadores 2500
5 A aproximação com os artistas grafiteiros da cidade de Belém ampliou e fortaleceu a compreensão das potencialidades do tema, para a reflexão e produção dos alunos da escola Básica paraense, em especial do Ensino Médio. Pelo grafite, esses estudantes podem tomar sua condição de jovens nortistas e amazônidas como elementos de sua produção artística, problematizando sua condição social, suas raízes étnicas, seus medos e desejos. Propiciando um reencontro estético e lúdico desses jovens com eles mesmos e com a cidade de Belém, que se torna tema e tela dessas produções. Nesse contexto, o ensino de arte surge como humanizador, como bem exige Barbosa (1998) e Ferraz & Fusari (1993). 3 Considerações O trabalho apresentado representa um processo ainda em andamento. As etapas bibliográficas e as experiências práticas e pedagógicas com a temática ainda estão ocorrendo. O objetivo é ampliar a pesquisa com experiências de grafite para alunos do Ensino Médio, bem como a organização de uma mostra ou bienal de Grafite na Amazônia, evento que permitiria a troca de saberes entre os grafiteiros paraenses e o público em geral. O que nossas pesquisas teóricas e práticas com a temática indicam é a capacidade agregadora e motivadora do grafismo nas aulas de arte. O tema permite ampliar o dialogo da escola com a cidade e com a juventude que nela estuda, ampliando a formação cultural e humana desses alunos. O tema contempla ainda as exigências metodológicas da proposta triangular de Ana Mae Barbosa, que indica três momentos fundamentais ao ensino de arte: o fazer artístico, a leitura da obra de arte e a contextualização, pois permite a interação dos alunos com a produção de artistas contemporâneos e locais, bem como o protagonismo de se tornarem também produtores de grafite e, ao final, se perceberem também como capazes de debater sobre a arte contemporânea. Esse espaço conversacional permitiria ampliar os estudos de arte para além do grafite e introduzir esses jovens/alunos em reflexões e práticas cada vez mais profícuas ao ensino-aprendizagem das artes visuais. Referências BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, Mudanças na Arte/Educação. Disponível em: Acesso em 20/04/2015. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Secretaria de Educação Fundamental. 2ªed. Rio de Janeiro: DP&A,
6 FERRAZ, Maria Heloísa C. de T & FUSARI, Maria F. de Rezende. Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Cortez, DUPRET, Leila. Subjetividade e arte de rua: 100% graffit. In Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), v.12, n. 2, Dezembro/2008. GANZ, Nicholas. O mundo do grafite - arte urbana dos cinco continentes. São Paulo: Martins Fontes, GITAHY, Celso. O que é graffiti. São Paulo: Brasiliense, SPINELLI, João J. Alex Vallauri - Graffiti - fundamentos estéticos do pioneiro do grafite no Brasil. São Paulo: BEI Comunicação, WIKIPEDIA. Grafito. Disponível em Acesso em Acesso em 18/03/2015. Suzana Alfaia da Cunha Aluna de Artes visuais da Universidade da Amazônia. Integra o projeto de extensão Ludicidade Africana e Afro-brasileira LAAB. Link lattes: Luziane Soares Pinheiro Aluna de Artes visuais da Universidade da Amazônia. Integra e coordena o projeto #deixadisso. Link lattes:
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