ONTOLOGIA PARA O DOMÍNIO DE INSTRUMENTOS DE CORDAS DEDILHADAS DO SÉCULO XIX NO BRASIL: Questões relacionadas à organização conceitual
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- Luiz de Andrade Soares
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1 ONTOLOGIA PARA O DOMÍNIO DE INSTRUMENTOS DE CORDAS DEDILHADAS DO SÉCULO XIX NO BRASIL: Questões relacionadas à organização conceitual Ontology for the plunked strings instruments of XIX century in Brazil: Conceptual organizations problems Adriana Olinto Ballesté (UNIRIO - LNCC, adri@interkit.com.br) Resumo: No âmbito da musicologia, existem diversos problemas relacionados à terminologia de cordas dedilhadas. Procurando soluções para essas questões buscamos a contribuição do campo de organização do conhecimento. O estudo de sistemas de organização do conhecimento revelou diversas possibilidades de representação e organização para um determinado domínio. A utilização de uma ontologia para o domínio de cordas dedilhadas pareceu ser uma solução atraente, pois permite uma maior capacidade de representação conceitual. Porém, para a construção da ontologia verificou-se a necessidade do estudo de teorias e metodologias já consolidadas em organização do conhecimento especialmente na fase de levantamento terminológico e definição de conceitos. Palavras-chave: organização do conhecimento. terminologia. ontologia. musicologia. instrumentos de cordas dedilhadas. Abstract: Many problems related with the terminology of plunked strings were related by musicologists. The proposal of this paper is to study possibilities in the knowledge organization field for the representation and organization of a domain that can help the musicologists. Ontology for the plunked strings domain seams to be an attractive solution for the conceptual representation. Nevertheless, for the ontology design we notice that is fundamental the study and use of well known theories and methodologies of knowledge organization field, especially for the vocabulary collecting and for the conceptual definitions. Keywords: knowledge organization. terminology. ontology. musicology. plunked strings. 1. Introdução Alguns pesquisadores têm se dedicado a questões relacionadas à disseminação dos instrumentos de cordas dedilhadas no Brasil e concordam que existe um problema terminológico derivado da diversidade de nomes que esses instrumentos adquirem tanto no Brasil como em Portugal. A nomenclatura parece variar de acordo com grupos sociais, localização espacial e período histórico. A possibilidade de utilização de teorias e metodologias do campo de organização do conhecimento para minimizar a problemática terminológica em musicologia motivou o presente trabalho. Para a representação conceitual do universo de instrumentos musicais a utilização de uma ontologia pareceu ser uma solução moderna e eficaz. Verificou-se, no entanto, que para a fase de levantamento terminológico e definição conceitual é necessário o aporte de metodologias consolidadas em organização do conhecimento.
2 2. Questões terminológicas no universo de cordas dedilhadas No universo de cordas dedilhadas (viola, violão, guitarra, bandolim, vihuela, alaúde) existem diversos problemas terminológicos relatados por musicólogos. Budasz (2001) afirma, sobre a viola, que o (...) que pode ser dado como certo é que em meados do século XV, o termo viola, assim como vihuela e muitas variantes da palavra guitarra, eram usados para designar vários tipos de instrumentos dedilhados ou de arco (...). Taborda (2004) aponta diversas questões na terminologia de cordas dedilhadas que geraram confusões. O termo violão só é utilizado na língua portuguesa, em outras línguas é utilizado o termo guitarra derivado do grego kithara - em francês guitare, em alemão gitarre, em italiano chitarra e em espanhol guitarra. O termo viola nomeia em português dois tipos de cordofones distintos tanto o instrumento de família das cordas friccionadas, quanto os instrumentos de cordas dedilhadas. O termo viola tem diversas designações regionais e temporais - viola de tripa, viola de arame, viola francesa, guitarra francesa. Castro (2007) afirma que existe uma dificuldade de denominação terminológica que causa uma confusão organológica entre os cordofones de cordas dedilhadas encontrados no Brasil do século XIX e que (...) já está suficientemente documentado que havia vários tamanhos e tipos de violas, ou melhor, de cordofones, que eram produzidos em Portugal, e que pela lógica seriam os que viriam para a colônia. Souza (2002) coloca a questão: No Brasil, há uma certa dúvida na denominação do instrumento. Será que viola é o violão? Ou o violão é a viola? Os musicólogos têm discutido bastante a questão da confusão terminológica e organológica, mas não existe ainda um esforço no sentido de uma organização formal dos conceitos empregados. O objetivo de nosso trabalho é buscar metodologias em organização do conhecimento que possam auxiliar na organização conceitual para os instrumentos de cordas dedilhadas. 3. Organização conceitual em domínios temáticos A organização conceitual faz parte do campo de estudo de organização do conhecimento. Este campo focaliza não só a natureza e a qualidade dos processos de organização do conhecimento como também os sistemas de organização do conhecimento, com o objetivo de organizar e representar documentos e conceitos. Exemplos de sistemas de organização do conhecimento são vocabulários controlados, arquivos de autoridades, sistemas de classificação, tesauros, redes semânticas. Um sistema de organização do conhecimento para a modelagem de domínios temáticos bastante atual é a ontologia, que permite a formalização sistemática de conceitos, definições, características, relacionamentos e regras que capturam o conteúdo semântico de um domínio (Vickery, 2007).
3 Uma ontologia descreve conceitos básicos em um domínio e define relações entre eles. As ontologias incluem basicamente: classes que organizam os conceitos em um domínio de acordo com características que têm em comum; propriedades que descrevem características e atributos de cada conceito; e relacionamentos que definem restrições das propriedades 1. Porém, lidar com o campo conceitual não é uma tarefa trivial. Dodebei (2002), afirma que na elaboração de uma linguagem documentária o estudo preliminar sobre o campo conceitual é a tarefa mais complexa. A própria definição de conceito em si, não é consensual. Na teoria da terminologia, proposta por Wuester, na década de 1930, e expressa de forma atualizada na ISO/TC-37 (ISO/DIS apud Campos, 2001), o conceito é considerado como unidade do pensamento, constituído de características que refletem as propriedades significativas atribuídas a um objeto, ou a uma classe de objetos (Campos, 2001, p. 71). Dahlberg considera imprecisa e subjetiva a definição de conceito como unidade de pensamento, e propõe, em sua Teoria do Conceito, a definição de conceito como unidade do conhecimento, síntese das características necessárias que podem ser definidas sobre qualquer referente representado por significações (termos, nomes ou códigos). Afirma que é possível definir conceito como a compilação de enunciados verdadeiros sobre determinado objeto, fixada por um símbolo lingüístico (Dahlberg, 1978, p. 102). Os enunciados são afirmações verdadeiras sobre um determinado objeto. Nestes enunciados estão presentes elementos que identificam as características dos conceitos. Cada enunciado apresenta (no verdadeiro sentido da predicação) um atributo predicável do objeto que, no nível de conceito, se chama característica (Dahlberg, 1978, p. 102). O predicado de um enunciado pode se tornar sujeito de um novo enunciado e assim por diante, de forma que as características são explicitadas de forma hierárquica e quando se atinge uma característica mais geral esta pode ser considerada uma categoria. 4. Ontologia para instrumentos de cordas dedilhadas Para a ontologia de instrumentos de cordas dedilhadas, partimos desses pressupostos teóricos de organização conceitual e da pesquisa de Lopéz-Huertas (1997) que modela um tesauro de instrumentos musicais utilizando a abordagem de análise do domínio e o método de análise do discurso para identificar as categorias representativas do domínio. Para o levantamento dos termos, utilizamos, prioritariamente, fontes de época, pois indicam a terminologia utilizada no momento histórico. Foram consultados métodos técnicos sobre os instrumentos e dicionários. Além das fontes de época, foram consultados trabalhos científicos (teses, dissertações e artigos) e literatura específica área. 1 W3C:
4 Inicialmente foi escolhido um grupo de termos relacionados semanticamente: os instrumentos musicais de cordas dedilhadas mencionados na literatura utilizada no século XIX. Nos métodos e dicionários foram observados os enunciados formulados pelos autores, como pode ser visto no exemplo I. Exemplo I: o ponto é huma regra de páo [pau] preto, Mogne, ou de outra qualquer qualidade que cobre a superficie de todo o braço da Guitarra 2 o carrinho das primas e das segunda devem ser de arame branco; e o das quartas amarelo 2 pestana postiça, a qual he huma travessa pequena de marfim, ou d ollo, correspondente á largura do braço da Guitarra (...) 2 as cordas 'falsas' servem somente para pontear 3 cordas de arame ou de prata 3 As características são mencionadas nos textos consultados. Um extrato dos instrumentos selecionados primeiramente pode ser visto na tabela I e uma seleção das características dos instrumentos reveladas nos textos de época pode ser vista na tabela II. Tabela I. Instrumentos Tabela II. Características viola de cocho viola de tripa viola françesa viola pomposa viola quinhentista viola sertaneja violão guitarra rasgueado pontear ponto braço cordas [cordas de] arame [cordas de] prata signos 2 LEITE, Antonio da Silva. Estudo de guitarra. Porto: Officina typographica de Antonio Alvarez Ribeiro, RIBEIRO, Manoel da Paixão. Nova arte de viola: que ensina a tocalla com fundamento sem mestre. Real Officina Da Universidade. Coimbra, 1789
5 5. Conclusão Este trabalho mostrou a importância da interdisciplinaridade entre as áreas de musicologia e organização do conhecimento para a resolução de questões há muito relatadas por musicólogos. Após a investigação de teorias e metodologias em organização do conhecimento que pudessem ser utilizadas para organizar o domínio de cordas dedilhadas, a construção de uma ontologia pareceu ser uma solução interessante e atual. No entanto, ficou evidente a necessidade do aporte de teorias e metodologias consolidadas em organização do conhecimento, visando especialmente às fases de levantamento terminológico e definição conceitual. 6. Referências bibliográficas BUDASZ, Rogério. The Five-Course Guitar (Viola) in Portugal and Brazil in The Late Seventeenth and Early Eighteenth Centuries. (PHD Dissertation). California: University of Southern California, TABORDA, Marcia Ermelindo. Violão e identidade nacional: Rio de Janeiro 1830/1930. (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, CASTRO, Renato Moreira Varoni de: Os caminhos da viola no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, SOUZA, Andréa Carneiro. Do sertão para as salas de concerto: Viola Um processo de ensino aprendizado. (Dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, VICKERY, Brian. A note on knowledge organisation. Disponível em: o em setembro de DODEBEI, V. L. D. Tesauro: linguagem de representação da memória documentária. Niterói; Rio de Janeiro: Intertexto; Interciência CAMPOS, M. L. A. Linguagem documentária: teorias que fundamentam sua elaboração. Niterói: UFF DAHLBERG, Ingetraut. Teoria do conceito. Ciência da Informação v. 7, n. 2, p , LOPÉZ-HUERTAS, M. J. (1997). Thesaurus structure design: a conceptual approach for improved interaction. Journal of Documentation, 53(2):
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