Claro Enigma. Carlos Drummond de Andrade 1951 PROFESSORA MONICA MESSIAS
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- Yasmin Casado da Conceição
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1 Claro Enigma Carlos Drummond de Andrade 1951 PROFESSORA MONICA MESSIAS
2 A aproximação de temas mais abstratos Les événements m ennuient Paul Valéry ou "os acontecimentos me entediam"
3 Paul Valéry Poeta Simbolista Francês Rigoroso, Valéry se empenhou na busca de um método destinado a fazer da criação poética uma obra de precisão. O lirismo para ele não ia além do "desenvolvimento de uma exclamação".
4 SOB O SOL Sob o sol em meu leito após a água - Sob o sol e sob o reflexo enorme do sol sobre o mar, Sob a janela, Sob os reflexos e os reflexos dos reflexos Do sol e dos sóis sobre o mar Nos vidros, Após o banho, o café, as ideias, Nu sob o sol em meu leito todo iluminado Nu - só - louco - Eu! (tradução: Augusto de Campos)
5 Sobre a epígrafe Prenúncio da temática predominante em Claro Enigma (1951): Melancolia e desencanto com a vida que se encaminha em direção à morte; Eu lírico desenganado com a capacidade de intervir no mundo; O fim da esperança engajada dos anos 40
6 Opinião do crítico Massaud Moisés: É a poesia metafísica que "une o choro individual ao coletivo".
7 Das partes do livro Organizado em seis partes Reflexões sobre o estar no mundo. Total: 42 poemas.
8 I. Entre Lobo e Cão; II. Notícias Amorosas; III. O Menino e os Homens; IV. Selo de Minas; V. Os Lábios Cerrados; VI. A Máquina do Mundo.
9 O Lobo, como animal predador é o contrário do convívio social; Relação com o gauche de Drummond. O Cão, como o animal doméstico, amigo do homem. Oscilação entre os dois extremos: a solidão do lobo e a companhia do cão.
10 Características oriundas do simbolismo imagem da noite; Decomposição; tom crepuscular; o eu lírico aceita passivamente a escuridão; a ação demolidora do tempo; temática filosófica, existencial.
11 Relação com A flor e a náusea (1943/45) Esta rosa é definitiva, ainda que pobre
12 A flor e a náusea Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias, espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.
13 Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar este tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Ração diária de erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal.
14 Pôr fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor.
15 Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
16 Drummond muda de objeto poético, afastando-se dos fatos concretos para falar de ausências, perdas e temas abstratos como o tempo e a vida. "O poeta volta-se para os seus mitos, dá razão ao inato transcendentalismo
17 Desde os primeiros versos desse poema, o eu lírico confessa sua ação fria diante do outro. O único afeto que deixou escapar de si foi destinado a um aquele pássaro vinha azul e doido / que se esfacelou na asa do avião. O intenso pessimismo é marcado pela recorrência de palavras negativas: não, nem, sem.
18 Dedicação à temática amorosa; Amor descrito como desencontro; Reflexões sobre o amor que é sinônimo do eu tu; Amores de contemplação e de sofrimento.
19 O eu se divide entre a contemplação do mar e do amor; O amor que encanta também faz sofrer; Resta a melancolia do fim do dia; Mais uma cena de crepúsculo.
20 Poemas memorialísticos; Lembrança de entes falecidos, amigos e irmãos; Permanência do tom pessimista; Desfecho com tom de esperança.
21 Poema dedicado a Manuel Bandeira; Referência à Pasárgada; Eu lírico observador: vê o poeta caminhar; Rápido diálogo entre eu lírico e Manuel Bandeira.
22 Manuel Bandeira No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim. Sob a influência de Apollinaire, Charles Cros e Mac-Fionna Leod, escreve seus primeiros versos livres, em Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.
23 Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar Lá sou amigo do rei Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. Manuel Bandeira
24 Parte autobiográfica; Traça o percurso pelos caminhos mineiros; Minas do período colonial; Presença da família Drummond.
25 o poema é uma memoração de um rito religioso, com a descrição da cidade mineira Mariana.
26 Memória da família Drummond; Cerrar os lábios é sinônimo de silêncio, mudez; Silêncio da memória, especialmente das lembranças do pai; Reflexão sobre o tempo e a aceitação da morte.
27 O eu lírico refere-se ao pai já morto, o ente que se perdeu na vida, mas que foi resgatado no sonho pela imaginação.
28 O homem e seu estar no mundo; Interrogações de toda a obra; Oferta das soluções, as quais o poeta recusa; São os questionamentos que movem a vida.
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30 A máquina do mundo: Ideia de que o mundo era uma máquina que esteve em voga desde a Antiguidade até a Renascença; A máquina do mundo abre-se para o poeta em determinado momento; Oferece-lhe uma "total explicação da vida ; Desdém da explicação; Na Idade Média, a máquina do mundo ainda parecia capaz de se abrir, é porque era tida como finita e fechada. Camões, na Renascença, no canto X, ainda a descreve como um rotundo globo cercado por Deus. Se o poeta desdenha "colher a coisa oferta/que se abria gratuita" a seu engenho, é que a razão já lhe mostrou que a aceitação de uma "total explicação do mundo" não pode ser senão o mergulho em mais uma ilusão, que inevitavelmente lhe custará mais uma desilusão. O poeta segue o seu caminho "de mãos pensas" ou, como se lê no poema "Legado", "a vagar taciturno entre o talvez e o se".
31 Recursos literários e de linguagem Formas clássicas: Uso do soneto; tercetos e versos dísticos; Intertextualidade com poetas clássicos e mitos greco-romanos; Influência da poesia classicista e simbolista. Recursos modernistas: Uso do verso livre; Períodos longos e prosaicos; Metapoesia; metalinguagem; Influência do Surrealismo (universo onírico, imaginativo).
32 O estilo literário de Carlos Drummond de Andrade A fase gauche ( ): Eu maior que o mundo - poema, humor, piada. Período marcado pelo isolamento, individualismo, reflexões metapoéticas e existenciais, humor e ironia. Principais obras: Alguma poesia (1930) e Brejo das Almas (1934).
33 O estilo literário de Carlos Drummond de Andrade A fase social ( ): Eu menor que o mundo - poesia de ação. Representa as contradições entre o ser e o mundo. Há o abandono do individualismo e a tomada de postura histórico-engajada. Vale lembrar que falamos de um período de guerras e conturbação política nacional e mundial: Segunda Guerra Mundial, Ditadura de Getúlio Vargas, Nazifacismo. Principais obras: Sentimento do mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945).
34 O estilo literário de Carlos Drummond de Andrade A fase do não ( ): Eu igual ao mundo - poesia metafísica. Período marcado pelo desencanto político. O poeta se lança numa poesia reflexiva, filosófica e metafísica. Claro Enigma introduz essa vertente filosófica, pessimista e reflexiva, abordando morte e vida, infância e velhice, o amor e o tempo. Principais obras: Claro Enigma (1951), Fazendeiro do ar (1955), Vida passada a limpo (1959) e Lição de coisas (1962).
35 O estilo literário de Carlos Drummond de Andrade A fase da memória ( ): compreende o período de lembranças da infância na cidade natal Itabira, além de reflexões universais sobre o tempo e a memória. Principal obra: a série Boitempo (1973).
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37 Biografia Carlos Drummond de Andrade, cronista, jornalista, funcionário público e, principalmente, poeta. Um dos maiores nomes da literatura brasileira apostou em versos livres e linguagem objetiva nas suas obras. Drummond, além de poemas, escreveu livros em prosa e alguns de temática infantil. O mineiro morou no Rio de Janeiro por muitos anos, mas a terra natal, Itabira, sempre esteve presente nos seus versos. Drummond viveu em um período marcado pela Guerra Fria. A incerteza da época pode ser percebida em sua obra, o eu-lírico se mostra sem esperança e impotente diante de certas situações.
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