Perguntamo-nos por que dispensar importância ao tema do Holocausto

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1 Capítulo 1 Ensinar história as razões Perguntamo-nos por que dispensar importância ao tema do Holocausto nos currículos de História dos ensinos fundamental e médio, e a resposta que se apresenta mais rapidamente é o fato de que a história, na escola, é um modo de ensinar conceitos que instrumentalizam as novas gerações para compreender o mundo em que vivem e a tomar decisões nesse mundo: em uma palavra, a escolher. Escolher sobre como se poderá produzir futuros, sobre como desenhar possibilidades de vida. Na esteira desse objetivo, o tema do Holocausto permite pensar as decisões no mundo presente e propor outros mundos possíveis, desde já despidos da intolerância, do preconceito e do ódio racial. PARA PENSAR É possível ocorrer novamente? A racionalidade que criou e deu condições de existência ao Holocausto não desapareceu, ainda vigora no mundo moderno. O Holocausto é moderno em todos os seus contornos. As práticas de ódio ao outro não desapareceram, apenas tomaram outras formas na atualidade. Se é difícil imaginar, nos dias de hoje, um racismo biológico sendo propagandeado aos quatro cantos, como o fizeram os nazistas, é possível pensar em novas formas de ódio e discriminação e igualmente outras maneiras de manifestação das práticas racistas. A suposição de um pensamento único, domesticado pelos modelos que impedem a diferença de manifestar-se, ainda dá vazão a uma série de manifestações preconceituosas em relação a tudo o que parece fora da norma. Desse modo, o estudo do Holocausto se justifica porque quem ensina a história o faz sempre a partir de um conteúdo do passado, mas com um objetivo que se estende ao futuro. Estudar o passado é um modo de romper com o presente, com o estado atual das coisas, mas, sobretudo, de produzir a novidade (o futuro), de criar novos mundos possíveis. Mundos nos quais não haja modelos, tipos ou normas predeterminadas, que estabeleçam como cada um deve viver sua própria vida. Somente uma sociedade plural, pensada como espaço de trânsito contínuo da diferença, é que pode livrar-se do amálgama legado pelo nazismo. E é nessa sociedade

2 18 Nilton Mullet Pereira & Ilton Gitz homofobia Atitudes ou sentimentos pejorativos em relação aos homossexuais, que consistem em demonstração de preconceito ou aversão, na forma da violência física ou verbal. sexista É uma forma de discriminação, que consiste na marginalização ou mesmo na exclusão de pessoas ou grupos com base em seu sexo. antissemita Pessoa com preconceito contra os judeus. PARA PENSAR Como eu me posicionaria? Como gostaria que meus alunos se posicionassem? plural que manifestações homofóbicas, sexistas, antissemitas, racistas ou de qualquer outro gênero podem já ter deixado de existir. O breve século XX, que deveria guardar os padrões mais altos da civilização ocidental em termos de liberdade e dos direitos naturais do homem, nos ensinou que as práticas de intolerância não estavam guardadas no passado perdido dos oitocentos ou nos autos de fé da inquisição moderna. O estudo do Holocausto é, ao mesmo tempo, um fim e um meio. Um fim porque se trata de um conteúdo de destaque na história contemporânea; um meio porque permite pensar questões que ainda hoje, com bastante intensidade, fazem parte do cotidiano da sociedade brasileira e ocidental. O papel dos ensinos fundamental e médio é de significativa importância, uma vez que o processo educativo é um dos modos que podem permitir conceber uma sociedade que valoriza a diferença. O ensino de História torna-se um momento em que a cena da diferença e, ao mesmo tempo, dos direitos à diferença desfilam e se apresentam no teatro da vida. O propósito de ensinar o Holocausto nos ensinos fundamental e médio não é criar novos valores universais, mas levar os estudantes a pensar sobre como será seu futuro e como é seu presente, em uma sociedade na qual é preciso construir relações humanas que excluam o esmagamento do outro, a depreciação do outro, o extermínio do outro. Você sabia? Nazistas hoje. Ainda hoje existem espalhados por todo o mundo, particularmente no Brasil, grupos de jovens que se intitulam nazistas e, desse modo, promovem tanto a discriminação quanto atos de violência contra homossexuais, judeus, negros e outros.

3 Ensinando sobre o Holocausto na escola PROPOSTA DE ATIVIDADE Pesquisa 1. Sugere-se que os estudantes investiguem na internet as seguintes notícias: a) Manifestações de neonazistas. b) Práticas racistas no futebol. c) Práticas homofóbicas. 2. Sugere-se que os estudantes olhem para a sua sala de aula e para a sua escola, bem como para a sua vizinhança o bairro, a rua e identifiquem práticas discriminatórias. Os estudantes deverão apresentar o resultado da pesquisa na forma de relato textual. 3. Uma vez feitas as pesquisas, sugere-se que o professor realize um SEMINÁRIO sobre o tema discriminação na sociedade atual. 4. Nesse seminário, os estudantes apresentarão o trabalho de investigação por meio de formas diversas de expressão cartazes, poemas, música, textos, etc., a fim de suscitar o debate. PARA VER Bent Sean Mathias Reino Unido 1997 Clive Owen interpreta um gay levado a um campo de concentração e que tenta esconder sua homossexualidade usando uma estrela amarela, que era a forma de identificar judeus, em vez do triângulo rosa usado para marcar os homossexuais. Lá ele se apaixona por Horst, um prisioneiro que usa com orgulho seu triângulo rosa. (Continua ) 19 19

4 20 Nilton Mullet Pereira & Ilton Gitz (Continuação) PARA VER Botas de aço (Steel toes) Mark Adam David Gow Canadá 2006 Danny Dunkleman, um advogado judeu liberal, é designado pelo tribunal para representar Mike Downey, um skinhead neonazista julgado pelo assassinato de um imigrante indiano por motivações raciais. Ao longo da trama, o espectador é envolvido pela tensa e tumultuada relação que se desenvolve entre esses dois homens e as enormes diferenças entre suas respectivas formas de pensar, agir e sentir. Botas de aço é uma intensa viagem pelas zonas mais obscuras da mente e do coração do skinhead Mike e das dificuldades do advogado humanista em superar seus próprios preconceitos para defender seu cliente. Mais do que um filme para entreter, é uma provocadora exploração da inescapável e pérfida presença da intolerância religiosa e racial na sociedade. Outra história americana, A (American history X ) Tony Kaye Estados Unidos 1998 Derek busca vazão para suas agruras tornando-se líder de uma gangue de racistas. A violência o leva a um assassinato, e ele é condenado pelo crime. Três anos mais tarde, Derek sai da prisão e tem de convencer seu irmão, que está prestes a assumir a liderança do grupo, a não trilhar o mesmo caminho.

5 21 Ensinando sobre o Holocausto na escola 21 PARA PESQUISAR MILMAN, L.; VIZENTINI, P. F. (Org.). Neonazismo, negacionismo e extremismo político. Porto Alegre: UFRGS, O livro reúne os artigos que serviram de base para as conferências proferidas durante o Simpósio Internacional sobre Neonazismo, Revisionismo e Extremismo Político, realizado em agosto de O Simpósio foi organizado pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, programas de pós- -graduação em Comunicação e Informação e em História (UFRGS) e pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos, e discutiu o problema do revisionismo ou a negação do Holocausto. VIDAL-NAQUET, P. Os assassinos da memória: o revisionismo na história. Campinas: Papirus, O livro analisa o revisionismo como a anatomia de uma mentira e procura desconstituir os argumentos dos defensores do revisionismo.