JUÍZO DA 1ª ZONA ELEITORAL DE SÃO PAULO. Processo nº 492/08 VISTOS.

Transcrição

1 VISTOS. Trata-se de representação por direito de resposta formulada pela COLIGAÇÃO UMA NOVA ATITUDE PARA SÃO PAULO e MARTA TERESA SUPLICY em face de COLIGAÇÃO SÃO PAULO NO RUMO CERTO e GILBERTO KASSAB, nos termos do art. 58 e seguintes da Lei nº 9.504/97, sob o fundamento de que os representados veicularam propaganda eleitoral gratuita na modalidade de inserção em 21 de setembro de 2008, em três horários durante o citado dia e em duas emissoras de rádio que atingiu, direta e indiretamente, a imagem da candidata Marta Suplicy, mediante afirmação de fato sabidamente inverídico, injurioso e degradante, na medida em que o jingle veiculado passou a disseminar a idéia de que a internet sem fio seria implementada com a criação de uma taxa, circunstância inexistente porque a proposta de governo das representantes é a de efetiva gratuidade do serviço de internet sem fio, mediante a instalação de antenas em vários prédios públicos do Município. Afirmam as representantes que os representados disseminam a idéia de que a candidata Marta Suplicy afirma que vai implantar a internet gratuita, mas não diz quanto vai custar, fato este sabidamente inverídico, uma vez que foi veiculada em programa de televisão das representantes que o projeto teria um custo de 64 milhões de reais e, portanto, não haveria qualquer taxa de antena. 1

2 Entendem as representantes que os representados pretendem, com a veiculação da propaganda em debate, desqualificar a proposta de campanha da referida candidata com a divulgação de inverdades e a disseminação de idéias injuriosas e, por via de conseqüência, com o objetivo de degradar a imagem da candidata Marta Suplicy, principalmente porque a tratam de Dona Marta, com nítida intenção machista. Sendo assim, as representantes pugnaram a concessão de um minuto de direito de resposta para cada uma das inserções veiculadas e destacadas na petição inicial. Com a inicial (fls. 02/12) vieram os documentos constantes de fls. 13/15. Os representados foram notificados (fls. 27/28), oportunidade em que ofereceram defesa conjunta (fls. 30/39), insurgindo-se contra o entendimento exposto pelas representantes por entenderem que a propaganda veiculada limitou-se ao estrito direito de crítica política contra uma proposta de campanha, sobretudo quanto à efetiva transparência acerca dos custos de implantação do serviço gratuito e, ainda, quanto à gratuidade desse serviço. Assim, refutam os representados a idéia de que a inserção possibilite o direito de resposta principalmente porque não veicularam fatos sabidamente inverídicos, mas tão somente mensagem com o intuito de provocar a reflexão dos eleitores sobre o alto custo da internet sem fio e o justo receio de que esse serviço possa ser eventualmente remunerado por uma taxa de serviço, principalmente diante das conhecidas práticas tributárias adotadas pela candidata representante em seu governo, pleiteando, assim, a improcedência da representação. O Ministério Público Eleitoral manifestouse pela improcedência da pretensão formulada na presente representação (fls. 41/43). 2

3 É o relatório. DECIDO. Em que pese o entendimento exposto pelo douto subscritor da representação e como destacado em representações anteriormente decididas (processos nº s 445/08 e 487/08), esta deve ser julgada improcedente. Com efeito, não se verifica a alegada afirmação de fato sabidamente inverídico que possa degradar a imagem da candidata representante, pois as expressões utilizadas não passam de questionamentos relacionados à capacidade de implementação do programa anunciado mediante comparativo com a forma de captação de recursos à gestão anteriormente realizada por ela, assim como em comparação com o custo do programa implementado em outras cidades. As expressões atacadas enquadram-se perfeitamente à crítica da forma de arrecadação anterior e à reflexão acerca da viabilidade financeira e técnica da implementação de fornecimento de internet sem fio, de modo gratuito aos munícipes e, assim, não podem ser tidas como ofensivas à imagem da suposta ofendida, sobretudo porque a dialética utilizada na mensagem, embora exagerada, não é capaz de gerar a possibilidade de direito de resposta pela própria natureza dos debates existentes no processo eleitoral, principalmente porque o fato sob análise não se verificou e se trata de mera promessa de campanha, ainda, que veiculado o custo desse programa. 3

4 Da mesma forma, não há como ser verificado o direito de resposta tão somente porque a candidata representante é tratada como Dona Marta, pois a afirmação feita na representação é mera ilação de que tenha o cunho pejorativo, relacionado às mulheres que não sabem dirigir ou conduzir a direção de alguma entidade, seja ela estatal ou particular. Na verdade, a sociedade brasileira não está mais afeta a alegada discriminação de sexo como destacada na inicial e partir desse pressuposto é definitivamente argumento ultrapassado do contexto social que hoje encontra-se o povo brasileiro. Ademais, é sabida a antiga e firme posição do Colendo Superior Tribunal Eleitoral que a crítica, ainda que pesada, podendo ser entendida no contexto do exame de temas político-comunitários, não atrai a aplicação de penalidade prevista em Lei (Rec nº Representação nº 259 Classe 30ª - Distrito Federal, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU 13/06/00). Da mesma forma: Não se deve, em matéria eleitoral, dar guarida à excessiva sensibilidade em determinados candidatos, evitando-se com isso soluções de caráter subjetivos e não objetivos como, nessas hipótese, se espera. Nem se perca que, como se tem decidido, aquelas pessoas que postulam cargos públicos, especialmente quando já exerceram mandatos eletivos, sujeitam-se às críticas dos opositores nos momentos de campanha eleitoral. Normal, ademais, certa agressividade ou excesso nas expressões utilizadas por alguns candidatos e partidos, próprios da paixão que a política desperta em cada um (TER-SP Rec. Nº , declaração de voto Juiz Vito Guglielme). 4

5 Vale a pena destacar, também, o decidido pelo Egrégio Tribunal Regional Eleitoral deste Estado, cuja insigne relatora foi a Juíza SUZANA CAMARGO no Processo nº Recurso Cível Classe 2ª, onde em trecho do V. Acórdão especifica que: As mensagens proferidas, ainda que de teor crítico quanto à conduta do recorrente, não configuram ofensa ou inverdade, posto que ao homem público não é permitido revestir-se de suscetibilidade exacerbada, furtando-se à possibilidade de crítica e diálogo que é própria do regime republicano. Interpretar-se de outra forma esse direito fundamental consubstanciado na liberdade de opinião, afastando-se a possibilidade de crítica, seria incidir em efetiva censura, o que não permite o texto constitucional De modo que não se podem considerar como inverídicas ou ofensivas as expressões utilizadas pelo recorrido, mas tão somente como forma de crítica política ao recorrente, pelo que tal qualificação se insere na liberdade de opinião, garantida pela Constituição em seu art. 5º, incs. IV e IX. Sob este aspecto, bem pondera o Douto Magistrado CLAUDIO LUIZ BUENO DE GODOY, quando especifica que os direitos da personalidade em relação aos políticos são, de certo modo, reduzidos e acrescenta que: O pressuposto, aqui, é não só o de o político, afinal, por definição, ser pessoa pública como, também e principalmente, o de ser, de alguma forma, gestor público. O político gere a coisa pública ou representa a vontade popular. Age, destarte, em nome e no interesse da coletividade. Sua atividade se desenvolve de forma pública, sob a fiscalização da sociedade, para o que, é evidente, necessário que mais se amplie a possibilidade de limitações a seus 5

6 direitos da personalidade, sem anulá-los de todo, é certo. A verdade é que a divulgação, a discussão e a crítica de atos ou decisões do Poder Público, ou de seus agentes, não vêm sendo consideradas um abuso da liberdade de imprensa, desde que não se trate de matéria de natureza reservada ou sigilosa, e a crítica inspirada no interesse público, não estando presente o ânimo de injuriar, de caluniar ou difamar, como ressalvou o TJSP, pondo limites à liberdade de que ora se cuida. 1 De mais a mais, como bem observou o proficiente magistrado JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS em r. sentença proferida nos autos do processo nº 73/2004 em representação que Marta Teresa Suplicy e Coligação União por São Paulo moveram em face do Partido da Causa Operária, perante este Juízo, foi especificado que: malgrado o desalento do eleitor brasileiro com o nível dos debates eleitorais (genericamente falando), porquanto não guardam, no mais das vezes, um mínimo de civilidade, não diviso nas ofensas imputadas o direito invocado pelos representantes que justifique a tutela pleiteada. Costumeiramente, as Cortes Eleitorais têm decidido que as críticas político-administrativas, mesmo que severas ou pesadas, devem ser compreendidas no contexto da liberdade de expressão ou manifestação, não atraindo, por isso mesmo, as sanções postuladas previstas em lei. Desse modo, não há como ser reconhecido no contexto da mensagem especificada na propaganda atacada qualquer degradação à imagem da candidata representante, 6

7 porquanto não se vê a intenção de ofendê-la no contraponto da proposta feita, mas sim a intenção de crítica à gestão realizada durante o exercício de seu mandato e do entendimento dos representados de possível inviabilidade do projeto. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a representação que a COLIGAÇÃO UMA NOVA ATITUDE PARA SÃO PAULO e MARTA TEREZA SUPLICY movem em face de COLIGAÇÃO SÃO PAULO NO RUMO CERTO e GILBERTO KASSAB. P. R. e I. 15h45min. São Paulo, 23 de setembro de 2008, às MARCO ANTONIO MARTIN VARGAS - Juiz Eleitoral - 1 Autor citado, A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. 2ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 2008, p