Vistos. Notificados, os representados ofereceram resposta, sustentando em momento algum JUÍZO DA 1ª ZONA ELEITORAL DE SÃO PAULO. Processo nº 488/08

Transcrição

1 Vistos. MARTA TERESA SUPLICY e COLIGAÇÃO UMA NOVA ATITUDE PARA SÃO PAULO formularam pedido de resposta contra COLIGAÇÃO SÃO PAULO NO RUMO CERTO e GILBERTO KASSAB, imputando-lhes a veiculação de propaganda ofensiva, revelada, em primeiro lugar, pela alusão, em jingle levado ao ar, a alegada inveja que teria a primeira representante da gestão do segundo representado, bem assim pela afirmação de que aquela acederia à volta da chamada máfia das catracas, referência a golpe para desvio do valor de passagens de ônibus (fls. 2/9). Notificados, os representados ofereceram resposta, sustentando em momento algum 1

2 lançada qualquer inverdade ou ofensa contra a candidata representante, a rigor tendo havido mera crítica políticoadministrativa, particularmente ao sistema de pagamento das tarifas de ônibus (fls. 42/48). procedência (fls. 62/63). O Ministério Público foi pela É o relatório. DECIDO. acolhida. A pretensão não há de ser Em primeiro lugar, a alusão a suposta inveja da representante em face da gestão do representado, antes que uma ofensa, encerra muito mais uma sátira, uma referência carregada de humor. Crítico, é certo, mas não ofensivo. De mais a mais, mesmo assim não fosse, e a título argumentativo, tomada a afirmação da representação de que de injúria se tratou, sabido que 2

3 as figuras penais dos crimes contra a honra não podem ter transposição automática para a seara eleitoral, no caso, particularmente, para a aplicação do artigo 58 da Lei das Eleições. Na lição de José Jairo Gomes, dada a natureza de suas atividades, o código moral seguido pelo político certamente não se identifica com o da pessoa comum em sua faina diuturna. Tanto que é os direitos à privacidade, ao segredo e à intimidade sofrem acentuada redução em sua tela protetiva. Afirmações e apreciações desairosas, que, na vida privada, poderiam ofender a honra objetiva e subjetiva de pessoas, chegando mesmo a caracterizar crime, perdem esse matiz quando empregadas no debate político-eleitoral. (in Direito Eleitoral, 2 a ed. Del Rey, p. 309). E o mesmo vale para a alusão ao problema da chamada máfia das catracas, malgrado se reconheça, aqui, mais sensível a questão. De um lado, certo que em momento algum na propaganda, quando se criticou a falta de controle na gestão anterior, ou o que se supôs 3

4 ser deficiente sistema de pagamento das tarifas de ônibus, objeto de afirmada fraude, se imputou à representante qualquer espécie de participação ou conivência. Certo também que, em dada passagem do programa, se refere, de modo indireto, à candidata como alguém que quereria a volta da realidade anterior. Eis a frase: Joca, esse negócio aí da máfia da catraca é um prejuízo só. Com o Kassab isso acabou. A ex-amiga do Juvenal quer fazer voltar. Ora, a alusão deve ser examinada no contexto. Ouvida a mídia, conclui-se que a mensagem, no seu todo, tendeu ou pretendeu demonstrar que a proposta da representante para o sistema de cobrança de tarifa de ônibus é deficiente e, implementada, permitiria a volta da fraude. E não que ela, a candidata, de qualquer modo quisesse ou acedesse à chamada máfia em si. Veja-se que o tom da propaganda, na parte que se examina, era de crítica ao sistema do bilhete recarregado, segundo se defendeu 4

5 foco de desvio. O que, procedente ou não, se põe nos lindes da crítica que cabe ao eleitor julgar e, antes, ao oponente rebater no seu próprio horário. Por isso que não se vê azo à resposta. Não se associa a representante à máfia ou mesmo a deliberado favorecimento à sua atuação, como parece subjazer no precedente citado e cuja cópia se acostou à inicial. Ao contrário, a propaganda critica uma proposta a seu viso porosa à ocorrência de fraude, consistente no bilhete recarregável, aí dizendo que a volta desta realidade, defendida pela representante, seria desfavorável ao interesse da Administração de melhor fiscalização do pagamento da tarifa de ônibus. Típica crítica, de novo. Enfim, se a mensagem da propaganda não associa, em momento algum, a representante ao que se considerou ser um golpe no pagamento de passagens, se se esclareceu e defendeu que o sistema de fiscalização é que era insuficiente quando e porque permitido o recarregamento dos bilhetes, então não se há de reputar tenha outro significado a alusão a que a representante quer fazer 5

6 voltar senão ao sistema de tarifação que se afirmou inadequado. direito de resposta. Nada que justifique, destarte, o IMPROCEDENTE o pedido. Ante o exposto, JULGO Int. São Paulo, 24 de setembro de CLAUDIO LUIZ BUENO DE GODOY Juiz de Direito 6